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CAPÍTULO III – O CENÁRIO DA INVESTIGAÇÃO

3.5. Instrumentos de coleta de dados

Como mencionamos, a possibilidade de obter informação a partir de múltiplas fontes de dados é uma das características dos estudos de caso. Dessa forma, em um estudo de caso recorremos a uma diversidade de instrumentos para coleta de informação, que depende da natureza do caso e que tem por finalidade, favorecer o cruzamento de ângulos de estudo ou de análise (Hamel, 1997).

A especificidade do contexto em análise, objeto do presente estudo, ou seja, a percepção dos atores que envolvem a EaD sobre a gestão de EaD no contexto dos polos presenciais, colocam a necessidade de recorrer a várias fontes de informação, na tentativa de compreender o que pretendemos analisar, tendo em vista a reconstrução dessa realidade. Esta idéia é sustentada por Coutinho e Chaves (2002) quando afirmam que as decisões relativas à recolha de dados deve, no final, permitir ao investigador obter as confirmações necessárias para aumentar a credibilidade das interpretações que faz, sugerindo o recurso a “protocolos de triangulação” já existentes para o efeito: triangulação das fontes de dados,

Assim, no presente estudo, as técnicas de recolha de dados que optamos em utilizar foram: Análise documental, através dos dados constantes de documentos que vieram a ser apresentados; inquérito por questionário online aplicado a alunos e profissionais EaD da UAB e de IES privadas, situados em diversas regiões brasileiras; inquérito por questionário online aplicado a coordenadores de polo das IES selecionadas para os estudos de caso e entrevista semi-estruturada com gestores institucionais de EaD das IES em estudo.

O inquérito por questionário é uma técnica bastante utilizada na área das ciências sociais. Esta técnica consiste na interrogação organizada a um determinado grupo que possui características representativas de uma população. Por meio do inquérito temos a possibilidade de recolher informações representativas que podem ser comparadas e analisadas de forma quantificável. De acordo com Tuckman (2000), entre as técnicas de recolha de dados, o inquérito é uma das que permite obter informação de modo mais direto.

Ghiglione e Matalon (2001: 7-8) defendem que o “inquérito pode ser definido como uma interrogação particular acerca de uma situação englobando indivíduos, com o objetivo de generalizar”. Na investigação em educação, de entre os instrumentos que utilizam aquela técnica, destaca-se o questionário, uma vez que permite a obtenção de informação de forma rápida e com custos reduzidos e que também proporciona economia de tempo no tratamento de dados (Bell, 2004).

Hannan (2007) nos alerta quanto ao cuidado que devemos ter ao desenhar um questionário, de maneira a que ele seja passível de análise computadorizada, pois os programas de computador são ferramentas de análise maravilhosamente rápidas e flexíveis.

Utilizamos o inquérito por questionário online em duas fases da investigação. O primeiro (Apêndice A), direcionado a alunos, professores, tutores, funcionários administrativos, coordenadores de polo e coordenadores pedagógicos vinculados a instituições que ofertam cursos EaD totalmente a distância, autorizados/reconhecidos pelo MEC, teve quatro objetivos: (1) efetuar um estudo exploratório para a realização do inquérito por questionário online, a aplicar aos coordenadores de polo das IES que constituíam as nossas unidades de análise, a realizar na segunda fase metodológica desta pesquisa; (2) detectar quais eram os principais obstáculos enfrentados pelas IES em todo o território brasileiro para a qualidade dos cursos EaD que ofertam; (3) captar a percepção dos diversos atores envolvidos na EaD quanto aos principais fatores que influenciam para a

qualidade da aprendizagem e um reduzido índice de evasão de cursos EaD; (4) traçar um panorama geral da EaD no Brasil. Este questionário foi constituído por 36 perguntas, distribuídas em oito dimensões: (1) perfil do participante, (2) perfil da instituição ao qual está vinculado, (3) estrutura dos programas, (4) corpo docente, (5) processos de avaliação, (6) infraestrutura física, tecnológica e de pessoal do polo, (7) dificuldades enfrentadas pela IES para a qualidade dos cursos, e (8) indicadores de sucesso.

Na segunda fase da investigação, utilizamos outros dois questionários online (específicos por categoria administrativa da IES), direcionados aos coordenadores de polo das IES que constituíam as nossas unidades de análise. Foram basicamente três os objetivos que nos guiaram ao inquérito por questionário online nesta segunda fase: (1) conhecer o perfil dos gestores de polos de apoio presencial; (2) identificar dificuldades e desafios dos polos presenciais nas suas práticas de gestão administrativa, financeira e pedagógica de cursos superiores a distância; (3) detectar aspectos importantes, indicadores de sucesso na qualidade da aprendizagem e no controle da evasão de programas de EaD.

