• Nenhum resultado encontrado

Vitória trabalhista: a coligação PTB-UDN de 1947

No documento 2006SandraMaraBenvengnu (páginas 51-60)

1. A POLÍTICA NA METRÓPOLE DA SERRA

1.5. Vitória trabalhista: a coligação PTB-UDN de 1947

No calor dos resultados eleitorais obtidos nas eleições de janeiro de 1947, iniciou- se a movimentação “no tabuleiro da política passo-fundense”156 em busca do poder executivo e legislativo municipal, eleição essa que se realizaria nesse mesmo ano, em 15 de novembro.

154

O Nacional, 13 jan. 1947.

155

A votação de Ferreira Filho em Passo Fundo foi de 2.158 votos. Sua derrota eleitoral deveu-se a fragilidade representativa do PSD que foi se mostrando e se acentuando desde a sua formação em 1945. Composto por expoentes consolidados na política passo-fundense como Nicolau Vergueiro, Bittencourt de Azambuja e o próprio Ferreira Filho, não conseguiram, porem, administrar sob uma mesma sigla partidária, todo o poder político de que eram portadores, havendo por essa razão, expressivas divergências. Vergueiro e Ferreira Filho eram oriundos do histórico PRR, já Bittencourt de Azambuja era uma grande liderança do Partido Libertador na região. Após as eleições de 1945, embora Vergueiro e Bittencourt de Azambuja tenham sido eleitos à Câmara Federal, este último acusou publicamente Vergueiro, Ferreira Filho e Túlio Fontoura, proprietário do Diário da Manhã, - ex-PRR e militando também no PSD -, de fraude eleitoral contra sua candidatura e, após romper com os mesmos, foi se afastando do partido até romper totalmente. O Nacional, 28 nov. 1945.

156

Passo Fundo, liderando as grandes cidades que ansiavam “pela sua reintegração no âmbito da democracia e aos quadros da Lei”, cedo iniciou a agitação para entrar no jogo político. Nesse sentido, saindo na frente, o PTB, “jovem partido que “judiou” do ex- majoritário nos últimos tempos em sua própria casa, ia temperando as tintas”, 157 “manejando as peças à procura de um candidato de consenso ao executivo municipal158 Após ensaios, boatos, conversações, sondagens, a explosão que a cidade tanto esperava, “rebentou” no salão do Hotel Internacional de Passo Fundo. O Diretório municipal do PTB, atingindo o “clímax de sua atividade” homologou

a candidatura do ilustre cidadão conterrâneo, sr. Armando Araújo Annes, que com tirocínio, alta capacidade, honradez e dedicação, com larga visão administrativa, dirigira por duas vezes o destino da comuna passo- fundense.159

Armando Annes,160 filho de tradicional família política local, já havia administrado Passo Fundo por duas ocasiões, em 1924 e 1932, portanto um nome de consenso, capaz de unir os partidos em torno de sua candidatura. E o PTB foi hábil em sua decisão, uma vez que carecia ainda de nomes capazes de enfrentar lideranças políticas tradicionais, para vencer as eleições e hastear a bandeira trabalhista em Passo Fundo. E essa era justamente a intenção do PTB ao homologar a candidatura de Armando Annes e do trabalhista Daniel Dipp na vice-prefeitura. A intenção de Armando Annes ao aceitar sua candidatura era a de agregar em torno de seu nome não só o PTB, mas todos os partidos que se movimentavam no cenário político local, o que ficou evidenciado, quando ao agradecer a indicação de seu nome, disse que “esperava contar com o apoio de outros partidos”, atitude essa que viria demonstrar “uma sã cooperação em benefício de nosso município”.161

Cabe aqui ressaltar que Armando Annes, não pertencia ao PTB. O candidato recém lançado ao governo municipal era “figura exponencial do Partido Republicano Liberal, democrata consciente e valoroso”, porém, integrado “nos princípios da União Democrática”,162 da qual esperava contar com integral apoio. Armando Annes, nessa nova

157

O Nacional, 1 abr. 1947.

158

Diário da Manhã, 1 abr. 1947.

159

O Nacional, 3 abr. 1947. Armando Annes exerceu o mandato de intendente em 1926 e de prefeito

municipal em 1932. O Hotel Internacional, o “mais antigo de Passo Fundo”, de propriedade de Curt Von Meusel, situava-se na Avenida Brasil, esquina 7 de setembro. INDICADOR de Passo Fundo. Passo Fundo, s.e., 1950, [p. 55]. Acervo Arquivo Histórico Regional da Universidade de Passo Fundo – AHR.

