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CAPÍTULO III – O CENÁRIO DA INVESTIGAÇÃO

3.3. Estudo de Caso múltiplo: a estratégia de pesquisa

Yin (2005) entende que a opção por realizar estudos de caso nasce da necessidade de estudar fenômenos sociais complexos, devendo ser utilizados quando as condições contextuais podem ser pertinentes na investigação. Essa importância dada ao contexto por Yin (2005: 32) está claramente explícita na sua definição de estudo de caso:

Um estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenómeno contemporâneo dentro do seu contexto de vida real, especialmente quando os limites entre o fenómeno e o contexto não estão claramente definidos.

Merriam (1998: 29-30) aponta como características fundamentais dos estudos de caso qualitativos: particulares, visto que são focados numa situação particular, acontecimento, programa ou fenômeno; descritivos, pois o produto final se apresenta como uma descrição “rica” do fenômeno em estudo; heurísticos, já que conduzem à compreensão do fenômeno a ser estudado; indutivos, pois a maioria destes estudos são baseados no raciocínio indutivo; e holísticos, tendo em conta que buscam um entendimento integral dos fenômenos, atendendo a realidade na sua globalidade.

Além das características supracitadas, o estudo de caso requer múltiplas fontes de evidência, utiliza a triangulação das informações com outro resultado e se beneficia de proposições teóricas anteriores que guiem a coleta e análise dos dados (Yin, 2009).

Segundo Yin (2005) a proposta da aplicação de um método em forma de um estudo de caso, deve-se pelo fato de permitir ao pesquisador mais de uma forma de coleta dos dados que o leve a obter resultados que possam traduzir-se de forma significativa o objeto estudado. Acrescenta ainda que “como esforço de pesquisa, o estudo de caso contribui, de forma inigualável, para a compreensão que temos de fenômenos individuais, organizacionais, sociais e políticos” (Yin, 2005: 21)

Bogdan e Biklen (1994) apresentam uma classificação dos estudos de caso de acordo com o número de casos em estudo: os estudos de caso únicos baseiam-se apenas no estudo de um único caso. Por outro lado, os estudos de caso múltiplos são baseados no estudo de mais de um caso e podem cobrir uma grande variedade de formas, destacando- se os estudos de caso comparativos em que “dois ou mais estudos de caso são efetuados e depois comparados e contrastados” (Bogdan e Biklen, 1994: 97).

Neste sentido, Stake (1994: 237) destaca que um estudo de caso coletivo ”é um estudo alargado a vários casos, similares ou não, escolhidos porque a sua compreensão irá levar a um melhor entendimento, até a uma melhor teorização, acerca de uma ainda maior coleção de casos”.

Com relação às unidades de análise, Yin (2009) propõe quatro tipos de estudos de caso, conforme representados no quadro 3.01: Tipo 1 – um caso único com uma unidade de análise; Tipo 2 – um caso único com múltiplas unidades de análise “embedded”; Tipo 3

– estudos de casos múltiplos com apenas uma unidade de análise; Tipo 4 – estudos de casos múltiplos com múltiplas unidades de análise.

Quadro 3.01 - Design de Estudos de Caso

Fonte: (Yin, 2009)

Yin (2005) retrata as características gerais do desenho de estudos de caso, a partir do princípio que os casos podem ser únicos ou múltiplos e que podem, simultaneamente, ser também, holísticos (com uma unidade de análise – Tipo 3) ou incorporados (com várias unidades de análise – Tipo 4). Segundo Yin (2009: 50), os estudos de caso holísticos analisam a natureza global de um fenômeno, organização ou programa, enquanto o estudo de caso “embedded” pode envolver mais de uma unidade de análise, ocorrendo quando é dada atenção a uma ou várias subunidades dentro de um caso.

Para Yin (1993), além de serem único ou múltiplos, os estudos de caso também podem ser exploratórios, descritivos ou explanatórios. O autor apresenta um critério de classificação que engloba seis tipos diferentes de estudos de caso, conforme demonstrado no quadro 3.02, a seguir.

Quadro 3.02 - Tipos de estudos de caso

Únicos Múltiplos

Exploratórios Exploratórios únicos Exploratórios múltiplos Descritivos Descritivos únicos Descritivos

múltiplos Explanatórios Explanatórios únicos Explanatórios

múltiplos Fonte: (Yin, 1993)

Os estudos exploratórios têm como objetivo primeiro a definição de questões ou hipóteses para uma investigação posterior, constituindo-se em uma ação preliminar que antecede a realização de uma investigação subsequente. Estes estudos pretendem fornecer algum apoio para a teorização. Por outro lado, os estudos descritivos retratam a descrição completa de um fenômeno inserido no seu contexto. Já, os estudos explanatórios buscam informação que irá possibilitar a determinação de relações de causa e efeito, isto é, buscam identificar a causa que melhor explica o fenômeno estudado e as suas relações causais.

Yin (2005) alerta que, ao fazer um estudo múltiplo de casos, será importante verificar quais lugares ou pessoas proporcionarão melhor riqueza de dados e consequentemente, propiciarão melhor cruzamento de casos. Deve-se decidir se os casos múltiplos representam casos confirmatórios (presumíveis replicações do mesmo fenôme- no), casos contrastantes (como por exemplo, um caso de sucesso e outro de insucesso) ou casos teoricamente diferentes (por exemplo, um caso de escola primária e um caso de escola secundária). Reforça ainda que, com três ou mais casos, será importante incluir alguma variação geográfica, étnica, de tamanho e outras.

Quanto à opção por casos múltiplos, Yin (2005: 384) enfatiza: “Ter casos múltiplos pode ajudar a reforçar os achados de todo o estudo – porque os casos múltiplos podem ser escolhidos como replicações de cada caso, como comparações deliberadas e contrastantes, ou variações com base em hipóteses”. Dessa forma, os casos múltiplos podem representar, casos confirmatórios, casos contrastantes ou casos diferentes.

Considerando o exposto acima e tendo em vista as nossas questões de investigação e o objeto de estudo, bem como os pressupostos teóricos explicitados, o estudo de caso constituiu-se como a opção metodológica a ser adotada. Consequentemente, e tendo em vista que nos propúnhamos estudar dois contextos distintos (IES pública e IES privada), buscando várias unidades de análise para cada realidade (IES com cursos EaD de excelência e IES com cursos EaD de qualidade inferior), o estudo de casos múltiplos era o tipo apropriado. Assim, estudamos dois contextos com sete unidades de análise em cada (Figura 3.01), correspondendo com o modelo defendido por Yin (2009).

Figura 3.01 – Contextos e unidades de análise da investigação

Fonte: Elaborado pela autora

Detalhamos a seguir, as opções metodológicas adotadas, abrangendo a caracterização da pesquisa, a população, amostra e participantes do estudo, os instrumentos de coleta de dados, os procedimentos da pesquisa de campo e os métodos de tratamento e análise dos dados.