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CAPÍTULO 2 A INSTITUCIONALIDADE DO PROGRAMA NACIONAL DE

2.6 O CONTEXTO INSTITUCIONAL DE GESTÃO A NÍVEL LOCAL

2.6.2 Diretrizes nutricionais e estabelecimento de preço do PAE

Desse modo, as diretrizes iniciais do PAE haviam sido estabelecidas pela Resolução SEEDUC 2.405/2001 e, posteriormente, atualizadas pela Resolução SEEDUC Nº 4.639/2010. Dentre as orientações apontadas em 2010 destaca-se o estabelecimento da lista de gêneros alimentícios que eram permitidos a comporem o cardápio e também a obrigatoriedade de que se seguisse o cardápio elaborado pela Coordenação de Segurança Alimentar. Ainda essa Resolução orientou sobre a necessidade de adoção do uso do documento intitulado Mapa de Controle do PAE pelas secretarias de educação, documento a ser reportado mensalmente das escolas à SEEDUC como forma de controle. Instituiu ainda a proibição de uso de alguns itens, como biscoito recheado (com a justificativa de excesso de gordura saturada) e também de biscoitos do tipo salgadinho (pela elevada quantidade de sódio).

A Resolução SEEDUC 4.989/2013 posteriormente alterou a lista de gêneros alimentícios possíveis de comporem o cardápio, tendo sido excluídos alguns poucos itens, como bebidas adoçadas - xarope de guaraná e mate e, principalmente, incluiu outros, como pode ser observado na listagem comparativa no Anexo 2. Embora a Resolução não apresente justificativa para inclusão ou retirada dos itens, observa-se que, dentre outras modificações, foi ampliada a variedade de tipos de carnes, de frutas, vegetais e temperos frescos autorizados para compra e uso no PAE.

Em 2014, a Resolução SEEDUC 5.159 atualizou mais uma vez a listagem de alimentos proibidos e os de uso restrito na AE. Delimitou o uso de alimentos restritos a até três vezes e, no caso de qualquer irregularidade constatada, o valor deveria ser

ressarcido e o responsável sujeito as sanções legais aplicáveis. Assim, foi estabelecido no Art. 1º:

§ 2°- É vedada a aquisição de salgadinhos, balas, chocolates, doces a base de goma, goma de mascar, pirulito, caramelo, temperos prontos, molho de pimenta, catchup, mostarda, maionese, batata palha, azeitonas, torresmo, rabinho de porco salgado, orelha de porco salgada, pé de porco salgado, costela de porco salgada, lombo de porco salgado, água mineral, bebidas com baixo valor nutricional tais como refrigerantes e refrescos artificiais, bebidas alcoólicas, bebidas ou concentrados à base de xarope de guaraná ou groselha, chás prontos para consumo e outras bebidas similares.

§ 3°- É restrita a aquisição de biscoitos tipo salgadinho (pela alta concentração de sódio), biscoitos recheados (devido à quantidade elevada de gordura saturada), bolo confeitado, pão do tipo croissant, pão de batata, alimentos enlatados, embutidos (presunto, linguiça, salame, salsicha, mortadela, apresuntado), alimentos compostos (dois ou mais alimentos embalados separadamente para consumo conjunto), preparações semiprontas ou prontas para o consumo e alimentos concentrados (em pó ou desidratados para reconstituição) (SEEDUC, 2014a).

Essa Resolução estabeleceu ainda que o recurso do Estado destinado à AE deveria ser utilizado somente para aquisição de gêneros alimentícios e reforçava a obrigatoriedade de uso do cardápio elaborado pela Coordenação de Segurança Alimentar da SEEDUC no preparo das refeições nas escolas. Conforme estabelecido pela Lei 11.947/2009 e reiterado pela Lei 5.555/2009, a elaboração dos cardápios passa a ser responsabilidade do nutricionista RT da Coordenação de AE da SEEDUC. E essas resoluções já orientavam também que o cardápio deveria ser disponibilizado mensalmente, afixado nos refeitórios das UEs e utilizado no preparo da AE.

Em relação ao preço de compra dos gêneros alimentícios, houve a descentralização dos recursos da AE para a direção escolar via Associações de Apoio à Escola (AAE), mas esse processo se dá de forma direta, inclusive sem a realização de nenhum tipo de licitação e nem formalização de pesquisa de preço, como será abordado posteriormente (BRASIL, 2016). Tais fatos merecem ser aqui destacados, pois já foram apontadas irregularidades tanto no processo de compra como também má gestão do recurso público pela direção escolar no estado do RJ (TCERJ, 2014).

