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A propriedade intelectual em prol da biodiversidade: o modelo bioindustrial na Amazônia

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3. Biotecnologia: A verdadeira vocação da Amazônia

3.3. A propriedade intelectual em prol da biodiversidade: o modelo bioindustrial na Amazônia

O fato da economia dar tanta ênfase à inovação no processo de crescimento fez com que, a partir da década de 1980, os formuladores de políticas começassem a prestar muito mais atenção em variáveis como P&D e patentes como indicadores de inovação e, por conseguinte, de crescimento econômico.125

No Brasil, para se conseguir a patente de biotecnologia é necessário cumprir algumas exigências específicas, além dos requisitos já exigidos para outras áreas tecnológicas. No caso de biotecnologias, quando não for possível a descrição do produto envolvido na patente, deve ser encaminhado uma amostra deste material, conforme parágrafo único, Artigo 24, da Lei n. 9.279/1996.126

Art. 24. O relatório deverá descrever clara e suficientemente o objeto, de modo a possibilitar sua realização por técnico no

125 MAZZUCATO, Mariana. O Estado Empreendedor: Desmascarando o Mito do Setor Público vs. Setor

Privado. 2014. P. 58. &

126 ZUCOLOTO e FREITAS. Propriedade Intelectual e Aspectos Regulatórios em Biotecnologia. 2013,

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assunto e indicar, quando for o caso, a melhor forma de execução.

Parágrafo único: No caso de material biológico essencial à realização da prática do objeto do pedido, que não possa ser descrito na forma deste artigo e que não estiver acessível ao público, o relatório será suplementado por depósito de material em instituição autorizada pelo INPI ou indicada em acordo internacional.

Adicionalmente, o Ato Normativo n. 127 em seu item 16 descreve as exigências exclusivas para patentes em biotecnologia, destacando-se127:

(i) O material biológico deverá ser depositado em instituições localizadas no país, devidamente autorizadas pelo INPI, através do credenciamento;

(ii) Na inexistência de instituição localizada no país, autorizada pelo INPI ou indicada em acordo internacional, o depósito poderá ser efetuado em qualquer uma das autoridades de depósito internacional reconhecidas pelo Tratado de Budapeste sobre o reconhecimento Internacional do Depósito dos Micro-organismos para fins de Instauração de Processos em Matéria de Patentes.

(iii) O depósito do material biológico deverá ser efetuado até a data de depósito da patente.

(iv) Os dados quanto ao depósito do material biológico deverão integrar o relatório descritivo.

(v) O relatório descritivo deverá conter, além das especificações contidas no item 15 do próprio ato, as propriedades imprescindíveis da matéria viva necessária à sua completa descrição de acordo com as tecnologias. Há parâmetros específicos para leveduras, fungos e bolores, bactérias, actinomicetos, algas (...) e outras

127 Ibidem. p. 164.&

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matérias vivas passíveis de serem cultivadas in vitro que não estejam incluídas nas categorias anteriores.

Ademais, outro instrumento normativo que deve ser observado é a resolução n.144, do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual, que foi editada em 2015, no intuito de instituir as diretrizes de exames de pedidos de patentes na área de biotecnologia.

No Brasil, o relacionamento entre empresas de biociências e ICT apresenta características que o diferencia de nações desenvolvidas. Enquanto nos países desenvolvidos a interação é um fenômeno natural, onde a preocupação atual é analisar a eficácia dos instrumentos de transferência de tecnologia e como aperfeiçoá- la, no Brasil ainda se discute se deve ou não haver a interação, se as patentes devem ou não ser compartilhadas, e sobre as dificuldades envolvidas.128

Nesse sentido, Mazzucato afirma que existe um mal-entendido em relação ao papel das patentes em inovação e crescimento econômico. O crescimento exponencial de patentes e a falta de relação cada vez maior entre esse crescimento e a ‘’inovação’’ real (isto é, novos produtos e processos) ocorreram por várias razões.129

Em primeiro lugar, os tipos de invenções que podem ser patenteados se ampliaram a ponto de incluir pesquisas financiadas com recursos públicos, ferramentes de pesquisa na fonte e até mesmo ‘’descobertas’’ de objetos de estudo existentes, como os genes. O Bayh-Dole Act, de 1980, o qual permitiu que pesquisas financiadas com recursos públicos fossem patenteadas em vez de permanecerem em domínio público, estimulou o surgimento da indústria da biotecnologia, pois quase

128 STAL e FUJINO, 2013. A Interação universidade-empresa no Brasl: o que mudou em 30 anos?

129 MAZZUCATO, Mariana. O Estado Empreendedor: Desmascarando o Mito do Setor Público vs. Setor

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todas as novas empresas do setor eram spin-offs de laboratórios universitários com financiamento pesado do Estado.

