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(1)UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO POLÍTICO E ECONÔMICO. RAFAEL VEIGA PAIXÃO. BIOTECNOLOGIA NA AMAZÔNIA BRASILEIRA: EXPERIÊNCIAS, OBSTÁCULOS E POSSIBILIDADES. Orientador: Prof. Dr. José Francisco Siqueira Neto. São Paulo 2018. Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

(2) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. RAFAEL VEIGA PAIXÃO. BIOTECNOLOGIA NA AMAZÔNIA BRASILEIRA: EXPERIÊNCIAS, OBSTÁCULOS E POSSIBILIDADES. Dissertação. apresentada. ao. Programa. de. Mestrado em Direito Político e Econômico da Universidade. Presbiteriana. Mackenzie,. como. requisito para obtenção do título de Mestre em Direito.. Orientador: Prof. Dr. José Francisco Siqueira Neto. São Paulo 2018. Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

(3) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. !"#$%&&&!'()*+,&-'.'/0&1/(2'3& &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&4(+5/67+0+2('&7'&89':;7('&%<'=(0/(<'>&/)?/<(@76('=,&+%=5A6B0+=&/&&& &&&&&&&&&&&&&&&&?+==(%(0(C'C/=&D&-'.'/0&1/(2'&!'()*+3& &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&$E&.3&F&GH&69&& & &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&I(==/<5'J*+&KL/=5<'C+&/9&I(</(5+&!+0M5(6+&/&N6+7;9(6+&O&–&& &&&&&&&&&&&&&&&&P7(Q/<=(C'C/&!</=%(5/<('7'&L'6R/7:(/,&S*+&!'B0+,&TH"E3& &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&U<(/75'C+<>&!<+.3&I<3&V+=W&X<'76(=6+&S(YB/(<'&Z/5+3& &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&4(%0(+2<'.('>&.3&$#["H\3& & "3 N=5'C+&%<'=(0/(<+3&T3&I/=(2B'0C'C/=&</2(+7'(=3&G3&89':;7('3&#3& L+C/0+&/6+7;9(6+3&]3&4(+5/67+0+2('3&^3&S(YB/(<'&Z/5+,&V+=W&& X<'76(=6+,&!"#$%&'&^^3&_M5B0+3& && &&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&!""&&#GGH3$E"&. 4(%0(+5/6A<(+&-/=?+7=AQ/0>&S(0Q'7('&`3&L'<5(7=&–&a-4&ED&bTET& &. Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

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(5) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. Para meus pais, Dionysio e Jaqueline e meus irmãos, Rebeca e Roberto.. Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

(6) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. ‘‘Amando a nós mesmos e ao próximo, não mais destruiremos o planeta que nos obriga, pois, cientes de que somos ‘parte das estrelas‘, respeitaremos as fontes e nascentes à medida que respeitamos a nós mesmos, e o desenvolvimento econômico e social será pautado no amor e no respeito profundo à natureza, incluindo todas as formas de vida.’’ DE ÂNGELIS, Joanna.. &. Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

(7) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. AGRADECIMENTOS A lista de agradecimento é sempre um momento de muito constrangimento. Especialmente porque muitos dos que participaram do processo de construção deste trabalho, às vezes com um conselho metodológico ou bibliográfico, são esquecidos durante a elaboração deste texto. Isto posto, gostaria de agradecer, primeiramente, a minha família – meu pai, Dionysio, minha mãe, Jaqueline, e meus irmãos, Rebeca e Roberto - que me fizeram encontrar no amor um combustível diário para a realização deste trabalho. Obrigado pelos sermões, através deles vêm as lições. Também, agradecer a minha Camilla, por todo o carinho e amor despendidos à mim neste período. Obrigado por ser minha parceira de alma e que me acalma. Agradecer, ainda, ao Prof. Dr. José Francisco Siqueira Neto, meu orientador, que, através dos seus apontamentos e sugestões para me aprofundar nos estudos de novos modelos econômicos para a região amazônica, propôs a biotecnologia como a verdadeira vocação da Amazônia. Obrigado, professor, pelos ensinamentos. Ademais, agradecer os professores e professoras do Programa de Mestrado em Direito Político e Econômico do Mackenzie que contribuíram com seus conhecimentos durante o período acadêmico. Cada ensinamento é uma semente para o aprendizado. E vocês são os melhores semeadores. Agradecer ao Fundo Mackenzie de Pesquisa, pela bolsa parcial, que auxiliou financeiramente meus estudos e pesquisas, através do financiamento do Projeto de Pesquisa: Infraestrutura jurídica da inovação tecnológica no Brasil: Marco legal, perspectivas, desafios e entraves para o desenvolvimento nacional.. Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

(8) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. LISTA DE SIGLAS. ABIFINA – Associação Brasileira das Indústrias de Química fina, Biotecnologia e suas especialidades ADA – Agência de Desenvolvimento da Amazônia BASA – Banco da Amazônia BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento CBA – Centro de Biotecnologia da Amazônia CDB – Convenção sobre Diversidade Biológica CGEN – Conselho de Gestão do Patrimônio Genético CEPAL – Comissão Econômica para América Latina e Caribe FDA – Fundo de Desenvolvimento da Amazônia GTDN – Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia INPI – Instituto Nacional de Propriedade Intelectual LPC – Lei de Proteção de Cultivares LPI – Lei de Propriedade Intelectual MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior NDC – Contribuição Nacionalmente Determinada OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico OMC – Organização Mundial do Comércio. Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

(9) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. ONU – Organização das Nações Unidas PIM – Pólo Industrial de Manaus PIS – Programa de Integração Social PITCE – Política Industrial Tecnológica e de Comércio Exterior PNDR – Política Nacional de Desenvolvimento Regional SRLI – Sistema Regional e Local e Inovação SUFRAMA – Superintendência da Zona Franca de Manaus SUDAM – Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia SUDENE – Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste ZFM – Zona Franca de Manaus. Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

(10) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. RESUMO Esta dissertação busca sistematizar o contexto político, histórico e jurídico acerca do processo de desenvolvimento socioeconômico na Amazônia brasileiro. Diante de um cenário global caracterizado pela dicotomia centro-periferia, é necessário reinventar um modelo industrial nacional de desenvolvimento que agregue inovação e criatividade. A Amazônia, nesse sentido, por sua biodiversidade exclusiva e pouco explorada, bem como por suas condições desiguais socioeconômicas em relação as outras regiões do país, é o cenário que tomaremos como foco de análise, sugerindo, ao final, uma proposta de integração amazônica ao modelo econômico nacional por meio de um parque biotecnológico. Palavras-chaves: Estado brasileiro – desigualdades regionais – Amazônia – modelo econômico – biotecnologia. Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