160

Armando Annes era filho do Coronel Gervásio Luccas Annes, primeiro líder republicano local que esteve à frente do governo municipal em 1893, 1896 e 1908. NASCIMENTO, Welci; DAL PAZ, Santina Rodrigues

Vultos da história de Passo Fundo.Passo Fundo: Gráfica Berthier, 1995, p. 48.

161

O Nacional, 3 abr. 1947.

162

reestruturação política, seguiu os ditames do líder perrelista estadual Flores da Cunha que após romper com Vargas em 1937, se posicionou ao lado do partido de maior oposição ao ex-presidente gaúcho, a UDN.

Unidos, PTB e UDN proclamaram oficialmente a candidatura Annes, levando a aquiescência de César Santos e Aristóteles Lima, presidentes dessas agremiações partidárias, respectivamente.

Com a intenção de formar a candidatura popular almejada, a coligação PTB-UDN buscou a participação das demais agremiações partidárias atuantes no cenário político local. O PRP e o PL, porém, se uniram na denominada Coligação Democrática Cristã, apoiada pelo clero e que tinha como seu candidato oficial o jurista Carlos Galves, portanto já em oposição formada.

Em relação ao PSD, houve um encontro entre César Santos pela coligação PTB- UDN e Nicolau Vergueiro, líder do PSD. Denominado pela imprensa local de “histórico acordo”, o mesmo não se efetivou. César Santos, ciente da possível disposição de um apoio por parte do PSD à candidatura Annes, condicionou como única prioridade para que se efetivasse tal acordo, a assinatura em primeiro lugar na proclamação do ajuste, do representante do PSD.163

Melindrado e irritado, diante de tal objetividade do representante trabalhista, julgou Vergueiro, ser aquela atitude “não um acordo e sim um apoio incondicional e até intempestivo!”, e que ali se encontrava por ter sido informado ser o PTB quem desejava um acordo e não o PSD. Diante da irredutibilidade da representação PTB-UDN em reformular a oferta, disse Vergueiro por fim: “Então não temos nada a tratar”. E assim de maneira pitoresca terminou “um belo romance, quando um grande amor começava a nascer...”164

Note-se que não houve acordo e sim uma imposição por parte da coligação PTB- UDN. E essa irredutibilidade, pode ter se originado na difícil situação em que se encontrava o PSD no momento.

Bittencourt de Azambuja havia abandonado o partido desde as comentadas fraudes eleitorais na última campanha de janeiro de 1947 e liderava a dissidência pessedísta165 que apoiava a candidatura de Carlos Galves da coligação PL-PRP. Ferreira Filho encontrava-se

163 O Nacional, 23 abr. 1947. 164 O Nacional, 23 abr. 1947. 165 O Nacional, 25 set. 1947.

em São Leopoldo como prefeito, nomeado166por Walter Jobim, após a derrota sofrida nas últimas eleições. O partido, sem sombras de dúvidas, estava fragilizado, desfalcado de suas lideranças exponenciais, e já perdendo espaço de mando, mas não totalmente derrotado ainda. Nicolau Vergueiro à frente do partido, embora sozinho, possuía uma bagagem política de expressão e prestígio. Afora essas considerações todas, é importante perceber que era ainda o PSD quem estava no comando do Estado e também em Passo Fundo, com a nomeação de Pio Brum para o cargo de prefeito municipal. Era, portando, um partido situacionista. Vergueiro ainda tinha nas mãos alguns trunfos. E talvez o PTB não os tenha levado em consideração, tenha subestimado a força política de Vergueiro ao propor tal acordo.

Difícil seria Vergueiro submeter-se a um partido jovem tanto no que se refere à questão de tempo de formação, de militância, como de representação política como o PTB. Também o PSD era um novel partido, mas formou-se - mesmo que somente na sua origem - de antigos e experientes líderes políticos. Por essa razão, o PSD consistiu numa representação visivelmente fundada “dentro da perspectiva getulista de continuísmo na transformação”,167 segundo Lucília Delgado. Essa era a questão, esse era o sistema que Vergueiro representava. Mudou somente a sigla, as lideranças e a prática política eram as mesmas. Se Vergueiro aquiescesse aos ditames petebistas, embora liderando um partido fragilizado por disputas internas e deserções, estaria abrindo mais ainda o seu espaço de poder que o PTB já estava monopolizando, tanto no município como na região e comprometendo seu prestígio político. Por essas razões, não desistiria sem lutar.

