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2. JUVENTUDE E TRABALHO: PROBLEMATIZANDO CONCEITOS E

2.2 A construção sócio-histórica da juventude

Muito embora as formas de apreensão sociológica da juventude apresentem enfoques teóricos divergentes e recortes empíricos diversificados, há uma convergência tácita na maioria das análises. Tradicionalmente a juventude é concebida como uma fase da vida, cuja característica diferenciadora seria a transitoriedade decorrente do caráter provisório dessa idade da vida. Assim, os elementos definidores do ser jovem se constituem a partir de um jogo de espelhos, situado entre a heteronomia da criança e a autonomia do adulto, onde a

indeterminação seria a principal marca desse momento da vida. Enfim, um momento de

incertezas, instabilidades, inseguranças e crises, geralmente associado a determinados problemas sociais, entre os quais se destacam as dificuldades de inserção dos jovens no mundo do trabalho. Tal concepção pressupõe que há um momento ou fase da vida, cujo ordenamento das relações sociais seria estável e durável, bem como uma hierarquização e divisão desigual do poder na sociedade a partir de uma classificação das idades. A juventude seria uma fase da vida subordinada à vida adulta, portadora de uma referência normativa de estabilidade em oposição às inconstâncias da condição juvenil. Segundo Pais (1990, p. 141),

Histórica e socialmente, a juventude tem sido encarada como uma fase de vida marcada por certa instabilidade associada a determinados “problemas sociais”. Se os jovens não se esforçam por contornar esses “problemas”, correm mesmo riscos de serem apelidados de “irresponsáveis” ou “desinteressados”. Um adulto é “responsável”, diz-se, porque responde a um conjunto determinado de responsabilidades: de tipo ocupacional (trabalho fixo e remunerado); conjugal ou familiar (encargos com filhos, por exemplo) ou habitacional (despesas de habitação e aprovisionamento). A partir do momento em que vão contraindo estas responsabilidades, os jovens vão adquirindo o estatuto de adultos.

Segundo Bourdieu (1983a, p. 152), as idades e as divisões entre idades são arbitrárias, ou seja, elas não existem a priori. As fronteiras entre juventude e velhice são construídas socialmente e sempre foram objeto de disputas em diferentes sociedades, uma vez que “as

classificações por idade equivalem sempre a impor limites e a produzir uma ordem a qual um

deve se ater, na qual cada um deve manter-se no seu lugar”. A juventude não é um dado

do poder e das regras sociais que são atribuídas na sociedade, logo, a compreensão sociológica da juventude opera numa perspectiva relacional, pois “somos sempre o jovem ou o

velho de alguém”. Afirma o referido autor:

... A idade é um dado biológico socialmente manipulado e manipulável, e que o fato de se falar dos jovens como de uma unidade social, de um grupo constituído, dotado de interesses comuns, e de referir esses interesses a uma idade definida biologicamente, constitui já uma evidente manipulação (BOURDIEU,1983a, p. 153).

A noção de juventude como um momento de transição para a vida adulta é uma categoria social produzida pela sociedade moderna e suas agências de socialização, as quais sob o monopólio da ação do Estado são responsáveis pelo processo de fabricação das representações simbólicas e dos problemas associados ao universo juvenil, modeladoras e orientadoras do modo de pensar e agir dos sujeitos jovens, que nem sempre foram incorporados ou aceitos pelos próprios jovens12.

A lógica de reprodução social da sociedade moderna, constituída a partir da estrutura de classes, também opera com base na classificação social das idades e na institucionalização do curso da vida. As análises desenvolvidas por Áries (1981); Peralva (1997) e Abramo (1997) indicam que, com a emergência das sociedades industriais modernas, a juventude assumiu uma condição social diferenciada em decorrência das rápidas transformações históricas impulsionadas pela generalização do trabalho assalariado e suas implicações na organização familiar e nos modos de vida; e principalmente, na medida em que o Estado toma para si a responsabilidade pelas múltiplas dimensões da proteção social dos indivíduos, dentre elas a educação; as quais redefiniram e redimensionaram a cristalização social das idades13. Para além dos critérios de idade/aspectos biológicos, a juventude passa a ser reconhecida

12 Segundo os estudos clássicos da sociologia da juventude, nem sempre os jovens aceitaram “os padrões de

socialização” impostos pela sociedade moderna, exemplo disto foi a formação de juventudes “antiburguesas” influenciadas por diferentes práticas sociais que tinha em comum o caráter hostil à ordem burguesa, aos seus valores e instituições, tais como a tradição da boemia, do radicalismo estudantil e da delinquência (MATZA, 1968; GROPPO, 2000).

