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CAPÍTULO II ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2.2. A Educação Superior a Distância no Brasil: Regulamentação e Políticas Públicas

2.2.1. A constituição legal do Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB)

Somente após dez anos de reconhecimento da EaD no Brasil na LDB – Lei nº 9.394/1996, o Decreto nº 5.800, de 08 de junho de 2006, do Poder Executivo, instituiu o

Sistema Universidade Aberta do Brasil. A instituição do Sistema UAB se deu no âmbito do Fórum das Estatais pela Educação, constituído com representantes do Poder Executivo, congregando oito Ministérios e 21 empresas estatais brasileiras e foi instituído no dia 21 de setembro de 2004, por meio da assinatura de um protocolo de cooperação para a discussão e potencialização das políticas públicas na educação (Faria, 2011).

Em dezembro de 2005, o MEC, através da Secretaria de Educação a Distância, publicou o Edital nº 1, incentivando às prefeituras municipais e aos governos estaduais a proposição de projetos para sediarem polos de apoio presencial e convidando as Instituições Federais de Ensino superior a oferecerem propostas de cursos na modalidade à distância. “Este edital estabelecia as bases de um acordo de cooperação entre as três esferas públicas, estadual, municipal e federal, com o objetivo de implementação de uma ação pública de educação superior a distância sob o nome de Sistema Universidade Aberta do Brasil-UAB” (Costa e Pimentel, 2009: 76-77).

Na regulamentação da EaD no Brasil, a instalação do polo presencial é exigida por lei para a obtenção da certificação oficial de proposta de graduação em modelos de Educação a Distância. No Decreto 5.622, de 2005, o polo presencial é definido como “a unidade operacional, no País ou no exterior, para o desenvolvimento descentralizado de atividades pedagógicas e administrativas relativas aos cursos e programas ofertados a distância” (Presidência da República, 2005) conforme dispõe o art. 12, X, c, do citado decreto. A partir dele, os polos presenciais são considerados condicionantes obrigatórias para a oferta e execução da Educação Superior a Distância no Brasil.

Essa exigência é reforçada pela Portaria Normativa n°2 de 01/2007, que determina no Art. 3, § 3º, que os cursos em que as atividades presenciais forem executadas “fora da sede, em polos de apoio presencial, devem requerer o credenciamento prévio do polo, com demonstração de suficiência de estrutura física e tecnológica e de recursos humanos para a oferta de curso” (Ministério da Educação, 2007a).

Art. 1º[...]

§ 2º O pedido de credenciamento para EAD será instruído com os documentos necessários à comprovação da existência de estrutura física e tecnológica e recursos humanos adequados e suficientes à oferta de Educação Superior a distância, conforme os requisitos fixados pelo Decreto nº. 5.622, de 2005 e os referenciais de qualidade próprios.

Art. 2º[...]

§ 4º O pedido de aditamento será instruído com documentos que comprovem a existência de estrutura física e recursos humanos necessários e adequados ao funcionamento dos polos, observados os referenciais de qualidade [...] (Ministério da Educação, 2007a).

Assim, examinando as bases legais, a partir de 2007, é exigência no Brasil que os polos de apoio presencial, sejam parte integrante da estrutura dos cursos de graduação que são ofertados no modelo de educação a distância.

Ainda conforme o Artigo 2 da Portaria Normativa n°2, a ampliação da abrangência de atuação dos programas de EaD de uma instituição, fica restrita à expansão da rede de polos de apoio presencial. Esta ampliação pode ser oficializada por meio de aditamentos ao ato de credenciamento na medida em que, após avaliação documental, haja a “comprovação da existência de estrutura física e recursos humanos necessários e adequados ao funcionamento dos polos, observados os referenciais de qualidade” (Ministério da Educação, 2007a).

A prioridade do Sistema UAB seriam os cursos na área de formação de professores para a educação básica, e deveriam seguir os referenciais de qualidade para a educação a distância da SEED. Na seleção dos polos presenciais, deveria ser observada a distância mínima de 100 km entre dois polos. O edital de lançamento da UAB estabelecia que

os cursos seriam integralmente financiados pelo MEC e a implementação dos polos de apoio presencial deveriam ser realizados e custeados pelo município ou pelo estado, conforme se tratasse de um polo municipal ou estadual. Coincidindo com o esforço de seleção de cursos e polos promovidos no âmbito do edital de lançamento do Sistema Universidade Aberta do Brasil, o poder executivo publicou o Decreto Nº. 5.800/2006 estabelecendo a UAB como um programa da SEED. (Costa e Pimentel, 2009: 77)

Os Decretos nº 5.622 de 19 de dezembro de 2005 e o nº 6.303 de 12 de dezembro de 2007, “regulamentaram novamente o artigo 80 da LDB em temas como a ampliação dos momentos presenciais, incluindo avaliações, estágios obrigatórios, defesa dos trabalhos de conclusão de cursos e atividades de laboratório, aproximando [...] a experiência brasileira do modelo espanhol de EaD” (Costa e Duran, 2012: 275).

