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A campanha eleitoral de 1958: unidade dividida

No documento 2006SandraMaraBenvengnu (páginas 103-129)

1. A POLÍTICA NA METRÓPOLE DA SERRA

2.4. A campanha eleitoral de 1958: unidade dividida

A campanha política com vistas às eleições de outubro estava no auge. Seriam eleitos governadores, deputados federais e estaduais. Além de representar “a primeira grande manifestação da nacionalização da política populista”, também “pela primeira vez, o PTB empenhou-se na vitória de seus candidatos aos governos estaduais”. Para tanto, as

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Diário da Manhã, 28 dez. 1958.

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Diário da Manhã, 28 dez. 1958.

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Sobre o Manifesto a que se referiu Menna Barreto, não consta sua publicação em nenhum dos dois jornais locais, nem na data indicada, nem nos meses anteriores ou subseqüentes.

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Diário da Manhã, 28 dez.1958.

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articulações políticas iniciaram já em 1957, quando a direção nacional do PTB empenhou apoio à candidatura de Adhemar de Barros em troca do apoio do PSP aos governos do Rio Grande do Sul, Paraná e Rio de Janeiro, ou seja, uma reedição da Frente Populista que se constituiu num acordo nacional entre o PTB e PSP, visando a eleição de Getúlio Vargas em 1950, e que de um modo geral se processou nessas eleições.362

Desse modo, podemos perceber diante de tanto empenho e comprometimentos, a intensidade da mobilização trabalhista em torno dessa campanha eleitoral. Leonel Brizola, por sua vez, não mediu “esforços” para chegar ao governo do Rio Grande do Sul conforme já apontamos anteriormente. Fernando Ferrari já liderava uma corrente no partido em contradição à política de Jango e Brizola. Alinhavavam-se assim contradições dentro do partido, mais especificamente entre Loureiro da Silva e Ferrari contra Brizola em nível estadual.

Essas considerações são importantes para entendermos, no desenrolar dos acontecimentos, a postura da ala rebelde de Passo Fundo, frente aos novos objetivos que buscava Fernando Ferrari dentro do partido e que vinham também de encontro aos seus, uma vez que entre as razões das contradições, das “queixas” dos revoltosos em relação a postura da Executiva Municipal, encontrava-se justamente o personalismo apregoado por Ferrari em relação a Jango e Brizola. Pode-se explicar essas “querelas” pela afirmação de Celina D’Araújo de que o PTB desde sua criação em 1945 ligou-se a figura de Vargas.363 Permeado pelas idéias e personalidade do grande líder, esse “getulismo se converteu em uma organização afeita ao culto da personalidade”, fosse ela Getúlio, João Goulart ou Brizola”,364 e no caso de Passo Fundo, na figura de César Santos. Constituem-se esses, exemplos expressivos, de uma “rotinização tradicional do carisma”,365 que se consolidou, após o suicídio de Vargas, como apontou a trajetória do PTB até sua extinção em 1965.

Assim é que, o processo eleitoral iniciado em 1958, surge no cenário político local, com importantes e expressivas singularidades impostas por alguns fatores em particular e a outros de um modo geral, como poderemos perceber ao longo desse processo.

A campanha política do PTB teve como primeiro ato público, a vinda de Brizola a Passo Fundo, evento esse que foi portador de novos direcionamentos na política trabalhista

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D’ARAÚJO, Maria Celina. Sindicatos, carisma & poder: o PTB de 1945-1965. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1996, p.118.

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D’ARAÚJO, Maria Celina. Sindicatos, carisma & poder: o PTB de 1945-1965. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1996, p.19.

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D’ARAÚJO, Maria Celina. Sindicatos, carisma & poder: o PTB de 1945-1965. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1996, p.87.

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D’ARAÚJO, Maria Celina. Sindicatos, carisma & poder: o PTB de 1945-1965. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1996, p.19.

local, uma vez que foi em decorrência de atitudes tomadas, observadas e sentidas nessa oportunidade, que mais contradições, mágoas e rancores vieram à tona, se mostraram, tornaram-se públicas.

