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CAPÍTULO 2 A INSTITUCIONALIDADE DO PROGRAMA NACIONAL DE

2.6 O CONTEXTO INSTITUCIONAL DE GESTÃO A NÍVEL LOCAL

2.6.5 Compra de gêneros para o PAE RJ

Para a compra dos gêneros para a AE, as escolas recebem recurso do governo federal, via PNAE, além do repasse do estado que no RJ, ocorrerem por meio das Associações de Apoio à Escola (AAE), que são formadas no interior das escolas para recebem os repasses para o PAE, tanto o recurso federal quanto o estadual. A obrigatoriedade de aquisição de gêneros da AF e empreendimentos familiares para a AE com dispensa de licitação, estabelecida pela Lei 11.947/2009 está relacionada apenas ao recurso do FNDE, não incluindo o repasse estadual.

Como o recurso do FNDE é exclusivo para compra de gêneros alimentícios, fica a cargo da Secretaria de Educação o fornecimento e manutenção da estrutura para a operacionalização da AE, desde a compra até a distribuição. Assim, é de responsabilidade da SEEDUC a montagem da cozinha segundo as normas da ANVISA (RDC 216/2004), visando garantir as condições higiênico-sanitárias no fornecimento das refeições, além de fornecer os equipamentos e utensílios, garantir a manutenção dos mesmos, também reformas da estrutura e descarte adequado, no caso de material em desuso. As escolas públicas também podem receber recurso do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), que também foi estabelecido pela Lei 11.947/2009 como verba suplementar, com repasse anual que pode ser utilizado em manutenção dos prédios e instalações com vistas a assegurar o funcionamento das escolas. Existem ainda outras modalidades do PDDE, as “Ações Agregadas ao PDDE”, que visam apoiar ações como os programas: Água na Escola, Escola do Campo, Escola Sustentável e Escola Acessível (BRASIL, 2017d).

Os recursos humanos para o preparo das refeições são de responsabilidade da SEEDUC, nos últimso 30 anos não houve concurso para a função de merendeira e, com isso, não há número suficiente desse profissional para atuar nas mais de 1.300 escolas estaduais. Foi contratada empresa terceirizada e a terceirização nas cozinhas escolares, atualmente, chega a 90% do recurso humano nas escolas, conforme relato do gestor.

Em sua perspectiva, a terceirização melhorou o funcionamento do preparo das refeições, uma vez que a empresa que passou a ser responsável pela atuação dos funcionários, pelo fornecimento de material de limpeza e pelas questões higiênico- sanitárias. Porém, por outro lado, segundo as merendeiras, as mesmas foram recontratadas pelas empresas que assumiram a terceirização, e as condições de trabalho pioraram. De um modo geral, o quantitativo de funcionários caiu pela metade com e

carga horária de 44hrs/semanais foi colocada como bastante extenuante, principalmente ao se considerar as condições precárias das cozinhas escolares que tornam o trabalho ainda mais árduo.

Desse modo, parte da atuação que seria de responsabilidade da equipe de nutricionistas da SEEDUC, como, por exemplo, supervisionar a qualidade sanitária e o preparo das refeições, fica a cargo de nutricionista da empresa contratada. Tal fato foi apontado como ponto positivo tanto por diretores de escola quanto por representantes da Coordenação de Alimentação Escolar, uma vez que possibilitou mais controle das atividades desempenhadas nas cozinhas e não há adequado número de nutricionistas para tal pela SEEDUC. Assim, segundo relato de gestores entrevistados, dentre os fatores apontados como positivos está a proximidade da supervisão com as escolas, uma vez que a empresa terceirizada deve garantir a qualidade no preparo das refeições em contrato e, desse modo, possui número adequado de nutricionistas para tal. Porém, cabe destacar que apesar disso, a empresa terceirizada que vem prestando serviço para a SEEDUC, que teve seu contrato prorrogado pela quinta vez em 2017, foi apontada como envolvida em corrupção e, devido à dívida da SEEDUC no pagamento do contrato, está com salário atrasado para seus funcionários. Tal empresa possui apenas duas nutricionistas em seu quadro técnico para a supervisão nas escolas do estado (BRASIL, 2016).

Assim, apesar disso, devido a inadequação do número de nutricionistas para atuar no PAE, outras ações de responsabilidade também desse profissional, como as ações de EAN, previstas na Lei 11.947/2009, ficam prejudicadas. Tais ações não são realizadas nas escolas estaduais do RJ, assim como o tema da alimentação não está inserido nos Projetos Políticos Pedagógicos (PPP) das Escolas. Seriam fundamentais na promoção da alimentação adequada e saudável (PAAS), incluindo a aceitação da alimentação fornecida. Os “Dez Passos para a Promoção da Alimentação Saudável nas Escolas” são orientações constantes no Manual Operacional do PAE, elaborado pela Coordenação de Alimentação Escolar em 2013. São passos norteadores, baseados nas diretrizes da Portaria Interministerial 1.010/2006, que visam propiciar PAAS, atitudes de autocuidado e promoção da saúde as escolas, ainda que por si só não sejam suficientes. Apesar disso, destaca-se que o Regimento Interno da SEEDUC (2014), estabelece que compete a Coordenação de Segurança Alimentar a função de “acompanhar a execução dos projetos e programas referentes à educação alimentar e nutricional nas unidades escolares da Secretaria de Estado de Educação, orientando na correta aplicação dos

recursos nos limites de sua competência”. A Resolução SEEDUC Nº 5.449/2016, que estabelece as diretrizes para o PAE, não acrescenta nenhuma outra obrigatoriedade relacionada a EAN, questiona-se, a quem competiria a realização de tais atividades, então?

