• Nenhum resultado encontrado

Uma leitura marxista: Adeus ao trabalho ou heterogeneização, complexificação e

3. O TRABALHO: UMA CATEGORIA CENTRAL NOS ITINERÁRIOS E

3.2 Revisitando o debate sobre a crise e o fim do trabalho: Qual trabalho? Qual crise?

3.2.1 Uma leitura marxista: Adeus ao trabalho ou heterogeneização, complexificação e

No âmbito desta produção crítica merece destaque a contribuição de um conjunto de autores marxistas que irão problematizar os fundamentos ontológicos e históricos da chamada crise da sociedade do trabalho, a exemplo das obras de István Mészaros (2002), Alain Bihr (1998), David Harvey (1992). No Brasil, as formulações teóricas de Ricardo Antunes tornaram-se referência clássica no debate da sociologia do trabalho nacional, principalmente com a publicação do livro Adeus ao Trabalho? em 1995. Nessa obra, o referido autor apresenta um conjunto de argumentos (teses) que elucidam as imprecisões e equívocos existentes neste debate, aprofundadas em publicações posteriores, especialmente em Os

sentidos do trabalho (1998) e O caracol e sua concha (2005). Antunes sustenta a tese de que

as tendências em curso no mundo do trabalho, de uma maior intelectualização do trabalho (especialmente o trabalho fabril) ou incremento de trabalho qualificado; uma redução quantitativa do proletariado tradicional; uma desqualificação ou subproletarização da força de trabalho, cada vez mais precarizada, inserida em trabalhos em tempo parcial, subcontratados, por contrato determinado etc., são transformações que não permitem concluir que há uma perda desta centralidade no universo de uma sociedade produtora de mercadorias, tal como sugere a visão eurocêntrica da crise do valor trabalho.

Fundamentada na teoria marxiana do duplo valor do trabalho, a formulação teórica de Antunes considera que embora seja possível atestar a existência de uma redução quantitativa do trabalho vivo, com fortes impactos subjetivos, o trabalho abstrato ainda cumpre uma função decisiva no processo de valorização do capital. As mercadorias produzidas no sistema capitalista ainda são resultados da atividade que provém da interação dos homens com os meios de produção, ou seja, o trabalho humano. A redução do fator subjetivo no processo de trabalho em detrimento do aumento dos seus fatores objetivos (nos termos de Marx: aumento do capital constante em relação ao capital variável) não elimina o papel do trabalho coletivo na produção de valores de troca, de modo que a redução do tempo físico do trabalho no processo produtivo, do trabalho manual e ampliação do trabalho intelectualizado não nega a lei do valor, se consideramos a totalidade social do trabalho, a capacidade do trabalho socialmente combinado.

A problematização da crise da sociedade do trabalho à luz da teoria marxiana requer a distinção entre trabalho concreto e abstrato34. Para Marx o trabalho assume um duplo conteúdo, é por um lado dispêndio de força de trabalho, física e mental, que existe no mercado independente das formas concretas que assuma na sociedade capitalista, e nesta condição compartilha da mesma qualidade, é trabalho humano abstrato, criador de valor de troca. Por outro lado, o trabalho tem um caráter útil, produz coisas socialmente necessárias e úteis para produção e reprodução da materialidade social dos homens, é elemento mediador entre os homens e a natureza, e nesta dimensão é trabalho concreto que produz valores de uso35. Uma das especificidades da sociedade capitalista é que se trata de um sistema produtor de mercadorias que se reproduz com base na apropriação, expropriação e exploração do trabalho humano, convertida na forma de mercadoria. Aliás, a única capaz de agregar mais valor ao processo de reprodução do capital. No universo da sociedade produtora de mercadoria, o objetivo principal é a criação de valores de troca, de tal forma que o valor de uso das coisas está subordinado ao seu valor de troca. Só tem algum valor enquanto condição necessária para o processo de valorização do capital, ou seja, a dimensão concreta do trabalho também está inteiramente subordinada à sua dimensão abstrata. Portanto, se a força de trabalho humana não acrescenta valor ao processo de produção do capital, deixa de ser útil, torna-se descartável e substituível pelo trabalho morto, objetivado nas máquinas, assim como pela massa de trabalhadores que compõe o exército industrial de reserva.

De acordo com Antunes, é necessário qualificar o conteúdo da crise da sociedade do trabalho. É uma crise do trabalho abstrato? É uma crise de sua dimensão concreta, enquanto elemento estruturante do intercâmbio do homem e da natureza? Se a crise é do trabalho abstrato, há de se fazer uma diferenciação importante, geralmente negligenciada na maioria das análises, pois a questão central é saber se “...a sociedade contemporânea é ou não

predominantemente movida pela lógica do capital, pelo sistema produtor de mercadorias?”

