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CAPÍTULO 2 A INSTITUCIONALIDADE DO PROGRAMA NACIONAL DE

2.1 ESTRUTURA ORGANIZACIONAL A NÍVEL NACIONAL

Desde sua instituição na década de 1950, a AE esteve vinculada ao MEC e cabe ressaltar que, mesmo que o direito humano à alimentação tenha entrado no bojo dos direitos sociais apenas em 2010, com a Emenda Constitucional 64, a AE já era reconhecida como direito desde a Constituição de 1988. Mas, com a promulgação da Lei 11.947/2009 o atendimento foi expandido, incluindo também o ensino médio e educação de jovens e adultos, englobando todos os alunos matriculados na rede pública de educação básica.

Embora a AE tenha sido sempre vinculada ao MEC, o MS é o órgão responsável pelas ações que tem interface com o PNAE, especialmente por meio do Programa Saúde na Escola (PSE), instituído em 2007 de forma conjunta pelos dois Ministérios, que, assim como o PNAE inclui em seus objetivos a Promoção da Alimentação Adequada e Saudável (PAAS) no ambiente escolar. A construção do PSE em perspectiva intersetorial indica as disputas de concepção sobre PAAS e os interesses conflitantes que envolvem a implementação das ações do programa. Essas disputas e conflitos atravessam o desenvolvimento do PNAE e giram em torno dos discursos sobre as ações de suplementação de micronutrientes, como a estratégia NutriSUS – previstas pelo PSE – e a PAAS por meio da alimentação in natura – prevista no PNAE (DIAS, 2016). Além

disso, o MS também foi o responsável pela elaboração do novo Guia Alimentar para a População Brasileira, publicado em 2015 que passou a ser o instrumento de apoio à PAAS e subsídio para o conjunto de programas e políticas de saúde e de SAN. O Guia é baseado em uma perspectiva de PAAS que recomenda que se evite o consumo de ultraprocessados e fomenta a alimentação in natura o que sinaliza a relevância das disputas em curso (BRASIL, 2014).

Considerando o conjunto de diretrizes institucionais que condicionam o desenvolvimento do PNAE há que se destacar o Marco de Referência em de Educação Alimentar e Nutricional (EAN) publicado em 2012 que formaliza uma concepção ampliada de EAN em sintonia com os objetivos da SAN (BRASIL, 2012a).

Como indicado anteriormente, o CONSEA, como espaço institucional estratégico para a participação social e também articulação intersetorial governamental na promoção da SAN fortaleceu, em grande medida, as modificações que ocorreram no PNAE. Principalmente devido a sua capilaridade, o CONSEA apoiava a reestruturação do PNAE e a consolidação da AE como direito, incluindo as diretrizes da SAN. Além disso, buscava também o fortalecimento da AF, incluindo a construção do PAA e, desse modo, teve papel fundamental na inserção da obrigatoriedade de compra com dispensa de licitação da AF para o PNAE. Com isso, destaca-se a atuação do CONSEA na reformulação do PNAE, principalmente entre os anos 2006 e 2009, incluindo sua ação política ao longo do processo de promulgação da Lei 11.947/2009 (SCHOTTZ, 2017).

No CONSEA a Comissão Permanente de DHAA teve uma atribuição importante na defesa da compra institucional como importante mercado para a AF e também na defesa da perspectiva do direito (CONSEA, 2010; SCHOTTZ, 2017).

Ainda no âmbito da estrutura institucional e de gestão destaca-se o FNDE como o órgão responsável pelas políticas educacionais e, dentre elas, pela coordenação do PNAE e pela gestão e repasse dos recursos para estados, municípios, escolas federais e ao Distrito Federal. O FNDE também é responsável pela assistência financeira complementar, normatização, acompanhamento, monitoramento e fiscalização da execução do programa, além da avaliação da sua efetividade e eficácia.

A Coordenação Geral do Programa Nacional de Alimentação Escolar (CGPAE), que faz parte da Diretoria de Ações Educacionais (DIRAE), ligada a presidência do FNDE é a responsável pela gestão do PNAE. Nessa diretoria, além das Coordenadorias financeiras, de Monitoramento e Avaliação e a de Educação e Controle Social, está inserida a Coordenadoria de Segurança Alimentar e Nutricional, conforme Figura 1

abaixo, que tem por finalidade elaborar estratégias destinadas à promoção do direito humano à alimentação adequada (DHAA) e ao estímulo à inserção da educação alimentar e nutricional (EAN) no ambiente escolar (BRASIL, 2017; BRASIL, 2017a).

