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A sucessão estadual de 1962

No documento 2006SandraMaraBenvengnu (páginas 175-179)

4. O ENFRAQUECIMENTO E A QUEDA DO PTB LOCAL, A SOCIEDADE PRÓ-

4.2. A sucessão estadual de 1962

As eleições para a o governo do Estado em setembro de 1962, “última da fase multipartidária” vieram reforçar as considerações acima expostas. Leonel Brizola não conseguiu acabar com a “tradição gaúcha” e fazer seu sucessor. Respaldado por uma ampla coligação, PSD-UDN-PL-PRP-PDC-PSP, denominada Ação Democrática Popular – ADP, a vitória do engenheiro Ildo Meneghetti, mais uma vez fez valer o “ritmo de rigorosa

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O Nacional, 12 dez. 1960.

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Sobre a renúncia do presidente Jânio Quadros e suas conseqüências consultar: SKIDMORE, Thomas.

Brasil: de Getúlio a Castelo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

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Para informações sobre o assunto ver: LABAKI, Amir. A crise da resistência e a solução parlamentarista. São Paulo: Brasiliense, 1986; FELIZARDO, Joaquim José. A legalidade: o último levante gaúcho. Porto Alegre: Ed. Da Universidade/UFRGS;MEC/SESu/PROEDI, 1998.

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alternância no poder entre PTB e forças anti-PTB”, 637 derrotando o candidato trabalhista Egydio Michaelsen.

Enquanto César Santos era reeleito para o triênio 1962/1965, na direção do PTB local, na disputada corrida ao “Forte da Legalidade”,638 pleito que se realizaria em setembro de 1962, muitos foram os candidatos apontados, poucos, porém, os escolhidos. Ainda em início de 1961, para César Santos o nome do deputado Victor Issler, seria o ideal como candidato ao governo estadual visto ser “uma das figuras de maior projeção e significado do PTB”.639 Um ano após, também César Santos teve sua candidatura articulada por trabalhistas da região, chegando até a ser “lançada oficialmente pelo PTB local”.640Mas tanto um quanto o outro retirou suas candidaturas em favor do candidato de consenso do Diretório Estadual, Egydio Michaelsen.641 Victor Issler por sentir da cúpula partidária “uma verdadeira barreira ao seu nome”.642 César Santos por pretender lutar pelo ensino superior em Passo Fundo, e devotado a sua profissão de médico”.643 Numa alusão ao poder político do líder trabalhista, para Jorge Cafruni, porém, a candidatura César Santos ao governo estadual não foi articulada por correligionários, mas lançada por ele mesmo, baseando-se na conhecida expressão “Dê-se a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. 644 Os adversários rebeldes, em alerta constante, não perdiam a oportunidade em fazer oposição, através de sutis alfinetadas, por vezes, às atitudes da direção do PTB local sempre que a ocasião se fizesse

Ao legislativo federal e estadual, o PTB local contou com a candidatura estreante do desembargador Reissoly José dos Santos, irmão de César Santos, e do ex-prefeito e vereador Wolmar Salton, respectivamente. A ala rebelde, já sob a sigla do MTR, concorreu com as candidaturas de Daniel Dipp a Câmara Federal e Múcio de Castro a Assembléia Estadual. Afastado das lutas eletivas desde 1954 quando foi eleito para o mesmo cargo pelo PTB, Múcio buscaria repetir o feito agora sob nova agremiação partidária.

Em campanha ao governo estadual, mais uma vez o Altar da Pátria foi palco para ruidosas manifestações aos candidatos que um após outro, recebiam sob os mais intensos

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TRINDADE, Hélgio. Rio Grande da América do Sul: partidos e eleições (1823-1990) Porto Alegre: Ed. Da Universidade/UFRGS/sulina, 1991, p. 75.

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O Nacional, 8 mar. 1962.

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Diário da Manhã, 17 fev. 1961.

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Diário da Manhã, 27 mar. 1962.

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Diário da Manhã, 6 mai. 1962.

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O Nacional, 7 abr. 1962.

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Diário da Manhã, 6 mai. 1962. Desde 1950 César Santos era presidente da Sociedade Pró-Universidade

de Passo Fundo - SPU, assunto que abordaremos no presente capítulo.

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aplausos as homenagens de seus correligionários. Ali passaram, Fernando Ferrari acompanhado de sua esposa d. Elza, que recebeu “monumental demonstração de apreço”645 Recebido com vibração, também veio a Passo Fundo Ildo Meneghetti, candidato pela ADP. Ao contrário das demais candidaturas, Michaelsen não participou dos comícios realizados pelo PTB em prol de sua candidatura.646 As duas tentativas que fez de chegar a Passo Fundo, foram impedidas pelas fortes chuvas que caiam, impedindo que o avião que o conduzia, aterrizasse no aeroporto de São Miguel. Viabilizada outra oportunidade, porém, dirigiu sua saudação ao povo de Passo Fundo através do Diário da

Manhã, pronunciando também uma palestra na Faculdade de Direito, ocasião em que foi

argüido pelos acadêmicos das escolas superiores locais respondendo a todas perguntas formuladas.647