Leonel Brizola à frente da coligação PTB-PRP-PSP, que disputava o governo com Walter Perachi Barcellos da aliança PSD-PL-UDN, veio a Passo Fundo em 7 julho de 1958. Grande e concorrido comício foi realizado com vistas à sua eleição, assim também como a de Guido Mondin, candidato ao Senado pela coligação PTB-PSP, em frente à sede do PTB, localizado na rua Independência. Para a ocasião, foi armado um coreto de honra “ocupado pelos membros da caravana Leonel Brizola, visitantes dos municípios vizinhos e membros da Executiva Municipal do PTB”.366

Em saudação a Brizola e Mondin, falaram Menna Barreto, candidato trabalhista à Assembléia Legislativa, Lamaison Porto, deputado estadual e representante do PSP, Vitor Issler deputado federal pelo PTB, o prefeito Wolmar Salton, assim também como César Santos, presidente da Executiva Municipal do Partido. Brizola recebeu também, cumprimentos do Diretório do PSD local, que se fez representar por Túlio Fontoura, candidato à Assembléia Legislativa. Entre os diversos discursos ouvidos, os candidatos visitantes foram homenageados “com oferta de lindos ramalhetes de flores e corbelhas, entregues pelo Comitê Feminino “Getúlio Vargas” de Passo Fundo, e Ala Feminina de Carazinho”.367

Brizola, então prefeito de Porto Alegre, encerrando o comício, dirigiu ao povo presente, vibrantes palavras carregadas de ardor político, estilo esse que segundo Bodea, “o faria ascender rapidamente, tanto na estrutura interna do partido, quanto na penetração popular e eleitoral”,368 já manifestado desde sua primeira campanha eleitoral a deputado estadual em janeiro de 1947. Ao indicar os candidatos do PTB à Câmara Federal, disse que “ao lado de Daniel Dipp e César Prieto, que por motivos alheios às suas vontades não se fizeram presentes” ali encontrava-se Victor Issler, lutador incansável da causa trabalhista, devendo por esse motivo, ser reeleito à Câmara Federal. Em relação aos deputados estaduais, sua recomendação recaiu sobre Ney Menna Barreto, Carlos de Danilo Quadros, Lamaison Porto, respectivamente do PTB, PRP e PSP representantes locais369, assim como

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O Nacional, 8 jul. 1958.

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O Nacional, 8 jul. 1958.

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BODEA, Miguel. Trabalhismo e populismo no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 1992, p. 45.

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os demais candidatos presentes como Jairo Brum, Victor Hugo Leal, Romeu Barlese de Carazinho, João Caruso e outros.

Ao concluir sua aplaudida oração, ressaltou

o clima de ordem e segurança com que se realizam os comícios hoje transformados em verdadeiras reuniões de famílias, com esposas e até crianças de colo, numa demonstração de civismo e democracia, a par da ordem pública e do clima de liberdade que vem sendo assegurado pelo Estado, no regime democrático em que vivemos.370

No entanto, por trás dessa vibração política toda, um caldeirão de mágoas e rancores borbulhava. Será que passou despercebido pelos integrantes da comitiva de Brizola e dos presentes ao evento, certas ausências? Dificilmente, pois Jorge Cafruni, há mais de um mês anunciava em suas costumeiras crônicas que “se abespinham os políticos de Passo Fundo, com casos e mais casos; partidários, jornalísticos, pessoais, impessoais, envolvendo alas moças e velhas, femininas e masculinas”.371 Era um estopim aceso que vinha por aí e a derrocada não deveria ser subestimada. Cafruni, com tendências nitidamente pró- rebeldes, devia muito bem saber a extensão desses antagonismos.

Nos dia seguinte, oito de julho, nos dois jornais locais as notícias mostraram somente a repercussão e o êxito do comício trabalhista. Nenhuma nota sequer sobre as “ausências”, a não ser uma evidência disfarçada sob a alusão clara e detalhada das presenças. Esse comportamento constitui-se apenas numa amostra de algumas das facetas incorporadas pela imprensa no que se referia à divulgação de notícias sobre as divergências domésticas do PTB

Rompendo esse clima silencioso, Arthur Canfield, vereador trabalhista, integrante da ala rebelde, utilizando-se do microfone da ZYF-5 Rádio Passo Fundo, esclareceu os motivos pelos quais a bancada trabalhista não participou do comício Brizola-Mondin na noite de 7 de julho de 1958.