13 Na sociedade moderna a cristalização social da idade pressupõe uma contínua exclusão da criança do mundo

do trabalho. Ao passo que a escolarização se difunde, mediante a ação do Estado, observa-se uma redução da população infantil ao mundo do trabalho, postergando a ingresso na vida adulta. Por outro lado, a proteção social da criança é resultado do próprio processo de lutas e conquistas das classes trabalhadoras contra a pauperização das famílias (ARIÈS,1981). A análise de Marx (2001), em O Capital, demonstra como a introdução da maquinaria no processo de produção social capitalista revolucionou radicalmente o próprio trabalhador e suas condições de trabalho e de vida, sendo que a primeira mudança é que a força trabalho adulta torna-se supérflua com a autonomia do instrumental de trabalho, fazendo com que o capitalista utilize a força de trabalho das mulheres e de crianças, e por consequente, o rebaixamento do valor da força de trabalho adulta e ao aumento do grau de exploração do trabalho. Deste modo, a regulamentação e a delimitação do trabalho entre crianças e adolescentes tornaram-se um objeto de luta do movimento operário e de setores vinculados à burguesia.

como uma condição social, na qual os indivíduos devem ser formados e preparados para sua inserção futura (vida adulta) e efetiva na vida social, principalmente na estrutura da divisão social do trabalho14. Portanto, a constituição das sociedades modernas redefiniu o processo social de cristalização das idades, institucionalizando as diferentes fases idades da vida, via a ação do Estado, delimitando que os indivíduos ao longo do percurso da vida ocupariam sucessivamente lugares e papéis distintos na dinâmica da vida social, de tal modo que, haveria um ciclo de vida ternário, onde “a juventude se forma, a idade adulta trabalha e a velhice tem

direito ao repouso” (PERALVA, 1997, p. 21).

Entretanto, o modelo de “juventude” produzido pela modernidade tem sua gênese a partir de uma determinada classe. Inicialmente foi difundido e vivenciado pelos filhos da classe burguesa e só depois, por intermédio da ação do Estado, a condição juvenil se estendeu aos filhos das classes trabalhadoras. Segundo Cavali (1980) citado por Dayrell (2001), até meados do século XIX a juventude era uma prerrogativa dos filhos das classes dominantes, os quais eram preparados para herdar as posições sociais dos pais na divisão social do trabalho, sendo que para a imensa maioria dos indivíduos pertencentes ao mesmo grupo etário esta condição era negada, dada a sua inserção precoce no mundo do trabalho.

A juventude como fato social das sociedades modernas assume formas diferenciadas, que variam conforme a classe social de origem, o grau de desenvolvimento econômico e da generalização dos direitos sociais de cada país ou região. Contudo, há de se perguntar pelas outras juventudes, como se dá o fazer-se15 jovem, quando se pertence às outras classes sociais, em especial à classe trabalhadora. Portanto, “a noção de juventude construída na

modernidade – e da qual somos herdeiros – é fruto de uma determinada classe, a burguesia,

e de sua determinada noção de tempo” (DAYRELL, 2001, p.13).

É justamente a lógica do tempo moderno, do tempo linear, ditado pelos ritmos da produtividade e da racionalidade econômica do capital, pautado numa orientação finalista e corporificada na realização sempre adiada, expressa no ciclo ternário da vida (quando jovem, estuda-se para se tornar adulto; quando adulto, trabalha-se para gozar a velhice; quando velho, morre-se!) que reforça a ideia da juventude como uma transitoriedade, “um vir a ser”, tendo

