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4. Antecedentes históricos: a formação de professores nos Institutos Federais

4.2. Diferentes olhares sobre a formação de professores nos Institutos Federais

Com a intenção de compreender diferentes abordagens que a formação docente ofertada pelos IF’s vem recebendo, tomo por base alguns estudos que se encontram em pauta.

Lima (2012) investigou a formação de professores nos Institutos Federais, no contexto das políticas públicas voltadas para esta formação. Para a pesquisadora, as características históricas dos Institutos levantam interrogações acerca da vinculação da formação docente em instituições especializadas em educação profissional e tecnológica, o que pode, segundo ela, refletir numa formação tecnicista Partindo, então, desse impasse, ela norteou seus estudos pela seguinte questão: Quais pressupostos políticos permeiam a consolidação dos Institutos Federais como locus de formação de professores? Como referência teórico- metodológica, tomou o contexto de criação destas instituições, tendo como fontes: documentos legislativos sobre educação e formação de professores; documentos oficiais produzidos e publicados pela Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC), que trazem orientações para os cursos de licenciaturas dentro dos Institutos Federais; entrevistas semiestruturadas com os reitores dos IF’s, delimitando-se um reitor por região do país, resultando no número de 5 (cinco) reitores e dados fornecidos pelo sistema e-MEC. Sobre pressupostos da análise do discurso, a autora buscou compreender dizeres de reitores destas instituições.

Conforme relatos desses entrevistados, a trajetória inicial desses cursos muito se aproxima de experiências desenvolvidas na universidade, considerando que a formação dos seus docentes foi promovida em tal contexto.

A autora direciona suas análises para a compreensão de quea formação de professores, nesse novo locus formativo, compartilha do pressuposto de que o perfil ideológico do professor precisa ser reformado, na direção de um intelectual tradicional, que trabalha para manter a ordem do capitalismo.

Lima e Silva (2013) discutem a concepção de formação de professores contida em documentos oficiais, que se aplica aos Institutos Federais. Ancoradas na perspectiva dialética de investigação a partir do materialismo histórico, as autoras investigam a concepção de formação de professores contidas em documentos oficiais que validam tal modalidade formativa. As contribuições desse estudo resultam de pesquisa bibliográfica e documental que aproximam a perspectiva de formação de

professores destas instituições a abordagem tecnicista, voltada para uma preparação para o trabalho. Como possibilidade positiva, as autoras entendem que este locus oferece maiores condições para se desenvolver a prática profissional, sem estar sombreado pelo excesso teórico, que resulta em professores inseguros no exercício da profissão. Consideram, no entanto, que a preocupação em formar professores em estrita ligação com o mundo do trabalho pode significar uma educação crítica e emancipatória, ou, ao contrário, uma formação alienante mais adequada ao sistema capitalista.

Lima (2015) relata, em sua investigação de Mestrado, a questão da ampliação das licenciaturas nos Institutos Federais a partir da experiência do Instituto Federal de São Paulo (IFSP). Ao buscar entender o processo de construção das licenciaturas num espaço caracterizado por um cenário de educação profissional tecnológica, a pesquisadora faz uma imersão na trajetória dos IF’s, destacando desafios que se põem a esse contexto: a formação adequada do corpo docente, o acervo da biblioteca relacionado à educação e formação docente, o desenvolvimento de projetos de pesquisa articulada com a formação de professores.

Sobre a demanda por professores com titulação para atuar no magistério no segundo segmento do ensino fundamental e do ensino médio, a autora entende que os impasses para atrair professores têm como ponto fundamental a melhoria da carreira docente, bem como a garantia de condições dignas de atuação profissional. Assim, a abertura de cursos, isolados de outras ações que constroem a base da profissão, pouco avanço representa na resolução do problema.

A análise dos dados permitiu também que a pesquisadora identificasse ausência de uma política nacional, articulada com a formação de professores em nível nacional. Salienta ainda que a ênfase nos conhecimentos disciplinares reflete a pouca discussão que se propõe em torno de questões pedagógicas, reforçando assim o quadro polêmico problematizado antes do conflito entre as concepções teóricas e as práticas.

Em outro trabalho, Lima (2014) problematizou a expansão das matrículas nos Cursos de Graduação dos Institutos Federais, com destaque nas licenciaturas. Dados estatísticos mostram que a transformação dos Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFETs) para IF’s representou expansão de matrículas em tais cursos. Contudo, nas Instituições que não aderiram a nova institucionalidade (Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais e o Centro Federal de Educação

Tecnológica Celso Suckow da Fonseca no estado do Rio de Janeiro), o número de matriculados nas licenciaturas entre 2008 e 2012 foi bastante reduzido, se comparado às matrículas nos bacharelados.

A autora (2016), ampliando seu foco, faz um recorte contemplando a política governamental da criação dos Institutos Federais, problematizado a partir de três perspectivas: a evolução de matriculados e concluintes nestes cursos, a titulação dos professores dos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio e a demanda de professores para estas etapas da educação básica. Suas análises, feitas a partir de documentos governamentais sobre a proposta de oferta das licenciaturas nos Institutos Federais, de dados quantitativos disponibilizados pelo INEP e pela Plataforma Observatório do PNE (Plano Nacional de Educação), e estudo de referências bibliográficas, apresentam dados que comprovam que a expansão de cursos de licenciatura não resolve o problema da baixa atratividade da profissão e nem aprofunda a discussão dos motivos que estão na base do problema.

