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A eleição da Ala Moça

No documento 2006SandraMaraBenvengnu (páginas 80-89)

1. A POLÍTICA NA METRÓPOLE DA SERRA

2.1. A eleição da Ala Moça

Corria o ano de 1958. O governo de Juscelino Kubitschek (PSD) e João Goulart (PTB), respectivamente presidente e vice-presidente da República, eleitos em outubro de 1955, representou um período de estabilidade política, relativa paz entre os militares, desenvolvimento econômico, assim também, como a “intensificação das reivindicações de reformas e iniciativas de cunho nacionalista”. Constituiu-se também, num governo em que o Executivo sobrepôs-se aos demais poderes, impondo dessa forma, sua figura ante o Congresso e à classe política, mesmo “amarrado” à coligação PSD-PTB feita ainda na campanha eleitoral. Essa coligação, também aliada da UDN no Congresso, se constituiu em parte importante da estabilidade desse governo.265

O desenvolvimento econômico, uma das marcas do governo JK, não se estendeu, porém ao Rio Grande do Sul. Ildo Meneghetti, “primeiro descendente de italianos a governar o Estado”, enfrentou desde o início de seu governo uma crise econômica que teria

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O Nacional, 23 set. 1958.

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D’ARAÚJO, Maria Celina. Sindicatos, Carisma & poder: o PTB de 1945-1965. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1996, p. 122-123.

como conseqüência o empobrecimento do Rio Grande, “tornando-o exportador e não mais importador de mão-de-obra”. Sua oposição à candidatura de Juscelino, embora militassem no mesmo partido, o PSD, colocou o Estado “na contramão dos investimentos públicos federais” de tal maneira que o governador pessedista anos mais tarde, citaria como sua maior realização, “a ponte do Guaíba, projetada pelo DNER e iniciada no governo anterior com verbas federais”. Por outro lado, apesar da derrota para o governo estadual, muito embora a comoção popular com a morte de Getúlio Vargas, o PTB, desde sua formação em 1945, foi o partido que mais cresceu eleitoralmente, passando sua bancada legislativa de 30% para 43% em 1958, “o que significava que sozinho o partido conseguia quase 50% dos votos gaúchos”.266

O PTB, nesse período, não concentrava seu poder somente na Assembléia Legislativa Estadual. Leonel Brizola eleito prefeito de Porto Alegre, em 1955, com uma votação que ultrapassou os 50% dos votos no Estado,267derrotou o candidato apoiado pela frente PSD-UDN-PL, Euclides Triches, também engenheiro e que exercia o cargo de Secretário de Obras Públicas do Estado.268 Brizola consolidou juntamente com João Goulart, após a morte de Vargas, as lideranças máximas do PTB em nível regional e nacional, respectivamente, através de uma harmoniosa “divisão de tarefas” e do entrosamento entre ambos, que se estenderia até os acontecimentos de 1961, conhecidos sob a denominação de “Movimento da Legalidade”.269

Nesse cenário político, o PTB em Passo Fundo, tendo à frente César Santos, desde sua criação em 1945, vinha se estruturando – depois de alguns conflitos - em aparente harmonia. As práticas político-partidárias que havia, como por exemplo, articulações, embates eleitorais, dissensões, alianças, faziam parte sem dúvida, do exercício “da cidadania política”, que o sistema democrático permitia.270

Mas esse período de certa tranqüilidade, já abrigava atrás de si animosidades que se mostraram, quando numa sessão da Câmara de Vereadores, havia sido aventada a possibilidade de “que elementos políticos estariam envidando esforços no sentido de afastarem o sr. João Andrade do posto local do Ministério do Trabalho”. Essa informação,

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HISTÓRIA ilustrada do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: JÁ editores, 1988, p. 273-276.

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HISTÓRIA ilustrada do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: JÁ editores, 1988, p.276.

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O Nacional, 6 out. 1955.

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BODEA, Miguel. Trabalhismo e populismo no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Ed. aa Universidade/UFRGS, 1992, p. 171.

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DELGADO, Lucília de Almeida Neves. Partidos políticos e frentes parlamentares: projetos, desafios e conflitos da democracia. In FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucília de Almeida Neves (Org.). O tempo da

experiência democrática: da democratização de 1945 ao golpe militar-civil de 1964. Rio de Janeiro:

além de chamar a atenção e suscitar desconfianças, provocou na ocasião, imediata reação nas lideranças políticas que ali se encontravam, através de manifestações laudatórias a João Andrade pelo seu desempenho à frente do Posto do Ministério do Trabalho, cargo que exercia há aproximadamente dezesseis anos.

