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A Constitucionalização do Desenvolvimento Sustentável na Amazônia

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2 Amazônia: Capital Natural e o Desenvolvimento Sustentável

2.2. A Constitucionalização do Desenvolvimento Sustentável na Amazônia

A Constituição emana de um respeito soberano pelo que representa, pois é um dispositivo de poder democrático e, ainda que receba influências econômicas, sociais ou políticas, o elemento jurídico tem a vocação de se autorrealizar, de forma a garantir e dirigir toda a nação e especificamente os ditames da ordem econômica”.87

Nessa busca pelo Desenvolvimento Econômico, iniciada com a formulação de seus princípios e objetivos fundamentais e que dura até sua efetivação na ordem econômica, cabe à Constituição ainda regular e definir outras prioridades, sem contradizer suas bases fundamentais.88

A Constituição de 1988, em seu artigo 43, previu a existência das Regiões, com o objetivo de promover o desenvolvimento e reduzir as desigualdades regionais.89

Vejamos:

Art. 43. Para efeitos administrativos, a União poderá articular sua ação em um mesmo complexo geoeconômico e social, visando

87 BENFATTI, Fábio Fernandes Neves. Direito ao Desenvolvimento. 2014. P. 74.

88 Ibidem. P 99.

&

89 Segundo José Afonso da Silva (2000, p. 643-644 apud BERCOVICI, Desigualdades Regionais,

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a seu desenvolvimento e à redução das desigualdades regionais.

§ 1º Lei complementar disporá sobre:

I - as condições para integração de regiões em desenvolvimento; II - a composição dos organismos regionais que executarão, na forma da lei, os planos regionais, integrantes dos planos nacionais de desenvolvimento econômico e social, aprovados juntamente com estes.

§ 2º Os incentivos regionais compreenderão, além de outros, na forma da lei:

I - igualdade de tarifas, fretes, seguros e outros itens de custos e preços de responsabilidade do Poder Público;

II - juros favorecidos para financiamento de atividades prioritárias;

III - isenções, reduções ou diferimento temporário de tributos federais devidos por pessoas físicas ou jurídicas;

IV - prioridade para o aproveitamento econômico e social dos rios e das massas de água represadas ou represáveis nas regiões de baixa renda, sujeitas a secas periódicas. [...]

O artigo 225, §4º, da Constituição Federal de 1988, ao tratar sobre o meio ambiente, notadamente da Floresta Amazônica, dispõe que:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. [...]

§4. A Floresta Amazônica brasileira […] são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.

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Vislumbra-se, a partir destes dispositivo, a necessidade de pautar políticas públicas regionais em consonância com a preservação deste patrimônio nacional por meio de um desenvolvimento sustentável.

Alinhados a este preceito constitucional estão, na própria Constituição, os artigos 3º, IV – que trata dos objetivos constitucionais de reduzir as desigualdades regionais; art. 170 – que dispõe que a ordem econômica tem como princípio reduzir as desigualdades regionais; art. 218 e art. 219 – que tratam, em suma, da promoção e do desenvolvimento da ciência e da tecnologia, além do mercado interno (que integra o patrimônio nacional).

O desafio proposto por Celso Furtado, possui, em sua essência, correlação ao que nos é apresentado na Constituição de 1988, qual seja: a homogeneização social, a endogeneização dos processos técnicos e dos centros decisórios. Vejamos:

Na lógica da ordem econômica internacional emergente parece ser relativamente modesta a taxa de crescimento que corresponde ao Brasil. Sendo assim, o processo de formação de um sistema econômico já não se inscreve naturalmente em nosso destino nacional. O desafio que se coloca a presente geração, portanto duplo: reformar as estruturas anacrônicas que pesam sobre a sociedade e comprometam a sua estabilidade e o de resistir as forças que operam no sentido de desarticulação no nosso sistema econômico ameaçando a unidade nacional.90

Percebe-se a necessária otimização de nosso modelo de operacionalizar o desenvolvimento na Amazônia. Como um país subdesenvolvido, como é o Brasil, mas que possui biodiversidade, pode usufruir dos benefícios deste patrimônio natural?

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O setor privado e as ONGs terão papel decisivo para promover a implementação dessas ações. Seja pelo cumprimento das regras, seja pela adoção de iniciativas que permitam implementar práticas produtivas sustentáveis, restauração florestal, cadeias produtivas livres de desmatamento ilegal ou comércio de madeira com origem comprovada.

Ademais, Iniciativas na área de Uso da Terra, Mudança de Uso da Terra e Florestas são extremamente relevantes para o cumprimento pelo Brasil de sua NDC91

(Contribuição Nacionalmente Determinada), bem como da promoção do desenvolvimento sustentável do país nas próximas décadas.

As recomendações sugeridas visam superar desafios no curto prazo, por meio de ações que podem ser efetuadas com vistas a criar as bases para que as metas do setor florestal possam cada vez mais ganhar força e escala.

Os esforços que precisão ser feitos envolvem naturalmente atores governamentais, mas traz os atores privados, ONGs, dentre outros, para o centro de uma agenda positiva para construir soluções que permitam avançar em uma agenda positiva de uso da terra.

Nesse sentido, é extremamente relevante destacar que devem ser a tônica da agenda governamental e privada de uso da terra para as próximas décadas: o enfoque de incentivos econômicos voltados para promover a eliminação do desmatamento ilegal; a restauração florestal com viés econômico quando possível; o

91 A Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, na sigla em inglês) é o documento do governo

brasileiro que registra os principais compromissos e contribuições Brasil para o acordo climático em Paris. O Brasil se comprometeu a promover uma redução das suas emissões de gases de efeito estufa em 37% abaixo dos níveis de 2005, em 2025. Além disso, indicou uma contribuição indicativa subsequente de redução de 43% abaixo dos níveis de emissão de 2005, em 2030. Para alcançar as metas de redução, o governo brasileiro adotará políticas em diversas áreas. Na matriz energética, o Brasil pretende assegurar 45% de fontes renováveis, incluindo as hidrelétricas, enquanto a média global é de apenas 13%. No setor de uso da terra, a previsão é restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de vegetação em território nacional, além de acabar com o desmatamento ilegal.

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desestímulo a conversão de áreas, especialmente áreas com baixa aptidão para a agricultura; e o manejo sustentável.

Tais ações no setor florestal, em particular aquelas referentes ao combate ao desmatamento, deverão estar alinhadas aos Planos Nacionais de Prevenção e Controle do Desmatamento da Amazônia (PPCDAm), articulado pelo Ministério do Meio Ambiente.

O Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm) foi criado em 2004 e tem como objetivos reduzir de forma contínua e consistente o desmatamento e criar as condições para se estabelecer um modelo de desenvolvimento sustentável na Amazônia Legal.

Muitas das iniciativas propostas no âmbito da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) estão direta ou indiretamente relacionadas ao setor industrial, tais como: uso de bioenergia, uso de recursos energéticos renováveis e aumento da eficiência energética.

Dentre as alternativas, destaca-se a promovida entre o Ministério do Meio Ambiente, em parceria com o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade, que opera uma plataforma eletrônica chamada "Portal da Biodiversidade"92, que contém uma

lista abrangente das diversas ocorrências de espécies vegetais e animais que constituem a biodiversidade brasileira e, portanto, protege o Patrimônio Genético Brasileiro.

Assim, é evidente que o debate sobre o modelo econômico na Amazônia perpassa não mais pelo plano local, regional ou nacional – mas sim global. E isto tudo deve ser feito – sem dúvidas - através da análise constitucional.&

92 Para mais informações sobre o Portal da Biodiversidade, acessar

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