Os dois questionários direcionados aos coordenadores de polo de IES privadas (Apêndice B) e de IES públicas (Apêndice C) foram constituídos por 46 perguntas, ambos distribuídos em sete dimensões: (1) perfil do coordenador de polo, (2) perfil do polo (3) infraestrutura física, tecnológica e de pessoal do polo, (4) desafios na gestão administrativa, financeira e pedagógica, (5) fatores de evasão, (6) indicadores de qualidade, e (7) Estratégias de superação das dificuldades.

Pretendíamos saber em cada uma das dimensões, respectivamente, qual o perfil dos coordenadores de polo e se possuem formação/experiência em educação a distância; quantos alunos, quais cursos e a quantas IES o polo está vinculado atualmente; identificar se a infraestrura física, tecnológica e de pessoal do polo atendem aos referenciais de qualidade do MEC; identificar quais as maiores dificuldades e desafios que o polo presencial enfrenta atualmente nas suas práticas de gestão para atender aos requisitos e cumprir o acordo de cooperação técnica estabelecido com as instituições parceiras; conhecer a média percentual de evasão de cursos EaD e identificar quais os motivos mais apontados nos termos de desistência dos alunos que abandonam o curso; captar a percepção dos coordenadores de polo quanto aos principais fatores que influenciam para a qualidade da aprendizagem e um reduzido índice de evasão de cursos EaD; e, por fim, que aspectos podem ser aperfeiçoados no sistema EaD em relação aos aspectos estruturais,

estratégicos, operacionais e pedagógicos e quais aspectos estão sendo desconsiderados pelas políticas públicas na constituição e avaliação dos polos de EaD, na visão dos coordenadores de polo.

Por outro lado, a entrevista constitui uma das principais técnicas de recolha de dados em muitos estudos realizados em Ciências Sociais. É uma das fontes de informação mais importantes e essenciais nos estudos de caso (Yin, 2005), sendo uma das “técnicas mais comuns e importantes no estudo e compreensão do ser humano” (Aires, 2011: 27). Por conseguinte, a entrevista é um instrumento relevante para captar a diversidade de descrições e interpretações que as pessoas têm a respeito da realidade. É portanto, um instrumento adequado ao investigador qualitativo na captação dessas realidades múltiplas (Stake, 1999).

Em termos metodológicos, Ghiglione e Matalon (2001), Flick (2008) e Bardin (2011) ressaltam que trata-se de um método de pesquisa muito útil que nos permite ter acesso a informação com um nível de profundidade adequado a um estudo exploratório. Para Ludke e André (1986: 34), “a grande vantagem da entrevista é que ela permite a captação imediata e corrente da informação desejada, praticamente com qualquer tipo de informante e sobre os mais variados tópicos”. Ao realizar-se de forma exclusiva e em presença do entrevistador e entrevistado, possibilita correções, esclarecimentos e adaptações, o que proporciona a obtenção da informação desejada.

De acordo com alguns autores, a maior ou menor liberdade no percurso da entrevista permite a sua classificação em entrevista não estruturada, entrevista semi- estruturada ou entrevista estruturada. Foi adotado neste estudo, a entrevista semiestruturada, uma vez que a mesma se desenrola a partir de um esquema básico, previamente definido, porém não aplicado rigidamente, o que permite maior flexibilidade ao entrevistador para introduzir as necessárias adaptações, conforme as respostas do entrevistado.

Dessa forma, a entrevista semiestruturada foi a técnica adotada para a coleta de dados junto aos coordenadores institucionais de EaD das IES selecionadas. Contendo questões que não sendo totalmente fechadas, permitem ao gestor exprimir livremente as suas opiniões e desta forma colher-se o máximo de informação. Os objetivos que guiaram a realização das entrevistas, e devidamente identificados no Termo de Esclarecimento Livre e Esclarecido – TCLE (Apêndice D) podem ser descritos da seguinte maneira: (1)

identificar os principais desafios que os gestores de EaD no Brasil têm enfrentado para realizar uma educação superior de qualidade; (2) identificar aspectos importantes, indicadores de sucesso na qualidade da aprendizagem e no controle da evasão dos programas de educação a distância mediados pela tecnologia; (3) identificar estratégias para a superação das dificuldades que permeiam a Educação a Distância no Brasil.

Pretendíamos, e citando Bogdan e Biklen (1994: 134) “[…] recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, que permitam ao investigador desenvolver intuitivamente uma idéia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo”. Como registro dos dados, optamos pela gravação direta das entrevistas, após autorização dos entrevistados. Esta forma tem a vantagem de nos permitir dar toda a atenção ao entrevistado sem estar demasiado preocupada em fazer o seu registro escrito.