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3.3 Revisão de conceitos em gramáticas de Língua Portuguesa

3.3.1 A complementação sentencial

No momento de constituição das línguas nacionais, como anteriormente discutido, surgem gramáticas para exaltar as “línguas vulgares”. A primeira gramática de língua portuguesa, de Fernão de Oliveira (1536), apresenta, a exemplo dos modelos de gramáticas gregas e posteriormente latinas, uma exaltação do idioma, sempre em uma tentativa de igualá-lo ao Latim. Observa-se uma grande preocupação ortográfica e fonética, apresentada através de uma descrição das letras/fonemas e dos usos que se fazem delas. Há também a menção às declinações, gênero, número das palavras e também aos verbos. Nesta gramática, não há qualquer menção ao período composto. Percebe-se, inclusive, na escrita do autor, o uso de períodos simples, ou coordenados, com pouca presença de estruturas subordinadas.

Em João de Barros (1540) também é possível detectar a tradição gramatical dos gregos e latinos na composição da gramática, tanto que o autor menciona que os latinos repartiam sua gramática em 4 partes: ortografia, prosódia, etimologia e sintaxe, divisão seguida na gramática analisada. Como é possível observar, esta gramática também se encontra muito dependente das gramáticas de tradição latina, aplicando várias vezes os conceitos da língua latina à língua portuguesa. Assim como na gramática de Fernão de Oliveira (1536), não há menção ao período composto e também há predominância de estruturas coordenadas e períodos simples na escrita do texto.

Em Pero de Magalhães de Gandavo (1574), assim como nas gramáticas anteriores, a maior preocupação é a ortografia e a preservação da língua portuguesa, sem abordagem do período composto e com predominância de períodos simples ou coordenados.

Na Orthografia de Duarte Nunes de Leão (1576), também prevalece a preocupação ortográfica, mas, na escrita, é possível se observar que os períodos já são maiores e que há orações relativas mais frequentes. Em Origem da lingoa portuguesa

(1606), o autor explicita a consciência de que, assim como em todas as coisas humanas, na linguagem também há contínua mudança e alteração. Esse manual apresenta uma preocupação diferente dos manuais anteriores, já que tem uma abordagem histórica da língua, listando a origem de algumas palavras; no entanto, não apresenta definições nem exemplos de estudo das orações.

Orthographia ou modo para escrever certo na lingua portuguesa (1631), de

Álvaro Ferreira de Vera, como o nome indica, é um manual ortográfico. Já João Franco Barreto (1671), em Ortografia da lingua portuguesa, além das questões ortográficas, também trata das classes gramaticais, mas não aborda o período composto.

Pe. Jerônimo Contador de Argote (1725), em Regras da lingua portugueza,

espelho da língua latina, ao contrário da maioria dos manuais anteriores, que tentavam

explicar a língua portuguesa a partir do latim, parte da língua portuguesa para explicar o latim; mas, apesar de as propostas serem diferentes, a premissa ainda é a mesma: correlacionar as duas línguas, na intenção de enaltecer o idioma nacional.

Tal qual apontado por Neves (2005) para as gramáticas gregas, até neste momento, na revisão realizada, a sintaxe não havia sido abordada, provavelmente por ser um sistema de relações mais abstratas. Em Argote (1725), pela primeira vez nos manuais analisados, aparece a exploração da “sintaxe”, aqui definida como a “boa ordem e disposição das palavras”, ou seja, estarem no número, no caso e no lugar devidos. O autor afirma haver a sintaxe simples e a figurada: a primeira ensina as regras de ordenar as palavras em ordem natural e se divide na sintaxe de concordar e na sintaxe de reger; a figurada ensina quando estão bem ordenadas as palavras, ainda que estejam fora da ordem natural, ou seja, trata das figuras de linguagem, como elipse e zeugma.

A sintaxe de reger se divide em duas: sintaxe de reger os nomes e sintaxe de reger os verbos. Esse manual avança em relação aos outros no que diz respeito à sintaxe, mas ainda trabalha os conceitos da língua latina, como neutro, nominativo, acusativo, ablativo, genitivo, dativo quando descreve a regência.