Predebon Titon (2016), em sua tese de Doutorado, desenvolveu estudo de caso no campo da formação de professores de Física e Matemática envolvendo orientações institucionais e dispositivos legais que traçam perfil destes futuros professores, formado no contexto do Instituto Federal Catarinense – IFC campus Concórdia. Contemplou exigências de docência das escolas-campo envolvidas neste processo de formação, com intento de compreender se as concepções e práticas dos futuros professores estavam de acordo com o proposto na teoria institucional e se refletiam o perfil de profissional desejado pelo mercado.

Nessa tarefa, a pesquisadora analisou propostas de atividades acadêmicas constantes nos relatórios finais de estágio como forma de compreender as concepções e práticas de ensino. Nos resultados das análises a autora indica que o diálogo teórico situa as emergentes discussões da contemporaneidade sobre as novas características necessárias ao professor e sua prática. Aponta como desafio a ruptura com antigos modelos que permanecem em vigor e evidencia uma identidade docente que agrega o protagonismo do saber, respaldado em princípios reflexivos que sejam capazes de ressignificar sua prática.

Oliveira e Guedes-Pinto (2012), com base na investigação de Oliveira (2011), já mencionada, realizada no âmbito do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), procuram olhar para os efeitos da formação continuada na concepção de educação de seus professores, tendo como base a vivência de um currículo integrado.

As autoras, assumindo a perspectiva do estudo das práticas cotidianas e a metodologia da História Oral, buscaram ouvir os professores do IFSC e se aproximar dos sentidos atribuídos por eles à sua prática pedagógica e a uma possível relação com a proposta de formação continuada desenvolvida pela coordenação do Instituto. As autoras tornam visível a relevância de iniciativas como a de formação em serviço, que tenha como um de seus objetivos trazer a importância da relação entre os conhecimentos estritamente técnicos com os conhecimentos da prática docente. Para as pesquisadoras, o processo de escuta das trajetórias individuais de cada docente, aliado à proposta de reflexão sobre suas práticas de trabalho, possibilitou que problemas e dificuldades enfrentados na educação profissional possam ser mais aprofundados e também expostos a partir de seus desafios.

Arantes (2013) buscou analisar o processo de formação de professores nas licenciaturas do IF Goiano, tendo, como base, políticas, currículos e docentes que estruturam os cursos de licenciatura ali oferecidos. Norteado por interrogações sobre a organização dos cursos e o perfil de seus profissionais, desenvolveu sua pesquisa utilizando-se de entrevistas e análises de documentos, como estratégias metodológicas. Ao final, a pesquisa ofereceu elementos indiciadores de que as propostas curriculares das licenciaturas analisadas se aproximam do modelo 3+121. A

abordagem sobre estágio tangenciada em seu texto está situada nas análises das matrizes curriculares dos cursos pesquisados.

Martins, Nascimento e Souza (2015) acreditam no estágio supervisionado como um dos componentes mais importantes da formação docente, por ser um momento com potencial para produzir compreensões sobre a vida escolar. Assumindo essa compreensão, estes pesquisadores fizeram levantamento da produção acadêmica sobre essa temática em trabalhos apresentados no Congresso de Pesquisa e Inovação da Rede Norte e Nordeste de Educação Tecnológica (CONNEPI), entre os anos 2009 e 2013, disponíveis em anais desse evento, que tem edição anual. No âmbito desse evento, entre comunicações orais e pôsteres, estes pesquisadores constataram que dezenove trabalhos foram aprovados e apresentados nesse período, num contexto em que existem mais de 300 ofertas de cursos de licenciatura.

21 Esse modelo desenvolvido, em que nos três primeiros anos o estudante cursa as disciplinas teóricas e no último cursa as práticas (os estágios), iniciou-se no Brasil, segundo Saviani (2008), em 1939. A partir de então, ao longo de décadas, essa forma curricular ganhou hegemonia.

Um dado que se destacou foi a quantidade de produções entre os anos pesquisados. Nos anos 2010 e 2011, nenhuma apresentação abordou o assunto, enquanto que, no ano de 2013, treze delas focaram a matéria, o que manifestou crescimento no interesse pelo tema. Vale a pena ressaltar que das dezenove apresentações, sete tratam de temas teóricos e os demais se referem a relatos de experiências.

Os estudos mencionados denotam um crescente interesse acadêmico frente ao campo da formação de professores no contexto dos Institutos Federais de Ensino. As investigações comentadas mostram um movimento entre os pesquisadores na direção de se formar tal prerrogativa na agenda das problematizações. Retomando a pesquisa de Calderano (2014) apresentada no início deste texto, podemos afirmar que os estágios na relação com a formação docente vêm ganhando atenção e corpo nas pesquisas.

4.3. Breve discurso sobra a formação de professores no Instituto Federal