Para explicar a presente situação política, oportunas são as palavras de Robert Michels quando diz que “aquele que experimentou uma ascensão não retorna voluntariamente à obscura posição anterior”. Quem alcança o poder tem como “regra geral, consolidá-lo e ampliá-lo, multiplicar as defesas em torno de sua posição” com o objetivo único de “torná-la inatacável e de subtraí-la” aos do que dele querem apoderar-se.168 E Vergueiro estava defendendo sua posição ao opor-se à forma como o PTB impôs o “histórico acordo” que não se efetivou. Essas contradições mostravam que não seria nada amena a disputa eleitoral em Passo Fundo. O PTB queria ampliar e consolidar seu espaço político e o PSD procurava defender o que ainda mantinha sob seu poder.

166

O Nacional, 2 abr. 1947.

167

DELGADO, Lucília de Almeida Neves (Org.). O tempo da experiência democrática: da democratização de 1945 ao golpe civil-militar de 1964. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. p. 138.

168

E assim, tendo como candidato ao Executivo Municipal o madeireiro Dionísio Lângaro, seguiu o PSD para o embate eleitoral que se aproximava e que prenunciava se constituir numa “praça de guerra”,169 Contribuiu de forma significativa para o acirramento da disputa entre PTB e PSD a postura adotada pelos jornais locais, O Nacional e o Diário

da Manhã. O Nacional, cujo proprietário era Múcio de Castro, veiculava notícias

relacionadas ao PTB e o Diário da Manhã, de Túlio Fontoura, aquelas expressas pelo PSD. Túlio Fontoura foi um dos fundadores do PSD junto com Nicolau Vergueiro, Ferreira Filho e Bittencourt de Azambuja. Por essa razão, o Diário da Manhã passou desde a fundação daquela agremiação partidária a se constituir não só em órgão propagador das idéias e práticas partidárias, mas seu mais ferrenho defensor, agindo como se fosse um partido político, um poder paralelo ao institucional, comportando-se, não como uma instituição da sociedade civil, mas da sociedade política, em maior ou menor grau, dependendo dos acontecimentos.170 Túlio Fontoura concorreu ao Legislativo Municipal nessas eleições de janeiro de 1947, mas sem sucesso.

Em relação a Múcio de Castro, não podemos afirmar se nesse momento já havia uma definição em seu posicionamento político, uma vez que ainda não se mostrava ligado diretamente a alguma agremiação partidária. O que podemos perceber nitidamente é que além de O Nacional constituir-se em veículo das contraposições das notícias publicadas pelo Diário da Manhã em relação ao PTB, também pelo modo como o fazia, demonstrava uma sutil tendência a esse partido, não como forma de um posicionamento político definido, mas como forma talvez de atingir seu desafeto maior que era Túlio Fontoura. Mais tarde sim, não só se definiria politicamente, como também passaria a se utilizar da mesma prática de Túlio Fontoura.

É importante esclarecer que fortes rivalidades e divergências vinham pautando as relações entre Múcio de Castro e Túlio Fontoura já há mais tempo. Em determinadas situações, acirraram-se de tal forma os ânimos entre ambos que chegaram a ponto de trocar violentas acusações pessoais, recheadas dos mais ignóbeis qualificativos, pelas páginas dos respectivos jornais. No decorrer desse estudo, algumas situações apresentar-se-ão, ilustrando tais informações.

169

O Nacional, 11 out. 1947.

170

ABRAMO, Perseu. Significado político da manipulação na grande imprensa. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2003, p. 46.

Nesse clima, iniciou a campanha eleitoral calcada em acusações mútuas entre os partidos majoritários em disputa, acusações essas acolhidas e fomentadas também pelos jornais locais, que em algumas situações não distinguiam o político do pessoal.

Nicolau Vergueiro dirigiu ataques diretamente à pessoa de Armando Annes, de quem era “velho adversário político”,171 publicados pelo Diário da Manhã. O mais grave deles talvez tenha sido aquele em que Vergueiro afirmou que Armando Annes contratara alguém para assassiná-lo, ainda em 1933, quando exercia o cargo de prefeito municipal Nessa ocasião, Vergueiro chefiava a Frente Única Gaúcha – FUG, em oposição ao governo de Flores da Cunha.172 Sob responsabilidade da coligação PTB-UDN eram publicadas no jornal O Nacional réplicas às acusações de Vergueiro, sob o título de Esmagadora

Contestação!173

Superadas as acusações de Vergueiro, a oposição coligada, iniciou uma insistente campanha contra a candidatura pessedísta aproveitando-se do clima anticomunista que pairava no ar, desde a cassação do PCB em maio de 1947 e das declarações do líder comunista local Eduardo Barreiro no sentido de um apoio ao candidato do PSD.