Foi mais além esse assunto. O líder sindical trabalhista representante dos metalúrgicos, Nelson Petry, e Pedro Monteiro da Costa também sindicalista e suplente de vereador pelo PSP em Passo Fundo, organizaram um movimento que se estendeu a Carazinho, Getúlio Vargas, Erechim e outras localidades, de apoio e solidariedade à maneira como sempre João Andrade se conduziu como representante local do Ministério do Trabalho.271

A notícia assim exposta e já com tal repercussão, trouxe consigo prenúncios de discórdias e também indagações. Afinal, quem seriam os políticos que pretendiam tal ação? De quem partiram essas acusações? Essa notícia não poderia ter surgido assim, do nada, simplesmente. Teriam que haver razões, causas, antecedentes. Assim é que, o caso envolvendo João Andrade, veio sem dúvidas, interromper o clima ameno que parecia envolver o cenário político em geral e como poderemos concluir, seriamente o PTB em particular, representando um sinal grave da dissidência nas hostes trabalhistas que se mostrará na questão da ala moça, a seguir.

Tudo começou a se esclarecer numa sessão semanal do Legislativo Municipal. Tais ocorrências “de matéria política, de ordem interna do PTB local,272centraram-se na questão da escolha dos novos representantes oficiais da ala moça do partido. Essa nova eleição, prendeu-se ao fato de que anteriormente haviam sido escolhidos os representantes dessa ala somente com a participação da bancada trabalhista local, sem a presença da Executiva Municipal, razão pela qual não foi reconhecida como tal por aquela direção partidária. Essa eleição que se processou, portanto, contou com a participação de todos, Executiva e bancada trabalhista, ocasião que protagonizou tumultuados e controversos acontecimentos que redundaram em graves conseqüências para o partido.

Sobre a ala moça se torna imperativo algumas considerações. O PTB nos anos iniciais de sua formação possuía, segundo Bodea, um certo “vigor organizativo” no sentido de uma atuação através das chamadas “alas profissionais criadas sob a inspiração da corrente sindicalista”, uma das três vertentes, que deram origem ao PTB, assunto que já fizemos referência no primeiro capítulo do presente estudo. Nos mesmos moldes, formou-

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O Nacional, 15 abr. 1958.

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se a “ala acadêmica trabalhista” que agregava estudantes universitários, tendo a mesma como seu primeiro presidente, Leonel Brizola, ainda acadêmico de engenharia. Também dela fizeram parte, outras lideranças que mais tarde projetaram-se no cenário político não só estadual mas também nacional, como Fernando Ferrari, Wilson Vargas e outros. Essa “ala acadêmica” passaria a chamar-se mais tarde de “ala moça” ou “mocidade trabalhista”, de cujo quadro, após o suicídio de Getúlio Vargas, sairiam os futuros dirigentes do PTB.273 Essa prática que se infere, tinha por finalidade a iniciação e organização de jovens com pendores políticos, estendia-se às demais agremiações partidárias como o PSD, PDC, UDN entre outras, sendo de considerável atuação e respaldo para os partidos que atuavam no sistema pluripartidário vigente.

Voltando ao assunto da ala moça local, a bancada trabalhista, já “em franca discordância com a direção” do PTB, servindo-se da tribuna da Câmara Municipal, passou a narrar os fatos acontecidos na sede do PTB por ocasião da eleição da ala moça oficial274 do partido, ocorrida em 7 de maio de 1958.

Arthur Canfield, primeiro orador inscrito, assim se expressou sobre o caso:

Como é do conhecimento de todos realizou-se ontem à noite, na sede do Partido Trabalhista Brasileiro, uma reunião de jovens para a escolha de seu mandatário num período de 3 anos, na Ala Moça do Partido. Infelizmente alguns elementos da Executiva [...], quiseram deixar de lado elementos de importância do partido, quais sejam os da ala velha, inclusive o ex-presidente Paulo Totti, Augusto Trein, Romeu Martinelli, etc., bem como o diretório da Ala Moça eleita na Câmara de Vereadores.275

Continuando em seu relato, disse Canfield que quando o secretário geral do partido e também da ala moça extra-oficial, João Freitas, fazia o seu discurso, foi solicitado um aparte pelo vereador Romeu Martinelli no sentido de solicitar “uma eleição legal, democrática, e não da maneira como se estava fazendo”. Não sendo, porém, atendido em sua solicitação, voltou a manifestar-se assim dizendo: “Peço e imploro não se cometa mais esse crime contra o PTB”,276 palavras essas interrompidas, pelo arremesso de uma jarra

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BODEA, Miguel. Trabalhismo e populismo no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1992, p.44-45.

