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PARTE II A EFICÁCIA EXTRAFISCAL NA TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL

5.1 Princípios ambientais

5.1.2 Princípio do poluidor-pagador

A Declaração do Rio de Janeiro, de 1992, no seu princípio n. 16, enuncia:

“As autoridades nacionais deverão envidar esforços no sentido de promover a internalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, levando em consideração a política de que o poluidor deverá, em princípio, arcar com os custos da poluição, considerando o interesse público e sem distorcer-se o comércio e as inversões internacionais.”

Nesse documento, o princípio do poluidor-pagador ganhou uma dimensão mundial, uma vez que fora formulado como princípio econômico pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico – OCDE - através da Recomendação C(72) 128, do Conselho Diretor, em 26 de maio de 1972. Até a Declaração do Rio 92, o princípio integrava apenas os textos normativos dos países membros da OCDE e da União Européia.179

O princípio do poluidor-pagador tem por escopo internalizar os custos externos que ensejam danos ao meio ambiente e que integram a atividade do agente econômico, seja ele produtor, consumidor, ou transportador. Dessa forma, o poluidor é impelido à adoção de condutas que evitem, diminuam, limitem ou então neutralizem as externalidades advindas das suas atividades. Não quer de forma alguma o princípio do poluidor-pagador significar a possibilidade de, em pagando, poder poluir. É mister observar que

“durante o processo produtivo, além do produto a ser comercializado, são produzidas “externalidades negativas”. São chamadas externalidades 179 ARAGÃO, Maria Alexandra de Sousa. O princípio do poluidor-pagador: pedra angular da política

comunitária do ambiente. Coimbra: Coimbra Editora, 1997. p. 23.

porque, embora resultante da produção, são recebidas pela coletividade, ao contrário do lucro, que é percebido pelo produtor privado. Daí a expressão ‘privatização de lucros e socialização de perdas’, quando identificadas as externalidades negativas. Com a aplicação do princípio do poluidor-pagador, procura-se corrigir este custo adicionado à sociedade, impondo-se sua internalizacão. Por isto, este princípio também é conhecido como o princípio da responsabilidade”.180

O princípio do poluidor-pagador deve ser entendido como um “princípio- ponte”, uma vez que está assentado na necessidade de uma verificação interdisciplinar para a sua aplicação na proteção do meio ambiente. Depreende-se assim que aquele que deteriora os recursos naturais, seja pelo emprego desenfreado dos mesmos, seja pela falta de cuidados com o meio, entendendo-o como verdadeiro depósito de dejetos, deve contabilizar no custo da sua atividade os custos sociais externos que está provocando. Dessa forma é imperioso afirmar que

“o poluidor-que-deve-pagar é o produtor, porque sendo o produtor é quem lucra com a produção de um bem, cuja utilização provável e normal (o consumo) é prejudicial para a sociedade, é justo que suporte esses custos. Em segundo lugar, porque considerando que o fim essencial do PPP é evitar se produzam mais danos ao ambiente (fim de prevenção em sentido amplo), o poluidor-que-deve-pagar é aquele que com a sua actuação cria e controla as condições que normalmente e provavelmente, vão desencadear a poluição. Com efeito, o produtor é quem controla as condições que estão na origem do dano, quem dispõe de poder tecnológico e econômico para alterá-las, prevenindo a ocorrência de poluição gradual ou tomando precauções para que a poluição acidental não ocorra. Exemplificando: se alguém produz e vende detergentes com fosfatos e os coloca no mercado, é normal e provável que eles venham a ser utilizados para o fim a que se destinam, que é a lavagem doméstica e, em conseqüência, é provável que venham a poluir as águas dos rios. Se quisermos evitar que isto aconteça, aplicando por exemplo uma “ecotaxa”, não deveremos onerar o poluidor directo, que só pode optar por consumir ou deixar de consumir o produto em causa, mas o poluidor indirecto, que conhece a composição do produto e pode alterá-la, de forma a torná-lo menos poluente. Por razões de preservação da poluição, são estes os poluidores-que-devem-pagar. Porém, razões políticas (como a proteção do emprego, por exemplo) podem levar a que sejam outros poluidores a pagar, ou podem até levar a pagar quem não seja sequer poluidor, embora estas situações sejam já claramente contrárias ao PPP”.181

180 DERANI, Cristiane. Direito ambiental econômico. p. 162.

A efetivação do princípio do poluidor-pagador está vinculada à definição normativa da política ambiental adotada. Neste sentido, “o custo a ser imputado ao poluidor não está exclusivamente vinculado à imediata reparação do dano. O verdadeiro custo está numa atuação preventiva, consistente no preenchimento da norma de proteção ambiental”.182 Sendo assim, verifica-se que duas alternativas são apresentadas à conduta do poluidor. A primeira enseja que aquele que causa o dano seja obrigado pelo Estado a adotar um comportamento que evite ou diminua a atividade danosa. A segunda possibilita a prática de atividades danosas ao meio ambiente, sujeitando, todavia, o poluidor ao pagamento de uma taxa ao Estado, calculada em função da potencialidade do prejuízo ambiental produzido. Ilustrando tal situação na seara tributária tem-se que

“la fiscalidad ambiental, como se sabe, tiende a incluir en los precios de los bienes al menos una parte del deterioro ambiental provocado por productos o procesos productivos contaminantes. Con ello se busca reestabelecer la transparencia del costo, incorporando el costo social, y estimular la conducta o comportamiento económico menos agresiva con el ambiente. El tributo, entonces, se basa en el presupuesto de la existencia objetiva de una capacidad contaminante potencial o real que, necesariamente, debe calificar su hecho imponible. El criterio ambiental de la legitimidad y justificación del tributo tiene como suporte el de quien contamina paga, que sirve para denotar la capacidad contaminante y para connotar su contenido económico y social (solidaridad colectiva) de cara al deber de contribuir al gasto público, conforme a la capacidad económica”.183

Em última análise, pode-se dizer que o princípio do poluidor-pagador insere- se nas políticas públicas adotadas pelo Estado de forma a orientar o comportamento dos agentes econômicos no sentido de que a sua relação com a natureza possa ser pautada por uma atuação que conduza ao desenvolvimento sustentável.

182 DERANI, Cristiane. Direito ambiental econômico. p. 166.

183 ROSEMBUJ, Túlio. Los tributos y la proteccion del médio ambiente. p. 245.