Os diretores escolares são responsáveis pela garantia de funcionamento do PAE em suas unidades educacionais. Considerando então suas competências diante de um programa descentralizado como o PAE, os mesmos têm a incumbência de organizar os itens e as quantidades a serem adquiridas, selecionarem os fornecedores e executarem a compra. Cabe a eles também a elaboração do Mapa de Controle do PAE, popularmente conhecido nas escolas como “Mapa de Merenda”, documento que deve conter as informações sobre o que foi servido, na prática, diariamente, além do total de refeições fornecidas e as notas fiscais de compras anexadas. Esse documento deve então ser enviado mensalmente à DRA com vistas a prestação de contas.

Ainda, as escolas são autônomas no que diz respeito à escolha dos fornecedores. Porém, para tanto, conforme Resolução Nº 2.624/2003 e Resolução Nº 3.707/2007, há necessidade de cadastramento obrigatório e atualização anual dos fornecedores diretamente nas escolas ou nas Coordenadorias Regionais. Desse modo, cabe ainda aos diretores escolares garantir o cadastro dos fornecedores. Além de documentos como contrato social, certidão negativa de débitos e alvará, a empresa ou cooperativa deve apresentar também certificado de vistoria sanitária. E, com isso, deve ser examinada a situação do fornecedor junto à Secretaria de Estado de Receita para que seja realizada a compra.

Como já apresentado, existe a preconização ainda de que para as aquisições de gêneros alimentícios, assim como em toda compra pública, sejam observados os princípios da Lei 8.666/1993. Ou seja, de um modo geral, todas as compras públicas devem ocorrer por meio de licitação. Quando as aquisições forem de pequenos valores (até R$ 8.000,00), as UEs devem realizar pesquisas de preços em pelo menos três fornecedores, buscando assegurar a compra de menor preço e com melhor qualidade (SEEDUC, 2003; BRASIL, 2016b).

Como dito anteriormente, a compra de gêneros realizadas pelas escolas no estado do RJ, não só as da AF, ocorre diretamente em cada escola sem a realização de licitação por esta ou por algum outro órgão. Há a tomada de três preços (usualmente online) e a escolha pelo menor preço, e não há possibilidade de ultrapassar os preços máximos para compra estabelecidos pela tabela da FGV, mesmo para compra da AF, independente de

normatização federal do programa que determina tomada de três preços locais para compra da AF.

Essa característica do processo local do PAE afeta diretamente as possibilidades e motivações dos agricultores familiares para inserção no programa e merece destaque na análise.

Em relação à oferta de refeições nas escolas, observou-se que, em alguns casos de escolas com horário integral da Rede Estadual são oferecidas quatro refeições, um lanche na entrada (7:30), outro no intervalo da manhã (9:45), seguido do almoço (12:00) e ainda um lanche da tarde (15:45), antes do horário de saída (16:30). Porém, outras escolas também de horário integral não oferecem o lanche da entrada, apenas o lanche do meio da manhã, almoço e lanche da tarde.

E, nos casos de escolas em horário parcial, para aquelas no turno da manhã, com horário geralmente de 7:30 as 12:30, são ofertados um lanche no meio da manhã e o almoço. Ou, nos casos das escolas parciais no turno da tarde, em geral de 13:00 as 18:00, há oferta de almoço e um lanche da tarde. Destaca-se ainda a criação, em 2007, do programa federal Mais Educação, teve como objetivo ampliar a oferta de educação em tempo integral nas escolas municipais e estaduais, contemplando no mínimo sete horas na escola, incluindo a oferta de atividades optativas e no mínimo três refeições para mais alunos (BRASIL, 2018).

O almoço também pode ocorrer em horário simultâneo, no mesmo refeitório, tanto para os alunos do turno da manhã, que estão de saída, como para os do turno da tarde. Porém, para isso, deve haver estrutura física suficiente que comporte tal intersecção, o que nem sempre é observado. Também, outra questão relevante no caso brasileiro é que os lanches são servidos durante o horário de intervalo, no recreio, que é único tempo livre que os alunos têm para fazer as outras atividades, o que acaba competindo com a alimentação.

Embora não tenha sido observado nas escolas visitadas durante essa pesquisa, importante destacar que ainda existe, em alguns casos, a oferta de almoço no horário do meio da manhã, as 10:00, apesar da inadequação do horário aos hábitos e cultura locais. A justificativa relaciona-se com o fato de que a oferta de refeição no intervalo e não no horário de saída favoreceria o consumo.

Outro ponto é que no caso brasileiro não existe uma quantidade mínima a ser consumida, mas há bastante controle em relação a repetição ou ainda ao fato dos alunos

se servirem de duas porções de fruta ou itens ofertados individualmente, por exemplo. Assim, importante considerar que, no Brasil, por existirem distintas situações em relação ao tempo que o aluno passa na escola, em função de ser horário parcial (manhã ou tarde) ou tempo integral, pode acontecer de a criança ter acesso às refeições em apenas um dos turnos do dia. Desse modo, não há garantia de fornecimento de refeições no contra turno do horário escolar, como também não há oferta de refeições aos alunos durante os meses de férias escolares.

Ainda, apesar de preconizado na Lei, de acordo com os relatos colhidos durante o estudo, as escolas apenas estariam prontas para atender algum tipo de refeição diferenciada caso fosse solicitado com antecedência. Porém, conforme observado nas visitas, houve situação de os alunos se declararem vegetarianos na hora de se servirem das refeições e, no caso, a única opção de refeição disponível ser composta por carne sem opção de separação e os alunos consumiam apenas macarrão puro sem nenhum complemento.