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Para melhor situar o posicionamento político em relação à ala moça do PTB, e também possibilitar a compreensão dos fatos narrados, já que estão a representar correntes diferenciadas dentro do partido vamos classificá-las do seguinte modo: Ala Moça extra-oficial, aquela eleita à revelia da Executiva Municipal apoiada pela bancada trabalhista, mais precisamente por Martinelli, Canfield e Trein; a Ala Moça oficial, eleita com a conivência da Executiva Municipal, leia-se César Santos, Menna Barreto, Ernesto Formigheri, e por conseguinte com seu apoio, cuja eleição gerou os acontecimentos acima descritos.

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O Nacional, 9 mai. 1958.

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por Menna Barreto que não atingindo o alvo que era Martinelli, foi atingir a cabeça do acadêmico Paulo Totti.

Romeu Martinelli, protagonista do fato, de maneira enfática assim se pronunciou:

Fomos ontem à noite à sede do PTB, a fim de evitar que certos elementos da executiva viessem tomar conta do PTB de Passo Fundo. Devo dizer que não me estou referindo à Executiva, mas sim a quatro elementos da mesma, que são: Dr. César Santos, Ernesto Formigheri, Benoni Rosado e Dr. Ney Menna Barreto. Desejo declarar ainda que, quando eu estava falando, fui agredido pelo Dr. Ney Menna Barreto, que me atirou uma jarra,a qual foi atingir o jovem companheiro, acadêmico e jornalista Paulo Totti277.

Sobre o assunto em questão, o vereador trabalhista Augusto Trein, ao fazer um breve histórico da ala moça do PTB aos presentes na sessão no Legislativo Municipal, declarou que essa ala do partido “tinha sido sempre autônoma, desde 1946, quando a mesma se fundou, nunca dependendo da Executiva partidária”. Ao protestar com o desenrolar dos acontecimentos,278também justificou a ausência da Executiva Municipal do PTB, ou seja, de César Santos, Menna Barreto e demais componentes na reestruturação da ala moça que teve lugar na Câmara Municipal em janeiro de 1958. Convém lembrar que a bancada trabalhista do PTB era composta, nessa ocasião, por Martinelli, Trein, Arthur Canfield, Telmo Corrêa, suas lideranças mais expressivas. A Comissão Executiva da ala extra-oficial então formada, constituiu-se, de Paulo Totti como presidente, João Freitas no cargo de secretário-geral, entre outros.279

Emprestando seu apoio à bancada trabalhista com a qual mantinha também relações de amizade, afora os laços políticos por conta de alianças partidárias, Centenário do Amaral, também lamentou a crise que o PTB vinha enfrentando e tantos dissabores vinham também causando.280

O fato de grande repercussão foi também comentado por Gomercindo dos Reis281, ao contar que tudo começou com uma “troca de palavras ásperas entre dois ou três partidários da grei getulista”282 ocasionadas por “questiúnculas, divergências, velhos

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O Nacional, 9 mai. 1958.

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O Nacional, 9 mai. 1958.

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O Nacional, 31 jan. 1958. Convém esclarecer que não foram publicadas nas notícias referentes ao assunto,

os nomes dos demais eleitos para a Executiva da ala moça do PTB local.

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O Nacional, 9 mai. 1958. Com vistas às eleições de outubro de 1958 quando foram eleitos senadores,

governadores, deputados estadual e federal, foi firmada a aliança PTB-PSP em nível estadual.

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Gomercindo dos Reis pertencia à direção local do Partido Libertador. Era escritor e poeta passo-fundense. Possuía um escritório de corretagem de sua propriedade denominado “Biro Reis”. Diário da Manhã, 25 jul. 1957.

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recalques que explodiram naquele momento”.283 Usando de um nítido senso de humor, mais adiante disse que “com este grave acidente, e a sede do Partido ensangüentada, fechou o tempo... Dizem uns pelos cafés, que a aludida garrafa continha água; outros, porém, afirmam que era branquinha...”284 Os gracejos de Gomercindo não agradaram nem gregos e nem troianos ou seja, Executiva e rebeldes, motivo pelo qual, teve que se retratar e, justificando tal atitude disse que o comentário não teve intenção de ofensas, mas tratava-se simplesmente “de um comentário político de uma época. [...] O intuito foi mais literário e humorístico”.285É, o clima estava tenso.

