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CAPÍTULO 2 A INSTITUCIONALIDADE DO PROGRAMA NACIONAL DE

2.5 A COMPRA DA AGRICULTURA FAMILIAR – CRITÉRIOS, PROCESSOS E

Do mesmo modo que as demais compras públicas, a compra de gêneros alimentícios para a AE deve ser feita de acordo com a Lei 8.666, ou seja, mediante procedimento licitatório. Porém, como grande diferencial previsto na Lei 11.947/2009, foi facultada a dispensa de licitação para a aquisição dos gêneros da AF o que gerou a necessidade de indicação de instrumento que pudesse então nortear o processo de compra. SCHOTTZ (2017), em sua tese de doutorado, analisou o percurso de instituição da chamada pública como procedimento a ser adotado para a aquisição de gêneros da AF pelo PNAE e sinalizou os desafios de reorientação da lógica institucional do FNDE ao longo desse processo (SCHOTTZ, 2017).

Dos anos 2000 até 2016, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) era o órgão responsável pelas políticas ligadas a AF. Foi instituído em 2000 pelo Decreto 3.338 a fim de desenvolver as ações relacionadas à reforma agrária e a promoção do desenvolvimento sustentável do segmento rural constituído pelos agricultores familiares. Em 2003, o Decreto 4.723 atualizou as responsabilidades do MDA pelas ações ligadas a AF.

E em 2016, com a nova organização do governo após o impeachment da então presidente, dentre outros prejuízos, houve a extinção do MDA e a transferência das suas competências para o MDS. Porém essa situação não se sustentou por muito tempo e, logo, as competências do MDA foram transferidas do MDS para a Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead), ligada a Casa Civil da Presidência da República, responsável atualmente pelas ações do extinto MDA (BRASIL, 2018).

O sítio eletrônico da Sead, ainda identificado pelo endereço eletrônico do MDA (http://www.mda.gov.br), disponibiliza um Sistema de Monitoramento de Oportunidades de Compras Públicas da Agricultura Familiar para possibilitar o acesso às chamadas públicas da AF. Esse Sistema, normatizado em 2017, visa publicizar os editais de chamada pública para compra de alimentos da AF, em parceria com o FNDE e MDS.

Como dito anteriormente, os agricultores familiares são definidos por uma série de aspectos que o qualificam como tal. Assim, para venderem para o PNAE, devem possuir a Declaração de Aptidão ao Programa Nacional de Fortalecimento da

Agricultura Familiar (DAP) de pessoa Física ou Jurídica. Também foi estabelecido que a compra deve ocorrer de modo direto, sem intermediários, de agricultores familiares ou empreendimentos familiares rurais ou suas organizações, priorizando os assentamentos da reforma agrária, as comunidades tradicionais indígenas e comunidades quilombolas, conforme o art. 14, da Lei nº 11.947/2009. Destaca-se ainda que os editais de chamamento público devem ser amplamente divulgados e permanecerem abertos por pelo menos 20 dias, a fim de possibilitar condições de organização dos interessados em apresentarem os seus projetos de venda.

A Resolução 04/2015 alterou a Resolução 26/2013 no que tange a normativa que guia a aquisição de gêneros da AF e do Empreendedor Rural Familiar para o PNAE. Foi estipulada a ordem de prioridade de compra da AF conforme a localização do empreendimento: I - o grupo de projetos de fornecedores locais terá prioridade sobre os demais grupos; II - o grupo de projetos de fornecedores do território rural terá prioridade sobre o do estado e do País; III - o grupo de projetos do estado terá prioridade sobre o do País.

Também foi estabelecida a ordem a ser respeitada entre os participantes de processo de chamamento público, seguindo o seguinte critério: I - os assentamentos de reforma agrária, as comunidades tradicionais indígenas e as comunidades quilombolas, não havendo prioridade entre estes; II - os fornecedores de gêneros alimentícios certificados como orgânicos ou agroecológicos; III - os Grupos Formais (organizações produtivas detentoras de Declaração de Aptidão ao PRONAF - DAP Jurídica) sobre os

Grupos Informais (agricultores familiares, detentores de Declaração de Aptidão ao

PRONAF - DAP Física, organizados em grupos) e estes sobre os Fornecedores

Individuais (detentores de DAP Física).

Dentre os documentos exigidos para os agricultores familiares serem habilitados e poderem participar da chamada pública encontram-se: I - prova de inscrição no Cadastro de Pessoa Física – CPF ou no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica – CNPJ; II - o extrato da DAP Física ou Jurídica, emitido nos últimos 60 dias; III - o Projeto de Venda com assinatura dos participantes; IV - a declaração de que os gêneros alimentícios a serem entregues são produzidos pelos agricultores familiares relacionados no projeto de venda.

Em relação aos preços de compra da AF, a Resolução 04/2015 estabelece que os mesmos devem ser compatíveis com o valor de mercado, considerando a tomada de preço de três mercados locais. Diferentemente do procedimento licitatório, no processo

de chamada pública os preços não são apresentados por quem vende com consequente escolha do de menor valor. Para a chamada pública, a pesquisa de preço deve ser feita pela própria secretaria de educação que almeja adquirir os gêneros e o preço médio para cada item deve ser apresentado ainda no edital, já acrescido de valor para cobrir frete, embalagens e encargos.