Na parte em que aborda os verbos, há exemplos de período composto e a descrição de quando se usa o verbo no indicativo, no infinitivo ou no subjuntivo. Nos exemplos utilizados, não ocorre nenhum em que a oração seja completiva nominal ou objetiva indireta, portanto não é possível dizer como ou se ocorriam tais estruturas a partir desse manual. É interessante pontuar que, ao definir a segunda regra desta parte

do livro, Argote (1725, p. 234) afirma que “as conjunçoens, e adverbios antes q, primeyro q sempre levam o verbo ao subjunctivo” e cita como exemplo “antes que estude rezo”. No exemplo citado, é importante notar que não ocorre o uso da preposição na locução “antes que”.

Os manuais de João de Moraes Madureira Feijó (1734) e de Luis Caetano de Lima (1736) são ortográficos; assim como no de Luis de Monte Carmelo (1767) também há a predominância da preocupação ortográfica, mas o autor também aborda o nome, o verbo e o advérbio.

Antonio José dos Reis Lobato (1770), em Arte da grammatica da lingua

portuguesa, afirma que a gramática portuguesa é constituída de quatro partes:

ortografia, prosódia, etimologia e sintaxe. Assim como em Argote (1725), a sintaxe também é definida como sintaxe simples ou regular e a figurada. Da simples, fazem parte a sintaxe de concordância e de regência; da figurada, faz parte a composição da oração conforme o uso, o estilo, como elipse, zeugma, silepse, pleonasmo etc. Em relação às partes da sintaxe simples, a concordância é definida como a união de partes da oração “que convem em alguma cousa” (LOBATO, 1770, p. 192). A regência, por sua vez, é quando partes da oração “por força do seu modo de significar regem o nome” (LOBATO, 1770, p. 193) e determinam o caso em que deve ficar.

De acordo com esta gramática, apenas duas palavras regem caso, que são o verbo ativo e a preposição, e podem reger quatro casos: genitivo, dativo, acusativo e ablativo. Na apresentação e descrição desses casos, os exemplos são sempre de períodos simples, ou seja, compostos por um único verbo. Somente na regra XV de regência o autor afirma:

A alguns verbos se ajunta ablativo com a preposição De. Dessa classe são os verbos carecer, necessitar, abundar, esquecer, despojar,

separar, encher, absolver, e outros muitos, que tem depois de si

ablativo, em cujo caso se poem o nome, que significa a cousa, de que se carece, necessita, absolve, &c.

Exemplo. Pedro carece de ler. Nesta oração o verbo Ler no presente impessoal do infinitivo serve por figura de ablativo regido pela preposição De, por significar a cousa, de que Pedro tem carencia (LOBATO, 1770, p. 228-229).

Como é possível observar no excerto reproduzido, o caso em que aparecem dois verbos na mesma oração é um caso de completiva de infinitivo, infinitivo entendido pelo autor da gramática como a “cousa” de que Pedro tem carência, ou seja, o autor

entende o verbo no infinitivo como uma forma nominal. É importante notar que, como se pode observar na explicação citada, o autor usa períodos mais longos em sua escrita, constituídos, muitas vezes, por subordinação e, inclusive, ocorre uma construção com uma relativa preposicionada (“cousa, de que Pedro tem carência”).

A Gramática filosófica da linguagem portuguesa, de João Crisóstomo do Couto e Melo (1818), é dividida em ortoepia, etimologia e sintaxe. Na primeira seção de etimologia, o autor afirma concorrerem para a construção do discurso cinco espécies de vocábulos: substantivos, adjetivos, verbos, preposições e conjunções, ao que segue uma explicação de cada classe de palavras.

Considerando a conjuntura em que foi escrita, ou seja, após Reforma Pombalina (1759), esse manual avança no sentido de não se ater à ideia de casos da língua latina e, aos poucos, aproxima-se das gramáticas mais recentes de língua portuguesa.

Na seção intitulada “da frase”, o autor afirma que a frase, oração ou expressão figurada de um juízo é constituída de três elementos: sujeito, verbo e atributo, de onde resultam dois tipos de frases, a simples e a composta. O exemplo de frase simples dado é “Deos é justo”; e o exemplo da composta é “António fôi diligente e eficaz” (MELO, 1818, p.239). Pelos exemplos e pela explicação que aparecem, a frase é simples se houver apenas um sujeito ou apenas um atributo, e é composta se houver dois ou mais sujeitos ou atributos.

