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CAPÍTULO II ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2.4. Indicadores e Referenciais de Qualidade para a Educação Superior a Distância

2.4.2. Indicadores Internacionais de Qualidade em Educação a Distância

No contexto internacional, vários países, preocupados com a qualidade das ofertas de graduação a distância, buscam indicadores e mecanismos capazes de garantir a qualidade dos cursos nessa modalidade. Um estudo sobre a qualidade em Educação a Distância no mundo realizado por Kanwar e Koul (2006) sugere que a base de uma cultura de qualidade em EaD deve estar apoiada em três dimensões:

1. Dimensão Nuclear: engloba os aspectos essenciais da EaD que aparecem no núcleo da garantia de qualidade, como metodologia de ensino, gestão pedagógica, serviços de apoio ao estudante e avaliação contínua, todos com enfoque no estudante e na aprendizagem.

2. Dimensão Sistêmica: diz respeito aos fatores que compreendem o sistema de EaD, como uma clara política estatal para adesão aos regimes de garantia de qualidade e sua promoção; uma liderança responsável com o compromisso da instituição, com a qualidade do pessoal, dos produtos, processos e serviços; uma gestão que defenda a inovação, buscando melhorar o que for necessário; e um acordo participativo interno para conduzir e manter o processo de garantia de qualidade.

3. Dimensão do Recurso: refere-se aos fatores como habilidade técnica e acadêmica, recursos de aprendizagem, infraestrutura e tecnologias, incluindo a aplicação das Tecnologias de Informação e Comunicação.

Baseando-se nas dimensões para uma qualidade em EaD sugeridas por Kanwar e Koul (2006), nos indicadores de qualidade da UNED da Espanha e da Open University da Inglaterra (grandes referências do ensino superior a distância na Europa) e nos referenciais de qualidade do MEC para oferta de cursos de graduação a distância, Netto, Giraffa & Faria (2010) definiram 14 “indicadores de qualidade” (Quadro 2.06) para avaliação de

Quadro 2.06 –– Indicadores de qualidade em EaD

Fonte: Netto, Giraffa & Faria (2010: 99)

Conforme as autoras citadas, “a questão da qualidade do curso passa pela consideração de alguns elementos que auxiliam a agregar qualidade ao projeto” (Netto, Giraffa & Faria, 2010: 100). O diferencial dos indicadores propostos por Netto, Giraffa & Faria (2010) é que foram construidos a partir da análise das métricas utilizadas para mensurar qualidade em Educação a Distância no contexto internacional e nacional (especialmente as recomendações do MEC). Dessa forma, constituem-se em um referencial significativo para organização e/ou avaliação dos cursos nessa modalidade de ensino.

No quadro 2.07, apresentamos resumidamente os elementos ponderados pelas autoras para cada indicador, que podem ser considerados para a elaboração de cursos de graduação em outras áreas.

Quadro 2.07 – Síntese dos Indicadores Internacionais de Qualidade em EaD

Indicador Descrição

Perfil Docente

Para um professor atuar com qualidade na Educação a Distância precisa ter competência técnica em relação ao uso de computadores, em metodologias de EAD, organização, disciplina e auto-regulação, disponibilidade, flexibilidade, presença virtual constante, pré- disposição para a interatividade, amplo conhecimento do conteúdo de suas aulas e dos recursos virtuais, habilidade para ler e escrever em meio digital. Além dessas, capacidade de pensar sobre sua prática, uma vez que deverá abrir mão das “certezas” do paradigma tradicional; e rapidez na solução de problemas na modalidade EAD, de forma a fomentar um ambiente social amigável, essencial à aprendizagem a distância.

