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Desigualdades Regionais e os reflexos na Renda Per Capita, Capital Social, Capital Humano e Instituições

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

1.4 Desigualdades Regionais e os reflexos na Renda Per Capita, Capital Social, Capital Humano e Instituições

Toda sociedade enfrenta vários desafios simultâneos nas mais diversas áreas. Desde a política, atingindo questões como o balanceamento da representatividade política e da estabilidade do poder; passando por questões de sustentabilidade, como as várias propostas pela preservação ambiental; estendendo- se às econômicas, que podem ser mais genéricas, como balanço entre maior crescimento e redução de riscos de variações de padrão de vida dos cidadãos, ou mais específicas, como redução de diversas formas de injustiças geradas por desbalanços nas oportunidades individuais, geradas por problemas como o regional e as discriminações por atributos individuais, como gênero, preferências sexuais, idade, origens raciais, etc.50

Muitas vezes, a questão regional tem sido levantada apenas como uma fonte potencial de geração ou perpetuação de privilégios para setores e grupos setoriais específicos. Nesse contexto, a questão regional passa a ser um instrumento

50 BARROS, Alexandre Rands. Desigualdades Regionais no Brasil: Natureza, Causa, Origem e

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social perverso, pois é utilizada como argumento para gerar políticas que, se implementadas, distorcerão os incentivos econômicos de mercado de forma inadequada, levando a maior desigualdade de oportunidades e/ou perda de bem-estar para a sociedade. Diante disso, numa visão progressista, deve ser uma preocupação de quem estuda a questão regional tentar evitar sua instrumentalização.51

Segundo BARROS (2012), as principais causas que explicam a nossa condição de país periférico perpassam pelas falhas endêmicas ao processo de formação de capital social, e por consequência na formação de capital humano.

O baixo nível de escolaridade, aliado a ineficiência de políticas públicas, justificam a heterogeneidade nacional em relação as suas diferentes regiões.

Vejamos algumas hipóteses de Barros (2012) que buscam desvelar o problema das desigualdades regionais brasileiras.

A renda per capita, primeira das hipóteses, ocasiona a disparidade ou desigualdade de renda regional quando a média difere nas duas regiões. A ineficiência regional existe quando há pelo menos uma alocação de fatores de produção entre regiões que seja alternativa àquela prevalecente e que faça pelo menos um indivíduo ter maior bem-estar, sem que nenhum outro tenha seu bem-estar reduzido. Ou seja, nesse caso, a distribuição de produção entre as regiões não estaria naquilo que os economistas chamam de ‘'ótimo de pareto’’52.

Seria possível melhorar o bem-estar da economia apenas realizando os fatores de produção entre as regiões. Nesse caso, numa linguagem mais popular, pode-se dizer que o problema regional existe quando as oportunidades de prosperar

51 Ibidem.&

&

52 Eficiência ou óptimo de Pareto é um conceito de economia desenvolvido pelo italiano Vilfredo Pareto.

Uma situação econômica é ótima no sentido de Pareto se não for possível melhorar a situação, ou, mais genericamente, a utilidade de um agente, sem degradar a situação ou utilidade de qualquer outro agente econômico.

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não são as mesmas nas diversas regiões para todos os indivíduos com características semelhantes.53

A partir de estudo realizado por Barro e Sala-i-Martin (1992), motivado pelas novas aplicações empíricas de teorias do crescimento econômico com dados longitudinais, tornou-se comum, em estudos regionais, utilizar-se a hipótese de que há forças intrínsecas na economia que levam à convergência das rendas per capita das diversas regiões, assim como ocorre entre países.54

A base teórica para tal conclusão é a teoria do crescimento econômico e, em geral, supõe que sequer há migração dos fatores de produção. Ou seja, essa conclusão pode ser obtida mesmo sob tal restrição, o que fortalece ainda mais o argumento a seu favor.55

As migrações deveriam acelerar esse processo de convergência, já que o capital deveria fluir das regiões mais ricas para as mais pobres, que deveriam pagar mais por sua utilização, havendo um movimento inverso no fluxo de trabalho. Esses movimentos deveriam levar à convergência da relação capital-trabalho e, com isso, assegurar a convergência das rendas per capita.56

Porém, para Barros (2012), a própria existência de desigualdade regional não pode ser concluída apenas da observação das rendas per capita regionais.

