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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observou-se neste trabalho que, numa perspectiva macroeconômica de desenvolvimento nacional, os projetos que orientam - desde o início - a formação econômica na região amazônica, não são os mais adequados, podendo apresentar danos irreparáveis, sejam direitos, como os danos ao meio ambiente e as carências sociais a população local, ou indiretos, num cenário onde a Amazônia procederia com seu desenvolvimento em harmonia com o projeto constitucional de desenvolvimento econômico.

A Amazônia, por ser uma das regiões mais importantes do mundo quando se trata do tema biodiversidade, é pauta essencial para os debates acadêmicos, especialmente quando percebe-se que a nova fronteira da tecnologia e da inovação para o meio ambiente é a biotecnologia.

Quando a tecnologia de satélites permitiu ao homem olhar a Terra a partir do cosmos em outubro de 1957, tomamos consciência da unidade do globo como um bem comum cujo uso deve repousar numa responsabilidade comum. Mas percebemos, também, que a natureza tornara-se um bem escasso colocando-se, então, a questão ecológica como duplo desafio, o da sobrevivência humana e o da valorização do capital natural.135

Constatamos, portanto, que o Brasil não está disposto a segregar sua economia do comércio mundial. A dinâmica econômica não permitiria. O risco de continuar sofrendo os danos da secular doença holandesa136 que expõe o Brasil ao

135 BECKER, Berta. Novos Rumos da Política Regional: Por um Desenvolvimento Sustentável na

Fronteira amazônica. 1997.

136 Doença holandesa refere-se à relação entre a exportação de recursos naturais e o declínio do setor

manufatureiro – acarretando em prejuízos no desenvolvimento da indústria. &

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papel de ‘’quintal’’ do mundo durante um longo período, nos fez refletir sobre o papel da Amazônia nessa dinâmica de processos produtivos.

Existe a necessidade de gerarmos um ecossistema sustentável de empreendedorismo, precipuamente, nesta região. Cortar ‘’laços umbilicais’’ com modelos que não endogeneízam o desenvolvimento e a tecnologia – como é o caso da Zona Franca de Manaus – pode ser o início para vislumbrarmos um modelo integrado ao desenvolvimento nacional, facilitando o comércio, também, com países- fronteira na Amazônia – como é o caso de Venezuela, Peru, Bolívia, Equador, Colômbia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa.

Contudo, percebe-se que reajustes, como nos temas específicos de patentes, acesso aos recursos genéticos, biopirataria, e as novas políticas públicas para os países-fronteira desta região, são necessários. O protocolo de Nagoya137,

aprovado em 2010 no âmbito da ONU e ainda não ratificado pelo Brasil, deve ser um ponto-chave na abertura de diálogos internos sobre o tema.

Por várias razões políticas relacionadas aos interesses do agrobusiness, o processo de ratificação do Protocolo de Nagoya não caminha no Congresso Nacional, escolhendo, em vez disso, priorizar a revisão e implementação de sua nova Legislação de "Acesso e Benefício Compartilhados".

No caso do Protocolo de Nagoia, há pontos controversos, como é o caso do permissão para as instituições estrangeiras acessarem a biodiversidade brasileira, para fins de pesquisa e desenvolvimento, sem precisar se associar a uma instituição nacional, como estabelece a legislação vigente. Apesar disso, avanços também são identificados.

137 O Protocolo de Nagoya sobre Acesso a Recursos Genéticos e a Divisão Justa e Equitativa de

Benefícios decorrentes da sua Utilização para a Convenção sobre Diversidade Biológica, também conhecido como Protocolo de Nagoya sobre Acesso e Participação em Benefícios (ABS) é um acordo complementar de 2010 para a Convenção de 1992 sobre Diversidade Biológica (CDB). O objetivo é a implementação de um dos três objetivos da CBD: o compartilhamento justo e equitativo dos benefícios decorrentes da utilização de recursos genéticos, contribuindo para a conservação e uso sustentável da biodiversidade.

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Tudo se resume a equilíbrio. Não o equilíbrio de mercado. Mas o equilíbrio na percepção que projetos e políticas desenvolvidos nesta região têm reflexos dentro de uma cadeia produtiva que vai desde as pequenas comunidades originárias da Amazônia até as corporações que atuam com o desenvolvimento tecnológico para produtos que tenham como base a biodiversidade.

Ademais, os diretos de patentes e correlatos não são um fim em si mesmo. São, sim, um meio para se promover o desenvolvimento econômico, social e tecnológico do Brasil, incluindo capacitação e transferência de tecnologia - como aliás está determinado no Acordo TRIPs da OMC.

Portanto, revela-se nesta pesquisa que (i) a Amazônia vem sendo objeto de debates por parte do governo brasileiro desde o fim do século XIX; (ii) apesar disto, as medidas instrumentalizadas não geraram na região um desenvolvimento social endógeno e não contribuem para o processo de autonomia tecnológica brasileiro; (iii) assim, os atuais modelos que geram riquezas para a região, quais sejam, a Zona Franca de Manaus (ZFM), a mineração, o agrobusiness e as demais formas de extração da biodiversidade, estão dissociados do projeto nacional de desenvolvimento; (iv) ademais, verifica-se a necessidade de harmonizar ações de exploração do capital natural a partir de modelos que preservem o meio ambiente, mas também gerem crescimento socioeconômico; (v) por fim, a bioindústria surge como uma possibilidade do Estado sistematizar um modelo jurídico-normativo de uma política industrial que harmonize a atuação de grupos econômicos aos preceitos de desenvolvimento sustentável inclusivo e justo na Amazônia.