Em relação ao desfecho do confronto, após Paulo Totti ser conduzido até o Hospital São Vicente, com a finalidade de ser medicado devido à “enorme brecha”286 aberta em sua testa pela jarra arremessada por Menna Barreto, “o dr. César Santos, médico e presidente da executiva do PTB, e os vereadores Arthur Canfield, Augusto Trein e outros, acalmavam os ânimos de seus correligionários, evitando uma luta generalizada”.287 Esse fato ocorrido entre a liderança trabalhista local, deixa atrás de si, claras evidências, fortes sinais de uma cisão no PTB local, mais precisamente entre a Executiva municipal e os vereadores trabalhistas. Mais precisamente entre César Santos e Menna Barreto de um lado e Martinelli, Canfield e Augusto Trein de outro. Permitem também, perceber nitidamente pela violência das atitudes e palavras que permearam aquele polêmico acontecimento, de que desacordos já existiam anteriormente a esse fato, apenas não tinham ainda vindo a público, se mostrado.

“Em face da lamentável ocorrência”,288várias foram as mensagens de solidariedade recebidas por Paulo Totti e Martinelli,289 inclusive da capital do Estado, mensagem essa que ao dispensar ao caso maiores contornos, elevou Paulo Totti também à qualidade de mártir, ao declarar que sua bravura no enfrentamento da situação, serviu “de exemplo a nossa mocidade”.290

As declarações até aqui expostas sobre a conturbada eleição da ala moça oficial do PTB, e os acontecimentos dessa reunião decorrentes, expressaram o pensamento dos integrantes da bancada trabalhista, ou seja, posições convergentes, como podemos perceber pelo teor das mesmas. Diferente, porém, foi a versão de Menna Barreto, secretário-geral da

283 O Nacional, 17 mai. 1958. 284 O Nacional. 17 mai. 1958. 285 O Nacional, 19 mai. 1958. 286 O Nacional. 17 mai. 1958. 287 O Nacional. 17 mai. 1958. 288 O Nacional, 13 mai. 1958. 289 O Nacional, 8/10 mai. 1958. 290 O Nacional, 13 mai. 1958.

Executiva Municipal e um dos protagonistas diretos de tal acontecimento, exposta em longa carta aberta publicada na imprensa local, que foi enviada à Executiva Estadual do PTB.

Precisamente sobre a eleição extra-oficial da ala moça, declarou Menna Barreto, que a mesma realizou-se sem ao menos uma “comunicação à Executiva do partido, nem pelo menos a título de deferência”,291com “o manifesto e inequívoco intuito de hostilizar a Direção Partidária Municipal, que foi atacada nessa oportunidade”.292 Contestando a afirmação de Augusto Trein sobre a autonomia desse departamento partidário, informou que:

Tal reestruturação, por dizer respeito a um departamento auxiliar do Partido (Ala Moça), subordinado ao órgão de direção partidária respectivo, no caso à Executiva Municipal de Passo Fundo (Estatutos, art.12, §§2º. E 3º. – Regimento Interno, - art. 70), só poderia ser feita sob os auspícios desta e por ela aprovada (Estatutos, art. 29, alínea b – Regimento Interno, art. 31, § único).293

Declarou também que a antiga diretoria que presidiu a reunião de eleição, não possuía mais poderes para tais deliberações uma vez que seus mandatos encontravam-se já extintos, há “mais de três anos, tempo máximo de mandato de qualquer órgão de direção do partido (Estatutos, art.12 § 6), quanto mais de um departamento auxiliar, que poderia ser dissolvido a qualquer instante”.294

Mais incisivo em suas declarações, disse Menna Barreto que aquela “espúria reestruturação”, se processou com o objetivo único de perturbar o trabalho durante o ano de eleições, ressaltando a importância da ala moça nas fases de qualificação, quando se tinha em vista uma campanha eleitoral.295

Temos assim posições diferenciadas sobre os graves acontecimentos que pautaram as eleições da ala moça trabalhista. Mais que tudo, são tais declarações, portadoras e nitidamente reveladoras de conflitos e antagonismos já estabelecidos entre a Executiva Municipal do PTB de Passo Fundo e os vereadores que representam essa agremiação partidária.

Sobre a votação da ala moça e sua atitude em relação a Martinelli, Menna Barreto esclareceu que abertos os trabalhos e composta a mesa da qual fazia parte como secretário

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Acervo César Santos. O Nacional. 20 mai. 1958.

