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PARTE II A EFICÁCIA EXTRAFISCAL NA TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL

4.2 O tributo ambiental e a economia: as externalidades

A intervenção do Estado no desenvolvimento das atividades econômicas, através da incidência do tributo ambiental, precisa ser analisada no que respeita aos impactos que tal procedimento gera no desenvolvimento econômico. É fundamental que se tenha presente a idéia do desenvolvimento sustentável como orientador dessa intervenção, de modo que a existência dessa forma de tributação não traga retração ao processo de desenvolvimento da sociedade, mas seja instrumento de conscientização acerca da necessidade da preservação ambiental. Nesse sentido, é importante que seja feita uma verificação acerca das chamadas externalidades e a sua caracterização na teoria econômica.

A ação do homem sobre a natureza produz uma série de conseqüências, algumas das quais comprometem o meio em que vive; outras entretanto contribuem para sua conservação e preservação. O resultado dessa ação é conhecido como externalidade. Externalidade então é aquilo que o homem produz em decorrência da sua interação com a natureza. Pode-se classificar as externalidades em positivas e negativas.

Externalidades positivas são aquelas que não afetam o meio ambiente de forma a causar-lhe deterioração; ao contrário, vinculam-se aos aspectos positivos decorrentes da relação homem-natureza.

As externalidades negativas, por sua vez, representam os elementos que causam danos ao meio ambiente. Tais externalidades devem ser agregadas como custo ambiental relativo aos produtos ou processos que as originam. O procedimento de internalização compulsória dos custos ambientais é feito com base no princípio do poluidor- pagador, que será objeto de estudo no próximo capítulo. Busca-se, com a internalização dos custos ambientais, realizar o ideal de justiça. Dessa maneira, uma empresa que, investindo em equipamentos ou produtos utilizados na linha de produção, de modo a evitar danos ambientais, aumenta o custo da produção, deve concorrer no mercado com empresas que adotam procedimentos semelhantes tendo custo de operação assemelhados. Todavia, quando concorre com empresa que não adotou tais medidas, logo, que tem custo de produção menor, automaticamente ficará suscetível a concorrência desleal. Dessa forma, a incidência do tributo ambiental, como instrumento de internalização dos custos ambientais produzidos, além de ensejar a entrada de valores para o Tesouro, (função recaudatória do tributo), previne as desigualdades evitando que o poluidor seja financiado pela sociedade na sua tarefa de poluir sem ser alvo de ônus algum.

A teoria econômica tem analisado sob diversos prismas as conseqüências da ação do homem perante à natureza. As externalidades advindas dessa relação foram objeto de ponderações feitas, entre outros, por Pigou, Coase e Pareto.

Para Arthour C. Pigou, a intervenção do Estado na atividade econômica é fundamental para que o mesmo internalize os custos ambientais-deseconomias-externas no custo dos produtos advindos da atividade produtiva, de modo que os agentes econômicos assumam o ônus pelos efeitos negativos provocados. O instrumento ideal para o cumprimento dessa missão é o tributo ambiental. Da mesma forma entende Pigou que toda atuação representada pelas externalidades positivas devem merecer do Estado uma retribuição que pode ser aplicada através de subsídios ou incentivos, de modo a reconhecer a atitude positiva dos agentes econômicos na proteção do meio ambiente. Essa atuação do Estado de cunho eminentemente intervencionista é, ao mesmo tempo, caracterizada pelos chamados tributos pigouvianos.148

Por outro lado, Roland H. Coase defende a idéia de que o Estado não deve intervir de qualquer forma nas atividades dos particulares. Fundado na idéia do liberalismo, Coase entende que os custos decorrentes das externalidades produzidas devem ser objeto de negociação realizada entre aquele que causa o dano e aquele que o suporta, de modo que o livre-acordo entre eles componha a lide havida. A idéia de Coase está assentada na teoria dos direitos de propriedade (property rights), segundo a qual os recursos naturais têm seu valor estabelecido pelas regras do mercado, fazendo com que a apropriação de um recurso natural, para a produção ou para dejetos da produção, dependa da disponibilidade do particular em arcar com o preço imputado à parcela de natureza que se pretende usufruir.149 Com o objetivo de viabilizar o desenvolvimento econômico e ao mesmo tempo proteger o meio ambiente, a sociedade busca um ponto de equilíbrio para que, de

148 DERANI, Cristiane. Direito ambiental econômico. p. 111. 149 DERANI, Cristiane. Direito ambiental econômico. p. 113.

modo satisfatório, a atuação social e econômica continue a ser desenvolvida. Essa é a idéia que caracteriza o ótimo de Pareto, teoria criada por Wilfred Pareto. A orientação decorrente dessa teoria está assentada no fato de que “a economia de mercado atinge seu grau ótimo quando realiza uma satisfatória relação entre o uso de um recurso natural e a sua conservação, encontrando um preço que permita a utilização do bem ao mesmo tempo em que o conserva”.150 Dessa maneira, pode-se inferir que atingir o ótimo de Pareto significa fazer atuar a atividade econômica, de modo que a utilização dos recursos da natureza não implique sua extinção. Sendo assim, a atividade econômica gerará externalidades, logo, não haverá uma situação de poluição zero, mas essas externalidades serão imputadas ao poluidor, que, mesmo consciente e tomando providências no sentido de reduzi-las, ainda continuará gerando as mesmas, talvez em um grau menor. Tal situação se justifica porque decorre do exercício da atividade econômica. Só quem age no mercado é que produz externalidades.

Desse modo, constata-se que o ótimo de Pareto está ligado à realização do desenvolvimento sustentável, assentado no equilíbrio, que permite, além do uso moderado dos recursos que a natureza oferece, a manutenção do desenvolvimento.