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O Brasil no contexto de Subdesenvolvimento Latino-americano: o pensamento do CEPAL

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1.3. O Brasil no contexto de Subdesenvolvimento Latino-americano: o pensamento do CEPAL

Após a Segunda Guerra Mundial, as Nações Unidas criaram a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL) que tinha como principais objetivos a realização de estudos voltados ao desenvolvimento econômico da região,

41 McCRAW, Thomas K. Joseph Schumpeter e a Destruição Criativa: O Profeta da Inovação. P. 175.

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42 MAZZUCATO, Mariana. O Estado Empreendedor: Desmascarando o Mito do Setor Público vs. Setor

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identificar os problemas existentes em cada país, como também detectar os principais obstáculos ao desenvolvimento econômico deles e, enfim, formular propostas de políticas desenvolvimentistas, reforçando as suas relações econômicas internacionais.43

Nesse sentido, a influência do pensamento da CEPAL, no debate político brasileiro, foi enorme, entre 1949 e 1964. As teses da CEPAL tiveram grande receptividade, pois davam fundamentação científica para a tradição intervencionista e industrialista existente no Brasil desde 1930. A concepção do Estado como promotor do desenvolvimento, coordenado por meio do planejamento, dando ênfase à integração do mercado interno e à internalização dos centros de decisão econômica, bem como o reformismo social, característicos do discurso Cepalino, foram plenamente incorporados pelos nacional-desenvolvimentistas.44

Sob vários aspectos, o Brasil apresenta, dentro de sua configuração geográfica continental, diversas peculiaridades socioeconômicas e geográficas que o caracterizam como um país heterogêneo e de grandes desigualdades espaciais. As diversidades climáticas, de solo e principalmente de formação histórica e social colaboram bastante para a formação de tais diferenças entre as regiões. A propensão à uniformização estimulada por sistemas legal e político comuns, uma mesma língua e o livre trânsito de pessoas e mercadorias não foram suficientes para eliminar a grande diversidade econômica gerada dentro do território nacional. A disparidade regional é um assunto bastante discutido nacionalmente. Desde antes da criação da SUDENE, ainda na década de 1950, já havia grandes

43 GELCER, Daniel Monteiro. Teoria Furtadiana de Desenvolvimento Econômico e a Ordem

Constitucional Brasileira. 2013. P. 39. &

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discussões sobre esse tema. Elas contaram com a participação de grandes nomes da economia nacional, como Celso Furtado.45

No Brasil, todas as hipóteses que explicam as desigualdades regionais enfatizam a existência de falhas de mercado. Ou seja, assume-se que, se os mercados funcionassem perfeitamente, talvez até pudesse haver desigualdades regionais, mas elas seriam menores do que as existentes. Em resumo, se existem desigualdades regionais claras – e elas não existiriam se não houvesse as falhas de mercado, é razoável concluir, dentro dessa visão, que há falhas de mercado que estão gerando tais desigualdades. Dentro dessa lógica, identifica-las seria o passo fundamental para resolver a questão regional do Brasil. O universo para tal seleção é limitado, mas seria necessário descobrir quais e como atuam nesse caso específico, quando o objetivo for formular políticas que possam eliminá-las ou pelo menos contrabalançá-las.46

A forma como essas hipóteses normalmente são apresentadas, contudo, são falhas, pois normalmente não explicam, de maneira sistemática e rigorosa, como essas desigualdades surgiram ao longo do tempo e por que persistem.47

A medula dessa questão é a seguinte: o Brasil é um extenso território ocupado de modo irregular, apresentando combinações diversas de fatores e recursos, em sistemas econômicos com distintas potencialidades; desenvolver simultaneamente esses sistemas significa dividir em demasia os recursos e reduzir a intensidade média de crescimento do conjunto. Verifica-se,

45 BARROS, Alexandre Rands. Desigualdades Regionais no Brasil: Natureza, Causa, Origem e

Soluções. 2012. P. 20.

46 Ibidem. P. 21-23.

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assim, que é necessário concentrar os recursos escassos nas regiões de maiores potencialidades, a fim de criar um núcleo suficientemente poderoso que sirva de base do desenvolvimento de outras regiões. Mesmo reconhecendo alguma verdade nessa ideia, a formulação geral do problema me parece incorreta. Abandonar regiões de escassos recursos e com rápido crescimento da população é permitir que se criem graves problemas para o futuro do país. Em um plano de desenvolvimento é necessário considerar em conjunto toda a economia nacional.48

Nos anos 90, Brasil contou com um exuberante montante de Investimento Direto Estrangeiro (IDE) entretanto, tais investimentos concentraram-se em aquisições de empresas públicas e privadas nacionais, sobretudo no setor de serviços.

Conforme dados apresentados por Tavares (2000) os investimentos concentraram-se principalmente no setor de energia elétrica (US$ 34,3 bilhões), de telecomunicações (US$ 26,4 bilhões) e o terceiro em importância, o setor financeiro (cerca de US$ 18 bilhões). É relevante levarmos em conta que apesar da expressividade do montante dos investimentos diretos estrangeiros no Brasil, principalmente nos últimos anos da década, não surtiram grande alteração na taxa de investimento que passou de 15,2% em 1991, para apenas 17,2% em 1999. Além disso, outro aspecto estrutural chama atenção: os investimentos diretos, não só geraram elevações consideráveis de remessa de lucros, royalties e direitos de assistência técnica, como também geraram imediatamente, ou seja, nos últimos anos da década de noventa, um vigoroso aumento de importações que em muito contribuíram para os sucessivos déficits na balança comercial, mesmo após a expressiva desvalorização cambial.49

48 FURTADO, Celso. Perspectivas da Economia Brasileira, 1958, p. 53

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Ainda hoje, diante de toda a importância das teorias cepalinas para a formação de um pensamento econômico específico para as peculiaridades dos países subdesenvolvidos da América Latina, não são raras as críticas feitas a elas e a consideração de que elas se acham totalmente ultrapassadas diante do novo contexto econômico mundial da globalização, da necessidade de desregulamentação dos mercados e do enfraquecimento do Estado. Ou seja, é muito comum o retorno dos modernos estudiosos da ciência econômica aos mencionados pressupostos neoclássicos, baseados no discurso da abstração das leis de mercado da oferta e da procura e no binômio escassez-utilidade, esquecendo-se da importância de toda realidade histórica dos países subdesenvolvidos.

1.4 Desigualdades Regionais e os reflexos na Renda Per Capita, Capital Social,