Em dezembro de 2006, a SEED publicou um segundo edital permitindo a participação de universidades públicas estaduais, na oferta de cursos no Sistema UAB e em março de 2007, os primeiros cursos da UAB começaram a ser implementados (Costa e Pimentel, 2009).

Em 2007, as atividades do Sistema UAB, foram transferidas da SEED para a CAPES, para a Diretoria de Educação a Distância (DED), por meio da Lei no. 11.502, de 11 de julho de 2007. De acordo com o artigo 25 do Estatuto da CAPES, aprovado pelo Decreto nº 6.316, de 20 de dezembro de 2007, a DED passa a ter as seguintes atribuições:

I - fomentar as instituições públicas de ensino superior e polos municipais de apoio presencial, visando a oferta de qualidade de cursos de licenciatura na modalidade a distância;

II - articular as instituições públicas de ensino superior aos polos municipais de apoio presencial, no âmbito da Universidade Aberta do Brasil - UAB;

III - subsidiar a formulação de políticas de formação inicial e continuada de professores, potencializando o uso da metodologia da educação a distância, especialmente no âmbito da UAB;

IV - apoiar a formação inicial e continuada de profissionais da educação básica, mediante concessão de bolsas e auxílios para docentes e tutores nas instituições públicas de ensino superior e tutores presenciais e coordenadores nos polos municipais de apoio presencial; e V - planejar, coordenar e avaliar, no âmbito das ações de fomento, a oferta de cursos superiores na modalidade a distância pelas instituições públicas e a infraestrutura física e de pessoal dos polos municipais de apoio presencial, em apoio à formação inicial e continuada de professores para a educação básica (Presidência da República, 2007).

Por meio do Decreto nº 7.480 de 16 de maio de 2011, o MEC faz uma reestruturação administrativa e a SEED é extinta, tendo suas funções assumidas por outros órgãos no Ministério. A extinção da SEED implica, ainda, na transferência da Diretoria de Regulação e Supervisão da Educação a Distância, integrante da SEED, para a Secretaria de Educação Superior (SESU). Essas mudanças políticas encaminham para o delineamento da EaD e sua política nacional (Faria, 2011).

O quadro 2.03 sistematiza os documentos legais das políticas de EaD no Brasil apresentando uma idéia geral das regulamentações.

Quadro 2.03 - Arcabouço legal da EaD no Brasil

Data Documento Ementa/ Assunto/ Objetivo

11/08/1971 Lei nº 5.692 (§ 25 e §64)

Fixa diretrizes e bases para o ensino de 1° e 2º graus  Torna possível a utilização de recursos alternativos para atingir maior no. de alunos.

25/03/1974 PL nº 1.878/74 Institui a Universidade Aberta (Arquivado em 08/03/1975)

10/06/1977 PL nº 3.700/77 Institui a Universidade Aberta (Reabertura do PL 1878/1974) - Arquivado 19/08/1983 PL nº 1.751/83 Autoriza o Poder Executivo a instituir, na educação brasileira, o sistema de "Universidade Aberta” (Arquivado) 16/05/1987 PL nº 203/87 Dispõe sobre a criação da Universidade Nacional de Ensino a Distância

(Arquivado)

16/03/1990 PL 4.592-C/90 Dispôe sobre a Universidade Aberta do Brasil 27/05/1996 Decreto 1.917 Instituição da SEED/MEC

20/12/1996 Lei nº 9.394/96 Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), reconhecendo a EaD como modalidade de ensino (art. 80).

10/02/1998 Decreto 2.494 Regulamenta o artigo 80 da LDB 9.394

07/04/1998 Portaria 301 Normatiza procedimentos de credenciamento de Instituições para oferta de cursos a distância

27/04/1998 Decreto 2.561

Altera a redação dos arts. 11 e 12 do Decreto n.º 2.494, de 10 de fevereiro de 1998, que regulamenta o disposto no art. 80 da Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

09/01/2001 Lei nº 10.172 Regulamenta o PNE (2001-2010), com as diretrizes e metas para fomento e expansão da EaD.