Figura 1 – Organograma do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE)

e da Diretoria de Ações Educacionais (DIRAE)

Fonte: BRASIL, 2017a

As estratégias vinculadas à reformulação do PNAE foram elaboradas com vistas a fortalecê-lo na ótica da SAN, o que exigiu novas perspectivas às políticas públicas, incluindo a necessidade de definição dos sujeitos de direito e das ações de modo a promover o acesso a alimentos saudáveis e seguros. Assim os objetivos do programa avançaram ao longo do tempo no sentido não só da oferta da alimentação saudável como também da formação de hábitos saudáveis. Em relação ao público atendido houve inclusão de novos sujeitos de direito, buscando alcançar aqueles grupos populacionais mais vulnerabilizados, como quilombolas e indígenas. Houve progressivo aumento do

per capita destinado ao programa e do total de profissionais nutricionistas atuando junto

ao programa e uma rede de parcerias que se desenvolveu para fortalecer as ações (CONSEA, 2010).

Também foi previsto no PNAE, desde 1993 a participação social na gestão descentralizada via Conselho de Alimentação Escolar (CAE) (SANTOS, 1993), como reforçada também em 2000 com a Medida Provisória 1979-19. O CAE atuava como instância de controle social obrigatória em estados e municípios. De caráter deliberativo, tendo maioria dos membros da sociedade civil, o CAE tem por objetivo acompanhar e fiscalizar o cumprimento das diretrizes e o uso dos recursos do PNAE. Além disso, é responsável pela aprovação ou não da prestação de contas pelas Entidades Executoras – EEx. (estados ou municípios), devendo para isso elaborar e emitir parecer conclusivo utilizando o Sistema de Gestão de Conselhos (SIGECON) disponibilizado pelo FNDE. Assim o PNAE é acompanhado e fiscalizado pela sociedade civil, por meio dos CAEs, mas também pelos Tribunais de Contas, palas Corregedorias Gerais e também pelos Ministérios Públicos (MP) (BRASIL, 2017e).

Embora não seja prevista a existência de CAE a nível nacional, como acontece, por exemplo, com o CONSEA, presente nos três níveis de governo, foi instituída em 2011, por meio de Portaria do FNDE, uma Comissão Nacional provisória para a criação do Conselho Nacional de Alimentação Escolar (CNAE). A Comissão atuaria junto a Coordenação Geral do PAE de modo a contribuir no diálogo para a proposta de criação do CNAE. A composição foi estabelecida, na época, com dez titulares e mesmo número de suplentes, tendo representantes de todas as regiões do Brasil (BRASIL, 2011). A ideia era auxiliar no cumprimento das diretrizes do PNAE, sendo incorporadas as demandas trazidas por cada região. Porém, destaca-se que não houve nomeação e com isso não foi instituído o CNAE.

Com vistas a apoiar as atividades do PNAE, o FNDE previa a existência de Centros Colaboradores em Alimentação e Nutrição Escolar (CECANE). Frutos de parcerias realizadas a partir de 2006 entre o FNDE e Instituições de ensino superior federais, tinham como objetivo o desenvolvimento de ações de pesquisa, ensino e extensão de interesse correlatos ao PNAE (BRASIL, 2017b).

Ainda a nível nacional, em 2007, houve a criação da Rede Brasileira de Alimentação e Nutrição do Escolar (REBRAE). A REBRAE foi instituída via parceria do FNDE com Instituições de ensino superior, inicialmente a Universidade Federal de Brasília, que foi a primeira a possuir CECANE. E, posteriormente, a Universidade Federal da Bahia e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul também passaram a integrar a rede. O objetivo da REBRAE é fortalecer a execução do PNAE e, por meio de seu portal eletrônico incentivar e difundir conhecimento acerca do programa e suas

diretrizes, sendo canal de comunicação entre os gestores e demais membros da comunidade escolar, inclusive com os agricultores familiares. Uma vez que um de seus objetivos é auxiliar a construção e divulgação de chamadas pública de compra da AF, cabe a REBRAE conectar quem compra e quem vende para o PNAE. Porém, cabe destacar que o sitio eletrônico disponível para busca de informações a esse respeito não disponibiliza informações ou divulgação sobre chamadas públicas, o que sugere que não vem sendo utilizado como referência para essa finalidade. Ainda, o portal apenas apresentav superficialmente relatos de experiências exitosas relacionadas a agricultura familiar e desenvolvimento de atividades em municípios específicos, campanhas contra desperdício e atividades de EAN (REBRAE, 2018a).