Disse o eloqüente edil em sua acalorada preleção, publicada por um grupo de trabalhistas no jornal O Nacional, o seguinte:

Os vereadores não estavam ausentes daquele memorável conclave. Eles estavam junto com o povo, no descampado, porque este é o seu lugar e porque os citados donos da Executiva não permitiam a sua presença na tribuna policiada e capangueada. Lá no meio do povo se encontravam os vereadores, firmes nas suas convicções partidárias, ao lado da enorme

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Diário da Manhã, 16 jul. 1958.

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massa popular que se reuniu para ouvir e aplaudir o invencível candidato da causa trabalhista, Leonel Brizola.372(grifo nosso).

Reforçando sua justificativa, prosseguiu Canfield:

Realmente, os vereadores não mereceram a distinção de fazer companhia à caravana do futuro governador do Estado, E não foram só eles. Lá também não estavam o deputado Múcio de Castro, os membros da Executiva Gonorvam Guedes, Nelson Petry e Verdi De Césaro. Lá também não se encontravam os nossos destemidos líderes Daniel Dipp, Paulo Fragomeni, Simões Pires, Romeu Martinelli, Augusto Trein, Telmo Corrêa, Orestes Mozzato, João Freitas, Paulo Totti, Trajano Salinet, Felipe da Cunha, todos os líderes sindicais e um número sem par de legítimos e autênticos batalhadores da causa trabalhista.373

Arthur Canfield, em nome da bancada trabalhista, com palavras onde se evidenciava mágoa e revolta, declarou que em lutas cívicas anteriores, “quando o PTB era governado por uma direção partidária que agia coletivamente, a tribuna de honra nos comícios cívicos não tinha muros e guardas, era aberta, franca e acessível” para todos aqueles que imbuídos de ardor trabalhista, quisessem transmitir a seus companheiros de ideais e lutas, seu pensamento, suas palavras. Afirmou também, que ódios e agressões aqueles tempos não comportavam, pois os que assim procedessem encontrariam nas tribunas trabalhistas, “uma autêntica bazuca que destruía e inutilizava as suas investidas injuriosas e difamadoras”. Mas, os tempos são outros, estão mudados, hoje, “os coretos dos comícios têm muros e guardas. Neles têm acesso mais fácil os inimigos de ontem do que os companheiros de todos os tempos”, desabafou Canfield, numa alusão à presença de representantes da Frente Democrática ao comício, visitas essas que fariam sangrar velhas cicatrizes de lutas e refregas de outrora dos companheiros que auxiliaram na construção e a formação da grandeza do PTB, caso estivessem no coreto oficial. Em relação ao sangramento de “velhas cicatrizes”, referiu-se Canfield, no possível encontro entre Túlio Fontoura - presente ao comício - com Múcio de Castro caso esse último tivesse comparecido ao evento.374 Tratava-se de antigas “diferenças” entre ambos, assunto já apontado anteriormente.

As declarações de Canfield mostraram que os conflitos no seio petebista fugiam completamente à esfera doméstica, mostram-se publicamente, oficializando-se perante a comunidade política local. A ausência da bancada trabalhista no comício de Brizola em campanha eleitoral no município constituiu-se sem dúvida nenhuma, num fato, intrigante e

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questionável. Uma bancada legislativa em qualquer nível de atuação, federal, estadual ou municipal, por mais inexpressiva que fosse, constituía-se sem dúvida nenhuma na força, no amparo, na base, enfim, no respaldo de uma agremiação partidária. Ainda mais se tratando do PTB de Passo Fundo que, não fugindo à regra de fervorosa militância, constituía-se numa bancada de maioria no legislativo, atuante, presente e notadamente “barulhenta”, difícil seria passar despercebida em algum acontecimento político daquele porte. Esse comportamento veio demonstrar que o grau das divergências que imperava no partido era de tal intensidade, que nem mesmo a presença de Brizola conseguiu arrefecer.