53 BARROS, Alexandre Rands. Desigualdades Regionais no Brasil: Natureza, Causa, Origem e

Soluções. 2012. P. 24. &

54 Ibidem. P. 209.

55 Ibidem.

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Barros abordando a segunda hipótese - o capital social - de causa de desigualdade regional, explica que o conceito de capital social ainda não é muito preciso na literatura acadêmica.57

Os diversos estudos têm enfatizado aspectos diferentes relacionados a ele. A maioria, contudo, aponta quatro diferentes características que poderiam ser consideradas os principais componentes do capital social.

São elas:

(i) a confiança que os indivíduos têm uns nos outros;

(ii) as redes de relacionamento que os indivíduos constroem na vida; (iii) as organizações voluntárias que existem nas comunidades; (iv) a propensão dos indivíduos a cooperarem.

Segundo a literatura sobre capital social e crescimento econômico, há quatro principais fontes através das quais o primeiro pode afetar o segundo.

A primeira delas é que é possível elevar a eficiência das transações comerciais, já que a cooperação reduz os custos e, portanto, eleva a eficiência econômica e o crescimento.58

A segunda fonte de impacto no crescimento econômico é seu efeito em investimentos na área de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico (P&D). A ideia é que mais capital social aumenta a coerção à eficiência em uma atividade crucial para o crescimento mas que não é muito suscetível ao controle. Assim, o capital social elevaria a propensão de os indivíduos dedicarem um nível elevado de esforço nessa atividade e, assim, aumentaria seus resultados e o desempenho econômico.59

57 Ibidem. P. 83.

&

58 Ibidem. P. 82.

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A terceira fonte mencionada na literatura especializada de impacto do capital social no crescimento econômico é seu efeito no acúmulo de capital humano.60

A quarta fonte apresentada na literatura enfatiza o papel que o capital social desempenha na redução da percepção de risco dos investimentos em economia. Como consequência, as empresas investem mais em desenvolvimento tecnológico e, dessa forma, o ritmo de crescimento é mais acelerado em economias com maior nível de capital social.61

Segundo Mesquita (2009)62, a formação social do Sul e Sudeste, que teve

uma base social mais homogênea e menos conflituosa do que no Nordeste, levou à formação de comunidades em que o nível de capital social é maior. Em consequência, essas comunidades tendem a crescer mais do que as do Nordeste e do Norte. O resultado seria uma tendência à dispersão das rendas per capita regionais no Brasil por causa dessas diferenças’’.63

A formação social de cada região determinou o nível da terceira hipótese de causa de desigualdade regional estudada por Barros (2012): o capital humano de sua população.

A partir daí, os níveis relativos têm se reproduzido, e a produção em cada região tem se conformado a eles, assim como sempre ocorre em economias capitalistas.64

60 Ibidem. P. 83.

61 Ibidem.

62 Mesquita, C., O Papel do Capital Social na Determinação das Desigualdades Regionais da Renda

no Brasil, Tese de Doutorado, Recife, PIMES-Universidade Federal de Pernambuco, 2009.

63 BARROS, Alexandre Rands. Desigualdades Regionais no Brasil: Natureza, Causa, Origem e

Soluções. 2012. P. 83.