Proporção alunos/tutor

Além da qualificação docente dos tutores, é preciso pensar nas condições de trabalho e na garantia de atendimento personalizado aos alunos. Para que as interações sejam favorecidas numa sala de aula virtual de forma que o aluno tenha um atendimento individualizado e um acompanhamento durante sua aprendizagem, a proporção adequada de alunos por tutor deve ser de, no máximo, 30/1. Essa proporção, além de agregar qualidade a um curso a distância, ajudaria a acabar com a idéia preconceituosa de a EaD ser sinônimo de uma educação massificada.

Modelagem do Ambiente

Virtual

Para que um ambiente virtual se configure como um espaço de aprendizagem eficaz (estabelecendo uma comunidade virtual) deve ser bem planejado, “amigável”, de fácil manuseio, auto-explicativo e ter os recursos de comunicação priorizados. É importante que os ambientes dos cursos sejam estruturados de forma que propiciem espaços de aprendizagem onde o aluno não só receba a informação vinda do professor, mas, também construa o conhecimento na interação com os seus pares (equipe de apoio do curso, colegas e professores) suportados pelas ferramentas interativas disponibilizadas.

Interatividade

Um curso a distância de qualidade deve ser um espaço que privilegie a cooperação/colaboração e a construção de uma prática social com condições de favorecer o processo de ensino e de aprendizagem. Assim, para que uma sala de aula virtual se torne rica e produtiva em aprendizado, é preciso, tanto do professor quanto do aluno, presença virtual constante e postura interativa. A aprendizagem efetiva só ocorre na interação, na relação com o outro e com o objeto de conhecimento, sendo essencial a construção de vínculos na relação pedagógica entre todos os envolvidos e um contexto que propicie problematizações e discussões entre os alunos e professores.

Material Didático

A escolha do material didático a ser utilizado requer comprometimento e desejo de pensar uma proposta pedagógica capaz de satisfazer as necessidades do aluno. Um curso a distância deve apresentar os materiais didáticos em formato web (disponíveis na Internet), impresso e em multimídia (CD e DVD). Essa variedade de formatos se justifica se levarmos em conta os diferentes tipos de aprendizagem e a heterogeneidade da realidade de cada aluno, considerando-se o país como um todo. Portanto, um projeto de qualidade em EaD deve observar que os alunos aprendem de formas diferenciadas e, para isso, é necessário diversificar as estratégias e os materiais utilizados. É preciso pensar os materiais didáticos para EaD de uma forma coerente com os novos parâmetros da Educação.

Laboratórios virtuais

Na modalidade à distância, os laboratórios virtuais são muito importantes para o processo de ensino e aprendizagem, pois diversificam as estratégias pedagógicas e possibilitam uma maior interação com o material didático. A vantagem de utilizar laboratórios virtuais na EaD está no fato deles poderem ser disponibilizados por meio de uma mídia eletrônica (Web e o CD-ROM) e por meio de ambientes virtuais de aprendizagem, possibilitando aos alunos o acesso aos recursos de experimentação sem restrições de tempo e limitações de espaço dos laboratórios reais. Para agregar qualidade aos cursos na modalidade a distância é preciso “que os organizadores pensem em criar objetos de aprendizado estimulantes, como animações, simulações, formas que façam o aluno entender a concretização daquele conhecimento” (Litto, 2009: 25).

Laboratórios Didáticos presenciais

Na oferta de cursos de graduação a distância, é exigência do MEC que alguns projetos de cursos contem com uma infraestrutura física presencial. Os laboratórios didáticos presenciais são fundamentais no processo de ensino e de aprendizagem, pois aproximam os

adquiridas pelo meio virtual. Enquanto não houver possibilidade de simular na forma virtual todas as experimentações exigidas pelas diversas áreas do conhecimento, os laboratórios didáticos presenciais ainda serão essenciais.