Porém, dois pontos geraram controvérsia, quando em 2009 foi estabelecido o limite máximo de venda por DAP diante da diversidade das propostas apresentadas pelos diferentes atores (SCHOTTZ, 2017). A Resolução 38/2009 estabelecia que o preço de referência deveria ser o preço praticado pelo PAA e, também, fixava o limite máximo de venda para a AE de R$ 9.000,00 (nove mil reais)/DAP/ano. Já com a Resolução 26/2013 o valor de venda foi elevado para R$ 20.000,00 (vinte mil reais)/DAP/ano. E, com a Resolução 04/2015, a mais recente, mais algumas medidas foram tomadas em relação ao limite de venda para a AE. O valor de venda de R$ 20.000,00 (vinte mil reais)/DAP/ano passou a se referir a venda a cada secretaria de educação e não ao valor total de venda por DAP/ano. Assim, cada DAP poderia vender além desse valor por ano, desde que para secretarias de educação distintas. Ainda, estabeleceu que em relação às DAPs jurídicas, o cálculo seria baseado no mesmo valor estipulado por DAP, porém multiplicado pelo número de agricultores inscritos nessa DAP jurídica.

A Resolução 04/2015 foi então a mais recente legislação que atualizou a compra da AF para a AE. Estabeleceu, dentre outras questões, que o preço médio de compra deve ser obtido por pesquisa de no mínimo três mercados locais, inclusive priorizando os mercados da AF, como as feiras livres e, apenas no caso de impossibilidades, deveria ser considerada a ampliação da pesquisa para o território, o estado até o nível nacional. A partir disso, os projetos de venda deveriam ser apresentados em sessões públicas, registradas em atas e os selecionados deveriam então firmar contrato com as secretarias de educação. (Resolução 04/2015).

Porém, de acordo com o estabelecido na Lei 11.947, a compra da AF pode ser dispensada quando houve incapacidade, por parte da AF de: emitir nota fiscal, fornecer de modo regular e constante os gêneros sazonais e ainda de atender as condições higiênico-sanitárias satisfatórias. Tais substituições devem ser avaliadas, de modo a buscar substitutos que, embora não sejam da AF, sejam de equivalência nutricional. Mas, considerando-se a intenção de apoiar os circuitos curtos, como enfatizado na Nota Técnica da COSAN de 2016, deve haver trabalho em conjunto entre o profissional

nutricionista e os da agricultura e representantes da AF de modo que possa ser construída a inclusão da produção local no cardápio, apesar dos obstáculos (BRASIL, 2016b).

O sítio eletrônico do FNDE disponibiliza consulta de dados referentes ao repasse financeiro do FNDE aos estados e municípios de 2012 a 2015 e também da compra da AF de 2011 a 2015, que são demonstrados no Quadro 7 abaixo.

Quadro 7 - Valores correspondentes ao repasse do FNDE para as Secretarias de Estado

de Educação para a aquisição de gêneros alimentícios diretamente da agricultura familiar

Estado Capital Valor do repasse (R$) Valor aquisições agricultura familiar Percentual AC Rio Branco 12.324.225,60 3.371.181,47 27% AL Maceió 12.789.135,60 - 0% AM Manaus 37.266.187,20 2.598.689,40 7% AP Macapá 11.214.346,80 30.575,30 0% BA Salvador 65.291.227,20 8.372.446,84 13% CE Fortaleza 30.947.412,00 13.413.860,70 43% DF Brasília 35.897.950,80 3.260.072,70 9% ES Vitória 18.900.702,40 3.661.455,40 19% GO Goiânia 40.935.301,60 7.108.421,44 17% MA São Luis 25.417.165,60 1.661.769,68 7% MG Belo Horizonte 143.460.230,00 29.466.049,38 21% MS Campo Grande 15.109.610,40 2.524.559,12 17% MT Cuiabá 32.277.206,40 4.909.434,92 15% PA Belém 22.412.523,20 1.044.008,75 5% PB João Pessoa 28.606.515,20 2.452.961,85 9% PE Recife 65.171.638,80 6.901.674,10 11% PI Teresina 37.123.330,40 499.732,81 1% PR Curitiba 75.390.766,00 31.249.952,85 41% RJ Rio de Janeiro 58.349.956,00 7.775.108,21 13% RN Natal 23.821.299,20 5.332.415,05 22% RO Porto Velho 20.445.796,40 5.238.893,45 26% RR Boa Vista 5.955.082,00 873.573,47 15% RS Porto Alegre 72.482.848,80 11.852.023,42 16% SC Florianópolis 38.360.626,00 6.073.455,39 16% SE Aracajú 11.786.916,00 518.683,21 4% SP São Paulo 160.699.651,60 16.972.975,09 11% TO Palmas 18.870.976,40 2.923.754,38 15% TOTAL 1.121.308.627,60 180.087.728,38

2.6 O CONTEXTO INSTITUCIONAL DE GESTÃO A NÍVEL LOCAL