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2.5 Metodologia

2.5.1 Grupos de fatores das completivas verbais

Como já mencionado, os grupos de fatores são divididos em variáveis linguísticas e variáveis extralinguísticas, que são apresentados separadamente.

2.5.1.1 Variáveis extralinguísticas de completivas verbais

Para se avaliar a hipótese de estudo, de que as construções preposicionadas foram introduzidas por via erudita, é importante controlar algumas variáveis extralinguísticas.

O primeiro grupo de fatores dessa natureza é o nome do autor da obra, já que foram contabilizados 63 autores no córpus de completivas verbais analisado.

O segundo grupo é a nacionalidade do autor, no caso, brasileiro ou português. Convém salientar que, por uma questão didática, a nacionalidade foi classificada considerando-se o local de nascimento do autor, e não o país onde ele foi criado.

Após controle de dados do autor, foi controlado o nome da obra em que as ocorrências aparecem. As completivas verbais (des)preposicionadas ocorreram em 221 das 254 obras listadas no apêndice A.

Considerando que o estudo analisa a entrada de preposição em completivas sentenciais finitas, é necessário controlar o ano de publicação da obra. Os dados analisados contemplam o período de 1500 a 1950. Por uma questão metodológica, os períodos foram divididos de 50 em 50 anos, ou seja, 1500, 1550, 1600, 1650, 1700, 1750, 1800, 1850, 1900, 1950. Exemplificando, se uma obra foi publicada em 1618, o seu período de publicação, para fins de classificação, será 1650.

O último grupo das variáveis extralinguísticas é o gênero da obra em que ocorre o dado. Apesar de gênero ser uma classificação linguística, devido à associação que estabelece com as funções sociais que desempenha, optamos por classificá-lo como grupo extralinguístico, por ser um dos principais indicadores que permitem correlacionar o fenômeno em estudo a processos históricos ligados à normatização da língua. Sendo assim, os gêneros foram classificados em: ata, carta, discurso7, jornal, narrativa literária, narrativa não literária, poesia, teatro, textos científicos/filosóficos.

Após descrição das variáveis extralinguísticas, a seguir são apresentadas as variáveis linguísticas.

2.5.1.2 Variáveis linguísticas de completivas verbais

Nas variáveis linguísticas, o primeiro grupo de fator avaliado foi a preposição

prevista pelo verbo regente. Para classificação desse grupo, foi consultado o

Dicionário de Verbos e Regimes, de Francisco Fernandes (1959). Outro grupo foi a

preposição realizada. Nessa variável, considerou-se 0 para não realização de

preposição e, quando ela era realizada, registrou-se a preposição que ocorria. Os dados abaixo reproduzidos ilustram esses dois últimos grupos de fatores:

(42) “E admiro-me de que o Padre Provincial não ponha os olhos na minha vocação e suficiência, tendo tanto conhecimento do nada para que presto, excepto êste dom de Deus, de falar desta ou daquela maneira” (Antonio das Chagas, Cartas espirituais, 1650)

(43) “só me admiro que se diga tão pouco” (Antonio das Chagas,

Cartas espirituais, 1650)

As duas ocorrências envolvem o verbo “admirar-se”. Na construção desse verbo, Fernandes (1959) abona o uso de “de”, “em” ou ainda a possibilidade de preposição subentendida. Como é possível observar, na primeira ocorrência (42), ocorre a realização da preposição “de”, conforme abonado no dicionário de regimes. Já a ocorrência seguinte (43) aparece sem a realização da preposição, podendo ser enquadrada no que Fernandes (1959) considera “preposição subentendida”.

Outro grupo de fator avaliado foi a adjacência da sentença completiva. Por esse condicionante, queremos avaliar se palavras ou construções intervenientes interferem na realização da preposição. Por hipótese, interveniências levariam a uma maior realização da preposição, pois estariam relacionadas a um menor encaixamento da sentença completiva na oração matriz. Nessa variável, foram encontradas as seguintes estruturas:

 Sentenças imediatamente adjacentes aos verbos

(44) “Os médicos, na junta, aprovaram tudo o que disse Tamagnini e concordaram em que a falta de fôrças, muito atendível, não devia consentir remédio nenhum activo.” (Marquesa de Alorna, Cartas, 1800)

 Construções com sintagma adverbial interveniente:

(45) “é porque credes piamente que os justos vos não saberão pedir coisa alguma com injustiça” (Cavaleiro de Oliveira, Cartas familiares, 1750)

 Construções com conjunção interveniente:

(46) “lembro me porém de que muito me impressionava a fisionomia de os parentes e de as pessoas que nos cercavam.” (Marquês da Fronteira e Alorna, Memórias do Marquês da Fronteira e d'Alorna, 1850)

 Construções com pronome interveniente:

(47) “ainda quando assentássemos que o fim era lícito, muito duvidaria eu de que fôsse conveniente;” (Francisco Manuel de Melo,

Cartas familiares, 1650)

 Construções com sintagma nominal interveniente:

(48) “não se lembra, senhor Lélio, que se fizeram cá em casa As Amorosas Finezas?” (José Daniel Rodrigues da Costa, Entremezes de

Cordel, 1750)

 Construções com sentença interveniente:

(49) “espero que mostreis esta carta a Mademoiselle Genoveva, para que se persuada, como sempre lhe digo, que defendo...” (Cavaleiro de Oliveira, Cartas familiares, 1750)

 Construções com vírgula:

(50) “Tambem o Esmoler mór se queixa, que se lhe remettem petiçoens aos milhares naõ tendo cabedal, que se conte por centos.” (Manuel da Costa, Arte de furtar, 1650)

Convém salientar que, apesar de fazer parte da escrita, a vírgula foi considerada por se supor que ela pudesse significar uma quebra prosódica, o que poderia interferir na realização da preposição nesse contexto.

