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PARTE 1- A CONTRIBUIÇÃO DA TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL PARA

1.2 O movimento ambientalista

1.2.4 A Cúpula Mundial do Desenvolvimento Sustentável – Joanesburgo/2002

Passados 10 anos da Rio 92, no período de 26 de agosto a 4 de setembro de 2002, realizou-se na cidade de Joanesburgo, África do Sul, um novo encontro mundial conhecido como Cúpula Mundial do Desenvolvimento Sustentável.

Reunindo cerca de cento e noventa e três países, com a presença de 105 Chefes de Estado, mais de cinqüenta e oito organizações internacionais, 7.900 delegados oficiais, estando presentes aproximadamente quarenta mil pessoas, a Cúpula Mundial significou uma envolvente e acurada forma de observar o mundo. Consagrou-se como fórum de caráter social, no qual a erradicação da pobreza e das desigualdades existentes em grande parte dos países do mundo deram a tônica para as discussões travadas.

Esse encontro mundial produziu ao final dois documentos importantes: a Declaração Política e o Plano de Implementação.

Entre as principais deliberações, a Declaração Política ratificou como sendo pilares do desenvolvimento sustentável a proteção ao meio ambiente, o desenvolvimento social e o desenvolvimento econômico. Asseverou a necessidade de respeito ao ser humano, ao acesso à saúde, à dignidade, à água limpa, ao saneamento básico, à energia, à segurança alimentar; o respeito à diversidade biológica. Assentou que a distância cada vez maior entre o mundo desenvolvido e o em desenvolvimento constitui-se numa grande ameaça à prosperidade, à segurança e a estabilidade mundial. Tal distanciamento estabelece disparidades sociais e econômicas que podem ensejar uma forma de apartheid mundial. Sendo assim, a erradicação da pobreza, a modificação de pautas insustentáveis de produção e consumo, a proteção e gestão dos recursos naturais, com o fim de estreitar as brechas entre pobres e ricos, precisam ser construídas. A democracia, o Estado de Direito, o respeito aos direitos humanos e às liberdades, a busca da paz e da segurança são objetivos indivisíveis e

essenciais ao desenvolvimento sustentável. É preciso um sistema democrático de “governança mundial”39 com instituições internacionais e multilaterais reforçadas e responsáveis. Reconheceu-se que é preciso fomentar a solidariedade humana sem distinções de raça, condição física, religião, idioma, cultura e tradição. Por último reforçou-se o Princípio da Responsabilidade Comum mas Diferenciada.

Quanto ao Plano de Implementação, o mesmo está dividido em dez capítulos. Nesse documento foram reafirmadas as decisões da Rio 92 , da Agenda 21 e da Declaração do Milênio da Organização das Nações Unidas. Asseverou-se a necessidade do estabelecimento da boa governança, tanto em nível local como internacional. Boa governança deve ser entendida como a busca de um meio ambiente saudável; o estabelecimento de políticas econômicas e sociais responsáveis, a presença de instituições democráticas, que atendam aos reclamos do povo; a existência de um Estado de Direito, que adote medidas anticorrupção e propicie igualdade de gênero, fomentando um ambiente favorável ao investimento. Ficou patente no documento a preocupação com a pobreza e a decisão de enfrentamento da sua erradicação, considerada um desafio do mundo de hoje, sobretudo quando se constata o aumento do poder de pessoas vivendo na miséria e das suas organizações. Foi ratificada a decisão de estabelecer um Fundo Mundial para Erradicação da Pobreza e Promover o Desenvolvimento Social e Humano nos Países em Desenvolvimento. Também ficou estabelecida a necessidade de mudança nos padrões de consumo e produção que comprometem a sustentabilidade. Com base no princípio das responsabilidades comuns mas diferenciadas, os países que mais degradam o meio ambiente devem assumir maiores responsabilidades na sua recuperação. Sendo assim, é mister o desencadeamento de um programa de 10 anos que busque aumentar a eficiência no uso dos

39 FELDMANN, Fábio. “Muito desenvolvimento e pouca sustentabilidade”. Ecologia e desenvolvimento, Rio

de Janeiro: Terceiro Milênio, n. 100, p. 11, mar. 2002. Acerca de governança é oportuna a observação: “Estamos criando novos modelos de relação entre governo, poder público e sociedade por meio de parcerias e de interdependências que estão mudando o perfil do mundo, especificamente o modo como se governa. Na medida em que se toma consciência de que há uma interdependência, de que não depende apenas do Estado, a questão ganha dimensão holística.”

recursos, a redução da degradação ambiental, da poluição e do desperdício, aumentando os investimentos em produção limpa e ecologicamente eficiente. Nesse sentido, o Brasil e a União Européia propuseram a substituição do percentual de 10% da energia total produzida através do emprego de fontes de combustíveis renováveis, como a luz solar, os ventos, as reações químicas, entre outros. Procedendo dessa maneira, haveria uma diminuição no uso das fontes não-renováveis, como o petróleo e o gás. Infelizmente, tal proposição não foi aprovada face à resistência dos Estados Unidos e de outros países integrantes da OPEP. No que respeita à Gestão de Recursos Naturais, as discussões que consolidaram o documento voltaram-se para os temas relativos ao acesso e ao uso da água, às mudanças climáticas incluído o Protocolo de Kyoto, à poluição atmosférica, biodiversidade, proteção das florestas, luta contra a desertificação, proteção dos oceanos e dos mares. A redução de 50% das emissões de carbono dos países mais ricos e industrializados, necessária para que o Protocolo de Kyoto entre em ação, somente será alcançada se o Canadá e a Rússia ratificarem o Protocolo. Até o presente momento, 91 países já assinaram o protocolo. No que respeita à poluição atmosférica, ratifica-se a necessidade do assentamento do princípio das responsabilidades comuns mas diferenciadas, uma vez que os níveis de poluição variam muito entre os diversos países. Assim sendo, torna-se necessária a efetiva implementação do Protocolo de Montreal.40

Como balanço final, constata-se que as metas assentadas na Conferência de Joanesburgo ratificaram, na sua maior parte, os pleitos demandados na Conferência do Rio de Janeiro, em 1992. Alguns críticos julgaram que a Cúpula da África do Sul não enfrentou os graves problemas ambientais e sociais por que passa o mundo. “Temos de fazer mais”, reconheceu o Secretário-Geral da ONU, Kofi Anan, fazendo coro com o Secretário da Cúpula de Joanesburgo, Nitim Desai, que admitiu: “além do que decidimos aqui, só os

40 O Protocolo de Montreal, de 1987, dispõe sobre Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio e foi

ratificado pelo Brasil em 1990.

governos nacionais podem fazer”.41 Sendo assim, torna-se claro que a caminhada na busca da sustentabilidade é permanente, e a sua concretização mais do que nuca passa pela solidariedade entre os povos.