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4. Antecedentes históricos: a formação de professores nos Institutos Federais

4.1. A constituição da formação de professores nos Institutos Federais: proposição

Saviani (2008), referência nacional para a história da educação brasileira, destaca que a formação de professores é problema que não está resolvido em lugar

nenhum. Define como problema de política educacional no século XIX, quando os sistemas nacionais de ensino passam a assumir a tarefa de universalizar o acesso à cultura letrada. No Brasil, em 1835, é fundada a Escola Normal em Niterói, RJ, e no final desse século, ela se consolida como instituição responsável pela formação de professores no Brasil. Sua fundação marca formalmente o encargo das províncias pela responsabilidade de formar o profissional do ensino, entendido como o professor para a instrução na escola das primeiras letras. O foco desta pesquisa não é fazer uma retomada histórica da formação de professores no Brasil. Aqui tem-se a intenção apenas de registrar o caminho antigo e polêmico19 que tem sido marcado neste campo

de atuação profissional.

Para contextualizar indagações dessa pesquisa, busco abordar alguns estudos já realizados sobre os Institutos Federais enquanto lugar de formação de professores. Para imprimir maior clareza sobre o assunto, trago aspectos contidos no texto Contribuições para o processo de construção dos Cursos de Licenciatura dos

Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (BRASIL. MEC. s.d.). Este

texto é aqui utilizado, dado o seu conteúdo que enfoca diferentes aspectos relacionados às questões organizacionais dos cursos de licenciatura nos Institutos em questão.

A nova institucionalidade dos cursos de licenciatura trouxe como recomendação a ampliação de oferta de vagas para a formação de professores, dando margem para alargamento na atuação institucional desta dimensão formativa. Apoiada no argumento de carência de professores em todo território nacional, sobretudo em determinadas áreas do conhecimento, a proposta dos Institutos remete a uma oferta de licenciaturas com foco na área das Ciências da Natureza, sem, no entanto, se restringir a ela. A Lei 11.892/2008 registra que estas instituições, quando na plenitude de seu funcionamento, assumem o compromisso de garantir 20% de suas matrículas em cursos de licenciaturas, que em grande parte poderão se destinar à própria educação profissional e tecnológica (art. 8º).

19 Saviani (2008) aborda, ao longo de seu livro, vários dos aspectos polêmicos que constituíram e têm constituído o campo de formação de professores.

Ao tomar para si tal responsabilidade, os Institutos Federais validam a verticalização no ensino20, dada a sua possibilidade de atuação em diferentes níveis

de escolaridade, o que por sua vez sintoniza a instituição em demandas sociais, econômicas e culturais e desdobramentos. Desta forma, as orientações contidas no texto já referido, (BRASIL. MEC. s.d.) têm como objetivo dar direções à estruturação ou reestruturação dos cursos de licenciatura nos Institutos Federais (IF’s), propondo uma formação docente que responda às exigências da sociedade atual, numa perspectiva integradora, dialógica e emancipatória, comprometida com a inclusão social.

Como fator favorável ao desenvolvimento da formação docente no contexto dos IF’s, o texto já mencionado destaca a possibilidade de estabelecer vínculos entre diferentes níveis e modalidades de ensino como fator favorável à construção de saberes, bem como a possibilidade de se desenvolver metodologias que correspondam melhor ao contexto, preservando a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.

No que se refere à formação de professores para a educação básica, a estrutura organizacional proposta aos Institutos orienta no sentido de trabalhar a construção dos conhecimentos de forma integrada.

Oliveira (2011), em sua pesquisa de mestrado, detalha e problematiza o fator “integração” assumidos pelos Institutos Federais de Ensino. Ao mesmo tempo que sinaliza uma direção voltada à perspectiva de se garantir um trabalho integrado entre os docentes da instituição, visando a uma formação que supere uma visão fragmentada do conhecimento, a autora mostra os desafios presentes nesta proposta. Tais desafios tornam-se visíveis principalmente por conta do diálogo – nem sempre tranquilo – entre a concepção de conhecimento específico e o conhecimento pedagógico. Segundo seu estudo, os professores ligados às áreas tecnológicas, muitos deles, estavam em processo de ressignificação sobre o papel da área de conhecimento pedagógico em seu fazer docente no Instituto.

Assim, as concepções assumidas pelos idealizadores dessa nova institucionalidade acreditam que lidar com o conhecimento na perspectiva da

20 No âmbito dos Institutos Federais, verticalização é uma dimensão que oportuniza aos docentes atuarem nos diferentes níveis do ensino, compartilhando espaços pedagógicos e laboratórios, além de procurar estabelecer itinerários formativos do curso técnico ao doutorado (PACHECO, 2011).

integração e verticalização pavimenta o caminho para a superação do modelo hegemônico de formação docente que se caracteriza pela dicotomia entre teoria e prática, conforme anteriormente destacado.

Esses direcionamentos apontam desafios para pensar um profissional pesquisador-reflexivo, com bases conceituais e epistemológicas, que não visem a uma formação genérica nem tão somente acadêmica, em dimensões que conduzam à construção da autonomia dos educandos, conforme texto acima citado (BRASIL. MEC. s.d.,).

Do ponto de vista dos elaboradores da proposta, o documento sugere um desenho curricular composto por três Núcleos, que integram componentes práticos aos conteúdos teóricos: o Núcleo Comum - composto pelo Núcleo Básico que tem como propósito trabalhar conhecimentos na área de atuação, além daqueles que possibilitem o domínio de ferramentas básicas para a instrumentalização necessária à compreensão da área, dentro do possível, numa abordagem transversal (p. 13) e pelo Núcleo Pedagógico que busca desenvolver competências educativas, objetivando fundamentar a sua prática pedagógica com um referencial teórico-prático voltado para o contexto social, contexto escolar e contexto da aula (p. 14).

No Núcleo Específico, desenvolvem-se conhecimentos específicos da habilitação do cursista, bem como na perspectiva da transposição didática dos conteúdos (p. 14).

O Núcleo Complementar propõe atividades interdisciplinares e integradoras, por meio de conhecimentos de áreas correlatas, com atividades acadêmico-científico-culturais, que contribuam na formação do pesquisador que interroga sua própria prática (p.14).

Finalmente, a Prática Profissional, representada pela Prática Pedagógica, pelo Estágio Curricular Supervisionado e atividades acadêmico-científico-culturais (p. 12).

Os três Núcleos (Comum, Específico e Complementar) são permeados por atividades da Prática Profissional e pela Monografia de conclusão de curso. (BRASIL. MEC. s.d., p. 5). O ideal é que a interação entre estes Núcleos se dê por meio de conteúdos comuns que, além de serem construídos via projetos integradores, também poderiam vir a ser trabalhados em eixos temáticos multi ou interdisciplinarmente.

São atividades que devem perpassar todo o curso, a saber: a Prática Profissional (1000 horas), enquanto parte integrante e obrigatória do currículo, envolve

a Prática Pedagógica (400 horas), o Estágio Curricular Supervisionado (400 horas) e as Atividades Acadêmico-Científico-Culturais (200 horas).

Figura 1. Desenho curricular proposto para as licenciaturas dos IF’s.

Disponível em: http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/licenciatura_05.pdf Acesso em: 20 fev. 2016.

A imagem apresentada mostra o modelo de desenho curricular proposto para as licenciaturas dos Institutos Federais.