Segundo publicou a imprensa local, há dias vinha se processando “nos círculos de extrema esquerda”, um movimento em apoio à candidatura de Dionísio Lângaro, a exemplo do que havia sido feito pelo PCB com Walter Jobim na candidatura estadual de janeiro de 1947.174 Confirmada essa adesão Eduardo Barreiro, declarou à redação de O

Nacional que já contando o PSD com a candidatura de dois companheiros comunistas na

chapa do partido, revelava assim, suas “boas intenções” como o extinto PCB. Diante disso, os comunistas de Passo Fundo, “reconhecendo os métodos libertários e democráticos dos dirigentes” daquele partido, não só apoiariam Dionísio Lângaro, mas marchariam ao seu lado em 15 de novembro.175

A partir de então, a coligação PTB-UDN passou a usar o anticomunismo como uma estratégia eleitoral, instigando os eleitores a votar contra os “males” que representava o candidato do PSD e a favor da candidatura “salvadora” de Armando Annes. Mesmo estando o PCB na ilegalidade, a simples menção de atuação de seus membros “assustava alguns e servia de arma demagógica para outros”.176 E foi desse recurso que o PTB se

171

O Nacional, 17 abr. 1947.

172

Diário da Manhã, 1 out. 1947.

173 O Nacional, 26, 27, 29 set. 1947. 174 O Nacional, 25 out. 1947. 175 O Nacional, 31 out. 1947. 176

RODHEGHERO, Carla Simone. O diabo é vermelho: imaginário anticomunista e Igreja Católica no Rio Grande do Sul (1945-1964). Passo Fundo: Ediupf, 1988, p.104.

utilizou e pautou sua campanha eleitoral até o final. E existiam razões para esse comportamento.

Acontece que a candidatura Annes era simpática em grande parte do município. No distrito de Marau, por exemplo, a situação era outra. Ali seus habitantes pertenciam em essência ao PSD. Zona colonial, de forte influência católica e também pelo “bloqueio imposto ao trabalhismo pela aliança PSD-PRP”,177 difícil seria a penetração ali do PTB. Por essa razão, poderia essa vila, consistir num entrave à vitória do candidato coligado Armando Annes. Embora a situação do PSD não fosse das melhores, conforme já apontamos, a corrida ao Executivo Municipal não seria fácil. A força eleitoral de Vergueiro era ainda muito forte.

Em apoio à candidatura Annes, vieram o deputado Brizola e Brochado da Rocha, líder gaúcho dos ferroviários, numa demonstração da perene articulação política existente entre a direção local e regional. Em Passo Fundo, juntamente com lideranças udenistas e trabalhistas, reuniram-se num “grandioso comício popular de propaganda da vitoriosa candidatura do sr. Armando Annes” no Altar da Pátria, para onde “milhares de pessoas acorreram”. Entre os militantes do PTB local, encontravam-se César Santos, Daniel Dipp, que disputaria a vice-prefeitura com Armando Annes, Arthur Canfield, da Ala Moça trabalhista, entre outros. Todos essas lideranças dirigiram-se ao povo presente, “exaltando as virtudes cívicas e privadas do candidato da coligação PTB-UDN”.178

E assim, diante de acontecimentos polêmicos, depois de uma disputada e acirrada campanha eleitoral, saiu vencedor por uma estreita margem de votos, o candidato da coligação PTB-UDN, o

ilustre passo-fundense, sr. Armando de Araújo Annes, governador constitucional de Passo Fundo, eleito a 15 de novembro corrente, em memorável pleito cívico que passará aos anais de nossa terra, como um dos acontecimentos da mais alta relevância.179

Armando Annes foi eleito com 5.560 votos, contra 5.395 recebidos por Dionísio Lângaro, e Carlos Galves, da Coligação Democrática Cristã, teve o total de 1.479 votos.

A vitória trabalhista-udenista, porém, não se estendeu ao Legislativo Municipal. Sua bancada ficou composta por apenas cinco representantes dos quais o mais votado foi o

177

Essa coligação foi formada em apoio à candidatura de Walter Jobim nas eleições de janeiro de 1947, ao governo do Estado, da qual saiu vitorioso. Bodea, Miguel. Trabalhismo e populismo no Rio Grande do Sul. Editora da Universidade/UFRGS, 1992, p.50.

