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O início da política eleitoral: César Santos na Assembléia Estadual

No documento 2006SandraMaraBenvengnu (páginas 48-51)

1. A POLÍTICA NA METRÓPOLE DA SERRA

1.4. O início da política eleitoral: César Santos na Assembléia Estadual

Após a formação dos partidos nacionais em 1945, a exemplo do ocorrido em nível nacional, também no Rio Grande do Sul processou-se a reestruturação partidária.

Nesse processo, houve a formação do PTB gaúcho, pela fusão das vertentes sindicalista, teórico-pasqualinista e pragmático-getulista, união essa que buscava “transformar o PTB no maior partido regional, destronando e “desgetulizando” o PSD e tendo como objetivo tático mais imediato a conquista do governo estadual”. Para tanto, necessitava sensibilizar Vargas para essa idéia uma vez que já havia se comprometido com Walter Jobim, candidato do PSD e a candidatura do trabalhista Alberto Pasqualini já

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D’ARAÚJO. Maria Celina. Sindicatos, Carisma & Poder: O PTB de 1945-65. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1996, p.61.

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ganhara às ruas. Vargas, no entanto, ao mesmo tempo em que era favorável a uma composição PTB-PSD, procurou o fortalecimento de um partido regional alternativo, em alerta “à traição de Dutra, em outubro de 1945”.142

Muito embora as considerações acima, não faziam parte dos planos de Vargas uma candidatura alternativa à de Jobim, ainda mais de Pasqualini devido ao distante relacionamento existente entre ambos. Este “lhe fizera oposição na fase final do Estado Novo” que por sua vez, era avesso “ao pragmatismo tático de Vargas”. Mesmo assim, a candidatura Pasqualini decolou e o processo lhe escapou ao controle.143

Acatada pelo PTB a questão da candidatura Pasqualini, foi praticamente imposto a Vargas um posicionamento político já que mantinha uma “eqüidistância em relação aos candidatos do PTB e PSD”.144 Em final de novembro de 1946, num grande comício pró- Pasqualini, atacou pela primeira vez o PSD, comparando-o à UDN, e considerando ambos, “expoentes da democracia burguesa, velha democracia liberal, que afirma a liberdade política e nega a igualdade social”.145 Finalmente rompera com o PSD gaúcho.

E assim, nesse contexto, transcorreram as eleições de 19 de janeiro de 1947 sendo eleitos governadores, a terceira senatoria e deputados estaduais. Loureiro da Silva, líder trabalhista gaúcho, foi portador de uma mensagem enviada por Vargas aos trabalhadores do Rio Grande, na qual solicitava “a votação nos candidatos do PTB é a recomendação que vos faço como um postulado desse idealismo renovador”.146 A recomendação de Vargas, pelo menos em Passo Fundo, foi seguida à risca, uma vez que Pasqualini e Salgado Filho, candidatos a governador e senador, respectivamente, saíram vencedores. Amargaram, porém os petebistas, a derrota para o cargo eletivo máximo no Estado, uma vez que segundo Bodea,

aberta as urnas e apurados os votos, constatou-se a derrota de Alberto Pasqualini, pela estreita margem de vinte mil votos, embora Pasqualini derrotasse Jobim na capital do Estado. Nas eleições para o Senado, no entanto, Salgado Filho venceu o candidato do PSD Oswaldo Vergara por

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BODEA, Miguel. Trabalhismo e populismo no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1992, p36. O golpe militar de outubro de 1945 que afastou Getúlio Vargas do governo contou com a participação decisiva do general Dutra, que já candidato à presidência, temia “que Vargas se aproveitasse do sucesso da campanha queremista para se perpetuar no poder”. DHBB. Eurico Gaspar Dutra - http://www.cpdoc.fgv.br/comum/htm/. Página acessada em 26 jan. 2005.

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BODEA, Miguel. Trabalhismo e populismo no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1992, p36-37.

144

BODEA, Miguel. Trabalhismo e populismo no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1992, p.39.

