• Nenhum resultado encontrado

PARTE II A EFICÁCIA EXTRAFISCAL NA TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL

4.5 A tributação ambiental no Brasil

4.5.4 O Imposto sobre a Propriedade Territorial Urbana

O Imposto Sobre a Propriedade Territorial Urbana-IPTU está inserido na competência tributária privativa dos municípios e tem como fator gerador as situações descritas no artigo 32, do Código Tributário Nacional:

“Art. 32. O imposto, de competência dos Municípios, sobre a propriedade predial e territorial urbana tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de bem imóvel por natureza ou por acessão física, como definido na lei civil, localizado na zona urbana do Município.”

A Constituição Federal de 1988, ao tratar dos impostos de competência do município, no seu artigo 156 estabeleceu que o IPTU pode ser progressivo em razão do valor do imóvel e ainda ter alíquotas diferentes de acordo com a localização e o uso do mesmo.

Como já visto, à luz da Lei Maior, é assegurado o direito da propriedade no Brasil; todavia, deve a mesma atender à sua função social. Tal regra não é diferente no que se refere à propriedade urbana. A Constituição de 1988, ao traçar as diretrizes da Política Urbana, encarece ao Poder Público Municipal a tarefa de promover o ordenado desenvolvimento da cidade, de modo a realizar sua função social. Para tanto, a norma constitucional exige que os municípios com mais de vinte mil habitantes tenham um Plano Diretor Urbano, que, disciplinando o correto uso do solo, contribui para que a propriedade

urbana cumpra seu papel. De acordo com o parágrafo 4º, artigo 182, da Constituição Federal:

“É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente de:

I-parcelamento ou edificação compulsórios;

II- imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;

III-desapropriação com o pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais.”

Depreende-se dessa forma que o IPTU, além de constituir uma das mais importantes fontes de receita pública para os municípios, também é empregado com o intuito de promover a função social da propriedade urbana e, sendo assim, realiza uma inestimável missão extrafiscal. Nesse desiderato a preocupação com a preservação do meio ambiente está intrinsecamente ligada ao exercício da função social da cidade. É no espaço do município que estão candentes as questões ambientais mais importantes. Desde o saneamento básico, o fornecimento da água, até a forma da edificação estão presentes elementos fundamentais na preservação da natureza.

A Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001, denominada Estatuto da Cidade ao regulamentar os artigos 182 e 183, da Constituição Federal de 1988, que tratam da Política Urbana, estabeleceu entre as suas diretrizes gerais, que buscam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental, conforme dispõe o inciso X, artigo 2º, “a adequação dos instrumentos de política econômica, tributária e financeira e dos gastos públicos aos objetivos do desenvolvimento urbano, de modo a privilegiar os investimentos geradores de bem-estar geral e a fruição dos bens pelos diferentes segmentos sociais”. A mesma lei, ao tratar dos instrumentos que podem ser empregados na sua efetivação, ressalta a presença dos institutos tributários e

financeiros representados pelo imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana, pela contribuição de melhoria e pelos incentivos e benefícios fiscais e financeiros.

Verifica-se dessa forma que as disposições legais presentes na legislação brasileira asseguram ao Imposto Sobre a Propriedade Territorial Urbana sua missão na execução da função social da propriedade. A aplicação do IPTU progressivo revela-se como uma das possibilidades para se atingir um meio ambiente ecologicamente equilibrado, afinal “a progressividade extrafiscal é, como se pode perceber, um dos instrumentos criados pela Constituição para fazer atuar o princípio da função social da propriedade”.170

170 CARRAZZA, Elizabeth Nazar. IPTU & Progressividade: Igualdade e Capacidade Contributiva. Curitiba:

Juruá, 2002. p. 97.

Capítulo 5

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL E SUA ADEQUAÇÃO PARA A EXTRAFISCALIDADE

A preservação do meio ambiente, como já visto no decorrer deste trabalho, é uma tarefa que deve ser realizada pela sociedade. Tanto as pessoas da sociedade civil como também o Estado precisam unir forças para desencadear um processo de conscientização acerca da necessidade premente de proteção dos recursos naturais. Urge, pois, buscar a realização do desenvolvimento sustentável de maneira que se possa garantir às futuras gerações o direito de também usufruirem de um meio ambiente ecologicamente equilibrado. O meio ambiente, bem público de uso comum do povo, como estabelece a Constituição Federal de 1988, não pode ser objeto de apropriação privada ou estatal contrária ao interesse público. Cabe ao Poder Público e à coletividade o dever de defender o meio ambiente; nesses termos, caso o governo “cruze os braços” ou “faça vista grossa” à degradação ambiental, os cidadãos e as suas associações têm meios legais para exigir a proteção ambiental.

A tributação ambiental, como já referido, apresenta-se como um instrumento eficaz na preservação do meio ambiente. Tributo e meio ambiente integram uma verdadeira relação de solidariedade, sobretudo, quando comportamentos sustentáveis decorrem de uma indução fomentada pela extrafiscalidade tributária. O recurso advindo da tributação ambiental da mesma forma contribui para que o Estado possa viabilizar o implemento de políticas ambientais sustentáveis.

Analisar a relação estabelecida entre o direito ambiental e o direito tributário implica conhecer os princípios que estruturam tal relação. Pode-se dizer que os “princípios constituem as idéias centrais de um determinado sistema jurídico. São eles que dão ao sistema jurídico um sentido lógico, harmônico, racional e coerente”.171 Estudar os princípios que orientam as estruturas formativas do ordenamento jurídico é imprescindível para o entendimento dos fins buscados pelo Direito. O princípio traz a essência do “mandamento nuclear de um determinado sistema; é o alicerce do sistema jurídico; é aquela disposição fundamental que influencia e repercute sobre todas as demais normas do sistema”.172 Por esse motivo é mister o estudo dos princípios do Direito Ambiental e Tributário, os quais, num processo de contínua interação, encaminham a realização da tributação ambiental. Neste capítulo serão estudados os principais princípios do Direito Ambiental e do Direito Tributário, inseridos no texto da Constituição vigente, que constituem o fundamento interativo da equação da sustentabilidade ambiental.