Algumas conclusões extraídas dos trabalhos serão sintetizadas nas proposições a seguir:

è A biodiversidade brasileira detém estoques biológicos considerados ativos econômicos;

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è Florestas e terras no Brasil são bens públicos e, por isso, são trunfos que estão sob o poder do Estado, que tem autoridade para dispor deles, segundo o interesse da nação;

è A Amazônia torna-se um espaço geopolítico importante para a consecução de projetos voltados para o uso racional do capital natural;

è No que tange a Amazônia Brasileira, existem regiões desconectadas do projeto de desenvolvimento nacional;

è Devemos rever a posição brasileira diante de acordos globais que tratam sobre a biodiversidade, especialmente pelo fato de não termos ratificado no Congresso Nacional o Protocolo de Nagoya – o que ocasionaria perdas substanciais na efetivação da Bioindústria;

è A revolução da biotecnologia é o resultado de toda uma série de medidas legislativas e regulatórias destinadas a realocar a produção econômica nos níveis genético, microbiano e celular, de modo que a vida se incorpore nos processos capitalistas de produção;

è O histórico econômico da região amazônica, desde as economias de saques (atividade extractivista de produtos primários), no período colonial, até o período militar, não culminaram num desenvolvimento endógeno para a região;

è O Parque Industrial de Manaus tem um modelo que não absorve tecnologia e não inova, podendo ser otimizado - sabendo-se o potencial econômico da biodiversidade;

è Apesar das isenções tributárias fornecidas à Zona Franca de Manaus, que custam o equivalente a 0,38% do PIB, esta política parece ser ineficaz e deve ser, pelo menos, reformulada, para que efetivamente contribua para a economia local138;

138 Dado extraído do Relatório do Banco Mundial – ‘’ Um Ajuste Justo - Análise da Eficiência e Equidade do Gasto Público no Brasil”. 2012. Disponível em:

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è Existe a necessidade do Estado brasileiro investir para articular cadeias tecno-produtivas com base na biodiversidade;

è Para o fortalecimento de uma bioindústria, o Brasil deve instituir um Centro Depositário de Material Biológico;

è Ademais, a qualificação da força de trabalho é um dos aspectos- estratégicos para a indústria de biotecnologia;

è Ainda, existe a necessidade de uma flexibilização da Lei de Patentes na área de Biotecnologia: processos, como o de sintetizar moléculas dos recursos genético a partir da biodiversidade, que serve para utilização em processos produtivos, devem ser objetos de políticas públicas para prospectar oportunidades de mercado;

è Para enfrentar a biopirataria, devemos estimular os mecanismos de cooperação internacional para combater esse tipo de conduta sobre a qual se pretende justificar a tutela penal nos planos nacionais e sub-regionais.

Temos neste trabalho um panorama constitucional e infraconstitucional que reforça a necessidade do desenvolvimento na região amazônica. O ordenamento jurídico prevê os caminhos necessários – ainda que necessitem de constantes otimizações – para a implantação de um parque biotecnológico na região amazônica que gere os resultados pretendidos no “desafio furtadiano” – a homogeneização social e a internalização dos centros decisórios – sendo a Biotecnologia, portanto, a verdadeira vocação da Amazônia.

Neste sentido, Benfatti (2014, p. 39), ao analisar o contexto centro-periferia mundial, explica que o desenvolvimento reduzido e dependente da América Latina é um tipo de modelo incapaz de acumular capital ou formar poupança. Esse modelo, na maioria das vezes, importa tecnologia e não a distribui, assim como não distribui de

http://www.worldbank.org/pt/country/brazil/publication/brazil-expenditure-review-report Acesso em: 24/11/2017.

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forma razoável os lucros obtidos, e destaca-se pela grande transferência às multinacionais de parcela considerável dos lucros obtidos.

Ainda assim, o potencial de desenvolvimento das biotecnologias no Brasil ainda não foi alcançado, tornando necessário o aprimoramento das políticas e regulamentações em vigor. O marco regulatório em biotecnologias no Brasil é relativamente complexo, especialmente no que se refere às relações entre pesquisa e patenteamento envolvendo o uso da biodiversidade. Em termos práticos, isto envolve a participação de muitos agentes governamentais, diversas etapas de interveniência, e diferentes interpretações possíveis nos distintos estágios do processo, seja de acesso ao patrimônio genético, do patenteamento, ou da realização em P&D das biotecnologias.139

Em resumo, a biodiversidade, aliada à capacitação técnica, em consonância aos preceitos normativos de um marco-jurídico para bioindústria, podem desenvolver produtos que atendam o mercado nacional e internacional, além de estimular a produção interna do Brasil – em sinergia com outros atores globais da bioindústria.

Assim, quanto maior o desenvolvimento econômico, maior a possibilidade de efetivar instrumentos e políticas para a preservação ambiental. Não existe ascensão tecnológica sem esforço próprio.

Para deixarmos a condição de país subdesenvolvido, temos que exportar produtos com valor agregado mais alto, mas também observar a sociedade local na Amazônia para identificar como esta, em um Sistema Regional de Inovação, poderia contribuir com a produção a partir da biodiversidade dentro de cadeias globais de biotecnologia.

139 ZUCOLOTO e FREITAS. . Propriedade Intelectual e Aspectos Regulatórios em Biotecnologia. 2013.

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