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2. Precisando fatos da pesquisa realizada

2.1. A condução da investigação

Elaborar uma pesquisa exige percorrer caminhos já trilhados, descrever percursos que ofereçam elementos direcionadores de dúvidas levantadas, ou seja, uma pesquisa intenta encontrar pontos que permitam conhecer e aprender o que se busca. Dito de outro modo, alcançar os procedimentos que (re)organizam os tempos vividos exige encontrar o caminho orientador dos fatos pesquisados.

Oferecer elementos que tornem compreensível a trajetória percorrida pelo pesquisador amplia as possibilidades de compreensões das ideias e das hipóteses surgidas ao longo do trabalho. Aprendi com Paula (2008) que, para além do cumprimento de formalidades, relatar percursos e procedimentos da pesquisa significa dar condições para o outro avaliar com mais segurança as afirmações que fazemos ao sistematizarmos os achados do estudo.

Charlot (2000) enfatiza a questão. Ele diz: “Não basta, porém, coletar dados; deve-se também saber exatamente o que se procura” (p.9). É nessa perspectiva que objetividades e subjetividades vão ajustando os focos, dando origem a sucessivas leituras e novos sentidos.

Lewis Carroll (2009), em sua obra As aventuras de Alice no País das

Maravilhas, o diálogo de Alice com o Gato, comunica a importância dos meios para

atingir um resultado. A menina, diante de dois caminhos não sabia qual escolher e questiona o Gato que, para respondê-la, procura saber o lugar que desejava chegar. Ela, então, sem se importar para onde ia, tem como resposta que quando não se sabe onde se quer chegar, qualquer caminho serve.

A clareza do lugar onde se quer chegar direciona o caminho a seguir. Isto é, na busca do saber, a sistematização dos procedimentos ocupa o papel de orientador da investigação.

Em face da diversidade de fatores que organizam nossas experiências, a interrogação se revela instrumento importante diante da necessidade de conhecer,

sendo um aspecto que conduz a busca por procedimentos orientadores da pesquisa. Ezpeleta (1989), escrevendo sobre a pesquisa participante, esclarece que “toda pesquisa [...] parte de uma ou várias questões. Em geral, elas se originam da descoberta de um problema que surge ao observar-se mais ou menos sistematicamente a realidade” (p. 87). Nesse entendimento, a indagação valida a pertinência desta pesquisa, pois ela representa nossas dúvidas, incertezas, desejo de conhecer, de compreender melhor a realidade, que no nosso caso, se refere aos estágios de cursos de licenciatura oferecidos pelo IFFluminense. Procurar ouvir os sujeitos que o frequentaram durante sua graduação pode ser uma forma de aproximação do real vivido de uma proposta formulada pela instituição.

Nessa perspectiva, esse trabalho se insere nos pressupostos da abordagem qualitativa, reconhecendo a variedade de sentidos que esse termo abriga. Em razão disso, busco situar esse enfoque de pesquisa, dado seu contexto concreto com a realidade.

Os estudos de André (2008) apresentam um histórico sobre a pesquisa qualitativa, fixando suas raízes no final do século XIX, mais precisamente no período em que os cientistas sociais passaram a questionar a utilização dos métodos das ciências físicas e naturais nos estudos dos fenômenos humanos e sociais. Para esta pesquisadora, a popularização dessa abordagem, principalmente na área da educação, contribuiu para a diversidade de sentidos atribuídos à investigação qualitativa. Ela também adverte que a coexistência de conceitos variados sobre

qualitativo traz perigos à credibilidade da pesquisa, considerando o risco de chamar

de qualitativo qualquer estudo “bem ou mal planejado, desenvolvido e relatado” (ibid., p. 23), com possibilidades de esvaziar seus fundamentos teóricos e epistemológicos. Lüdke e André (1986) caracterizam o enfoque qualitativo e destacam que este tipo de pesquisa ocorre em ambiente onde os fenômenos acontecem, com riqueza na descrição dos dados, valorizando o entendimento dos informantes sobre a questão pesquisada, focalizando a realidade de forma complexa e contextualizada.

Outra pesquisadora que em seus estudos reconhece ser este um campo de difícil delimitação é a professora Esteban (2010). Para ela, a diversidade de usos e significados que a pesquisa qualitativa obteve ao longo de sua história transforma- se em obstáculos para sua definição. A autora tece considerações sobre a origem do termo pesquisa qualitativa e destaca que inicialmente as palavras mais utilizadas para identificar essa abordagem eram pesquisa naturalista e pesquisa interpretativa.

Esclarece que, de maneira progressiva a expressão pesquisa qualitativa se estabeleceu por dois motivos: para se contrapor à pesquisa quantitativa e para dar suporte a outros enfoques que compartilham alguns pressupostos da pesquisa naturalista.

A amplitude do termo pode ser evidenciada na definição abaixo:

A pesquisa qualitativa é um campo interdisciplinar, transdisciplinar e às vezes, contradisciplinar. Atravessa as humanidades, as Ciências Sociais e as Ciências Físicas. A pesquisa qualitativa é muita coisa ao mesmo tempo. É multipragmática em seu enfoque. As pessoas que a praticam são sensíveis ao valor de um enfoque multimétodo. Estão comprometidas com uma perspectiva naturalista e uma compreensão interpretativa da experiência humana. Ao mesmo tempo, o campo da pesquisa qualitativa é inerentemente político, atuando por meio de múltiplas posições éticas e políticas (DENZIN e LINCOLN, 2006, p. 21).

Nesse movimento, Esteban (2010) afirma que o caráter interpretativo,

construtivista e naturalista são traços que atravessam o sentido da abordagem

qualitativa. Assim, a autora reitera que “a pesquisa qualitativa é uma atividade sistemática orientada à compreensão em profundidade de fenômenos educativos e sociais, à transformação de práticas e cenários socioeducativos [...] (ibid., p. 127).

Na direção de esclarecimento sobre esse assunto, a referida pesquisadora afirma que a atenção ao contexto é uma característica fundamental desse tipo de investigação. E diz: “o pesquisador qualitativo localiza sua atenção em ambientes naturais. Procura respostas a suas questões no mundo real” (ibid., p.129), advertindo quanto ao cuidado indispensável por parte daquele que faz a pesquisa, no sentido de eliminar movimentos que sejam capazes de modificar o cenário.

Dentro dessa perspectiva, o caminho metodológico que possibilitou a materialização do tema em discussão se ancorou no estudo de caso, por sua adequação e pertinência ao estudo da realidade socioeducativa (ESTEBAN, 2010).