14 A sociologia da educação de Durkheim é uma das referências clássicas para os estudos sobre juventude numa

perspectiva funcionalista (Parsons) e das gerações (Manheinn), uma vez que a função social da educação, através da escola laica, é assegurar o processo de integração das gerações mais novas à sociedade, conforme afirma o autor: “para que haja educação, faz-se mister que haja, em face de uma geração de adultos, uma geração de

indivíduos jovens, crianças e adolescentes; e que uma ação seja exercida pela primeira, sobre a segunda, [pois] ... a educação é “a ação exercida, pelas gerações adultas, sobre as gerações que não se encontram ainda

preparadas para a vida social” (DURKHEIM,1952, p. 39-42).

no futuro a justificativa das ações do presente, reiterada continuamente na doxa dominante “a juventude é a promessa do futuro” ou, senão, “os jovens são a esperança do amanhã!”.

A noção de juventude associada a um momento de preparação implica a delimitação de critérios que caracterizem o ritual de passagem dessa etapa da vida ao mundo adulto, os quais estariam ancorados na ideia do ciclo ternário das idades, que tomam como parâmetro o

fim dos estudos, a inserção estável no mercado de trabalho, a saída da casa dos pais e morar

sozinho, o casamento e o nascimento dos filhos, enquanto marcadores sociais do fim da

juventude.

A partir das transformações econômicas, políticas e culturais ocorridas nos pós-guerra, a juventude passa a ser reconhecida como uma idade da vida, dotada de especificidades, que transcenderia a uma determinada classe social, tornando-se um fenômeno mundial. A emergência do modelo de regulação fordista e do Welfare State criou as condições efetivas para a consolidação da juventude como um direito social assegurado aos indivíduos que se encontram nesse período do desenvolvimento humano, contribuindo de forma significativa para a ação coletiva dos jovens, os quais aparecem na cena pública, principalmente a partir dos anos de 1950, como portadores de uma cultura própria.

A juventude na modernidade é dialeticamente marcada por uma tensão, visto que a experiência desse momento da vida seria dotada de uma relativa autonomia, sendo possível aos jovens constituírem seus próprios mundos, relações de sociabilidades e subculturas; mas também seria um momento de distribuição dos indivíduos na estrutura social, daí a importância das agências de socialização responsáveis pela sua integração à sociedade. Dessa forma, a juventude não é definida apenas como um rito de passagem entre a infância e a maturidade, mas como um processo de distribuição das regras sociais. Portanto, a juventude é um produto da modernidade, do prolongamento do tempo formativo, e da incerteza relativa às relações entre as gerações no interior da sociedade (DUBET, 1996; GROPPO, 2000). Sua construção é um espelho refletido das tensões e contradições sociais, na qual as divisões e contradições de classes são diluídas nas divisões por idade, que aparecem revestidos como conflitos geracionais. No percurso sócio-histórico de construção e representação da condição juvenil, da metade do século XX até a atualidade, predominantemente os jovens apareceram pela ótica do problema social e representam uma ameaça a si próprios ou à sociedade (delinquência, violência, drogas, desemprego), ou então, como promessa do futuro (ABRAMO, 1997).

Paradoxalmente, nas peças publicitárias, aos jovens são imputados valores e atitudes que coincidem com qualidades geralmente atribuídas ao moderno: interesse pela novidade,

extravagância, irreverência, espontaneidade, ousadia, rebeldia, exclusividade, diferença etc. A juventude como novidade, tão funcional ao mercado de consumo, é uma das formas de representação e ao mesmo tempo de apresentação da “modernidade”, como nos lembra Marx, o mundo do moderno é um mundo “em que tudo que é sólido se desmancha no ar”, um processo contínuo de transformações sociais, de crises econômicas, revoluções políticas e culturais, de descontinuidades e rupturas. Ela transcende e desvincula-se do seu signo, seu conteúdo não remonta a uma condição social ou etapa do curso da vida, vivida por indivíduos de determinada idade, transforma-se em um produto, mercadoria cultural, um valor simbólico orientador de uma estética dominante, cujos atributos e valores se apresentam como ideário a ser perseguido e consumido por todos e impregna em todas as esferas da vida social. Este processo é denominado por alguns autores como juvenização ou jovialização da sociedade, no qual valores atribuídos à juventude se convertem em modelos culturais (MARGULIS, URRESTI, 2008; DUBET, 1996; PERALVA, 1997). Um exemplo ilustrativo desse processo diz respeito às estratégias de dominação dos novos modelos de gestão e organização do trabalho que geralmente associam as mudanças do mundo trabalho à ideia de jovialidade das relações de trabalho, presentes em uma nova cultura do trabalho, entre os quais se destacam a flexibilidade, espírito de iniciativa, capacidade de adaptação, de experimentação, imediatismo, disposição a correr riscos e mudanças em tempo real (LINHART, 2011; SENNETT, 1999, 2006).