(11) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. ABSTRACT This dissertation tries to systematize the political, historical and juridical context about the process of socioeconomic development in the Brazilian Amazon. Faced with a global scenario characterized by the center-periphery dichotomy, it is necessary to reinvent a national industrial model of development that adds innovation and creativity. The Amazon, in this sense, due to its unique biodiversity and little explored, as well as its unequal socioeconomic conditions in relation to other regions of the country, is the scenario that we will take as the focus of analysis, suggesting, at the end, a proposal of Amazonian national economic model through a biotechnological park. Keywords: Brazilian state - regional inequalities - Amazon - economic model – biotechnology. Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

(12) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12& 1 - TEORIAS DE DESENVOLVIMENTO E AS DESIGUALDADES REGIONAIS .... 18& 1.1 Teoria Estrutural Furtadiana&3333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333&TH& 1.2. Teorias de Desenvolvimento Econômico sob a perspectiva da Formação Econômica Brasileira&33333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333&T\& 1.2.1 Teoria Clássica&3333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333&Tb& 1.2.2 Teoria Keynesiana&3333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333&T$& 1.2.3. Teoria Schumpeteriana&3333333333333333333333333333333333333333333333333333333&G"& 1.3. O Brasil no contexto de Subdesenvolvimento Latino-americano: o pensamento do CEPAL&33333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333&GT& 1.4 Desigualdades Regionais e os reflexos na Renda Per Capita, Capital Social, Capital Humano e Instituições&3333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333&G\&. 2&. AMAZÔNIA: CAPITAL NATURAL E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 44& 2.1 Histórico das políticas públicas de desenvolvimento regional na Amazônia&3333&#\& 2.2. A Constitucionalização do Desenvolvimento Sustentável na Amazônia&3333333333&]T& 2.3. Geopolítica na Amazônia: Fronteira do Capital Natural&333333333333333333333333333333333333&]bb&. 3. BIOTECNOLOGIA: A VERDADEIRA VOCAÇÃO DA AMAZÔNIA ..................... 62& 3.1. Conjunto Normativo da produção Biotecnológica na Amazônia&333333333333333333333333&\#& 3.2. Biopirataria: Prejuízos Socioeconômicos ao Patrimônio Nacional&33333333333333333333&b]& 3.3. A propriedade intelectual em prol da biodiversidade: o modelo bioindustrial na Amazônia&333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333333&bE&. Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

(13) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. 3.4. O Papel do Centro de Biotecnologia da Amazônia&3333333333333333333333333333333333333333333333&EG&. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 88& REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 94& ANEXO 1................................................................................................................. 107& ANEXO 2................................................................................................................. 109& ANEXO 3................................................................................................................. 110&. Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

(14) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. INTRODUÇÃO Cabe, de maneira introdutória, aduzir acerca da ideia de desenvolvimento. Eros Grau afirma que o desenvolvimento supõe dinâmicas mutações e importa em um processo de mobilidade social contínuo e intermitente. Portanto, processo de desenvolvimento deve levar a um salto, de uma estrutura social para outra, acompanhado da elevação do nível econômico e do nível cultural-intelectual comunitário.1 Existe a necessidade de otimizar a produção local na Amazônia, agregando valor aos produtos distribuídos no mercado interno e externo. Também existe a necessidade de inovar e criar. O Brasil, num cenário global de capitalismo selvagem, precisa tomar o papel de protagonista. Assim, caminharemos para uma melhoria socioeconômica. Neste trabalho desvelaremos qual estrutura jurídica alicerça o processo de desenvolvimento da região amazônica. Nesse sentido, o Brasil possui como um de seus fundamentos constitucionais (art. 3°, II, CF/88) garantir o desenvolvimento nacional. Benfatti explica que desenvolvimento é mais que uma palavra que possui vários significados, várias acepções: entende-se o desenvolvimento em seu sentido social, político, jurídico, industrial, ambiental e, especificamente, econômico.2 Schumpeter, no estudo sobre a Teoria do Desenvolvimento Econômico, ensina que o desenvolvimento se realiza no surgimento de fenômenos econômicos qualitativamente novos – isto é, de inovação – consequentes à adoção de novas. 1. GRAU, Eros. A Ordem Econômica na Constituição de 1988 – Interpretação e Crítica. 2003. P. 197.. 2. BENFATTI, Fábio Fernandes Neves. Direito ao Desenvolvimento. 2014. P. 19.. &. 12 Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

(15) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. fontes de matéria-prima, de novas formas de tecnologia, de novas formas de administração de produção, etc.3 Celso Furtado, estudando o pensamento social brasileiro e da sua decorrência na política econômica nacional, observou que nada choca tanto o observador da economia brasileira como a contradição entre o formidável potencial de recursos do país e o baixo nível de desenvolvimento alcançado até o presente.4 Para Furtado, o Brasil é um mundo totalmente criado pela expansão do capitalismo industrial. País que não é herdeiro de nenhuma velha civilização como são outras grandes nações hoje denominadas subdesenvolvidas. Nesse esteio, a Constituição Federal de 1988 determina que o exercício da atividade econômica é delimitado pelo sistema que trata da ordem econômica e financeira (art. 170 e ss.). Portanto o processo de desenvolvimento na Amazônia deve ser otimizado e harmonizado ao projeto de desenvolvimento nacional. Octaviani explica que, no caso brasileiro, notadamente na Amazônia, as linhas mestras do pensamento pró-emancipação já foram formuladas e desenvolvidas a ponto de se inscrever claramente no aparato jurídico brasileiro, existindo, portanto, os meios teóricos e jurídico-políticos para a concretização de uma política efetivamente pública; em contrapartida, o desenrolar da problemática dos recursos genéticos no país nas últimas décadas mostra que a ambição privatista consiste, fundamentalmente, em criar oportunidades para a apropriação privada e obstáculos. 3. SCHUMPETER, Joseph Alois. Teoría del Desenvolvimento Económico. 1967. P. 74.. 4. FURTADO, Celso. Em Busca de um Novo Modelo :Reflexões sobre a crise contemporânea. 2002. P.. 8.. 13 Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

(16) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. para a repartição dos benefícios às coletividades diretamente concernidas pelos recursos genéticos.5 Há uma história relatada no livro A Mão Invisível, de Adam Smith, relatando o caso dos produtores de alfinete:. Em uma fábrica de alfinetes, com 10 (dez) funcionários, cada trabalhador produzia 4.800 (quatro mil e oitocentos) alfinetes. No total, 48 mil alfinetes. O que não ocorreria, segundo Smith, caso estivessem trabalhando separados e independentemente, e sem que nenhum deles tivesse sido treinado para essa atividade específica. Assim, concluiu Smith, que, certamente, não poderiam cada um deles, produzir 20, talvez nem mesmo um alfinete por dia, se retiradas as condições específicas.6. Do relato, extraem-se duas premissas: (i) existe a necessidade de produção para suprir a demanda interna evitando a importação e estimulando a exportação; (ii) existe, também, a necessidade de capacitação para uma posterior produção. A partir dessa diagnose simples e direta, discorreremos sobre a possibilidade de um projeto de desenvolvimento nacional que busque na Amazônia uma produção de larga escala na indústria biotecnológica, com mínimo impacto ecopedológico, por tratar-se de atividade de produção ‘’sem chaminé’’; e, assim, adequando-se tal modelo aos padrões socioambientais que o meio amazônico demanda, dada a estrutural importância dessa região para o planeta. Buscando desvelar o quadro atual de desenvolvimento regional amazônico, o trabalho será sistematizado em 3 (três) capítulos – capítulos 1, 2 e 3 – que traçarão,. 5. OCTAVIANI, Alessandro. Recursos Genéticos e Desenvolvimento – Os Desafios Furtadiano e. Gramsciano. Ed. Saraiva. São Paulo. 2013. P. 19. 6. SMITH, Adam. A Mão Invisível. Ed. Penquin e Companhia das Letras. São Paulo. 2013. P. 9.&&. 14 Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

