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CAPÍTULO III – O CENÁRIO DA INVESTIGAÇÃO

3.7. Métodos de tratamento e análise do material empírico

3.7.2. Entrevista

A análise dos dados resultantes das entrevistas também constituiu uma etapa significativa da investigação. Cabe salientar que a entrevista não constitui um fim em si mesma e para se alcançar os resultados da pesquisa, é necessário proceder à ação mais complexa e essencial do processo: a análise do conteúdo. Assim, a análise do conteúdo das entrevistas constitui parte do alicerce deste trabalho, refletindo nas considerações e conclusões da investigação.

Diversas técnicas podem ser utilizadas na condução de investigações científicas, contudo, a análise de conteúdo constitui-se numa técnica de análise de dados frequentemente utilizada, sobretudo nas pesquisas qualitativas, no campo das investigações sociais e na área da educação (Moraes, 1999; Oliveira et al, 2003). Uma técnica de análise de dados constitui uma metodologia de interpretação e possui procedimentos peculiares que envolve a preparação dos dados para a análise (Mozzato e Grzybovski, 2011), visto que esse processo “consiste em extrair sentido dos dados de texto e imagem” (Creswell, 2007: 194).

Em qualquer investigação, os dados em si consistem apenas dados brutos, que só adquirirão sentido ao serem trabalhados em conformidade a uma técnica de análise pertinente. A escolha do procedimento de análise de dados mais adequado depende do material a ser analisado, dos objetivos da pesquisa e da posição ideológica e social do

analisador (Chizzotti, 2006: 98). O processo de análise de dados engloba várias etapas para auferir significação aos dados coletados (Alves-Mazzotti e Gewandsznajder, 1998; Minayo, 2001; Creswell, 2007; Flick, 2009). A análise de conteúdo, além de realizar a interpretação após a coleta dos dados, desenvolve-se por meio de técnicas mais ou menos refinadas (Flick, 2009).

Importante ressaltar que, apesar de muitos autores abordarem a análise de conteúdo, algumas vezes utilizando conceitos e terminologias distintas para as várias etapas da técnica (Triviños, 1987), nesta investigação tomamos como base a conceituação de Bardin (2006), bem como as etapas da técnica por ele explicitadas. Isto porque, o autor é o mais referenciado no Brasil em pesquisas que optam pela análise de conteúdo como técnica de análise de dados.

Segundo Bardin (2006: 38) a análise de conteúdo é: “um conjunto de técnicas de análise das comunicações que visa obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas mensagens”.

Bardin (2006) refere-se a três etapas que compõem a execução da análise de conteúdo: 1) pré-análise, 2) exploração do material e 3) tratamento dos resultados, inferência e interpretação. A pré-análise é a fase de organização, que começa com a realização de uma “leitura flutuante”, aberta a idéias e reflexões, permitindo situar um certo número de observações formuláveis a título de hipóteses provisórias e elaboração de indicadores que fundamentem a interpretação. Na segunda etapa (exploração do material), os dados são codificados a partir das unidades de registro. Na última etapa, os dados são classificados em temas principais, resultantes do agrupamento progressivo dos elementos durante a realização das etapas de préanálise e de exploração do material. Assim, é feita a categorização (classificação dos elementos segundo suas semelhanças e por diferenciação, com posterior reagrupamento, em função de características comuns).

No conjunto das técnicas da análise de conteúdo, a análise por categorias, ou análise categorial, é a mais antiga e exerce suas ações por operações de desmembramento do texto em unidades, em categorias segundo reagrupamentos analógicos (Bardin, 2006). Dessa forma, para classificar os elementos em categorias é preciso identificar o que eles têm em comum, permitindo seu agrupamento.

Apesar das “regras” que devem ser respeitadas nas diferentes etapas, a análise de conteúdo não deve ser trabalhada como modelo rígido. O próprio Bardin (2006) contesta esta ideia de rigidez e de completude, chamando a atenção de que a sua proposta da análise de conteúdo oscila entre dois polos que envolvem a investigação científica: o rigor da objetividade, da cientificidade, e a riqueza da subjetividade. Nesse sentido, a técnica possibilita ultrapassar o senso comum do subjetivismo e alcançar o rigor científico necessário.

Decorrente dos dados obtidos com a aplicação dos questionários online, importava clarificar diversos aspectos não esclarecidos. Assim, no intuito de perceber melhor o contexto, a realidade, a forma de gestão dos polos presenciais, e os desafios de cada IES na gestão de sistemas de educação a distância, além das expectativas e projetos futuros para a EaD na IES, optamos pela realização de entrevistas aos seus coordenadores institucionais.

