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A comunicação visual: trazendo alguns conceitos

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Capítulo I COMUNICAÇÃO VISUAL, DESIGN E TECNOLOGIA

1. Comunicação visual: conceitos e evolução

1.1. A comunicação visual: trazendo alguns conceitos

Encontramos na evolução da tecnologia formas de perceber como realmente avança a humanidade. Porém, deve-se criticar aqui a pouca expressividade de literatura nacional específica sobre teoria da comunicação visual, seja em livros e/ou citações de publicações científicas. Temos sim apontamentos sobre fundamentos da comunicação visual (não uma teoria), como também ligações com a teoria da imagem. Esta situação faz com que encontremos neste nosso estudo uma contribuição para os estudos da comunicação visual, do design gráfico, das revistas, da tipografia, enfim, as faces que delimitam este trabalho. Lançamos mão de algumas delas para discutir esse tema.

A comunicação visual, a qual atende a um dos cinco sentidos humanos - a visão - é aquela que na maioria das vezes comunica mesmo sem fala, sem audição, sem toque (tato), sem olfato. Comunicação visual que permeia nossos cotidianos e que nos dá alento estético não somente como entendimento de mensagens, mas também como matéria para a construção de cenários onde o processo da comunicação ocorre.

Já que o nosso ambiente é a comunicação e o cenário se faz no momento atual em que a sociedade usa intensamente a tecnologia para a transmitir informações e se comunicar, é fundamental considerarmos o papel das Teorias da Comunicação mas, lembremo-nos que, antes, tínhamos a Teoria da Informação - a qual era voltada às considerações sobre a quantidade de informação que era transmitida (os novos tempos nos fazem refletir sobre o processo cíclico que a comunicação se envolve, principalmente pelo alto fluxo de tráfego de dados e informações que atualmente a Era da Informação conduz). Portanto, o que se apresenta aqui são conceitos apropriados pelas chamadas Teorias da Comunicação que, diretamente, impactam na questão visual, no design, ao utilizar elementos significativos para a compreensão do conteúdo da mensagem.

Para o design - pleno de conteúdo e forma - é de grande relevância o repertório. Nele, os aspectos culturais, sociais, tecnológicos e estéticos são revelados e considerados

pertencentes ao processo de comunicação, conforme cita Torres (2006), em seu artigo publicado na revista científica Design em Foco, da Universidade do Estado da Bahia:

Para a efetiva comunicação, deve se avaliar o repertório da fonte e do receptor e analisar a relação entre eles. Este relacionamento pode ser classificado quanto à forma de comunicação, podendo ser situações de repertórios iguais, de

repertórios tangentes, de repertórios secantes e de repertórios não-secantes

(TORRES, 2006, p. 105).

Dentro da relevância destes repertórios para o design, elaboramos o quadro abaixo para que sejam discriminados o que significam tais repertórios:

QUADRO 1 - Ocorrência dos repertórios visuais.

REPERTÓRIO

(TIPOS) OCORRÊNCIA OU NÃO DA COMUNICAÇÃO

Iguais

Aqueles em que o repertório da fonte já foi totalmente compreendido pelo receptor e não há uma mudança de estado para o repertório do mesmo, não promovendo comunicação.

Tangentes

Ocorrem quando há apenas uma pequena semelhança entre o repertório da fonte e o do consumidor, havendo a possibilidade de comunicação.

Secantes

São aqueles que possuem uma interseção entre os repertórios, havendo troca de informações e mudança de estado no repertório do receptor, estabelecendo a comunicação.

Não-secantes Aqueles em que os repertórios são totalmente diferentes e

por isso não há possibilidade de comunicação. Fonte: adaptado de TORRES, 2006, p. 105.

Assim, a comunicação visual encontra seu lugar nas Teorias da Comunicação, porque depende de sujeitos, repertórios, contextos e suportes. Além de ser considerada como componente do elenco dos tipos de comunicação aos quais estamos expostos.

Para encontrarmos a profundidade e ampliarmos o conhecimento sobre a Comunicação Visual, buscamos a Semiótica, também conhecida como a Teoria dos Signos, ciência filosófica desenvolvida por Charles Peirce que - conforme citação de Santaella

(2002, p. 2), “[...] é aquela que investiga os modos como aprendemos qualquer coisa que aparece à nossa mente”.

O signo sempre representa outra coisa. Ele está no lugar daquilo que lhe originou. Gera associações na mente das pessoas e também reações. Pignatari (2002, p. 22) diz que: “Signo é toda coisa que substitui outra, representando-a para alguém, sob certos aspectos e em certa medida”. Se a comunicação vai ocorrer a partir do entendimento dos signos, assim podemos dizer que a comunicação visual, tendo as suas representações adequadas aos participantes do processo da comunicação, deve ter sucesso ao atingir satisfatoriamente ao que se propõe e também ao estabelecer a imagem ideal para haver compreensão: o signo.

Peirce chama de tricotomia a composição dos signos por três vértices que o compõe: o primeiro seria o Representâmem, o segundo seria o Objeto e o terceiro seria o

Interpretante. Devemos considerar que o Representâmem é aquele que corresponde ao

processo das significações; Objeto é como o signo se refere àquilo que representa;

Interpretante é a possibilidade de interpretação que o signo traz em si.