(17) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. através de uma metodologia descritiva-exploratória, os caminhos que tornaram o Brasil, e por consequência, a Amazônia, lugares subdesenvolvidos e periféricos sob a ótica capitalista global e as possibilidades que a biotecnologia apresenta para superarmos os problemas históricos de desenvolvimento na região. Num primeiro momento, e motivados pela busca do entendimento da condição subalterna brasileira no cenário capitalista global, será estudada a teoria Estrutural de Celso Furtado. Ademais, por não podermos estudar hoje o desenvolvimento ambiental sem observar através de uma perspectiva econômica, traçaremos um histórico da formação econômica brasileira a partir das teorias de desenvolvimento econômico. As teorias analisadas serão: a (i) Escola Clássica, de Adam Smith e David Ricardo; (ii) Escola Keynesiana; (iii) Escola do CEPAL e (iv) Teoria Schumpeteriana. Não é o objeto deste trabalho descortinar detalhes sobre debates teóricos de cada escola, mas sim identificar suas principais premissas, cotejando-as ao processo histórico de formação econômica nacional, cotejando ao processo de desenvolvimento econômico que ocorre na Amazônia brasileira. Esta última, que objetivou esforços em desvelar as causas das desigualdades regionais brasileiras. O capítulo seguinte (capítulo 2) traçará um quadro-histórico das políticas públicas desenvolvimentistas adotadas na Amazônia – território estratégico para questões socioeconômicas nacionais. Este quadro perpassará, desde o momento em que as drogas do sertão eram extraídas e comercializadas no mercado interno e externo, até a concretização de um parque industrial, de empresas nacionais e multinacionais, instaladas no Pólo Industrial de Manaus. A pesquisa sobre este processo histórico de formação econômica que ocorreu na região amazônica se dará, sobretudo, a partir da análise das políticas públicas implementadas na região.. 15 Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

(18) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. Concluiremos o capítulo tratando de questões como a constitucionalização do desenvolvimento da Amazônia, a importância geopolítica da região e os problemas socio-ambientais e, de regularização fundiária – em itens, respectivamente, destinados ao exame destas questões. O capítulo 3 da presente pesquisa será direcionado para a análise do novo elemento-chave para o desenvolvimento na Amazônia a partir da utilização racional do capital natural: a biotecnologia. Harmonizando a tecnologia com a biodiversidade, temos a possibilidade do uso racional e eficiente das potencialidades econômicas ofertadas pelo meio ambiente. A biondústria, pautada na biotecnologia, deve ter um ecossistema jurídico favorável à sua implementação. Assim, dentro da cadeia produtiva, que começa nos pequenos e micro produtores regionais, e vão até as grandes empresas privadas, universidades e instituições de estatais, será possível direcionar esforços em pesquisas e desenvolvimento de novos produtos a partir da biodiversidade. Os obstáculos ao projeto de implementação de um sistema regional de inovação baseado na biotecnologia serão retratados neste trabalho a partir da diagnose sobre os históricos problemas que a região amazônica enfrenta nas tentativas de obter uma economia industrial sustentável. Ademais, a biopirataria, as patentes sobre o patrimônio genético e a necessária. otimização. de. legislações. do. país,. serão. objetos. estudados,. sistematicamente, em tópicos do capítulo 3. Finalizaremos o capítulo apresentando informações estratégicas extraídas de visita que buscou pesquisar sobre o Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA). Tivemos a oportunidade de entrevistar, além dos pesquisadores, para conhecer os seus projetos desenvolvidos, o atual coordenador-geral das atividades do CBA, que contribuiu com as experiências sobre a gestão.. 16 Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

(19) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. Isto posto, o trabalho pretende induzir ao leitor, precipuamente, a reflexão sobre os modelos desenvolvimentistas implementados na região, que permanecem ineficazes até os dias atuais. Também, a pesquisa possibilita-nos prever que o novo paradigma tecnológico – o qual revela na biotecnologia uma possível solução para projeto econômico na região amazônica - pode se tornar uma possibilidade para a implementação de um modelo de Sistema Regional e Local de Inovação nesta região brasileira a partir da lógica interação com parcerias-estratégicas globais, para a absorção tecnológica, e de uma política bioindustrial efetiva e alinhada aos padrões necessários para o desenvolvimento sustentável.. 17 Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

(20) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. 1 - Teorias de Desenvolvimento e as Desigualdades Regionais Por que alguns países apresentam rápido crescimento econômico enquanto o Brasil permanece na condição periférica num contexto global? Tratar o tema sem pensar num projeto de desenvolvimento socioeconômico para a Amazônia brasileira é caminhar para a estagnação nesta região - detentora do maior acervo biológico mundial, basilar para a promoção da bioindústria. Desenvolver economicamente a região que está geograficamente situada num dos maiores estoque global de patrimônio genético da biodiversidade é um desafio que perpassa pela análise das teorias econômica que estudam o desenvolvimento. A principal razão para se trabalhar o tema desenvolvimento econômico e suas diferentes teorias não é, portanto, a de narrar de forma pormenorizada todos seus aspectos, uma vez que isto fugiria do objeto do presente estudo. A intenção é a de averiguar as noções gerais destas correntes teóricas acerca do desenvolvimento, buscando confrontá-las em face do processo de formação econômica no Brasil, notadamente na região amazônica. O Brasil é um país subdesenvolvido – as desigualdades sociais e regionais são consequências disto. Nesse sentido, a biodiversidade brasileira tem um potencial econômico pouco explorado e que deve ser objeto de planejamento estratégico, com vistas a tornar-se um instrumento apto a contribuir no projeto de emancipação nacional, que materialize a homogeneização social e internalização dos centros de decisão econômica. Por se tratar de uma área de vantagem comparativa para o Brasil em relação aos outros países, devemos propor modelos para esta região que oxigene a inovação na biodiversidade e, por isso, a biotecnologia tem um papel-chave neste processo.. 18 Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