O debate político do candidato trabalhista realizado no espaço acadêmico e não no espaço do partido político, ou seja, no Diretório do PTB - prática que seria normal -, vem apontar para um deslocamento da área de atuação de César Santos. Presidente da Sociedade Pró-Universidade de Passo Fundo desde sua formação em 1950 - assunto esse que abordaremos em separado ainda no presente capítulo -, estaria centrando sua atuação mais no espaço acadêmico, o que viria de uma certa forma, justificar o baixo rendimento eleitoral do PTB em nível local. Essas considerações podem ser explicadas não só pela diminuição do acirramento da contenda política com a ala rebelde, mas também por haver a percepção de que não estava mais havendo o mesmo comprometimento político que caracterizou até então o PTB local: de lutas, enfrentamentos, enfim, de intensa militância político-partidária.

E assim, “num clima de absoluta ordem” realizou-se o pleito eleitoral de 1960. Apesar de ser derrotado em nível estadual, Egydio Michaelsen saiu vitorioso em Passo Fundo. Os mais de vinte e cinco mil eleitores que compareceram as urnas, trouxeram os seguintes resultados: Michaelsen 8.490, Meneghetti, 7.360 e Ferrari, 5.519 votos.648 A diferença entre os dois primeiros candidatos foi de 860 votos. Em nível estadual diferente foi o resultado. O ex-governador Meneghetti que havia passado o governo a Brizola em 1958, recebia de volta com a votação de 502.356 votos perfazendo 37,10 sobre o percentual de votantes contra 480.131 votos recebidos pelo candidato trabalhista Michaelsen que atingiu a casa dos 35,46 % de votos. Os 290.384 votos recebidos por

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Diário da Manhã, 30 set. 1962.

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O Nacional, 3 out. 1962.

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Diário da Manhã, 10 jul. 1962.

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Ferrari situaram-se na casa dos 21,45%.649 A ruptura entre Brizola e Ferrari mostrou assim suas conseqüências. Em relação a deputação estadual e federal o resultado desse pleito eleitoral trouxe uma fragorosa derrota para Passo Fundo que não conseguiu eleger nenhum de seus candidatos. Para a Câmara Federal ficaram na suplência Reissoly Santos, Victor Issler do PTB - com chances de assumir ocasionalmente a representatividade - e Daniel Dipp do MTR. Da mesma forma o candidato trabalhista Wolmar Salton, Múcio de Castro do partido ferrarista e Anildo Sarturi do PDC, candidatos esses ao Legislativo Estadual. Esse resultado que deixou Passo Fundo sem representação política em nível estadual e federal, deveu-se ao fato, segundo a imprensa local -, de que não houve por parte dos eleitores a preocupação de se unificarem em torno de uma candidatura, pensando nos interesses de Passo Fundo “que são muito maiores do que as paixões e a ignorância de um apreciável número de pessoas inscritas no rol dos cidadãos eleitores”.650

Interessante perceber que Reissoly Santos mesmo estreando na política, recebeu expressiva votação se comparada com o veterano líder político local, Daniel Dipp que sofreu fragorosa derrota. Foram 10.568 votos de Reissoly, contra apenas 4.644 de Daniel Dipp. Mas o candidato mais votado foi Victor Issler com a soma de 12.335 votos, embora tenha ficado na suplência. Wolmar Salton do PTB e Anildo Sarturi do PDC, candidatos ao Legislativo Estadual, chegaram praticamente juntos situando-se a diferença entre ambos de apenas 52 votos já que as urnas apontaram para ambos, a quantia de 5.885 e 5.832 votos respectivamente.

Esses resultados vem demonstrar que apesar de não ter conseguido fazer a sucessão governamental e a representação local no legislativo federal e estadual, o petebismo era ainda a maior força política, em particular no Rio Grande do Sul e em Passo Fundo, constituindo-se sem dúvida alguma, no partido “que mais raízes deitou em nossa tradição política”.651

A vitória de Meneghetti mesmo militando em campo oposto ao MTR, vinha de uma certa forma, desafogar a pressão exercida por Brizola sobre a ala rebelde local. Por outro lado, deixava César Santos e demais integrantes da cúpula do PTB local e regional sem o respaldo, sem o apoio de sua influência mais direta, uma vez que fora eleito

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AS ELEIÇÕES no Rio Grande.Porto Alegre: Edições Síntese, [s.d.], p. 318.

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Diário da Manhã, 7 nov. 1962.

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D’ARAÚJO, Maria Celina. Sindicatos, Carisma & Poder: o PTB de 1945-65. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1996, p. 167.

“deputado federal pelo PTB da Guanabara”652 e numa fase fragilizada em que se encontrava o partido permeado por disputas internas e mostrando sinais de enfraquecimento. João Goulart como herdeiro de Vargas e líder do partido, “preso a dicotomia getulista-antigetulista”653se debatia num governo sem amplos poderes, à espera do plebiscito de janeiro de 1963 que viria lhe delegar maior autonomia política sobre as instituições nacionais. Essa era, grosso modo, a situação do PTB em linhas gerais e a paisagem que se mostrava para o partido no município, em particular.

No documento 2006SandraMaraBenvengnu (páginas 175-179)