Outro grupo de fatores controlado foi o verbo regente da oração matriz. Os verbos analisados no estudo, em ordem alfabética, são apresentados no quadro a seguir:

Quadro 2 – Verbos analisados

admirar-se advertir anuir avisar blasonar cair capacitar certificar concordar consentir consistir contentar-se convencer convidar convir

crer cuidar duvidar

empenhar exortar fazer

gabar-se gostar informar irritar-se lembrar-se lisonjear-se livrar necessitar obrigar obstar ofender persuadir prevenir queixar-se recordar-se reparar suspeitar tratar

Também foi controlado outro grupo de fator: a forma do verbo. Nesse caso, considera-se a seguinte classificação, seguida de um exemplo:

 Ativa não pronominal:

(52) “prevenia o de que, acabada a festa, era ele, Marquês, o dono de a casa e podia convidar a jantar as pessoas que quisesse.” (Marquês da Fronteira e Alorna, Memórias do Marquês da Fronteira e d'Alorna, 1850).

 Ativa pronominal :

(53) “e as gentes se admiraram, não de que fosse chamado, mas de que o não fosse mais cedo” (Matias Aires, Reflexões sobre a Vaidade

 Passiva analítica:

(54) “foi plenamente informado de que também Vossa Senhoria os tolerava” (Alexandre de Gusmão, Cartas, 1700)

Outro grupo de fatores considerado na análise foi a estrutura argumental do

verbo, nesse caso, controlou-se a quantidade de argumentos que ocorre em sua

complementação. Registraram-se ocorrências de verbos que regiam somente um complemento e de verbos que regiam dois complementos, objeto direto e objeto indireto. Convém ressaltar que os verbos pronominais, apesar de regerem somente um objeto, enquadrando-se, portanto, no primeiro tipo mencionado, foram classificados separadamente, constituindo uma terceira variável, a fim de se observar seu comportamento, dada a ambiguidade quanto ao estatuto do pronome ser ou não argumento.

Abaixo, a título de ilustração, há uma ocorrência de verbo pronominal, uma ocorrência de verbo com apenas um argumento e um exemplo de verbo com dois argumentos.

(55) “Diga-me Vossa Mercê se se contentará que o seja por puro amor de Vossa Mercêsem parte do Santo?” (Francisco Manuel de Melo,

Cartas familiares, 1650)

(56) “Reparou que no Lado do Diuino Crucificado, estaua hum cadeado com sua chaue, que convidaua que abrissem aquelle precioso thesouro, sempre despendido, nunca esgotado.” (Maria do Céu, Vida e

Morte de Madre Helena da Cruz, 1700)

(57) “Era preciso que uma lógica de ferro em brasa a convencesse de que aquele homem mau nunca a amara e nunca a merecera!” (Aluísio Azevedo, O Mulato,1900)

Nos dados reproduzidos, encontra-se, em (55), o verbo “contentar-se”, classificado como pronominal. Em (56), há o verbo “convidar”, construído com apenas um complemento. E, em (57), há o verbo “convencer”, construído com dois complementos, um pronome acusativo e uma sentença.

Em casos de verbos construídos com dois complementos, ainda foi classificada a

natureza do segundo complemento, que ocorreu em forma de pronome acusativo, em

forma de pronome acusativo/dativo e como um SN. O rótulo pronome acusativo/dativo contempla os pronomes que podem funcionar tanto como acusativos quanto como

dativos, ou seja, não é possível determinar se, na ocorrência, cumprem função de um objeto direto ou de um objeto indireto. A seguir, foram reproduzidas algumas ocorrências para exemplificar tais construções.

(58) “corre a Queluz para informar Sua Alteza de que a diligência estava ultimada com o melhor êxito.” (Marquês da Fronteira e Alorna,

Memórias do Marquês da Fronteira e d'Alorna, 1850)

(59) “fazendo-lhe colecções de livros e obrigando-o a que lesse por eles muitos anos.” (Cavaleiro de Oliveira, Cartas familiares,1700) (60) “advertindo-nos que não basta que eles sejam adornados de belezas, mas que é preciso também que o poeta mova nos corações dos ouvintes as paixões que lhe parecer, ou que exigir a natureza da sua composição.” (Correia Garção, Obras completas, 1750)

No primeiro excerto (58), ocorre um complemento em forma de SN (“Sua Alteza”), no segundo (59), há um complemento oblíquo (“o”), e, no terceiro (60), ocorre um pronome que pode cumprir função de objeto direto e também de objeto indireto, ou seja, pode ser tanto acusativo quanto dativo (“nos”).

Após apresentação das variáveis utilizadas na classificação das completivas verbais, serão apresentadas as variáveis relativas às completivas nominais.