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No final dos anos 70 e início dos anos 80, vários jovens viajantes advindos de outras regiões do país chegaram à comunidade de Padrinho Sebastião na Colônia 5000 no Acre, trazendo em sua bagagem, ideais ligados ao movimento hippie e a contracultura, bem como novas concepções a respeito da espiritualidade. Também chegaram profissionais e acadêmicos interessados em estudar mais a respeito do uso ritual de ayahuasca que se fazia naquela comunidade. Houve um intercâmbio muito forte de vivencias com a presença desses visitantes, e muitos deles se tornaram adeptos do Santo Daime e foram responsáveis por disseminar a religião para outras cidades do Brasil abrindo as primeiras igrejas fora da região amazônica71 (ALVERGA, 1992; MORTIMER, 2000).

71 Em novembro de 1982 foi inaugurada na cidade do Rio de Janeiro, a primeira igreja do Santo Daime fora da região amazônica. Foi denominada formalmente de CEFLUSME (Centro Eclético Fluente Luz Universal Sebastiao Mota de Melo), e correntemente conhecida como Céu do Mar. Seu fundador, o psicólogo carioca Paulo Roberto Silva e Souza teve contato com o Santo Daime quando visitou a comunidade de Padrinho Sebastião juntamente com uma comissão multidisciplinar de profissionais formada por órgãos governamentais no intuito de estudar o uso ritual da ayahuasca que era feito na religião do Santo Daime (MACRAE, 1992). Numa comissão de estudo também esteve presente o antropólogo Fernando La Rocque Couto, que também fundou no ano de 1983 a igreja de Santo Daime formalmente registrada como CEFLAG (Centro Eclético da Fluente Luz Universal Alfredo Gregório de Melo) conhecida como Céu do Planalto na cidade de Brasília. Couto desenvolveu uma prolífica carreira como professor universitário em Brasília e escreveu um dos primeiros trabalhos acadêmicos sobre o Santo Daime, sua dissertação de mestrado intitulada “Santos e Xamãs” no ano de 1989. Em 1983 também foi fundada a igreja CEFLURG (Centro Eclético da Fluente Luz Universal Rita Gregório) conhecida como Céu da Montanha, juntamente com uma comunidade rural daimista em Visconde de Mauá, estado do Rio de Janeiro, sob a liderança de Alex Polari de Alverga, escritor, poeta, ex-guerilheiro e preso político durante a ditadura militar brasileira nos anos 70. Alex conheceu o Santo Daime no início dos anos 80, quando fez parte de uma equipe de documentaristas que buscavam reunir dados sobre a religião. Além dos livros de poesia e escritos de cunho biográfico sobre sua militância, Alex escreveu três livros sobre o Santo Daime

Concomitantemente a abertura da comunidade daimista de Padrinho Sebastião para a entrada de visitantes, ocorreu um episódio que merece destaque, pois através deste ocorreu uma maior ênfase no desenvolvimento do trabalho mediúnico no Santo Daime. No ano de 1976 chegou à Colônia 5000 um jovem chamado José Lito, apelidado de Ceará pela população local pelo fato de ser proveniente do estado de mesmo nome. Esse indivíduo possuía conhecimentos ligados a Umbanda, principalmente do que é chamado de “linha da esquerda” que dentro da cosmologia umbandista compreende o agrupamento de espíritos conhecidos como “povo de rua” e as entidades espirituais referidas como exus72 (ALVERGA, 1992; MORTIMER, 2000).

Seguindo as instruções recebidas do plano espiritual, Padrinho Sebastião o recebeu e lhe concedeu licença para realizar seus rituais na Colônia 5000 durante cinco meses, permitindo que Ceará montasse um pequeno terreiro e fizesse cerimônias com incorporação de entidades do panteão umbandista, principalmente da “linha da esquerda”. O novo membro dizia que iria ensinar a Padrinho Sebastião várias coisas que ele não sabia, além de prestar um grande auxilio para a comunidade (ALVERGA, 1992; MORTIMER, 2000). Ao longo dos (vide Referencias Bibliográficas no final do trabalho) (GOULART, 2004). A historiadora carioca, Vera Froés, que foi autora do primeiro estudo acadêmico e do primeiro livro sobre o Santo Daime no ano de 1983, viveu durante cinco anos na comunidade de Padrinho Sebastião para realizar seu estudo e ao retornar ao Rio de Janeiro também abriu uma igreja de Santo Daime juntamente com seu então marido na época Marco Gracie Imperial denominada Centro Eclético de Fluente Luz Universal São Pedro Rainha do Mar, mais conhecida como Rainha do Mar. A partir de então, novos centros foram sendo criados em todo país (MACRAE, 1992).