Não houve por parte de Brizola, nenhuma menção à ausência da bancada trabalhista no evento e esse silêncio nos aponta algumas considerações. Vejamos a situação. As relações entre as lideranças trabalhistas de um modo geral estavam conturbadas. Estavam Brizola e Jango de um lado, Ferrari e Loureiro de outro. Não era diferente a situação em Passo Fundo, o partido estava dividido e Brizola deveria saber uma vez que nenhuma atitude era tomada em nível local, sem chegar ao conhecimento da direção estadual. E Caruso já havia estado em Passo Fundo e conversado com a Executiva. Do mesmo modo, Dipp foi a Porto Alegre em conferência com aquela direção partidária.375

Brizola ainda mantinha com as duas alas o mesmo relacionamento, ou seja, aparentemente distante das pendengas que havia entre ambas. Em plena campanha política, não seria hora para mais divisões, desavenças, muito pelo contrário. A hora era de união, hora de somar esforços para uma vitória do partido e de Brizola logicamente. Brizola era um político com uma certa experiência e tinha não só ele, mas também o partido, como meta maior o governo do Estado, que pela primeira vez estava se empenhando “na vitória de seus candidatos aos governos estaduais”.376 A situação exigia ponderação e cautela, muita cautela. E foi o que aconteceu. Seguiu o PTB de Passo Fundo dividido em duas forças numa luta aberta e direta, que não convinha ainda ser resolvida pelas líderes maiores. A tomada de posição e atitudes ficaria para mais adiante.

Ilustrativa da situação exposta foi a mensagem enviada por João Caruso a Daniel Dipp comunicando “ao ilustre companheiro”, que dia 21 de setembro, Brizola chegaria a Passo Fundo com a finalidade de realizar um comício, e solicitando também, “sua colaboração, no sentido de fazermos uma manifestação popular aos nossos candidatos”.377 Essa atitude da Executiva Estadual veio demonstrar que as contradições entre Dipp e a

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O Nacional, 8 ago. 1958.

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Executiva Municipal se restringiam ainda no âmbito local, permanecendo a direção estadual no campo neutro em relação a posições. Num contexto de campanha eleitoral, onde estavam em jogo posições de mando estratégicas para o partido, uma tomada de posição nesse momento não convinha.

Questionável se tornou assim o problema do PTB em Passo Fundo. Mais ainda, quando no “comício monstro” realizado, à noite, no Altar da Pátria, na presença de “imensa mole humana, formada de milhares de assistentes, que aplaudiram delirantemente os candidatos ao governo do Estado e a senatoria”,378 todos juntos, irmanados no mesmo “ideal” ouviram, quando Dipp em seu discurso

salientou a importância daquele comício que constituía a reafirmação da unidade do PTB, demonstração de que os solapamentos intentados não destruíram a sua unidade, e que Passo Fundo continua sendo o baluarte do trabalhismo no Rio Grande.379

Do mesmo sentido são portadoras as palavras de Brizola quando ao encerrar o evento, congratulou-se “com os dirigentes do PTB local, [...] pela maneira como vinham conduzindo a campanha eleitoral, mantendo a unidade partidária”.380De uma forma clara e direta, expondo a situação por que passava o partido, afirmou

que a divergência ocorrida entre a direção local do PTB e o dr. Daniel Dipp, não afetou e nem afetará a coesão do partido, que assim, unido, marchará às urnas para cumprir o seu dever, votando no seu candidato ao Governo do Estado.381

Pelo exposto, difícil seria entender a unidade a que se referiu Daniel Dipp e Brizola, quando era público e notório a existência de uma cisão profunda e progressiva no partido em Passo Fundo e da forma violenta que estava se processando, dificultava possíveis reconciliações. Ainda mais sob o olhar passivo da alta direção estadual do PTB.

Mais difícil se tornava essa unidade, quando mais uma vez, os nomes de Martinelli e Trein, por exemplo, expressivas lideranças do PTB local não constavam na lista de presenças ao tão aclamado comício trabalhista. Como então se explicaria a pretensa unidade partidária, sob tão violentas contradições? Essa unidade apregoada talvez pudesse ser entendida ou percebida por uma característica que diferenciou o PTB dos demais partidos nacionais.Com a morte de Vargas, Brizola reivindicou “para si a prerrogativa de

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O Nacional, 22 set. 1958.

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O Nacional, 22 set. 1958.

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Diário da Manhã, 23 set. 1958.

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dar continuidade à obra do líder fundador, disseminando seu exemplo de ideário”, constituindo-se como o “cimento através do qual o partido obteria unidade e continuidade”.382 É, portanto sob esse prisma que deve ser entendida a força dessa união, declarada por Dipp e reafirmada por Brizola, mesmo sob fortes desacertos. Acontece que esse “cimento” em Passo Fundo dava mostras de não estar bem firme.