178

O Nacional, 27 out. 1947.

179

industrialista Wolmar Antônio Salton que recebeu 826 votos. Já a representação pessedista alcançou a maioria das cadeiras - dez ao todo - no legislativo. O vereador mais votado foi o médico representante de Marau, Elpidio Fialho com 1.292 votos, sendo por essa razão, eleito o presidente da Câmara Municipal de Passo Fundo. A coligação democrática elegeu apenas um vereador, somando assim a bancada legislativa municipal, ao todo quinze representantes.

Se surtiu efeito a campanha anticomunista contra o candidato do PSD Dionísio Langaro, não podemos afirmar, mas é interessante lembrar que a diferença pró Armando Annes em relação à candidatura pessedista foi de apenas 165 votos, o que veio mostrar além de uma vitória apertada, a importância para a coligação PTB-UDN de uma votação expressiva em Marau para a sagração nas urnas da candidatura Armando Annes. Tal era a resistência nessa localidade ao candidato trabalhista-udenista que após a vitória deste candidato, “Nicandro Oltramari puxou o cordão de trabalhistas” que estiveram “fazendo manifestações de hostilidade à pacata população marauense, aos dignos padres Capuchinhos e aos dirigentes do PSD”.180 Embora essa acusação tenha sido desmentida por Ernesto Formigheri que participou da manifestação, ficou demonstrado, porém, que houve contradições entre trabalhistas de Passo Fundo e a comunidade marauense e que a comemoração da vitória trabalhista naquele local, soou como uma desforra política.

Pela composição majoritária do PSD no Legislativo Municipal podemos perceber que não foi fácil a administração Annes-Dipp uma vez que contou com uma oposição cerrada que não deu tréguas, durante os quatros anos de duração dessa administração. Mesmo diante de polêmicos conflitos e discordâncias que se estabeleceram entre executivo e legislativo, o relacionamento entre Armando Annes e o PTB foi marcadamente harmônico, não ficando evidenciado na documentação consultada, nenhuma divergência de cunho partidário ou pessoal entre ambos.Tinha o então prefeito na figura do vereador trabalhista Wolmar Salton e nos demais integrantes da bancada, assim também como na direção181 do PTB local forte apoio as suas deliberações e realizações. Portanto, evidencia- se que as sérias divergências que caracterizaram o relacionamento PTB-UDN, nesse momento, ficaram restritas ao âmbito nacional.

Conforme as palavras do trabalhista e opositor do PSD e de Túlio Fontoura, proprietário do Diário da Manhã em particular, Djalma Cúrio de Carvalho, a situação em

180

Diário da Manhã, 25 nov. 1947. O industrialista Nicandro Oltramari era natural de Marau, mas residia

em Passo Fundo. Pertencia ao PTB, oriundo do PSD.

181

Passo Fundo com o resultado obtido nas eleições municipais de novembro de 1945, encontrava-se mais ou menos assim:

De um lado Armando Araújo Annes, empregando o máximo de sua reconhecida capacidade administrativa, para o bem dos passo-fundenses [...]. De outro lado o Partido Social Democrático, por seus vereadores, roubando o dinheiro do povo, para o exclusivo proveito de meia dúzia de filhotes [...].182

Em termos político-partidário, embora coligado com a UDN, o resultado desse pleito eleitoral foi mais um degrau que o PTB galgou em sua curta, porém profícua trajetória política. Em janeiro de 1947, conseguiu subtrair do PSD a representatividade estadual com a derrota de Ferreira Filho e a eleição de César Santos ao Legislativo Estadual. Nessas eleições, abriu mais sua vantagem em relação ao seu adversário maior, Nicolau Vergueiro, que com a derrota do candidato pessedista Dionísio Lângaro, perdia grande parte de seu poder em Passo Fundo. Restava ainda ao PTB conquistar a representação federal em mãos do PSD, o que mais tarde se concretizaria.

Essa aliança, formada entre o PTB e a UDN em Passo Fundo, consistiu “num dos primeiros sintomas importantes da quebra da dominação oligárquica em nível municipal” uma vez que se uniram partidos ideologicamente diferenciados “em vez de coligações entre partidos conservadores que excluíam partidos de orientação populista”.183 Poderia ter

No documento 2006SandraMaraBenvengnu (páginas 51-60)