O modo de apresentação do signo deve ser classificado como Ícone, Índice e

Símbolo. Conforme Torres (2006) diz:

O ícone se configura quando o signo tem semelhança com objeto ao qual remete, continuando com características formais bastante semelhantes ao objeto; o índice ocorre quando o signo se processa através de vestígios do objeto, como uma contiguidade e o símbolo quando signo se dá através de uma convenção ou de processos culturais. Essas são as três classes sígnicas mais estudadas e que podem ser bastante relevantes para que o entendimento da relação entre o repertório do público e os objetos de uso dos sistemas informacionais (TORRES, 2006, p. 107).

Nesse sentido, “a teoria semiótica nos habilita a penetrar no movimento interno das mensagens, o que nos dá a possibilidade de compreender os procedimentos e recursos empregados nas palavras, imagens, diagramas, sons” (SANTAELLA, 2002, p. 149). A seguir apresentamos a representação gráfica para facilitar a compreensão da tricotomia de Peirce.

FIGURA 1 - O triângulo semiótico com os termos de Peirce.

Fonte: adaptado de TORRES, 2006, p. 107.

Dentre as pesquisas realizadas em busca de teorias da comunicação visual que tangenciassem a mídia/comunicação, encontramos um trabalho muito interessante que consideramos valioso para nossos estudos. Com a autoria de um grupo de pesquisadores, liderados por Ken Smith, O Handbook of Visual Communication Research: Theory,

Methods, and Media, editado em 2005, é organizado por área teórica (poderia ter sido

organizado por área metodológica ou por tipo de mídia, mas não o foi) e, assim, nos traz uma taxonomia da comunicação visual elaborada por Smith (2005) de forma que é possível dimensionar a abrangência que a comunicação visual possui:

QUADRO 2 - Taxonomia da comunicação visual. ÁREA SUB-ÁREA Arte e Design Estética, Composição Design Gráfico História da Arte Criatividade, Imaginação Comunicação

Retórica, Mito, Persuasão Não-verbal, Gestual Literário/Literatura Signos e Símbolos Atitudes, Crenças Excitação, Emoção Psicologia Percepção

Cognição, Inteligência Visual Codificação Múltipla

Psicologia da Arte

Estudos Culturais e Críticos

Sociologia, Antropologia Linguística Estudos Culturais

Estudos Críticos

Teoria da Comunicação Visual

Representação

Visualização de Imagens Mentais Filosofia, Epistemologia

Linguagem Metafórica

Educação

Aprendizagem Literatura Visual Ensino da Comunicação Visual

Ciências Biológicas Visão, Fisiologia Visual

Processo Neurológico

Áreas Profissionais

TV/Estúdios Cinematográficos Fotografia

Jornalismo

Relações Públicas e Publicidade Arquitetura

Arqueologia Fonte: adaptado de SMITH, 2005, p. xviii.

O quadro anterior nos leva a realmente perceber o quanto a comunicação visual está presente nos vários campos de conhecimento e de práticas profissionais. Seguindo na exploração do tema, o livro de origem italiana, Design e comunicação visual: contribuição

para uma metodologia didática, de 1997, de Bruno Munari (artista e designer renomado,

que muito trabalhou em favor das artes visuais como um todo, com vivência em vários itens do quadro anterior) abraça a comunicação visual como “imagens que nos rodeiam”, tendo aí um ponto de tangência com o que o que vimos antes. Munari (1997) comenta:

Cada um possui um armazém de imagens que fazem parte do próprio mundo, armazém que foi se formando durante toda a vida do indivíduo e que este acumulou; imagens conscientes e inconscientes, imagens longínquas da primeira infância e imagens próximas e, juntamente com as imagens, estreitamente ligadas a elas, as emoções (MUNARI, 1997, p. 18).

A concepção da comunicação visual como imagens diversas, aquelas que fazem parte do mundo e aquelas que são nossas, no passado e no presente, amplia o conceito de comunicação visual. Essas imagens não estão restritas ao pictórico, mas ao conjunto de signos e símbolos que povoam o nosso cotidiano.

Consideramos as reflexões de Luciano Guimarães quando o mesmo trata do

jornalismo visual - as quais nos interessam já que o nosso estudo analisa aspectos da

tipografia utilizada em capas de revista. O autor comenta:

Considerando-se que o Jornalismo Visual é a incorporação do material jornalístico verbal com imagem (tipografia, fotografia, ilustrações, videografias etc.) e uma organização espaço-temporal ditada pelo design gráfico em um conjunto significante espacialmente delimitado pelo suporte de determinada mídia, podemos afirmar que ele existe desde o surgimento do próprio jornalismo. [...] Estes breves apontamentos históricos respaldam a forma como as imagens e as composições gráficas do jornalismo sempre acompanharam as inovações tecnológicas sem perder a ligação com suas origens. Pode-se até afirmar que na base de cada alteração no Jornalismo Visual sempre esteve a tradição da escrita e a tradição das imagens (GUIMARÃES, 2013, pp. 238-239).

Assim nós podemos verificar que o jornalismo visual atua segundo a teoria da imagem, para buscar provocar impactos visuais que fazem com que um jornal ou uma revista seja percebido pelo seu público, assim como já dissemos anteriormente quando tratamos da semiótica: o processo da comunicação só tem sucesso quando os sujeitos compartilham signos. Considerar que hoje a evolução da imagem por meio dos recursos tecnológicos é uma naturalidade talvez não seja o suficiente para abarcar todo o

conhecimento que de um lado o profissional da tecnologia de informação e do outro o profissional criativo - o profissional visual (diretor de arte, editores de arte, fotógrafos etc.) elaboram para que a imagem tenha cada vez melhor qualidade e comunicabilidade ou, como diz Torres, mencionado anteriormente, “repertórios visuais secantes”.

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