Apesar desse “comício monstro”383 ter se realizado “na mais perfeita ordem e com grande vibração popular”, foi permeado por cenas um tanto singulares para o contexto político-trabalhista da época,uma vez que proporcionou o referido meeting - como eram referidos os comícios na época -, aspectos interessantes e até certo ponto cômicos, isto é,contradições eram plenamente percebidas...

Todos os que esgotaram, durante mais de dois meses os termos desaforados do dicionário em ataques recíprocos, nesta cidade,estavam juntos no mesmo palanque, domingo à noite. Lá estavam, por duplas, dr. César Santos e vereador Arthur Canfield, dr.Daniel Dipp e César Prieto, Ney Menna Barreto e Lamaison Porto e, de contra-peso, o Prefeito Municipal com o seu candidato Victor Issler. Era realmente uma simbiose chocante entre o donismo e a rebeldia, entre o tostão de cadillac e o milhão de fraque, entre o que presta e o que paga, entre a noite das garrafadas e o grito histérico do homem dos engraxates. Enquanto o povo na rua gritava Dipp, Dipp, o orador gritava Ney Menna Barreto; enquanto um no palanque arrancava do revólver e gritava desce, o outro berrava, daqui não saio, daqui ninguém me tira.384

Contrário ao PTB, o Diário da Manhã, numa demonstração de sua inclinação político-partidária, comparou o discurso de Brizola com as palavras proferidas pelos candidatos da Frente Democrática que dias atrás haviam realizado um comício em Passo Fundo, argumentando nos seguintes termos:

Enquanto Perachi em Passo Fundo falou sobre os seus propósitos no governo, Brizola se limitou a fazer propaganda de seus camaradas; enquanto Brito Velho deu-nos uma verdadeira aula de democracia social, Mondin traçou o panegírico de Brizola, ambos num total desrespeito à cultura do povo de Passo Fundo que tem o direito de ouvir algo de mais elevado e mais profundo de seus homens públicos.385

O comentário do Diário da Manhã procurou, através de contrapontos, mostrar a superioridade da campanha pessedista e o alto nível cultural de seu candidato, mais

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D’ARAÚJO, Maria Celina. Sindicatos, Carisma & Poder: o PTB de 1945-65. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1996, p.19.

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O Nacional, 22 set. 1958.

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Diário da Manhã, 23 set. 1958.

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preocupado com assuntos programáticos e teóricos, do que os candidatos trabalhistas que numa demonstração de desconsideração com assuntos mais relevantes de ordem política e social, visavam unicamente cultuar e engrandecer seus candidatos. Essas considerações vinham ao encontro de uma característica marcante na militância partidária do PTB: “afeita ao culto da personalidade”.386

E assim, como pudemos observar, a campanha eleitoral em Passo Fundo, iniciou tendo a “família trabalhista” duas opções de pensamentos e de candidatos por conta de uma unidade dividida: Brizola, Guido Mondin e César Prieto pela Executiva Municipal e Brizola, Guido Mondin e Daniel Dipp sob a liderança dos dissidentes trabalhistas, ou seja, a ala rebelde do PTB local.

Sem perda de tempo, César Prieto com o aval do Diretório Municipal e de Brizola, aqui instalou seu Comitê em solenidade transmitida pela Rádio Passo Fundo, sob a direção de Mose Missio, ligado à direção do PTB local. Prestigiaram o acontecimento, além de César Santos, Sinval Bernardon, ligado ao diretório trabalhista; Osvaldo Vieira, prefeito de Soledade; Rui Matos, coletor federal em Sarandi, entre outros petebistas.

Como forma de evidenciar a divisão entre os partidários do PTB, chamamos a atenção para o fato de que no mesmo dia e hora sugestivos em que Dipp inaugurou seu diretório, ou seja, 24 de agosto de 1958, às 20 horas, juntamente com o deputado Múcio de Castro, Verdi de Césaro, Paulo Fragomeni, Augusto Trein, Arthur Canfield, Romeu Martinelli, Theomiro Branco, Telmo Corrêa, Carlos de Danilo Quadros, entre outros387; a outra ala “em comemoração ao quarto aniversário da morte do Presidente Vargas, realizou na sede do Diretório do PTB local, uma sessão cívica, presidida pelo dr. César Santos,

No documento 2006SandraMaraBenvengnu (páginas 103-129)