145

VARGAS, Getúlio.Correio do Povo, 30/11/1946. Apud. BODEA, Miguel. Trabalhismo populismo no Rio

Grande do Sul. Porto Alegre: Ed. da Universidade/ UFRGS, 1992, p.41.

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boa margem de votos. Para a Assembléia Legislativa, o PTB elegeria a maior bancada, tornando-se de fato, o maior partido regional.147

Em relação ao governo estadual, diferente foi o resultado em Passo Fundo. As eleições que transcorreram num ambiente de calma e cordialidade, numa demonstração de “compreensão e civismo”, pelo eleitorado local, trouxeram a vitória a Pasqualini que derrotou seu concorrente Walter Jobim pela quantia de 4.611 contra 3.648 votos, situando- se a diferença entre ambos de 963 votos.148

Entre os integrantes da nova composição legislativa estadual, constava também o “discípulo dedicado de Hipócrates”, César Santos, representante do PTB local. Situando-se em décimo sétimo lugar entre os deputados eleitos, sua votação foi de 3.389 votos, sobre um percentual de 0,60 votantes no Estado.149Recebendo a quantia de 1.946

sufrágios dos trabalhadores de Passo Fundo, apresta-se agora o ilustre parlamentar para dar desempenho ao honroso mandato que lhe foi conferido pelas mãos calosas do operariado e do agricultor de sua terra.150

A “apreciável votação” que recebeu também em Soledade, sua terra natal, assim como em Palmeira das Missões, entre outros municípios da região,151veio demonstrar que César Santos era não somente uma liderança que vinha se firmando na vida política do PTB regional, mas também mostrar a força do trabalhismo ao sobrepujar, nessas primeiras eleições, lideranças políticas tradicionais.

A vitória, de um modo geral, comemorada “com espocar de foguetes que subiram aos ares” colocou os petebistas locais “em posição magnífica nesta nova fase da Democracia no Brasil”.152 A campanha eleitoral trabalhista que foi intensa em todo o município de Passo Fundo contou também com a participação feminina. Através de “caravanas chefiadas pelo abalizado médico” César Santos, foram realizados comícios nas vilas e distritos, onde também eram fundados comitês femininos, sob a orientação de “Leonor Lima de Menezes, presidente da ala feminina do PTB nesta cidade”.153

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BODEA, Miguel. Trabalhismo populismo no Rio Grande do Sul.Porto Alegre: Ed. da Universidade/ UFRGS, 1992, p.53.

148

O Nacional, 27 jan. 1947.

149

AS ELEIÇÕES no Rio Grande. Porto Alegre: Síntese, [s.d]. p. 258.

150

O Nacional, 17 fev. 1947.

151

Diário da Manhã, 12 fev. 1947.

152

O Nacional, 25 jan. 1947.

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O chamamento ao voto do trabalhador, entre outras práticas, foi feito através de uma advertência no sentido de que “seus interesses” somente seriam defendidos por partidos que trouxessem programação assentada em “postulados de amparo real e assistência efetiva”, expressos unicamente pelo PTB.154

Victor Graeff, da UDN, também foi eleito deputado estadual, suplantando juntamente com César Santos o candidato do PSD, Arthur Ferreira Filho que por várias vezes havia exercido o cargo de prefeito em Passo Fundo, e que embora tenha recebido expressiva votação, não conseguiu eleger-se.155

Podemos assim perceber que as divergências entre as lideranças pessedistas não só contribuíram para fragilizar o partido, como também, permitiram nesse vácuo de poder que se estabeleceu, a consolidação gradativa do PTB local. Praticamente não havia concorrentes de peso político. Os partidos que disputavam com o PTB, como a UDN, embora tivesse a liderança e experiência de Victor Graeff, e o próprio desfalcado PSD, encontravam-se quase na mesma situação. Ou procuravam juntar os pedaços e se reestruturar como é o caso do PSD, ou ainda como o PTB e UDN, consolidar e expandir sua prática política.

O quadro político descrito demonstra a expansão que vai paulatinamente assegurando ao PTB o posto de partido político majoritário em Passo Fundo.

No documento 2006SandraMaraBenvengnu (páginas 48-51)