Em primeiro lugar convidamos, por e-mail, os coordenadores institucionais de EaD das IES pesquisadas a nos concederem uma entrevista. O convite foi aceito pela maioria dos convidados e as entrevistas foram realizadas por meio de uma ferramenta informática, o Skype, em dia e horário previamente combinado. Conscientes de que o deslocamento presencial poderia consistir em um obstáculo à efetivação da entrevista, dada a diversidade geográfica dos informantes, o recurso a esta ferramenta informática permiti-nos também, a captação da imagem e a consequente linguagem não-verbal, aspectos determinantes na realização de qualquer entrevista. Cabe salientar, que obtivemos a autorização de cada informante para a gravação áudio de cada uma das entrevistas.

Iniciamos o tratamento das entrevistas com a transcrição integral das gravações, que correspondia a aproximadamente seis horas e vinte minutos, preenchendo oitenta e cinco páginas A4 de texto, formatadas com margens de 2 cm, espaçamento entrelinhas de 1,5 cm e letra fonte arial 12.

Em conformidade com o sugerido por Bogdan e Biklen (1994: 173), de que “um cabeçalho no princípio de cada entrevista ajuda a organizar os seus dados e a recuperar segmentos específicos quando tem necessidade deles”, incluímos para a transcrição de cada uma das entrevistas, um cabeçalho com a indicação da identificação codificada do entrevistado, a data e o horário de realização da entrevista.

Os procedimentos seguintes adotados para o tratamento dos dados transcritos basearam-se nas recomendações de Bardin (2006) e Bogdan e Biklen (1994), que

descrevemos a seguir. Inicialmente, cumprimos a fase denominada por Bardin (2006: 90) como “leitura flutuante”, com o objetivo de “estabelecer contacto com os documentos a analisar e em conhecer o texto deixando-se invadir por impressões e orientações”. Contudo, a grande extensão do texto transcrito e a riqueza de conteúdo obrigou-nos a fazer várias releituras flutuantes e posteriormente, realizar uma leitura integral das transcrições, conforme sugerido por Bogdan e Biklen (1994),assinalando na margem direita os termos chaves evidenciados pelos entrevistados, dos quais surgiram as categorias e sub-categorias.

Após várias releituras e tendo em vista os objetivos pré-estabelecidos para as entrevistas, bem como o resultado da aplicação dos questionários online, recorremos à análise indutiva para a categorização das entrevistas.

Concordando com Creswell (2007: 197), de que o material a ser analisado “pode ser melhorado com o uso de programas de computador com software qualitativo”, após identificação das categorias e sub-categorias, recorremos ao N’Vivo versão 9.1. para procedermos à categorização. Bardin (2006:37) reconhece as tecnologias digitais como facilitadoras, quando afirma que o procedimento de codificação do que é comunicado é simples, “se bem que algo fastidioso quando feito manualmente”. Neste sentido, a utilização de “softwares quantitativos (ex: SPSS) como os qualitativos (ex: NVivo) facilitam e qualificam o processo de análise. O Nvivo, além da finalidade básica de facilitar e agilizar as análises, tem a função tanto de validar como de gerar confiança, qualificando o material coletado” (Mozzato e Grzybovski, 2011: 743).

Apesar de termos feito o registro de forma tradicional, o software N’Vivo facilitou a codificação de todos os protocolos de entrevista, de uma forma mais dinâmica. Posteriormente, permitiu-nos ainda trabalhar a codificação cruzada e transversal entre os coordenadores de polo e entre coordenador institucional e coordenadores de polo. Cabe salientar que o software NVivo exige um grande envolvimento do pesquisador, potencializando os resultados da pesquisa, com o aumento do alcance e da profundidade das análises.

Síntese

Neste capítulo, discursamos sobre as opções metodológicas adotadas para a realização da nossa investigação. Iniciamos com uma reflexão sobre a abordagem qualitativa, suas características, vantagens e campos de aplicação, por ter sido nossa opção de pesquisa.

Posteriormente, discorremos sobre o método adotado - o estudo de caso, que mediante as nossas questões de investigação e o objeto de estudo, constituiu-se como a opção metodológica mais adequada. Também e tendo em vista que tínhamos dois contextos distintos (UAB e IES privada) e várias unidades de análise para cada realidade (IES com cursos EaD de excelência e IES com cursos de qualidade inferior), o estudo de casos múltiplos pareceu-nos o mais apropriado.

Após reflexão sobre as suas especificidades, explicitamos sobre os critérios de escolha das IES públicas e privadas a serem estudadas. A seguir, discorremos sobre as técnicas e instrumentos de coleta de dados utilizados - questionário online e entrevista semi-estruturada, refletindo sobre os objetivos de cada um e apresentando a forma como foram utilizados.

Iniciamos a seção seguinte com uma representação gráfica do design da nossa investigação. Em seguida, delineamos detalhadamente cada uma das etapas: pesquisa bibliográfica, familiarização com o contexto da pesquisa, Inquérito por questionário online a profissionais EaD de todo o país, o processo de seleção das IES a serem estudadas, e finalmente, os casos em estudo.

Concluímos este capítulo com a explicitação das nossas opções para o tratamento dos dados coletados ao longo da nossa investigação.

CAPÍTULO IV – CENÁRIO ATUAL DA EAD NO BRASIL NA