Das gramáticas pesquisadas, esta é a primeira que aborda os períodos. Na seção IV, ocorre a seguinte definição:

O Período ou expressão d’um raciocínio, ou d’um sentido completo e mais extenso do que aquêle, que se-exprime por uma Frase, consta pêlo menos de duas frases extensas, ás quaes se-dá por isso o nôme de membros, e pode vir a constar de quatro, pelo muito; por ser necessário proporcionar a grandêza d’êle à retensão da respiração, e á atenção do ouvido: daqui veem três espécies de períodos, a saber: 1ª período de dous membros,

2ª período de três membros,

3ª período de quatro membros. (MELO, 1818, p.244)

Após essa definição, o autor lista exemplos longos para os três tipos de período, mas não explicita a análise de tais exemplos, motivo pelo qual a distinção não fica clara. Jerônimo Soares Barbosa (1822), autor da mais representativa gramática filosófica, em uma parte dedicada aos determinativos demonstrativos puros e

conjuntivos, aborda “qual”, “quem”, “cujo” e “que” como demonstrativos conjuntivos. São denominados demonstrativos pois indicam os objetos pela antecedência imediata, e conjuntivos porque conectam orações. Em uma parte específica, explora mais o “que”, afirmando que é um demonstrativo conjuntivo indeclinável que serve para “ligar as proposições incidentes com as principais, e sempre as integrantes com as totais” (BARBOSA, 1822, p.168). Ele afirma que o “que” conjuntivo é o que “ata as proposições integrantes, ou so indicativo, ou so subjunctivo com o verbo da oração principal, a o qual servem de complemento objetivo” (BARBOSA, 1822, p.169). Como exemplo, aparece: “Mando que faças, Digo que podes”. Um pouco mais adiante, o autor afirma que tais demonstrativos conjuntivos também podem ser sujeito das orações que iniciam.

A gramática avança em relação às anteriores ao usar exemplos com períodos compostos e ao abordar as relações expressas pelo “que”, mas ainda não menciona seu uso preposicionado.

Constâncio (1855), apesar de não tratar explicitamente da construção, faz uso de exemplos com o período composto e, assim como Barbosa (1822), também aborda o “que” relativo, incluindo um exemplo com ele preposicionado: “com que (com as quaes) roubão o alheio” (CONSTÂNCIO,1855, p.167).

Reis (1871) afirma que o período gramatical pode ser composto por uma proposição absoluta e por proposições subordinadas a ela. As subordinadas podem ser circunstanciais e completivas. As completivas são ligadas pela conjunção “que” à proposição principal. Esse tipo de proposição é ligado à principal por um

limitado numero de conjuncções (...), por exemplo, que, a que, de que; mas o adjectivo interrogativo, ou os adverbios interrogativos desempenhão o mesmo officio, como se nota nos seguintes periodos grammaticaes: ‘dize-me quem sejas, ou és?’ ‘quero saber d’onde vieste?’ (REIS, 1871, p.223).

O autor, ao contrário dos anteriores, aborda e conceitua o período composto. Pelo trecho citado, percebe-se que as conjunções preposicionadas são usadas, mas o autor não as explora, nem cita exemplos com tais construções.

Domingos de Azevedo ([1880]1899) afirma que se chama complemento qualquer palavra ou oração usada para completar uma ideia de outra palavra ou oração.

Chama-se complemento direto a palavra ou oração que completa a significação de outra “sem o socorro da preposição”, como em “eu amo o estudo” (AZEVEDO, 1899, p.154). Já o objeto indireto é a palavra ou oração que se liga a outra palavra ou oração por meio de preposição, completando-lhe o sentido, como em “livro de João” (AZEVEDO, 1899, p.155). Apesar de afirmar que tais complementos podem ser palavras ou orações que completam palavras ou orações, os exemplos citados pelo autor são sempre de período simples, o que não possibilita ver sua abordagem ao período composto (des)preposicionado.

Ortiz e Pardal (1888), cuja primeira versão da gramática data de 1881, definem período simples como aquele em que consta apenas uma oração, e período composto como aquele em que consta mais de uma oração. As orações são divididas em oração absoluta (período simples), oração principal (tem outra oração funcionando como seu sujeito, atributo ou complemento) e oração acessória ou incidente (serve de sujeito, atributo ou complemento a outra oração).

As orações do último tipo podem ser incidentes restritivas ou explicativas. As restritivas são sujeito, atributos, complementos objetivos, complementos terminativos ou determinativos, a partir de tal função, recebem os seguintes nomes, que aparecem seguidos pelo exemplo:

Subjetivas - “Que temais a morte é natural”

Atributivas – “O meu maior desejo é que tenhais saúde” Objetivas – “Dizem que Francisco ainda vive”

Terminativas – “Já me contentára com que os presos da infamia levassem comsigo á cova as suas cadêas”

Determinativas – “Todo homem que mata outro homem é homicida” (ORTIZ; PARDAL, 1888, p.110)

As incidentes explicativas ou circunstanciais marcam circunstância de aposição, causa, modo, tempo, lugar, relação ou comparação ou referência, quantidade, condição, fim.