03/04/2001 Resolução 01 Normas para o funcionamento dos cursos de pós-graduação.

18/10/2001 Portaria 2253 Autoriza a aplicação de disciplinas na modalidade a distância em cursos presenciais.

06/02/2002 Portaria 335/2002

Institui a primeira comissão de especialistas para discutir amplamente a questão dos referenciais de qualidade para a educação a distância.

14/04/2004 Lei nº 10.861 Institui o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior – SINAES 10/12/2004 Portaria 4.059 Autoriza a oferta de disciplinas utilizando a Educação a Distância em cursos

presenciais e revoga a Portaria 2253

29/12/2004 Portaria 4.361 Revoga a Portaria 301 e normatiza procedimentos de credenciamento de Instituições para oferta de cursos a distância.

19/12/2005 Decreto nº 5.622

Regulamenta o artigo 80 da LDB 9394/96 que trata da EaD no nível superior e revoga a Decreto 2494 e o Decreto 2561.

09/05/2006 Decreto 5.773 Estabelece os princípios da regulação, supervisão e avaliação de IES e cursos superiores de graduação e sequenciais no sistema federal de ensino.

08/06/2006 Decreto 5.800 Dispõe sobre a criação do Sistema Universidade Aberta do Brasil 10/01/2007 Portaria

Normativa 02

Dispõe sobre os procedimentos de regulação e avaliação da educação superior a distância e determina a necessidade do credenciamento prévio do polo para oferta de cursos.

08/06/2007 Resolução 01 Trata das normas para os cursos de pós-graduação em nível de especialização e altera a Resolução 01 de 03 de Abril de 2001

11/07/2007 lei nº. 11.502 Amplia a competência da CAPES. 13/09/2007

Parecer CNE/CES 195/2007

Diretrizes para a elaboração, pelo INEP, dos instrumentos de avaliação para credenciamento de IES para a oferta de cursos superiores na modalidade à distância.

07/11/2007 Portaria 1047 Aprova diretrizes para os instrumentos de avaliação para o credenciamento de IES e Polos de Apoio Presencial para a modalidade educação a distância.

07/11/2007 Portaria 1051 Aprova o instrumento de avaliação do INEP para autorização de curso superior na modalidade a distância.

12/12/2007 Decreto nº 6.303/2007

Altera o Decreto 5622 e o Decreto 5773 e estabelece exigência de polos presenciais para a EaD.

12/12/2007 Portaria MEC nº 40/2007

Institui o e-MEC, sistema eletrônico de fluxo de trabalho e gerenciamento de informações relativas aos processos de regulação da educação superior no sistema federal de educação (revisada em 2010).

20/12/2007 Decreto 6316 Estipula as atribuições da DED/CAPES no âmibito do Sistema UAB. 02/04/2009 Portaria nº 318

do MEC

Estabelece a UAB como um programa permanente da Diretoria de Educação a Distância da CAPES, transferindo a operacionalização da UAB para a competência da CAPES

16/05/2011 Decreto nº 7.480/2011

Reestrutura o setor responsável no MEC pela ativação, supervisão e regulação em EaD, extinção da SEED/MEC e transferência das diretorias para a SERES/MEC. 25/06/2014 Lei nº 13.005 Aprova o Plano Nacional de Educação PNE.

10/12/2015 Parecer CNE/

CES 564/2015

Diretrizes e Normas Nacionais para a oferta de Programas e Cursos de Educação Superior na Modalidade a Distância

11/03/2016 Resolução

CNE/CES 01

Estabelece Diretrizes e Normas Nacionais para a Oferta de Programas e Cursos de Educação Superior na Modalidade a Distância (Novo marco regulatório da EaD)

Fonte: Elaborado pela autora a partir de Pimentel (2006); Possoli (2012); http://www.camara.gov.br; http://www.capes.gov.br/legislacao;

Todo esse processo de normatização da Educação a distância no Brasil através dos decretos e portarias estipuladas pelo MEC e pelo CNE, contribuiu para que a modalidade se qualificasse, possibilitando, principalmente, o desenvolvimento de cursos de formação de professores na modalidade a distância em todo o País, atendendo a uma demanda governamental neste sentido (Litto, 2009; Costa e Duran, 2012). A “Universidade Aberta do Brasil foi uma, senão a principal, das iniciativas governamentais nesse campo” (Costa e Duran, 2012: 276).