Enquanto categoria socialmente construída, a juventude não pode ser compreendida apenas a partir da sua dimensão simbólica, mas também a partir da materialidade histórica que envolve a sua produção social. Faz-se necessário reconhecer que o modelo de juventude, hegemonicamente produzido ao longo da sociedade moderna não foi e nem é vivido por todos os indivíduos pertencentes ao mesmo grupo etário, da mesma forma. Para os sociólogos argentinos Mário Margulis e Marcelo Urresti, a noção de juventude como moratória social, diz respeito a um conjunto de jovens de determinados setores sociais, restrita a determinados períodos históricos,

... A partir de mediados del siglo XIX y en el siglo XX, ciertos sectores sociais logran ofrecer a sus jóvenes la posibilidad de postergar exigencias – sobre todo las que provienen de la propia família y del trabalho -, tiempo legítimo para dedicarse al estúdio y la capacitación, postergando el matrimonio, permitiendoles así gozar de um cierto período durante el cual la sociedad brinda uma especial tolerância. La juventud termina, en el interior de las clases que pueden ofrecer a sus miembros recién llegados a la madurez física este beneficio, cuando estos asumen responsabilidades centradas, sobre todo, em formar el propio hogar, tener hijos, vivir del propio trabajo (MERGULIS; URRESTI, 2008, p.15-16).

Os referidos autores consideram que a condição juvenil não se apresenta e nem é vivida da mesma forma pelos sujeitos jovens, logo há de se considerar aspectos relacionados às desigualdades sociais que estão implícitos na noção de moratória social. Certos atributos outorgados à juventude em sua homogeneidade, na verdade, são expressões que encontram suas feições concretas na condição juvenil de determinados sujeitos jovens, que dadas as condições de classe do grupo de origem podem viver a juventude como um tempo da irresponsabilidade provisória (BORDIEU, 1983a). Aos jovens das camadas populares, filhos de trabalhadores, as possibilidades de viverem a juventude como moratória social se constituem muito mais numa quimera do que realidade. Para esses, o tempo da juventude é, antes de tudo, um tempo de ingresso temporão no mundo do trabalho, de constituição de obrigações familiares (contribuição no orçamento doméstico do grupo familiar de origem, constituição de família, procriação etc.), às vezes dividido ou sobreposto com o tempo da formação escolar, “pois carecem de tempo e do dinheiro – moratória social-, para viver um

período mais ou menos prolongado com relativa despreocupação e leveza” (MERGULIS;

URRESTI, 2008, p. 17). Sendo assim, a moratória social se configura como violência simbólica imputada aos jovens de camadas populares16, que ganha visibilidade em tempos de crises e de desemprego estrutural, já que o tempo livre é vivido e percebido como um tempo prolongado de frustrações, de sofrimento social17 conforme veremos a partir das experiências dos jovens pesquisados nesta tese.

No horizonte dessa perspectiva, não se pode desprezar ou ignorar a importância das singularidades das configurações sócio-históricas existentes em cada país, ou se preferirmos, nas sociedades nacionais que condicionam o processo de construção social da noção de juventude. Os dispositivos que são mobilizados – sejam de cunho político, ideológico, simbólico etc. – no processo de fabricação da juventude, variam conforme os contextos societais. De tal modo que, se nos países europeus, verifica-se a importância de determinadas agências formativas no processo de socialização dos jovens, a exemplo da escola, e não por acaso, os processos educativos ocupam um lugar central nas análises sociológicas da

16 Vale registrar que a noção moderna de juventude, forjada a partir da experiência dos jovens burgueses, persiste

até os dias hoje com um modelo ideal, através do qual são balizadas as possibilidades de jovens de outros setores sociais de alcançar esta condição ou de viver a juventude (ABRAMO, 2005).