72 Originalmente, na tradição africana ioruba, Exu é um dos deuses (orixás) de seu panteão, no entanto não desfruta do mesmo status de outros orixás africanos, se configurando como mensageiro ou intermediário entre as divindades e os seres humanos, tendo portando a qualidade de mediador (NEGRÃO, 1996). A religião da Umbanda se apropriou de elementos simbólicos dos cultos originais das tradições africanas, principalmente do Candomblé para estruturar seu universo cosmológico, reeinterpretando o papel de Exu, que no culto umbandista passou a configurar um agrupamento de entidades pertencentes à linha do “povo de rua” (NEGRÃO, 1996). Na Umbanda, os exus e seus correlatos femininos, as pombas-gira são considerados a linha da esquerda e ocupam uma condição ambígua, não sendo nem bons nem maus em si mesmos, mas podendo realizar benefícios ou malefícios conforme os desígnios humanos. Estas entidades se encarregam de lidar com energias mais densas, sendo responsáveis pela proteção dos terreiros e pela defesa dos pais e filhos de santo contra malefícios e energias negativas advindos de inimigos, desafetos ou de ambientes densos energeticamente, conhecidos pelos umbandistas como “demandas”. No discurso umbandista, os exus e pombas-gira são os únicos capazes de subverter com eficácia os desequilíbrios advindos da desordem espiritual trazida pelas demandas. Por isso sua ajuda é requisitada para reparar danos. Ainda de acordo com os umbandistas, são também capazes de trabalhar com magia negra, e por seu intermédio, fieis mal-intencionados podem recrutar seus favores em troca de oferendas para a realização de malefícios a pessoas tidas como oponentes. Os cultos que utilizam da força dos exus para realizar malefícios são denominados Quimbanda, e destinam-se a trabalhar com o lado obscuro dos exus (MONTERO, 1985). Os exus juntamente com as pombas-gira, são considerados guias espirituais quando conhecidos e doutrinados, e sua atuação no terreiro é considerada benéfica quando ocorre no âmbito dos rituais sob as prescrições e as regras do terreiro, vindo a trabalhar a benefício dos filhos e pais de santo, e também de consulentes. Está também entre as atribuições dos exus o papel de zeladores dos terreiros. Os espíritos que trabalham na linha do povo de rua (exus e pombas-gira) ocupam degraus inferiores na hierarquia espiritual, e acredita-se que quando encarnados foram homens e mulheres que passaram por privações e tiveram condutas inapropriadas, sendo por isso bem familiarizados com o lado obscuro da natureza humana, se disponibilizado depois da morte a trabalhar espiritualmente no intuito de reparar seus erros passados e evoluir espiritualmente (MONTERO, 1985).

cinco meses em que permaneceu na Colônia 5000, segundo o discurso nativo, Ceará espalhou intrigas, controvérsias e inimizades, vindo a falecer em decorrência de um crime passional cometido por um grupo de indivíduos ligados à comunidade que se sentiram prejudicados por suas intrigas. Os responsáveis pelo crime foram a julgamento por duas vezes e em ambas foram absolvidos por júri popular (MORTIMER, 2000).

Segundo a concepção dos adeptos da época, após o falecimento de Ceará, a principal entidade que o acompanhava conhecida como Tranca Rua, continuou na comunidade causando o adoecimento do Padrinho e muitas desavenças entre os seguidores. A presença da entidade era sentida por Padrinho Sebastião, que por diversas vezes chegou a incorporá-la durante rituais do Santo Daime na tentativa de doutriná-la. Essa foi uma fase difícil pois, concomitantemente a luta para doutrinar o exu Tranca Rua, se dava um período de transição em que a comunidade estava se transferindo para uma nova localidade no interior da floresta no estado do Amazonas. Segundo os daimistas, essa mudança geográfica era motivada por instruções recebidas pelo Padrinho Sebastião vindas do plano astral, e que ordenavam a construção da “Nova Jerusalém”, uma comunidade espiritual no interior da floresta no intuito de afastar seus seguidores do “mundo da ilusão” (MORTIMER, 2000). No mesmo período, o filho e futuro sucessor de Padrinho Sebastião, o Padrinho Alfredo também padeceu, ficando doente em estado febril por quinze dias, se alimentando apenas de Daime e de líquidos. Durante o período de adoecimento, recebeu hinos que faziam menção ao arcanjo São Miguel, interpretando essa passagem como uma fase de purificação espiritual. Os moradores da comunidade foram conclamados a realizar uma limpeza material de suas casas simbolizando a limpeza espiritual que o arcanjo guerreiro representa (MORTIMER, 2000). O desfecho do episódio com o exu Tranca Rua ocorreu logo em seguida, no início dos anos 80, já com a mudança da comunidade consolidada para a nova localidade no interior da Floresta Amazônica, que recebeu o nome de Céu do Mapiá73 (ALVERGA, 1992).