(21) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. A economia subdesenvolvida não deve ser considerada isoladamente do sistema de divisão internacional do trabalho em que está situada. A passagem do subdesenvolvimento para o desenvolvimento só pode ocorrer em processo de ruptura com o sistema, internamente e com o exterior, afinal, em suas raízes é um fenômeno de dominação, ou seja, de natureza cultural e política.7. Bercovici, em estudo acerca das desigualdades regionais, afirma que o desenvolvimento só pode ocorrer com a transformação das estruturas sociais.8 Ademais, Furtado afirma que o subdesenvolvimento é um processo histórico autônomo, e não uma etapa pela qual tenham, necessariamente, passado as economias que já alcançaram grau superior de desenvolvimento.9 Na Amazônia, transformar as estruturas que albergam o processo de desenvolvimento da sociedade perpassa pela análise das cadeias produtivas locais e a possibilidade de interação com as cadeias globais que dinamizam a bioindústria.. O fato do Brasil sofrer com crises cíclicas pela estrutura da macroeconomia, permite-nos diagnosticar possibilidades para a superação deste gap econômico e tecnológico em relação as economias de fronteira. A política industrial deve ser vista como um complemento importante do regime de política macroeconômica com o objetivo de uma estratégia de reindustrialização para reverter a desindustrialização pré-madura. A este respeito, a política industrial está fora da necessidade de corrigir qualquer tipo de "falha do mercado" (seja mercado, coordenação ou mesmo falhas de informação). Na abordagem estruturalista ou de desenvolvimento, a política industrial é definida como a combinação de um conjunto de incentivos governamentais ao nível setorial. 7. FURTADO, Celso. Teoria e Política do Desenvolvimento Econômico. 1983. p. 207.. 8. BERCOVICI. Gilberto. Desigualdades Regionais, Estado e Constituição. 2003. P. 37.. & 9. FURTADO, Celso. Teoria e Política do Desenvolvimento Econômico. 1983. p. 197. 19 Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

(22) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. (proteção tarifária sobre importações, subsídios permitidos pela Organização Mundial do Comércio - OMC, crédito público de longo prazo para investimento projetos e inovação, entre outros) com políticas horizontais (especialmente infra-estrutura, pesquisa e desenvolvimento-P & D). Quando a política industrial se concentra em algumas indústrias, os incentivos devem ser direcionados para aqueles com maior capacidade de geração e propagação de ganhos de produtividade para toda a economia.10 Delimitaremos nesta pesquisa o caso brasileiro - cenário histórico de desigualdades regionais -, identificando as hipóteses de ocorrência e os resultados das políticas públicas implementadas através de modelos macroeconômicos – mais abertos a globalização ou mais favoráveis ao protecionismo.. 1.1 Teoria Estrutural Furtadiana A hipótese mais bem estruturada e mais influente na literatura acerca de Desenvolvimento Regional é a apresentada por Celso Furtado em seu livro - A Operação Nordeste - e em outros textos seus, como o documento do GTDN (1959), cuja redação é atribuída principalmente a ele.11 Bercovici retrata que Celso Furtado, em seu livro Brasil: A Construção Interrompida, trouxe ao debate público um importante desafio12:. 10. NASSIF, André. BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. FEIJÓ, Carmem. The case for reindustrialization. in developing countries: towards the connection between the macroeconomic regime and the industrial policy in Brasil. 2017. P. 364. 11. BARROS, Alexandre Rands. Desigualdades Regionais no Brasil: Natureza, Causa, Origem e. Soluções. 2012. P. 78. 12. BERCOVICI, Gilberto. Desigualdades Regionais, Estado e Constituição. 2003. p. 35.. 20 Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

(23) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. Na. lógica. da. ordem. econômica. internacional. emergente parece ser relativamente modesta a taxa de crescimento que corresponde ao Brasil. Sendo assim, o processo de formação de um sistema econômico já não se inscreve naturalmente em nosso destino nacional. O desafio que se coloca à presente geração é duplo: o de reformar as estruturas anacrônicas que pesam sobre a sociedade e comprometem sua estabilidade, e o de resistir às forças que operam no sentido de desarticulação do nosso sistema econômico, ameaçando a unidade nacional13. A hipótese de Celso Furtado para explicar as desigualdades regionais desconsidera uma parte razoável dos fundamentos da Teoria Neoclássica e tem como base a teoria utilizada por Prebisch (1949) para explicar o atraso relativo da América Latina. Ele fez o mesmo para explicar o atraso relativo do Brasil em sua obra mais clássica - Formação Econômica do Brasil (1959). Uma das consequências da hipótese de Furtado é que deveria haver uma correlação entre industrialização e PIB per capita já no inicio da industrialização brasileira.14 Ele parte do pressuposto de que regiões dedicadas a atividades primárioexportadora têm seu crescimento limitado, pois seus ganhos de produtividade são exportados, através de uma redução de preços de seus produtos, decorrente da competição em seus mercados. Produtos industrializados, por sua vez, não sofrem desse problema, pois os sindicatos e as empresas com poder de mercado retêm os 13. 14. FURTADO, Celso. Brasil: a Construção Interrompida., 1992, p. 13. BARROS, Alexandre Rands. Desigualdades Regionais no Brasil: Natureza, Causa, Origem e. Soluções. 2012. P. 98.. 21 Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

(24) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. ganhos de produtividade como renda adicional dos agentes envolvidos nesses setores. O grande desafio da superação do subdesenvolvimento, na ótica de Furtado, é a transformação das estruturas socioeconômicas e institucionais para satisfação das necessidades da sociedade nacional.15 No contexto regional brasileiro, essa assimetria de comportamento dos preços gera deterioração dos termos de troca das mercadorias primárias, que são aquelas nas quais os países subdesenvolvidos são especializados no comércio internacional. O Norte e o Centro-Oeste teriam tido destinos semelhantes ao Nordeste. Ambas as regiões não teriam tido escala suficiente para justificar um desenvolvimento industrial à época das crises do café ou em qualquer ciclo produtivo que porventura as tenha integrado aos pólos produtivos, como foi o caso do Ciclo da Borracha na Amazônia - em período semelhante ao Ciclo do Café em São Paulo, mas em escala suficientemente menor, para não gerar um mercado para expansão industrial.16 Esta hipótese estruturalista situa a origem das desigualdades regionais no Brasil na casualidade do momento histórico específico em que a expansão industrial acelerada teve início no Brasil. Entretanto, constatou-se que ela encontra várias dificuldades, tanto em seu desempenho empírico como em seus fundamentos teóricos. A história do Brasil desde os anos 1960 mostrou que as políticas ou mesmo os desenvolvimentos ocorridos desde então frustram a base dessa teoria, pois o norte/nordeste industrializaram-se, mas o atraso relativo permaneceu inalterado.17. 15. 16. BERCOVICI, Gilberto. Desigualdades Regionais, Estado e Constituição. 2003. P. 38-39. BARROS, Alexandre Rands. Desigualdades Regionais no Brasil: Natureza, Causa, Origem e. Soluções. 2012. P. 90. & 17. Ibidem. P. 100.. 22 Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