17 Segundo Abad (2002, p. 133), “muchos jóvenes de clases populares gozan de abundante tiempo libre, pero se

trata de un tiempo de espera, vacío en virtud de la falta de trabajo, de estudio y de alternativas para un ocio creativo y vitalmente enriquecedor. No es un tiempo legitimado y valorado socialmente por su familia y sus pares, sino el tiempo de la congoja y la impotencia, el tiempo de la estigmatización social, un tiempo que empuja a la marginalidad y la exclusión, el tiempo de estar «marcando calavera» en una esquina, expuesto a los oficiantes de la limpieza social”.

juventude, em especial da sociologia francesa; não se pode afirmar o mesmo para a realidade dos países latino-americanos, nos quais os processos de socialização juvenil historicamente se constituíram a partir de um mosaico de socializações em que ganha centralidade o trabalho, como agência formadora, e de certo modo, condição sine qua non da própria vivência da condição juvenil. No caso do Brasil, em que o processo de expansão escolar é recente, tal como em outros países da América Latina, há de se interrogar até que ponto a escola é um agente central e detentor do monopólio da transmissão cultural, tal como no caso da França (SPOSITO, 2005). Vários estudos indicam que a condição juvenil é marcada pelo ingresso precoce no mercado de trabalho e pela superposição entre trabalho e estudo, que assumem lugares diferenciados na vida dos jovens conforme o momento do ciclo da vida e as condições de reprodução social (MADEIRA, 1986; HASENBALG, 2003; GUIMARÃES, 2005).

Para encerrar esta seção, a título de esclarecimento metodológico, uma última consideração atinente às diferenciações entre juventude e jovens, condição juvenil e situação juvenil. Embora sejam tomadas, geralmente, como sinônimos, o uso dessas palavras e o seu poder semântico remetem a dimensões analíticas diferenciadas, que quando não reconhecidas e explicitadas contribuem ainda mais para a imprecisão da noção de juventude. Sposito (2003), amparada nas formulações de Attias-Donfut (1996), sugere que se trata de uma sobreposição entre momento da vida e sujeitos concretos, que indevidamente são abordadas como semelhantes. A noção de juventude sempre reporta a uma fase ou momento do ciclo da vida, portadora de determinados valores, atitudes e práticas, cujos sentidos e reconhecimento vinculam-se à constituição da sociedade moderna; inclusive, transformando-se em modelo cultural a ser seguido pela sociedade. Por sua vez, jovens são os sujeitos que vivem essa fase da vida, que podem ou não aceitar os modelos de juventude predominantes em determinado momento histórico, ou seja, “são sujeitos históricos concretos, situados em um tempo e espaço determinados” (ESTEVES; ABRAMOVAY, 2007).

Abad (2002) propõe uma distinção entre condição juvenil e situação juvenil, a primeira entendida como a maneira pela qual a sociedade constitui e atribui um significado a esse momento do ciclo da vida; e a segunda se refere ao modo como esta condição é experimentada a partir de diversas clivagens sociais: classe, gênero, pertencimento étnico e outras. Essas distinções não implicam uma dualidade analítica, mas dimensões interdependentes de um fato social instável (GAUTIER, 2000), que não podem ser negligenciadas ou incorporadas à investigação sociológica como se fossem idênticas, ao passo que revela os riscos de uma compreensão generalista da juventude e o uso de conceitos produzidos e validados a partir de contextos históricos. Nessa direção, surgem perspectivas

analíticas que adotam a noção de juventude, no sentido plural – juventudes – para expressar a diversidade de situações vividas pelos sujeitos nesse momento da vida. (ABRAMO, 2005; SPOSITO, 2003). Isso não encerra os riscos de imprecisão, pois a fragmentação e segmentação excessiva da juventude como objeto de estudo pode empobrecer a análise sobre os jovens, uma vez que dimensões relevantes que revestem as situações juvenis situam-se na interseção de agenciamentos múltiplos – trabalho, família, escola, lazer etc. (SPOSITO, 2010). De modo que unidade e diversidade são faces de um mesmo processo, devem ser