Além disso, o fato de o capital de risco muitas vezes usar as patentes como sinal para o investimento mostra que aumentou o valor estratégico das patentes para as empresas que buscam atrair financimento.

No caso brasileiro, as políticas adotadas atualmente em relação as licenças de patentes restringem a inserção do país no cenário de player global, construindo suas decisões e gerando inovações. A instituição deve ser reavaliada de modo que atue em conjunto com a ordem econômica constitucional.

O Instituto Nacional Propriedade Intelectual (INPI), que é o responsável pela gestão de patentes no Brasil, demora, em média, 11 anos para uma concessão de patente.

A partir de 2016, o INPI passou a oferecer o exame prioritário de pedidos relacionados a tecnologias verdes.

O programa Patentes Verdes tem como objetivo contribuir para as mudanças climáticas globais e visa a acelerar o exame dos pedidos de patentes relacionados a tecnologias voltadas para o meio ambiente (Resolução nº 175/2016).

Com esta iniciativa, o INPI também possibilita a identificação de novas tecnologias que possam ser rapidamente usadas pela sociedade, estimulando o seu licenciamento e incentivando a inovação no país.

O programa piloto Patentes Verdes teve seu início em 17 de abril de 2012 e sua terceira fase encerrou em 16 de abril de 2016. A partir de 06 de dezembro de 2016, o INPI passou a oferecer o

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exame prioritário de pedidos relacionados a tecnologias verdes como serviço.130

O principal motivo é a dinâmica das inovações tecnológicas. No prazo de 11 anos, a tecnologia a ser patenteada poderá se tornar obsoleta, e o pior: prejudicar a criação de novas tecnologias por força do monopólio jurídico sobre aquela inovação, por um período de 20 anos. Não é benéfico para o inventor, tampouco para a sociedade.

Nesse sentido, através do programa Patentes Verdes, idealizado pelo INPI, é possível que exista maior interasse dos setores público e privado na realização de projetos, notadamente no âmbito da Amazônia Brasileira, sempre buscando coibir utilização irracional dos recursos das florestas.

Algumas parcerias são feitas no sentido de otimizar estes processos produtivos de novas tecnologias-verde, como é o caso do Observatório de Inovação em Bitecnologia, que deverá ser criado no Brasil. Vejamos:

Representantes do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e da Delegação da União Europeia (UE) deram início às articulações para a criação do Observatório de Inovação em Biotecnologia no Brasil e a sua interação com o Observatório de Bioeconomia da UE. A iniciativa tem entre os seus objetivos prospectar oportunidades de desenvolvimento tecnológico em biotecnologia no Brasil, mapear desafios, avaliar o potencial mercadológico de tecnologias e identificar gargalos e soluções para minimizar os riscos associados à inovação na área. A União Europeia mantém, desde 2013, o Observatório de Bioeconomia (Bioeconomy Observatory), coordenado pelo JRC (Joint Research Centre), o serviço de ciência da Comissão Europeia. Há interesse tanto do Brasil como da UE em promover o

130 Disponível em: http://www.inpi.gov.br/menu-servicos/patente/patentes-verdes-v2.0 , acesso em:

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intercâmbio de informações e o diálogo entre especialistas na área de biotecnologia e bioeconomia a fim de consolidar e fortalecer iniciativas locais. Representantes de ambas as partes já estão trabalhando na construção de um plano de ação conjunto. "O observatório vai planejar e acompanhar tudo que vai acontecer em termos de biotecnologia e bioeconomia, um setor que faz parte do plano de ação estratégico do Brasil e que representará um salto tecnológico com mais impacto do que foi a transição do sistema analógico para o digital", explicou Oswaldo Leal Moraes, do MCTI. Segundo o representante do MCTI, existem diferentes setores - tanto acadêmicos como industriais - envolvidos com o processo de desenvolvimento de programas de biotecnologia no Brasil, a exemplo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A expectativa é que o observatório seja implementado até 2015 e represente um pontapé para alavancar o setor.131

Em relação ao patenteamento, há ênfase em processos biotecnológicos, e não em produtos. Adicionalmente, para se conseguir a patente de biotecnologia no Brasil é necessário cumprir algumas exigências específicas, além dos requisitos já exigidos para outras áreas tecnológicas. No caso de biotecnologias, quando não for possível a descrição do ente envolvido na patente, deve-se encaminhar uma amostra do material.132