(25) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. Celso Furtado (2002, p. 9) previu o que permanece um desafio para os governantes atuais, que são os dois pontos fundamentais a serem deslindados por um próximo governo que pretenda atacar efeitos negativos de práticas comerciais: 1) como elevar a taxa de poupança interna? e; 2) como reduzir a propensão a importar dos grupos de alto nível de vida? São questões que podem ser respondidas através de política econômica consentânea com normativos da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, que buscam direcionar o país à álea da riqueza necessária ao desenvolvimento, através de instrumentos adequados.18. Essa realidade econômica, no Brasil (país marcado pela condição do subdesenvolvimento, no qual o Estado teve e tem um papel de enorme relevância na formatação das estruturas econômicas mais significativas), submete-se às técnicas constitucionais de atuação do Estado em relação ao domínio econômico, como não poderia deixar de ser. 19. A forte perda de participação da indústria no PIB brasileiro foi pelo menos enquanto tendência de longo prazo, um fenômeno circunscrito basicamente à segunda metade dos anos oitenta e se iniciou antes da implementação das reformas econômicas estruturais, notadamente da liberalização comercial.20 18. Os artigos – 3º, IV – que trata dos objetivos constitucionais de reduzir as desigualdades regionais;. art. 170 – que dispõe que a ordem econômica tem como princípio reduzir as desigualdades regionais; art. 218 e art. 219 – que tratam, em suma, da promoção e do desenvolvimento da ciência e da tecnologia, além do mercado interno (que integra o patrimônio nacional). 19. PINTO, Felipe Chiarello de Souza; OCTAVIANI, Alessandro Serafin. Capítulo 13 - Fundos de. investimento: os dois desafios para o ordenamento da concorrência. In: PINTO, Felipe Chiarello de Souza; BAGNOLI, Vicente; SIQUEIRA NETO, J.F.; SCALQUETTE, Ana C.S.: 60 desafios do direito economia, direito e desenvolvimento. São Paulo: Atlas, 2013. v. 3. P. 142 20. NASSIF, André. Há evidências de desindustrialização no Brasil. 2008. P. 93.. 23 Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

(26) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. Essa queda de participação ocorreu no bojo de uma forte retração da produtividade do trabalho, de um cenário de estagnação econômica e de elevadas taxas de inflação. Em termos gerais, o que se observou na segunda metade dos anos 1980 foi uma queda da participação da indústria no PIB, em meio a uma fortíssima retração na produtividade do trabalho e a um cenário de estagnação econômica. Entre 1991 e 1998, o cenário foi de manutenção do peso da indústria, com aumento na produtividade do trabalho, mas queda nas taxas de formação bruta de capital. Após 1999, houve retração da produtividade e manutenção das baixas taxas de investimento. Ou seja, o comportamento instável da produtividade e os níveis reduzidos de investimento, desde o início dos anos 1990, contribuíram para impedir o retorno da participação da indústria no PIB aos níveis médios anuais prevalecentes na década de 1980.21 Portanto, o período de 1990 até o presente não pode ser qualificado como de “desindustrialização”. Apesar das baixas taxas de crescimento médias anuais do PIB brasileiro entre 1990 e 2000, a indústria de transformação doméstica conseguiu manter um nível de participação médio anual da ordem de 22% no período, praticamente o mesmo percentual observado em 1990. Nos últimos anos, houve um ligeiro aumento dessa participação, chegando a 23% em 2004.22. As evidências empíricas também não confirmam uma “nova doença holandesa” no Brasil, seja porque não se verificou uma realocação generalizada. de fatores produtivos para os. segmentos que constituem o grupo de indústrias com tecnologias baseadas em recursos naturais, seja porque não se configurou um retorno vigoroso a um padrão de especialização exportadora em produtos intensivos em recursos naturais ou em trabalho. Prova disso é que a participação conjunta dos produtos primários, dos manufaturados intensivos em recursos naturais e 21. Ibidem.. 22. Ibidem.. 24 Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

(27) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. dos manufaturados de baixa tecnologia sofreu um decréscimo de 72% para 67% entre 1989 e 2005. De todo modo, o artigo alerta para os riscos no longo prazo inerentes à tendência recorrente de sobrevalorização da moeda brasileira em relação ao dólar em termos reais, fato observado desde o final da década de 1980 até o presente (abril de 2006) — com exceção do período 1999-2003. Esses riscos estão associados não apenas. à. perda. de. competitividade. industrial,. como. principalmente à deflagração de um processo precoce de desindustrialização no Brasil, o qual, se bem não tenha passado de mera conjectura até o momento, poderia, sim, em perspectiva de longo prazo, se transformar num fenômeno real. 23. Ao descortinar o século XXI, o desenvolvimento que ocorre na região amazônica se encontra desigual e restrito a determinados subespaços econômicos, muitas vezes limitado a um núcleo espacial no interior da própria esfera geográfica municipal e bastante heterogêneo em termos da produção regional, não mais apresentando a homogeneidade produtiva que predominava na região quando ocorreu a sua integração ao mercado nacional. A Amazônia de hoje, portanto, com suas contradições crescentes, reflete as políticas e os programas desenvolvimentistas que potencializaram ao mesmo o crescimento econômico e as desigualdades sociais.24. Como. resultado. dessas. forças. econômicas. estruturais e não estruturais, a taxa de câmbio real brasileira manteve-se a um nível não competitivo por longos períodos de tempo, desencorajando o. 23. Ibidem. P. 93-94.. 24. CASTRO, Edna M. R. Estado e Políticas Públicas na Amazônia em fases de Globalização e de. Integração de Mercados. 2001. P. 10.&. 25 Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

(28) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. investimento doméstico e as inovações e induzindo fortemente a substituição de bens estrangeiros pela produção doméstica.25. Neste sentido, Benfatti, ao analisar o contexto centro-periferia mundial, explica que o desenvolvimento reduzido e dependente da América Latina é um tipo de modelo incapaz de acumular capital ou formar poupança. Esse modelo, na maioria das vezes, importa tecnologia e não a distribui, assim como não distribui de forma razoável os lucros obtidos, e destaca-se pela grande transferência às multinacionais de parcela considerável dos lucros obtidos.26. 1.2. Teorias de Desenvolvimento Econômico sob a perspectiva da Formação Econômica Brasileira. Neste momento, faremos uma abordagem introdutória das principais teorias que tratam de desenvolvimento econômico. O objetivo é descortinar os fundamentos teóricos destas linhas da macroeconomia para analisa-las em face do projeto. constitucional. de. desenvolvimento. nacional. na. Amazônia.. Assim,. equacionaremos as principais ideias das escolas (i) clássica, (ii) keynesiano e (iii) schumpeteriana, dentro de uma sistemática histórico-filosófica.. 25. ’’ As a result of these structural and non-structural economic forces, the Brazilian real exchange rate. has been kept at a non-competitive level for long periods of time, discouraging domestic investment and innovations and sharply inducing the substitution of foreign goods for domestic production.” Tradução: NASSIF, André. BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. FEIJO, Luiz Carlos. FEIJO, Carmem. The case for reindustrialisation in developing countries: towards the connection between the macroeconomic regime and the industrial policy in Brazil. 2018. P. 357. & 26. BENFATTI, Fábio Fernandes Neves. Direito ao Desenvolvimento. 2014. P. 39.. 26 Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