Os autores não apresentam muitas explicações sobre os tipos de orações, apenas citam exemplos. É importante notar que o exemplo da terminativa ocorre com uma sentença preposicionada. Na parte destinada ao complemento, os autores ressaltam que

“o complemento indirecto apparece frequentemente sem preposição: mas na analyse deve-se-lhe antepôr sempre a preposição conveniente” (ORTIZ; PARDAL, 1888, p.115). Na sequência, aparecem os seguintes exemplos:

Ahi vem quem lhe doe a fazenda, isto é, ahi vem aquelle a quem lhe doe a fazenda. As cinco horas que dormi, não me bastaram, isto é, as cinco horas em que ou durante as quais dormi etc. andei cinco leguas para vir ao theatro esta noite, isto é, andei até ou por espaço de cinco leguas para vir ao theatro em ou n’esta noite. (ORTIZ; PARDAL, 1888, p.115).

Como é possível observar, nos exemplos, aparecem construções relativas que envolvem a preposição, o que evidencia a variação no emprego preposicional em relativas. Pela observação dos autores, é possível perceber o caráter mais prescritivo do manual, que também se nota na observação seguinte à mencionada:

Concorrendo duas ou mais palavras que pedem complementos diversos, deve-se dar a cada uma o complemento que lhes convém”; “por isso não se deve dizer por ex.: sahem e entram no porto muitos navios diariamente, mas diga-se: sahem do porto e entram no porto, etc. (ORTIZ; PARDAL, 1888, p.115).

Julio Ribeiro (1881), em Grammatica portugueza, primeira gramática brasileira, define sentença composta como aquela que contém mais de uma asserção. Os membros de uma sentença composta podem manter uma relação de coordenação ou de subordinação.

A subordinação ocorre quando há dependência entre os membros da sentença, sendo que as cláusulas subordinadas dependem da cláusula principal. As cláusulas subordinadas podem ser cláusulas substantivos, cláusulas adjetivos e cláusulas advérbios. As cláusulas substantivos são definidas como aquelas em que a relação com a sentença equivale a um substantivo. Começa sempre pela conjunção “que”, pela preposição “de” ou por uma palavra interrogativa.

São apontados cinco tipos de cláusulas substantivos:

Sujeito “que eu caísse no laço era o que elle desejava” Objeto “eu disse-te que fosses”

Predicado “Pedro é exatamente o que parece ser”

 Adjunto atributivo do sujeito ou do objeto do mesmo verbo “A ideia de que partirás sem mim tortura-me o coração”, “tenho um pressentimento de que não viverei muito”

Complemento de uma preposição “arrependo-me de que lhe tivesse dito” (RIBEIRO, 1881, p. 203).

Nos exemplos, ocorrem duas construções que envolvem preposição: adjunto atributivo e complemento de uma preposição. Na parte dedicada ao emprego do infinitivo, onde é discutido o sujeito desse infinitivo, é interessante notar alguns exemplos em que tanto as completivas com infinitivo quanto sua transposição para completivas finitas aparecem com sentenças preposicionadas: “É tempo de partires” sobre o qual há a seguinte observação “isto é, de que partas”; “Não me espanto de falardes tão ousadamente” e a observação “isto é, de que falleis”; “Não tens vergonha de ganhares tua vida tão torpemente”, “isto é, de que ganhes”; e “Folgarás de veres a policia”, “isto é, de que vejas” (RIBEIRO, 1881, p. 240-241).

Como é perceptível pelos exemplos e observações apontadas pelo autor, nesse manual ocorrem construções substantivas preposicionadas. Também nesse manual, a nomenclatura utilizada em coordenadas e subordinadas e em cláusulas substantivo, adjetivo e advérbio é idêntica à nomenclatura tradicionalmente utilizada; mesmo na classificação das cláusulas substantivo, a nomenclatura aproxima-se bastante da classificação adotada em gramáticas tradicionais.