Porém, acrescenta-se que desde a Resolução 4.639 de 2010, foi estabelecido que as unidades escolares deveriam consultar a tabela de preços disponibilizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) como referência de preço máximo a ser praticado para compra de gêneros. Porém, a Resolução SEEDUC Nº 5.138/2014 atualizou a 4.639 de 2010 e incluiu que o preço máximo de referência pudesse ser até 30% do estabelecido na tabela da FGV. Tal autorização de acréscimo aos gêneros adquiridos não encontra respaldo na legislação do PNAE e com isso a compra de gêneros acontecia acima do

preço médio de mercado. Segundo auditoria realizada pelo TCU houve superfaturamento na compra de gêneros em relação a Tabela FGV nas 5 escolas analisadas. Os valores eram em média 20-30% superiores ao de mercado, totalizando R$ 16.466,07, tendo como referência novembro de 2015 a marco 2016 (ibid).

Assim, em agosto de 2016, foi publicada a Resolução SEEDUC Nº 5.449, com modificações na orientação de preço de referência para a compra de gêneros alimentícios. As escolas deveriam utilizar o Banco de Preços dos Gêneros Alimentícios PROMÁXIMA, disponibilizado pelo Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE/RJ) em parceria com a SEEDUC. E, inclusive, só poderiam adquirir os itens listados nessa tabela de preços, não sendo autorizada a compra de nenhum item que não estivesse ali listado. Em relação aos preços deveria ser utilizado o menor preço entre o identificado na Tabela PROMÁXIMA e na da FGV e não mais existia a possibilidade de compra com valores 30% superiores aos de mercado (seja pela Tabela da FGV ou pela PROMÁXIMA).

Com isso, essa resolução, lançada pelo novo secretário de educação que havia assumido o cargo há dois meses, estabelecia que a região metropolitana do estado deveria escolher o menor valor entre a tabela PROMÁXIMA - TCE/RJ e a da FGV, optando dessa forma pelo menor preço para a compra. Foi instituído que esse valor não poderia ser ultrapassado inclusive para aquisição de gêneros da AF.

Porém, a Resolução SEEDUC Nº 5.507 de janeiro de 2017, novamente atualizou essas orientações. A época, o contrato com o TCE para uso da tabela de preços havia encerrado e a decisão foi por utilizar como referência apenas a Tabela da FGV, foi mantida a orientação de que mesmo os preços de compra de gêneros da AF não poderiam ser superiores aos listados. Ou seja, essa resolução limitava o valor de compra dos gêneros, sejam eles da AF ou não, ao estipulado na tabela da FGV.

Além disso, essa Resolução fixou que os preços de compra das chamadas públicas fossem atrelados a atualização quinzenal da Tabela da FGV, sendo assim alterados quinzenalmente. Não mais era estipulado o preço na assinatura do contrato que seguiria sem variação até o término do mesmo. Assim, não permitia com isso que se cumprisse o estabelecido na Resolução 26 - nem no que diz respeito a obtenção do preço médio de mercado a partir da pesquisa de três preços locais e também, com isso, não incluía no preço os custos referentes a transporte, embalagens e encargos.

O próprio contrato proveniente da chamada pública definia que o preço deveria ser o estabelecido quinzenalmente pela Tabela FGV, justificado pelo fato de ser

elaborada já a partir de pesquisa de preço médio de mercado. No preço máximo determinado pela Tabela FGV já deveriam estar incluídos todos os demais custos para a entrega, conforme Cláusula Sétima do contrato:

O preço de aquisição é o preço pago ao fornecedor da Agricultura Familiar e no cálculo do preço já devem estar incluídas as despesas com frete, recursos humanos e materiais, assim como os encargos fiscais, sociais, comerciais, trabalhistas e previdenciários e quaisquer outras despesas necessárias ao cumprimento das obrigações decorrentes do presente Contrato (SEEDUC, 2017).

Tal resolução passou também a permitir que o recurso estadual, originalmente destinado ao PAE, fosse utilizado para outras finalidades que não apenas a compra de gêneros alimentícios. A justificativa para o fato, embora não explicitada na resolução, dava-se em consequência à crise financeira que o governo do RJ enfrentava e na busca por corte de custos na secretaria.

Tais modificações refletiram na redução dos cumprimentos dos contratos da AF ainda no segundo semestre de 2016, como também desinteresse pela participação nas chamadas públicas subsequentes.