(29) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. 1.2.1 Teoria Clássica Foi Adam Smith o economista que desenvolveu os postulados básicos do liberalismo econômico clássico. Refutou as ideias desenvolvidas pelos mercantilistas e fisiocratas de que os metais preciosos e a terra eram os principais fatores de riqueza, mas sim o trabalho produtivo.27 Adam Smith demonstrou que toda a mercadoria pode produzir valor ao ser comercializada por um preço superior ao que foi comprada ou ao seu custo médio de produção. Para a determinação da geração da riqueza e da renda, não seria o mais importante a produtividade física, assim como pensavam os fisiocratas, mas sim a produtividade em termos de valor.28 Assim, segundo Gelcer, o modelo de desenvolvimento econômico proposto por Smith é baseado nos seguintes pressupostos29: (i). Acúmulo e poupança de capital, que possibilitam o investimento. na contratação de trabalhadores; (ii). Aumento de riqueza, gerado pela produtividade cada vez maior,. permite que os salários pagos aos trabalhadores subam, mas os lucros não. 27. “O trabalho de uma nação é a base que, originariamente, lhe fornece tudo o que é necessário e útil. à sua sobrevivência, e que consiste, ou no produto imediato desse trabalho, ou no que é obtido de outras nações através dele. Segundo for maior ou menor de proporcionalidade entre este produto (ou o que é obtido através dele) e o número de consumidores, assim a nação será melhor ou pior suprida com todos os produtos que lhes são úteis e necessários”. - SMITH, Adam. Investigação sobre a sua natureza a causa da riqueza das nações. Tradução: CONCEICÃO, Maria do Carmo Cary; NOGUEIRA, Eduardo Lúcio e KUNTZ, Rolf. 3ª Ed. São Paulo: Abril Cultural 1984, p. 4. 28. GELCER, Daniel Monteiro. Teoria Furtadiana de Desenvolvimento Econômico e a Ordem. Constitucional Brasileira. 2013. P. 25. 29. Ibidem.. &. 27 Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

(30) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. diminuam; (iii). Ampliação dos mercados, a divisão do trabalho e a diminuição. dos custos na produção são fatores importantíssimos para o aumento da produtividade e, portanto da riqueza. David Ricardo, que foi o principal discípulo de Adam Smith, deu continuidade às suas ideias, contudo, trazendo diversas novas formulações teóricas. Segundo Ricardo, o livre-comércio entre as nações poderia trazer benefícios a todos, uma vez que os países não necessitavam ter uma vantagem absoluta na produção de qualquer mercadoria.30 A crítica que Furtado faz em relação à concepção dos clássicos refere-se, principalmente, à formulação de modelos abstratos de desenvolvimento aplicáveis a qualquer economia, independentemente de outros fatores, sociais, culturais, históricos, políticos, etc., baseada em preceitos, como a livre concorrência, o livre câmbio, lei da oferta e da procura, e não em realidades históricas e econômicas distintas.31 A principal razão pela qual o conceito de falha de mercado é problemático para a compreensão do papel do governo no processo de inovação é que ele ignora um fato fundamental da história da inovação. O governo não apenas financiou a pesquisa mais arriscada, seja básica ou aplicada, como muitas vezes foi a fonte da inovação mais radical e pioneira. Para isso, empenhou-se na criação de mercados, em vez de apenas corrigi-los.32. 30. HUNT, E. K. História do pensamento econômico: uma perspectiva crítica. Tradução: AZEVEDO,. José Ricardo Brandão e MONTEIRO, Maria José Cyhlar. 2ª Ed., Rio de Janeiro: Elsevier, 2005, p. 112. 31. FURTADO, Celso. Teoria e Política do Desenvolvimento Econômico. 5ª edição, São Paulo: Nacional,. 1974, p. 43. 32. MAZZUCATO, Mariana. O Estado Empreendedor: Desmascarando o Mito do Setor Público vs. Setor. Privado. 2014. P. 78.. 28 Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

(31) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. No caso brasileiro, especificamente, os modelos de livre-mercado, previstos por Smith ou Ricardo, devem ser estudados para situações específicos. Ainda é relevante o papel do Estado na formação de políticas econômicas e, se tratando de inovação tecnológica, o papel se torna ainda mais fundamental.. 1.2.2 Teoria Keynesiana Keynes, por sua vez, observou diversas falhas teóricas nos modelos econômicos desenvolvidos pela escola Clássica e, assim, passou a desenvolver o modelo de economia que entendia mais correto para que o sistema capitalista pudesse enfrentar os problemas que eram inerentes a ele.33 Segundo Keynes, as riquezas geradas por um país não retornariam necessariamente para a economia, ou seja, as pessoas não consumiriam ou investiriam todo o seu dinheiro. Uma parte da renda das pessoas seria poupada e não investida, e, não havendo o retorno desta renda para o mercado, a produtividade diminuiria gerando o desemprego, o que demonstraria que o equilíbrio econômico natural preconizado pelos neoclássicos não podia existir, já que as situações de desemprego involuntário seriam comuns e inerentes às economias.34 Keynes defendia que, para suprir os problemas de demanda efetiva e de desemprego, era necessária uma atuação mais ampla e coordenada do Estado na economia, que deveria assumir mais funções e efetuar mais gastos, como a realização de obras públicas, de modo a promover o pleno emprego e a manutenção. 33. GELCER, Daniel Monteiro. Teoria Furtadiana de Desenvolvimento Econômico e a Ordem. Constitucional Brasileira. 2013. P. 32. 34. Ibidem. P. 33.. 29 Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

(32) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. da demanda efetiva.35 Nesse sentido, principalmente no caso dos países subdesenvolvidos, a atuação do Estado na economia não pode ficar restrita à correção das falhas de mercado. Com efeito, o Estado deve atuar não somente para a correção das falhas de mercado como também para a implementação de políticas econômicas que visem a superação dos problemas estruturais destes países.36 Embora as políticas de redistribuição progressiva sejam fundamentais para garantir que os resultados do crescimento econômico sejam justos, elas em si não geram crescimento. A desigualdade pode prejudicar o crescimento, mas a igualdade por si só não pode estimulá-lo. O que falta a boa parte da esquerda keynesiana é uma agenda de crescimento que crie e simultaneamente redistribua as riquezas. A combinação das lições de Keynes e Schumpeter pode fazer com que algo assim aconteça.37 Passemos a análise da escola liderada por Joseph Schumpeter – o idealizador dos processos econômicos pautados na “Destruição Criativa” e no papel do empreendedor.. 35. HUNT, E. K. História do pensamento econômico: uma perspectiva crítica. Tradução: AZEVEDO, José. Ricardo Brandão e MONTEIRO, Maria José Cyhlar. 2ª Ed., Rio de Janeiro: Elsevier, 2005, p. 397.. 36. GELCER, Daniel Monteiro. Teoria Furtadiana de Desenvolvimento Econômico e a Ordem. Constitucional Brasileira. 2013. P. 40. 37. MAZZUCATO, Mariana. O Estado Empreendedor: Desmascarando o Mito do Setor Público vs. Setor. Privado. 2014. P. 47-48.. 30 Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