Certo dia, quando Padrinho Sebastião se encontrava bastante enfermo em seu leito, recebeu a entidade Ogum Beira-Mar que se propôs a resolver a questão com o Tranca Rua. Em seguida, Padrinho Sebastião incorporou o exu Tranca Rua, que num discurso feito na presença de alguns adeptos, se declarou curado e iluminado pela luz do Santo Daime, propondo-se, a partir daquele dia, a trabalhar a favor da religião. É interessante notar que Ogum Beira-Mar, uma entidade do panteão umbandista, se apresentou para a resolução dessa

73 Nome escolhido em decorrência de sua localização próximo ao igarapé Mapiá a aproximadamente 30 quilômetros do rio Purus, na região sudoeste do estado do Amazonas, próximo ao município de Pauini (ALVERGA, 1992).

questão espiritual e ajudou a selar uma aliança entre o Santo Daime e o exu Tranca Rua (ALVES-JÚNIOR, 2007). Após este episódio ocorrido na comunidade daimista, foram introduzidas várias influências de cunho umbandista trazendo inovações nos procedimentos rituais a até mesmo no vocabulário daimista.

Padrinho Alfredo interpretando as mensagens que recebeu do astral desenvolveu o Trabalho de São Miguel, que foi o primeiro trabalho de banca aberta instituído no calendário. Tal rito tem como finalidade a doutrinação de espíritos sofredores e eguns74, e limpeza de energias densas e impurezas no âmbito pessoal, comunitário e espiritual. Este ritual não possui data fixa, podendo ser realizado sempre que os dirigentes de cada igreja julgarem necessário. Mas, assim como os Trabalhos de Cura a data preferencial para a realização do Trabalho de São Miguel é no dia 27 do mês (ALVERGA, 1992, MORTIMER, 2000).

O Trabalho de São Miguel em termos de formato ritual se assemelha ao Trabalho de Estrela, sendo um rito de banca aberta realizado sentado. A liturgia gira em torno do canto dos hinos que fazem referencia a São Miguel, muitos deles com a temática da cura, da doutrinação e da apuração e purificação espirituais, podendo também ser cantados hinos que fazem referência a entidades do panteão umbandista, principalmente ao orixá Ogum, que na crença nativa está associado a São Miguel, pois segundo o sincretismo daimista ambos seriam entidades representantes do mesmo tipo de energia espiritual, ligadas a proteção contra energias densas, a limpeza espiritual, a “quebra de demandas” e a “abertura de caminhos”75.

É importante ressaltar que o Trabalho de São Miguel introduziu oficialmente um espaço para as práticas de incorporação, onde passou a haver uma maior aceitação de padrões de comportamento que até então não eram permitidos nos ritos daimistas com a permissão da incorporação de entidades com uma expressão individual mais livre, passes e preleções dentro de certos limites (LABATE, 2002, p. 248).

Outra consequência decorrente do “episódio de Ceará” foi a introdução da entidade Tranca Rua no panteão daimista, sob a designação de guardião do “terreiro” 76 das igrejas e

74 Na Umbanda as entidades consideradas maléficas são os eguns (almas desencarnadas que ficam vagando no espaço astral e que se encontram no estado de completa ignorância e evolução espiritual bem retardatário). Egun é também a linguagem umbandista para designar espíritos que o espiritismo kardecista trata como obsessores, responsáveis por obsedar corpos encarnados, lhes causando perturbações e doenças (MONTERO, 1985).