64 Ibidem. P. 34.

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Capital humano tem três componentes básicos. O primeiro é a formação educacional dos indivíduos, que depende de seus anos de estudo e da qualidade de ensino recebido, além, é claro, de sua dedicação ao aprendizado. O segundo compreende suas experiências prévias de trabalho, que proporcionam uma formação concreta a ele. O terceiro é sua capacidade física de trabalho, que depende fundamentalmente de suas condições de saúde física e mental, o que tem uma relação clara com sua nutrição ao longo de toda a vida.’'65

Observa-se que as disparidades (regionais) no Brasil justificam-se principalmente pelas diferenças em capital humano entre as regiões, e não pelas diferenças de remuneração do trabalho em regiões distintas com o mesmo nível de capital humano.66

Enfim as diferenças na qualidade das instituições podem explicar desigualdades nos níveis de desenvolvimento entre países, e obviamente também entre regiões.

Essa valorização do papel das instituições teve uma base empírica forte, mas também encontra suporte teórico. Basicamente, argumenta-se que as instituições que dão suporte à iniciativa privada asseguram maior eficiência e engajamento de esforço produtivo nos investimento em capital humano e em pesquisa e desenvolvimento tecnológico.

À medida que os economistas ficaram mais conscientes do papel crucial da tecnologia para o crescimento econômico, tornou-se necessário pensar mais seriamente sobre como incluir a tecnologia nos modelos econômicos. Isso deu origem à teoria “endógena’’ ou do ‘’novo crescimento’’, segundo a qual a tecnologia é o resultado endógeno de uma função de investimento em P&D, bem como investimento em formação de capital humano. (GROSSMAN e HELPMAN, 1991)

65 Ibidem. P. 45-46.

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Estes estudos67 enfatizam duas possíveis fragilidades institucionais que

poderiam ser empecilhos ao desenvolvimento regional. A primeira são as relações de poder em nível local, nos municípios, que seriam no passado bastante influenciadas pelo fenômeno do coronelismo. A segunda seria a apropriação dos governos estaduais e das instituições federais atuantes na região pelas elites locais, que se desviavam de objetivos desenvolvimentistas para gerar benefícios próprios, de forma lícita ou ilícita. Em ambos os fenômenos, a essência era a mesma, o aparato de Estado e seu poder de atuação na economia e na sociedade tinham suas ações distorcidas a fim de gerar benefícios a alguns segmentos sociais cujos interesses poderiam revelar-se contrários ao desenvolvimento. Em consequência dessas distorções institucionais, os investimentos em educação pelo setor público estariam abaixo do socialmente ótimo. A burocracia estatal e os aparatos de fiscalização e arrecadação desenvolveram suas ações para beneficiar empresas de baixo investimento em desenvolvimento tecnológico e recursos humanos, prejudicando, assim, esses investimentos no agregado social. Além disso, a migração de capital para a região também era prejudicada por incertezas geradas pela fragilidade das instituições.68

Algumas outras fontes potencialmente importantes na geração de desigualdades regionais não foram incluídas. Entre elas, cabe destacar: (i) disponibilidade de recursos naturais; (ii) infraestruturas produtivas; (iii) qualidade das instituições (afeta o nível de risco dos investimentos nas diversas regiões e, em consequência, a relação capital-trabalho de equilíbrio). É possível que a correção para

67 Sobre características dos arranjos institucionais como forma de prejuízo, pelo menos parcial, ao

atraso relativo de regiões brasileira. Ver: VILAÇA e CAVALCANTI (1965), CALLADO (1960) e LEAL (1948)

68 BARROS, Alexandre Rands. Desigualdades Regionais no Brasil: Natureza, Causa, Origem e

Soluções. 2012. P. 86. &

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esses fatores geradores seja suficiente para eliminar as desigualdades regionais em relação às demais regiões: norte, sul e centro-oeste.69

Nesse diapasão, realizaremos no próximo capítulo uma análise sobre o processo de consolidação das políticas públicas de desenvolvimento regional adotadas na região amazônica. Afinal, como atribuir valor ao capital natural sem que para isso tenhamos que efetivamente atingir de modo predatório o meio ambiente?

69 Ibidem. P. 50.

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