(33) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. 1.2.3. Teoria Schumpeteriana Schumpeter preocupou-se em fazer uma análise dinâmica da economia, tentando explicar, abstratamente, os ciclos econômicos e o desenvolvimento econômico capitalista.38 No modelo teórico desenvolvido por Schumpeter o desenvolvimento econômico está totalmente ligado à introdução de inovações, que podem ser39: i) A produção de novos bens ou novos métodos de produção; ii) A conquista de novos mercados; iii) a descoberta de uma nova fonte de matérias-primas, e iv) a criação de uma nova organização industrial, como um novo truste. Para Schumpeter, o desenvolvimento econômico, impulsionado pelo progresso técnico, nos termos acima expostos, não ocorre de maneira uniforme no tempo, assim como entendiam os neoclássicos, mas alterna períodos de prosperidade, e depressão, em que os negócios se retraem e o desemprego aumenta. Dentro de determinado contexto, os empresários mais ousados e empreendedores buscando o lucro criam um ambiente favorável às inovações, que, normalmente, acabam sendo imitadas por outros empresários. Nesta medida o crédito bancário se expande, a renda gerada com estas inovações se eleva e a economia encontra o seu momento de maior prosperidade.40 Schumpeter sustenta que a inovação, não raramente, se beneficia do advento das grandes empresas, pois esses empreendimentos de proporções gigantescas podiam dar-se ao luxo de apostar em novas técnicas. Dispunham-se a. 38. 39. 40. SCHUMPETER, Joseph A. Teoria do desenvolvimento econômico. 1961, p. 85. Ibidem. p. 93. SOUZA, Nali de Jesus. Desenvolvimento Econômico, São Paulo: Atlas, 1999, p. 185.. 31 Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

(34) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. absorver perdas em alguns de seus novos empreendimentos porque podiam contar com lucros em outros. “O fracasso em qualquer caso específico liberta dos seus riscos, e a inovação tende a ser promovida automaticamente por recomendação dos especialistas”.41 O mais importante, porém, é que nessa perspectiva a inovação é específica da empresa e altamente incerta. As abordagens “evolucionária’’ e schumpeteriana para o estudo do comportamento da empresa e a competição levaram a uma visão do tipo ‘’sistemas de inovação’’ da política em que o importante é compreender a forma como as empresas de diferentes tipos estão inseridas em um sistema, nos níveis setorial, regional e nacional. Ao destacar a grande incerteza subjacente à inovação tecnológica, assim como os fortes efeitos de feedback entre inovação, crescimento e estrutura de mercado, os schumpeterianos enfatizam o componente ‘’sistemas’’ do progresso tecnológico e do crescimento.42 E o Brasil por ser, no contexto centro-periferia do capital global, um país subdesenvolvido, deve buscar nos fundamentos destas escolas econômicas as bases para a construção de um projeto nacional de desenvolvimento endógeno e equitativo. Nesse sentido, a Comissão Econômica para o Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CEPAL) buscou sintetizar as origens do quadro periférico de toda a América Latina. Este é o tema da próxima seção. 1.3. O Brasil no contexto de Subdesenvolvimento Latino-americano: o pensamento do CEPAL Após a Segunda Guerra Mundial, as Nações Unidas criaram a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL) que tinha como principais objetivos a realização de estudos voltados ao desenvolvimento econômico da região, 41. McCRAW, Thomas K. Joseph Schumpeter e a Destruição Criativa: O Profeta da Inovação. P. 175.. & 42. MAZZUCATO, Mariana. O Estado Empreendedor: Desmascarando o Mito do Setor Público vs. Setor. Privado. 2014. P. 53.. 32 Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

(35) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. identificar os problemas existentes em cada país, como também detectar os principais obstáculos ao desenvolvimento econômico deles e, enfim, formular propostas de políticas desenvolvimentistas, reforçando as suas relações econômicas internacionais.43 Nesse sentido, a influência do pensamento da CEPAL, no debate político brasileiro, foi enorme, entre 1949 e 1964. As teses da CEPAL tiveram grande receptividade, pois davam fundamentação científica para a tradição intervencionista e industrialista existente no Brasil desde 1930. A concepção do Estado como promotor do desenvolvimento, coordenado por meio do planejamento, dando ênfase à integração do mercado interno e à internalização dos centros de decisão econômica, bem como o reformismo social, característicos do discurso Cepalino, foram plenamente incorporados pelos nacional-desenvolvimentistas.44. Sob vários aspectos, o Brasil apresenta, dentro de sua configuração geográfica continental, diversas peculiaridades socioeconômicas e geográficas que o caracterizam como um país heterogêneo e de grandes desigualdades espaciais. As diversidades climáticas, de solo e principalmente de formação histórica e social colaboram bastante para a formação de tais diferenças entre as regiões. A propensão à uniformização estimulada por sistemas legal e político comuns, uma mesma língua e o livre trânsito de pessoas e mercadorias não foram suficientes para eliminar a grande diversidade econômica gerada dentro do território nacional. A disparidade regional é um assunto bastante discutido nacionalmente. Desde antes da criação da SUDENE, ainda na década de 1950, já havia grandes. 43. GELCER, Daniel Monteiro. Teoria Furtadiana de Desenvolvimento Econômico e a Ordem. Constitucional Brasileira. 2013. P. 39. & 44. BERCOVICI, Gilberto. Desigualdades Regionais, Estado e Constituição. p. 55. 33 Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