75 Ambas expressões são advindas do vocabulário umbandistas e foram adotadas pelos daimistas do Cefluris. “Quebrar demanda” significa dissolver quaisquer energias negativas e dificuldades que se apresentem no âmbito material e espiritual do adepto. “Abrir caminhos” se refere a remoção de obstáculos energéticos que possam estar obstruindo a prosperidade do adepto.

dos “pontos”77 de Daime. Desde então, é regra ritual ascender uma vela para Tranca Rua antes do início de todos os ritos daimistas no portão de entrada da igreja, que passou a ser denominado “porteira” (MORTIMER, 2000). O ponto do Tranca Rua como é chamado, deve ser zelado ao longo de toda cerimonia, sendo mantida uma vela acesa constantemente. Deve-se ainda acender uma vela no cruzeiro que fica na área externa da igreja (ponto das almas), seguidas por quatro velas na mesa central (altar), destinadas ao Sol, a Lua e as Estrelas e a quarta destinada a todos os seres divinos que se apresentam para trabalhar no ritual daimista. Nos trabalhos de banca aberta também se ascende uma (vela) para São Miguel embaixo da mesa central e coloca-se um copo de água ao lado para descarrego de energias mais densas, sendo esses elementos rituais introduzidos por influência umbandista (ALVES-JÚNIOR, 2007).

O exu Tranca Rua passou instruções a Padrinho Sebastião para a construção de um espaço ritual voltado para a iluminação de espíritos necessitados de luz e de cura. Foi então construído um pequeno salão em formato de estrela de seis pontas em meio a uma clareira na mata que foi denominado “Casa de Estrela”, se tornando um espaço exclusivo para trabalhos de cura de banca aberta, que passaram a ser chamados de Trabalhos de Estrela. A Casa de Estrela se tornou também uma referência simbólica do trabalho mediúnico iniciado por Padrinho Sebastião.

Em outras comunidades daimistas, na ausência de uma Casa de Estrela, o Trabalho de Estrela pode ser realizado na própria sede da igreja, desde que sejam seguidas as diretrizes que estabelecem a caridade espírita como finalidade desse rito. A banca é aberta para a incorporação de espíritos a serem iluminados (sofredores e eguns), bem como de guias e entidades de luz que venham no intuito de ajudar na iluminação e doutrinação dos espíritos mais densos (ALVES-JÚNIOR, 2007).

Outro preceito adotado dentro desse sistema de trabalho mediúnico nas igrejas do CEFLURIS foi o de servir uma pequena dose de Daime para o médium incorporado de algum espírito sofredor ou obsessor no intuito de iluminá-lo através do poder divino que se acredita

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A terminologia “ponto” é utilizada para se referir aos centros de culto onde se realizam ritos daimistas. Geralmente o termo é mais utilizado para se referir a centros de pequeno porte que ainda não tem estrutura suficiente para realizar todos os trabalhos oficiais. Já os centros maiores que realizam todos os trabalhos do calendário oficial recebem a designação de igreja. A terminologia ponto é ainda utilizada para se referir ao local físico onde se ascende uma vela, destinada a entidades espirituais. Geralmente em igrejas do CEFLURIS é comum ter o ponto do Tranca Rua logo na entrada da igreja, o ponto das almas que fica aos pés do cruzeiro que é insígnia obrigatória na área externa de toda igreja daimista e também eventualmente como pude observar em algumas igrejas, pode-se fazer um ponto para Iemanjá do lado esquerdo da igreja (lado ocupado pelas mulheres) e um ponto para Ogum do lado direito (lado ocupado pelos homens).

estar presente na bebida sacramental. Geralmente o dirigente do rito ou algum adepto mais experiente é encarregado de fazer essa doutrinação com Daime. Segundo o relato do Padrinho Alfredo a Alves Júnior (2007), esse costume começou na época da passagem de Ceará pela comunidade.

A gente continuou, mesmo no São Miguel, a cultivar várias coisas que aprendeu com o Ceará; que era considerar os espíritos sofredores e tentar lhes dar Daime. Porque o Ceará é que começou a inventar de dar Daime pros exus. A gente já tratava espírito com Daime, mas não era muito assim não. Ele que conseguiu deixar pra nós mais essa missão, que é iluminar os espíritos do escuro (ALVES-JÚNIOR, 2007, p.156).