Avaliação

Um curso a distância de qualidade deve considerar no seu projeto, no que diz respeito à avaliação, as especificidades do aluno, sua trajetória, seus conhecimentos prévios, suas expectativas, suas dificuldades e potencialidades e reunir as possibilidades de apoio ao aluno durante todo o processo. Como a legislação em EaD, no Brasil, exige que seja realizado avaliação presencial, a avaliação somativa tem que ser adotada, mas sabendo-se que esta produz um resultado parcial do processo de aprendizagem. Essa é uma prática que deve ocorrer de forma integrada com a avaliação formativa, que tem como característica a ocorrência continuada e processual, levando em consideração os interesses dos alunos, suas experiências e reais necessidades.

Equipe de Apoio

Para que o curso possa ser desenvolvido a distância é de fundamental importância a atuação da equipe multidisciplinar. Nesse sentido, a estrutura e o acesso à equipe de apoio é um fator determinante para a qualidade de um curso virtual. A EaD, da forma como é concebida atualmente, é permeada por processos, métodos e técnicas em que a equipe exerce a função de mediação na relação professor-aluno, aluno-aluno, objetivando uma comunicação bidirecional mediatizada através de tecnologias adequadas. Uma das funções da equipe de apoio é minimizar as dificuldades iniciais daqueles alunos que não estão muito preparados para a transposição do mundo real para o mundo virtual, desempenhando um papel importante em relação à prevenção da evasão.

Encontros Presenciais

A legislação da EaD no Brasil exige momentos presenciais destinados para realização de provas. Porém, o quantitativo de encontros presenciais não expressa, necessariamente, a qualidade de um curso a distância. O que vai determinar a qualidade de um projeto nessa modalidade é a proposta didático-pedagógica, a metodologia utilizada e os processos de mediação desenvolvidos. A periodicidade dos encontros presenciais (semanal, quinzenal, bimestral, etc.) deve ser determinada no Projeto Pedagógico do curso pelo atendimento aos preceitos legais, considerando-se que o aluno que procura um curso a distância, muitas vezes, tem dificuldade de se deslocar.

Estágios

Considerando-se que no Ensino Superior, o contato direto com a prática profissional e com contextos reais de trabalho acontece no âmbito dos estágios curriculares, disciplina que integra o plano de estudos de vários cursos, este indicador deve ser agregado á avaliação da qualidade de todos os cursos, e não apenas para as licenciaturas (foco das autoras). A disponibilização pela coordenação do curso, de uma lista de locais conveniados para escolha pelo estudante, agrega qualidade num curso em EAD. O fato da IES fornecer uma lista de locais conveniados assegura que a prática seja realizada de acordo com os objetivos definidos nos Projetos Pedagógicos dos cursos e garante algum controle sobre a qualidade e a seriedade dos conveniados.

Biblioteca Digital

Segundo o MEC, um polo de apoio presencial deve apresentar uma estrutura física mínima que contemple laboratórios didáticos, biblioteca, laboratório de informática, entre outros. A biblioteca digital é um importante instrumento para agregar qualidade a um curso. Uma das vantagens da biblioteca digital é facilitar o acesso aos acervos virtuais, eliminando as barreiras físicas e as fronteiras geográficas. Nesse sentido, esse tipo de recurso possibilita ao aluno distante ter acesso aos materiais de pesquisa, de forma virtual, com a mesma qualidade de atendimento que um aluno presencial.

Biblioteca Presencial

Mesmo que um curso contemple uma biblioteca digital com acervo atualizado, amplo e representativo de livros e periódicos, compatível com as disciplinas dos cursos ofertados, e com materiais disponíveis em diferentes formatos de mídias, há a necessidade de um espaço físico nos polos presenciais. O aluno precisa ter acesso a um acervo de qualidade presencialmente, na cidade onde está cursando a graduação.

Laboratórios de Informática

Um projeto de qualidade em EAD precisa oferecer laboratório de informática de livre acesso com estrutura compatível com o número de estudantes atendidos, equipamentos modernos e atualizados, acesso à Internet de banda larga e recursos multimídias. Esse espaço físico é uma forma de garantir que o aluno tenha acesso aos ambientes virtuais de aprendizagem e à biblioteca digital.