(36) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. discussões sobre esse tema. Elas contaram com a participação de grandes nomes da economia nacional, como Celso Furtado.45. No Brasil, todas as hipóteses que explicam as desigualdades regionais enfatizam a existência de falhas de mercado. Ou seja, assume-se que, se os mercados funcionassem perfeitamente, talvez até pudesse haver desigualdades regionais, mas elas seriam menores do que as existentes. Em resumo, se existem desigualdades regionais claras – e elas não existiriam se não houvesse as falhas de mercado, é razoável concluir, dentro dessa visão, que há falhas de mercado que estão gerando tais desigualdades. Dentro dessa lógica, identifica-las seria o passo fundamental para resolver a questão regional do Brasil. O universo para tal seleção é limitado, mas seria necessário descobrir quais e como atuam nesse caso específico, quando o objetivo for formular políticas que possam eliminá-las ou pelo menos contrabalançá-las.46 A forma como essas hipóteses normalmente são apresentadas, contudo, são falhas, pois normalmente não explicam, de maneira sistemática e rigorosa, como essas desigualdades surgiram ao longo do tempo e por que persistem.47. A medula dessa questão é a seguinte: o Brasil é um extenso território ocupado de modo irregular, apresentando combinações diversas de fatores e recursos, em sistemas econômicos com distintas potencialidades; desenvolver simultaneamente esses sistemas significa dividir em demasia os recursos e reduzir a intensidade média de crescimento do conjunto. Verifica-se,. 45. BARROS, Alexandre Rands. Desigualdades Regionais no Brasil: Natureza, Causa, Origem e. Soluções. 2012. P. 20. 46. Ibidem. P. 21-23.. & 47. Ibidem. P. 79.. 34 Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

(37) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. assim, que é necessário concentrar os recursos escassos nas regiões de maiores potencialidades, a fim de criar um núcleo suficientemente poderoso que sirva de base do desenvolvimento de outras regiões. Mesmo reconhecendo alguma verdade nessa ideia, a formulação geral do problema me parece incorreta. Abandonar regiões de escassos recursos e com rápido crescimento da população é permitir que se criem graves problemas para o futuro do país. Em. um. plano de. desenvolvimento é necessário considerar em conjunto toda a economia nacional.48. Nos anos 90, Brasil contou com um exuberante montante de Investimento Direto Estrangeiro (IDE) entretanto, tais investimentos concentraram-se em aquisições de empresas públicas e privadas nacionais, sobretudo no setor de serviços. Conforme dados apresentados por Tavares (2000) os investimentos concentraram-se principalmente no setor de energia elétrica (US$ 34,3 bilhões), de telecomunicações (US$ 26,4 bilhões) e o terceiro em importância, o setor financeiro (cerca de US$ 18 bilhões). É relevante levarmos em conta que apesar da expressividade do montante dos investimentos diretos estrangeiros no Brasil, principalmente nos últimos anos da década, não surtiram grande alteração na taxa de investimento que passou de 15,2% em 1991, para apenas 17,2% em 1999. Além disso, outro aspecto estrutural chama atenção: os investimentos diretos, não só geraram elevações consideráveis de remessa de lucros, royalties e direitos de assistência técnica, como também geraram imediatamente, ou seja, nos últimos anos da década de noventa, um vigoroso aumento de importações que em muito contribuíram para os sucessivos déficits na balança comercial, mesmo após a expressiva desvalorização cambial.49 48. FURTADO, Celso. Perspectivas da Economia Brasileira, 1958, p. 53. 49. GENNARI, Adilson Marques. 2002. p.40) Pesquisa e Debate, SP, Volume 13, n. 1 (21), p.30-45,2002. 35 Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

(38) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. Ainda hoje, diante de toda a importância das teorias cepalinas para a formação de um pensamento econômico específico para as peculiaridades dos países subdesenvolvidos da América Latina, não são raras as críticas feitas a elas e a consideração de que elas se acham totalmente ultrapassadas diante do novo contexto econômico mundial da globalização, da necessidade de desregulamentação dos mercados e do enfraquecimento do Estado. Ou seja, é muito comum o retorno dos modernos estudiosos da ciência econômica aos mencionados pressupostos neoclássicos, baseados no discurso da abstração das leis de mercado da oferta e da procura e no binômio escassez-utilidade, esquecendo-se da importância de toda realidade histórica dos países subdesenvolvidos.. 1.4 Desigualdades Regionais e os reflexos na Renda Per Capita, Capital Social, Capital Humano e Instituições Toda sociedade enfrenta vários desafios simultâneos nas mais diversas áreas.. Desde. a. política,. atingindo. questões. como. o. balanceamento. da. representatividade política e da estabilidade do poder; passando por questões de sustentabilidade, como as várias propostas pela preservação ambiental; estendendose às econômicas, que podem ser mais genéricas, como balanço entre maior crescimento e redução de riscos de variações de padrão de vida dos cidadãos, ou mais específicas, como redução de diversas formas de injustiças geradas por desbalanços nas oportunidades individuais, geradas por problemas como o regional e as discriminações por atributos individuais, como gênero, preferências sexuais, idade, origens raciais, etc.50 Muitas vezes, a questão regional tem sido levantada apenas como uma fonte potencial de geração ou perpetuação de privilégios para setores e grupos setoriais específicos. Nesse contexto, a questão regional passa a ser um instrumento 50. BARROS, Alexandre Rands. Desigualdades Regionais no Brasil: Natureza, Causa, Origem e. Soluções. 2012. 31.. 36 Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

(39) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. social perverso, pois é utilizada como argumento para gerar políticas que, se implementadas, distorcerão os incentivos econômicos de mercado de forma inadequada, levando a maior desigualdade de oportunidades e/ou perda de bem-estar para a sociedade. Diante disso, numa visão progressista, deve ser uma preocupação de quem estuda a questão regional tentar evitar sua instrumentalização.51 Segundo BARROS (2012), as principais causas que explicam a nossa condição de país periférico perpassam pelas falhas endêmicas ao processo de formação de capital social, e por consequência na formação de capital humano. O baixo nível de escolaridade, aliado a ineficiência de políticas públicas, justificam a heterogeneidade nacional em relação as suas diferentes regiões. Vejamos algumas hipóteses de Barros (2012) que buscam desvelar o problema das desigualdades regionais brasileiras. A renda per capita, primeira das hipóteses, ocasiona a disparidade ou desigualdade de renda regional quando a média difere nas duas regiões. A ineficiência regional existe quando há pelo menos uma alocação de fatores de produção entre regiões que seja alternativa àquela prevalecente e que faça pelo menos um indivíduo ter maior bem-estar, sem que nenhum outro tenha seu bem-estar reduzido. Ou seja, nesse caso, a distribuição de produção entre as regiões não estaria naquilo que os economistas chamam de ‘'ótimo de pareto’’52. Seria possível melhorar o bem-estar da economia apenas realizando os fatores de produção entre as regiões. Nesse caso, numa linguagem mais popular, pode-se dizer que o problema regional existe quando as oportunidades de prosperar. 51. Ibidem.&. & 52. Eficiência ou óptimo de Pareto é um conceito de economia desenvolvido pelo italiano Vilfredo Pareto.. Uma situação econômica é ótima no sentido de Pareto se não for possível melhorar a situação, ou, mais genericamente, a utilidade de um agente, sem degradar a situação ou utilidade de qualquer outro agente econômico.. 37 Campus São Paulo: Rua da Consolação, 896 l Consolação l São Paulo - SP l CEP 01302-907 Tel. (11) 3236-8766 Fax (11) 3255 - 2588. l www.mackenzie.br.

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