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PARTE 1- A CONTRIBUIÇÃO DA TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL PARA

1.5 Brundtland e o desenvolvimento sustentável

A idéia do desenvolvimento sustentável vem sendo forjada desde o momento em que o homem se deu conta da sua trajetória de vida sobre a Terra. Dessa forma, em encontros que antecederam a Conferência de Estocolmo, a perspectiva de mudança da relação homem/natureza já se fazia presente. O desenvolvimento sustentável é uma forma através da qual a utilização dos recursos naturais, o desenvolvimento tecnológico, a aplicação dos investimentos e as mudanças institucionais trazem ínsito o comprometimento em atender às necessidades humanas atuais e futuras.

A inserção do conceito de Desenvolvimento Sustentável ocorre legitimamente com o advento do Relatório Brundtland,59 em 1987. Esse documento foi elaborado por uma

59 SOARES, Guido Fernando Silva. Direito internacional do meio ambiente. p. 73 . Oportuna é a observação

“Atenta aos movimentos dos governos e da opinião pública internacional sobre as questões ambientais globais, a ONU, por sua Assembléia Geral, decidiria, em 1985, conferir ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente-PNUMA a tarefa de bem enquadrá-las e de esboçar políticas relativas ao meio ambiente até o ano 2000 e para mais além. Estabelecida uma Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, presidida pela Primeira-Ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, de formação de Medicina, foi aquele colegiado composto de 21 participantes escolhidos a título pessoal (entre os quais se incluiria o Prof. Paulo Nogueira Neto, na ocasião ocupante da Secretaria do Meio Ambiente do Brasil), o qual acabou por apresentar à A .G. da ONU, em outubro de 1987, o Relatório Brundtland, admirável síntese dos grandes problemas

comissão presidida pela ex-primeira-ministra da Noruega, utilizando os conceitos-chave de necessidade e de noção de limites, definindo desenvolvimento sustentável como sendo “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades”.60

Depreende-se desse conceito que um novo tipo de desenvolvimento deve ser construído pelo homem. É preciso entender que desenvolvimento abarca, além do aspecto econômico, o aspecto social e o aspecto cultural. Nesse sentido tem-se que

“o desenvolvimento sustentável, isto é, compatível com as capacidades ecológicas do planeta e socialmente aceitável, não se pode resumir a uma taxa ou a uma tecnologia, ele supõe a integração de novas práticas políticas, de novas instituições a nível mundial. As suas relações profundas com as estruturas sociais, econômicas, tecnológicas, com as visões diferentes que os povos têm da natureza, tornam necessária a pluralidade. Não haverá uma forma de desenvolvimento sustentável ao nível planetário; serão necessárias práticas sustentáveis comuns para os bens comuns, mas também uma diversidade de formas de desenvolvimento. É essa a aposta política: definir o espaço dos valores e dos bens comuns, bem como os espaços das liberdades e de diversidade de cada povo”.61

O desenvolvimento sustentável ou ecodesenvolvimento62representa uma nova ordem econômica, social e ecológica. Pode-se dizer que “depois das revoluções agrícola, industrial e tecnológica, esboça-se uma guinada histórica – a revolução ambiental”.63 Mais do que nunca é preciso que o homem busque uma maneira de compatibilizar o desenvolvimento e a sua relação com o meio ambiente, de maneira que possa erradicar a pobreza, os desníveis de renda, as precárias condições de vida e de trabalho a que estão

ambientais da atualidade, e um repertório de estratégias sugeridas para seu equacionamento.”

60Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Nosso futuro comum. Rio de Janeiro: Fundação

Getúlio Vargas, 1991. p. 46.

61 BRODHAG, Christian. As quatro verdades do planeta. p. 223.

62 SACHS, Ignacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro: Garamond, 2000. p. 54.

Oportuna é a observação de Sachs: “Quer seja ecodesenvolvimento ou desenvolvimento sustentável, a abordagem fundamentada na harmonização de objetivos sociais, ambientais e econômicos não se alterou desde o encontro de Estocolmo até as conferências do Rio de Janeiro, e acredito que ainda é válida, na recomendação da utilização dos oito critérios distintos de sustentabilidade.”

63 FORTES, Márcio. “Desenvolvimento e meio ambiente: a visão empresarial”. In: VELLOSO, João Paulo dos

sujeitas muitas pessoas em todo o planeta. Dessa forma se poderá atingir um parâmetro que “realmente mede o desenvolvimento de um povo – o seu grau de felicidade”.64

A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1992, apesar de não trazer expresso o conceito de desenvolvimento sustentável, faz referência ao mesmo em doze enunciados dos seus vinte e cinco princípios, sendo que o Princípio n. 3 estabelece que “o direito ao desenvolvimento deve ser exercido, de modo a permitir que sejam atendidas eqüitativamente as necessidades de desenvolvimento e ambientais de gerações presentes e futuras”. A Conferência de Joanesburgo reafirma a importância do desenvolvimento sustentável como instrumento fundamental na promoção de uma vida digna. Depreende-se assim que a sustentabilidade aglutina no seu bojo as questões ambientais, sociais, culturais, políticas e econômicas, não sendo mais possível pensar um novo paradigma desconectado do desenvolvimento sustentável. Nesse sentido é possível dizer que

“o futuro do mundo não depende somente dos chefes de Estado; está nas mãos de milhares de milhões de cidadãos com a sua esperança e sobretudo com a sua vontade. A mensagem essencial da ecologia política resume-se toda nisto: já não há um espaço prioritário para a ação; não se trata de esperar a conquista do poder para agir, como se existisse um “centro” com as suas informações e alavancas de comando da grande máquina da sociedade. Esta visão mecanicista da sociedade, herdada de Descartes e das Luzes, está ultrapassada; hoje trata-se de um organismo complexo. Todos possuímos uma parte do poder sobre o nosso próprio destino e sobre o destino de todos; tal como a célula encerra o patrimônio genético do conjunto do organismo, uma parte da espécie, cada um de nós contém uma parte da esperança universal”.65

A concretização do Desenvolvimento Sustentável implica a participação conjunta e solidária de toda a sociedade de forma que se possa deixar como legado às gerações futuras um meio ambiente equilibrado no seu mais completo significado, ensejador de uma vida digna e com qualidade.

64 BRANCO, Samuel Murgel. O meio ambiente em debate. p. 92. 65 BRODHAG, Christian. As quatro verdades do planeta. p. 282.