A partir da aliança entre o Santo Daime e o Tranca Rua houve a entrada de um maior numero de elementos da Umbanda, sendo concedida também a licença para as entidades do panteão dessa religião se manifestarem nos ritos de banca aberta promovidos pelo CEFLURIS. A inserção da Umbanda também foi consolidada através do recebimento de hinos que fazem referencias a entidades umbandistas78 que começaram a ser recebidos pelos daimistas. Ao passo que os hinos são considerados pelos adeptos como escritura sagrada, o recebimento de cânticos que se referem a entidades umbandistas respalda sua presença nos ritos além de promover a integração de novos significados a visão de mundo daimista (GUSMAN NETO, 2012).

Nos Trabalhos de Estrela e de São Miguel realizados na Casa da Estrela, passou a ser aceita a incorporação de entidades como exus, caboclos e pretos-velhos, no intuito de ajudar na doutrinação dos espíritos densos e na limpeza das energias negativas que atrapalham a corrente79. No entanto, nessa época, ainda não se dispunham de conhecimentos suficientes a respeito do trabalho mediúnico, não havendo um corpo mediúnico para instruir e estabelecer parâmetros e diretrizes.

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Diversos hinos recebidos pelo fundador da igreja Céu da Montanha em Visconde de Mauá, Alex Polari de Alverga são repletos de referências a entidades umbandistas, podendo ser considerados como documentos que anunciam a entrada da Umbanda no Santo Daime. O hino denominado “Ponto de São Jorge” de número 53 do seu hinário intitulado “Nova Anunciação” ilustra bem a aliança que acredita-se ter sido feita no astral entre a Umbanda e o Santo Daime como pode-se observar na seguinte estrofe:

“Viva o Rei Ogum/Ele veio anunciar/Que as linhas estão abertas/Que é pra nos se aliar”.

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Os daimistas acreditam que as energias densas que se manifestam na corrente são advindas de condutas e pensamentos inadequados por parte dos adeptos, que acabam por atrair entidades espirituais que vibram na faixa da negatividade e chegam ao rito pela atração exercida por esses conteúdos negativos, gerando assim uma sobrecarga negativa que deve se reequilibrada pela correta conduta no trabalho espiritual e pelo auxílio das entidades benevolentes como os exus, caboclos e pretos velhos que auxiliam na limpeza das energias densas da corrente, bem como no encaminhamento desses espíritos negativos para a luz.

Com o início dos trabalhos de banca aberta, passaram a ocorrer muitos episódios de incorporações de entidades de forma descontrolada e desordenada, o que começou a ser visto por uma parte dos adeptos, como perturbações ao bom andamento dos rituais. Assim, houve uma divergência de opiniões no âmbito da comunidade a respeito dos benefícios e eficácia do trabalho com incorporação de entidades. Diante de tal situação, Padrinho Sebastião foi em busca de mais referenciais para fundamentar o trabalho mediúnico dentro da doutrina do Santo Daime.

No ano de 1987, Padrinho Sebastião teria feito uma viagem ao estado do Rio de Janeiro para conhecer algumas igrejas locais, tendo participado de um Trabalho de Estrela na igreja Céu da Montanha em Visconde de Mauá, ocasião em que conheceu a mãe de santo Baixinha. Durante o ritual o guia espiritual da mãe de santo conhecido como Caboclo Tupinambá teria, mediante a uma preleção se apresentado ao Padrinho Sebastião e se proposto a auxiliar no desenvolvimento mediúnicos de seus seguidores (ALVES JÚNIOR, 2007).

A partir desse encontro, passou a haver um intercâmbio entre o trabalho de Baixinha com a Umbanda e o Santo Daime, principalmente com a igreja Céu da Montanha, onde passaram a acontecer rituais de banca aberta realizados pela mãe de santo em conjunto com o dirigente Alex Polari de Alverga80, abrindo espaço para o desenvolvimento de trabalhos mediúnicos mais caracterizados pela linguagem umbandista (ALVES JÚNIOR, 2007).

Desde então, a mãe de santo Baixinha se inseriu no contexto daimista vindo a se tornar uma importante referência e liderança espiritual dentro do Santo Daime, representando um papel fundamental no desenvolvimento dos trabalhos mediúnicos nesta religião. No próximo capítulo conheceremos um pouco da trajetória biográfica de Mãe Baixinha até sua chegada ao Santo Daime, o trabalho mediúnico por ela desenvolvido e a fundação da igreja Flor da