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Acervo César Santos. O Nacional. 20 mai. 1958

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Acervo César Santos. O Nacional. 20 mai. 1958.

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Acervo César Santos. O Nacional. 20 mai 1958.

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sob a presidência de César Santos, foram apresentadas as duas chapas que seriam colocadas em votação. Solicitando a palavra, João Freitas, funcionário da Câmara e secretário geral da ala moça extra-oficial, tentou por várias vezes e de diversas maneiras, “sustentar o prevalecimento da espúria reestruturação realizada em 30 de janeiro”,296 servindo-se dos recursos protocolares como demora na explanação, apartes, com o firme objetivo de obstruir os trabalhos de eleição da ala moça oficial do PTB de Passo Fundo.297 Enfim, após todos esses desencontros, foram enfim colocadas em votação as chapas apresentadas e devidamente aprovadas. Após essas deliberações, a continuidade e o aprofundamento da questão se deu quando Martinelli, solicitando a palavra e iniciando um “discurso violento, agrediu a Mesa, que culminou com grave ofensa a minha pessoa”, acusando-me “falsa e levianamente” de traição ao partido, ao afirmar que eu entrara em conchavos com a Frente Democrática para eleger a presidência do Legislativo Municipal, quando na verdade esse assunto ficou justamente a cargo dos representante trabalhistas no Legislativo, para que fosse evitado uma cisão na bancada e a eleição dos nossos adversários políticos.298

Diante de tais ofensas, que além de não corresponderem à realidade de suas intenções e também agravadas pelo constrangimento de serem tais palavras proferidas em presença dos companheiros que se encontravam na presente reunião, “saltei contra o Dr. Romeu Martinelli, e como impedido de pegá-lo, joguei-lhe uma jarra que se encontrava sobre a mesa”.299

O tumulto criado devido a essa situação, foi contornado com o afastamento de Martinelli do local do confronto, prosseguindo a reunião “dentro do maior espírito de harmonia e elevados propósitos como costumam ser as reuniões do PTB de Passo Fundo”. Disse ainda Menna Barreto sobre seu gesto em relação a Martinelli que, “tão convencido estou da legitimidade da minha reação [...], que tantas vezes em que se apresente idêntica situação - diz-me o direito, a honra e a dignidade - reagirei de pronto”.300

Na arena de lutas e confrontos em que se transformou o diretório trabalhista, Paulo Totti, segundo a versão de Menna Barreto, sofreu apenas leves ferimentos e, após dois ou três dias, já transitava normalmente pelas ruas da cidade. Lamentava o mesmo ter sido

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Acervo César Santos. O Nacional. 20 mai. 1958.

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Acervo César Santos. O Nacional. 20 mai. 1958.

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Acervo César Santos. O Nacional. 20 mai. 1958.

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Acervo César Santos. O Nacional. 20 mai. 1958.

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ferido, uma vez “que nada teve a ver - que eu saiba - com o acontecido, não tendo sequer, na reunião, proferido uma palavra”.301

Essa, porém, não foi a versão da ala rebelde - anteriormente exposta -, para quem o caso foi levado a tomar maiores e mais graves proporções, numa atitude evidente de manipulação no sentido de mostrarem-se como vitimas no episódio de 7 de maio de 1958.

A formação das alas moças foi uma prática estatutária do sistema partidário nacional, estadual e municipal. O PSD a UDN e o PL, assim também como o PDC, em Passo Fundo, possuíam esses departamentos organizados e atuantes e suas convenções realizam-se, conforme a imprensa local, geralmente num clima ameno, dentro de um certo entrosamento intrapartidário.302 Podemos perceber, desse modo que os trabalhistas inauguraram a fase de sessões tumultuadas.

As contradições até aqui expostas entre os representantes trabalhistas locais são somente os primeiros alinhavos de uma séria, violenta e ferrenha disputa que ao longo do tempo, vai permear a trajetória política do PTB de Passo Fundo com graves acontecimentos, marcados por rancores e revanchismos. Numa demonstração pretensa de que as duas alas em litígio disputavam o poder de mando local; uma, para nele manter-se, a outra, para dele apoderar-se, de importantes e controversos acontecimentos serão protagonistas. Essas seriam possíveis atitudes que nos apontam as rivalidades entre a Executiva Municipal e os rebeldes. Para Meirelles Duarte, porém, essa seria a real intenção

No documento 2006SandraMaraBenvengnu (páginas 80-89)