Maciel (1887) define sentença composta como aquela que é constituída por duas ou mais sentenças simples, e classifica as sentenças compostas entre coordenadas e subordinadas: as primeiras indicam um “juizo independente, acha-se contudo relacionada com outra mediante o sentido de uma conjuncção coordenativa” (MACIEL, 1887, p.270). Já as subordinadas são chamadas pelo autor de cláusulas, pois estão ligadas, já que entre elas há uma relação “estreita e vigorosa de sentido” (MACIEL, 1887, p.272). Ele as classifica como substantivas, se tiverem valor significativo de um substantivo; adjetiva, se tiverem valor de adjetivo; e adverbial, se tiverem valor de advérbio.

Ao que interessa ao presente trabalho, nos deteremos nas substantivas. Elas são classificadas em 5 tipos:

Subjetiva – “É bom que partas.” Predicativa – “Tu és que fazes.”

Atributiva – “Pelo facto de teres dinheiro tiveste amigos.” Objetiva – “Desejo que passes bem.”

Terminativa – “Preciso de que me empreste dinheiro.” (MACIEL, 1887, p.274).

O autor não fornece grandes explicações sobre os exemplos, nem menciona a variação no emprego de preposições nesses contextos. Apesar de não fazer referência à variação preposicional em sentenças finitas, o autor chama a atenção para as “alterações syntaticas”, que são “mudanças que no tempo ou no espaço experimenta um typo syntatico exprimindo sempre a mesma relação grammatical” (MACIEL, 1887, p.278). Ele afirma que tais modificações decorrem de alterações mórficas e cita o exemplo das preposições, que substituíram os casos. O autor também se refere a diferentes construções que incluem preposições, como, por exemplo, com o verbo “começar” seguido de infinitivo. De acordo com suas palavras:

O verbo começar actualmente construe-se com a preposição a seguida de um infinitivo e até mesmo sem preposição, imitando a construção do seculo XVI, ex.: Comecei a dizer ou dizer.

Nos escritores do seculo XVI encontra-se o verbo começar construído sem preposição ou com as preposições a e de, ex.:

Comece ser sentida (A. Ferreira).

Começou a dizer um marinheiro (Barros) Começou a bradar (Gil Vicente).

Pelos exemplos, é possível observar a constante variação no emprego preposicional ao longo da história da língua portuguesa. No entanto, o autor não menciona a variação em sentenças finitas.

João Ribeiro ([1887]1889) define proposição complexa como aquela que, além de sujeito e predicado, contém outras proposições. Nesse tipo de estrutura, uma proposição é principal e as outras dependentes. As subordinadas podem ser de três

tipos: substantivas, adjetivas ou adverbiais. Apesar de definir as cláusulas subordinadas, não há nenhum exemplo de completiva preposicionada.

É interessante notar que, em uma parte intitulada “Alterações Léxicas e sintáticas. Arcaísmos e neologismos”, o autor refere como alterações de regência as seguintes ocorrências:

“começou dizer (l. antiga) Começou de dizer (l. moderna)

Começou a dizer (l. moderna)” (RIBEIRO, 1889, p.312)

Assim como em outros trechos das gramáticas mencionadas, aqui também é possível detectar a variação preposicional nas completivas infinitivas.

Sobre essa variação, em Sintaxe histórica portuguesa, Epifanio da Silva Dias (1918) observa que um fato notável nas línguas românicas é o emprego de preposições com infinitivo. Afirma ainda que, em português, as preposições são empregadas tanto com simples infinitivo quanto com orações infinitivas, acrescentando que isso é tão comum que, às vezes, emprega-se a preposição no infinitivo que tem função de sujeito, de acordo com ele, “facto de que, não se deu ainda explicação satisfatória” (DIAS, 1918, p. 223-224). Na sequência, o autor apresenta uma série de empregos das preposições com infinitivo.

Na seção sobre ligação das orações, a subordinação é abordada. As substantivas, ponto que interessa ao presente estudo, são definidas como orações introduzidas pela conjunção “que”, ou interrogativas ou infinitivas. As introduzidas por “que” podem ser sujeito de verbos intransitivos e da passiva de verbos transitivos, predicativo, aposto ou objeto direto.

O “que” pode ser precedido da preposição “a”, como em “não se atendeu a que, alteradas as disposições do decreto, era necessario pôr em harmonia com ellas a exposição dos motivos” ou “attentos sempre a que não nos illuda a cada momento um fabricante de mentiras ou um falsificador de documentos e textos” (DIAS, 1918, p. 270). O autor nota que, no português médio, às vezes, omitia-se a preposição, como no