(ANTUNES, 1995, p. 77). Caso a resposta seja positiva, a crise da sociedade do trabalho abstrato pode ser entendida, em termos marxianos, como redução do trabalho vivo em detrimento da ampliação do trabalho morto.

34 Segundo Marx (2001,p.68)“ todo trabalho é, de um lado, dispêndio de força humana de trabalho, no sentido

fisiológico, e, nessa qualidade de trabalho humano igual ou abstrato, cria o valor das mercadorias. Todo trabalho, por outro lado, é dispêndio de força humana de trabalho, sob forma, especial, para um determinado fim, e, nessa qualidade de trabalho útil e concreto, produz valor-de-uso”.

35 “... O trabalho, como criador de valor de uso, como valor útil, é indispensável à existência do homem –

quaisquer que seja as formas de sociedade -, é necessidade natural e, portanto, de manter a vida humana”(MARX, 2001, p.64-65).

Nesse sentido, três vertentes explicativas ganham destaque na explicação da crise: uma que considera que o trabalho vivo não desempenha um papel importante no processo de criação dos valores de troca, e uma segunda que critica a sociedade do trabalho porque assume a forma de trabalho estranhado, fetichizado, e portanto, desefetivador e desvalorizador da atividade humana autônoma, configurando-se como uma crítica e recusa ao culto do trabalho assalariado; e por fim, uma terceira variante que nega o caráter capitalista da sociedade contemporânea e o papel central do trabalho, tanto na qualidade de abstrato, pois não seria mais decisivo na criação dos valores de troca, quanto na condição de trabalho concreto, já que não ocupa um lugar central na estruturação de um mundo emancipado e de uma vida cheia de sentido. Por essa ótica, independente da caracterização que possa ser atribuída à sociedade contemporânea (sociedade dos serviços, pós-industrial, pós-capitalista etc.), essa seria cada vez menos regida pela lógica do capital e cada vez mais movida por regras e relações de civilidade pautadas pela cidadania, reconhecimento e justiça social, relações menos mercantis e mais contratualistas, pela busca de relações de alteridade entre os sujeitos sociais e por valores pós-econômicos. (HABERMAS, 1998;OFFE, 1989; GORZ, 1993).

Sem a devida distinção entre trabalho abstrato e trabalho concreto, as análises que decretam o “fim do trabalho” cometem um forte equívoco analítico, uma vez que tratam de maneira unívoca um fenômeno que tem uma dupla dimensão. Amparado na interpretação de Agnes Heller (1977) sobre o duplo sentido do trabalho na obra de Marx, Ricardo Antunes argumenta que o trabalho deve ser apreendido como execução de um trabalho que é parte da vida cotidiana e como uma atividade de trabalho, como objetivação diretamente do ser humano genérico. As palavras inglesas “work” e “labour”36 são utilizadas por Marx para caracterizar a dupla dimensão do trabalho, sendo que o “work” se efetiva enquanto trabalho concreto, criador de valores socialmente úteis, e “labour” representa a execução cotidiana do trabalho, e converte-se na sociedade capitalista em trabalho alienado. É a desconsideração dessa dupla dimensão do trabalho que permite que a crise da sociedade do trabalho abstrato seja interpretada como crise da sociedade do trabalho concreto. Se for possível conceber a eliminação da sociedade do trabalho abstrato, produtor de mercadorias, ontologicamente é totalmente distinto pensar no fim do trabalho como atividade útil, atividade fundante,

36 A nota de rodapé n. 16 da 18ª edição, do livro “O Capital”, apresenta um trecho da nota de rodapé da 4ª edição

em que Marx explica as vantagens do uso destes dois termos no inglês, que na tradução para o português está descrito da seguinte maneira: “A língua inglesa tem a vantagem de possuir duas palavras distintas para designar esses dois aspectos diferentes do trabalho. O trabalho que gera valores-de-uso e se determina quantitativamente chama-se ‘work’, distinguindo-se, assim, de ‘labour’, o trabalho que cria valor e que só pode ser avaliado qualitativamente” (MARX, 2001, p. 68).

plataforma da atividade humana. Portanto, “entendido como ‘work’, como criador de coisas

úteis, como auto-atividade humana, o trabalho tem um estatuto ontológico central na práxis

social” (ANTUNES, 1995, p. 83). Os críticos da sociedade do trabalho ao “constatarem

empiricamente a perda de relevância do trabalho abstrato na sociedade moderna, e no seu lugar a ascensão de uma sociedade pós-industrial, de serviços, do conhecimento, deduzem e generalizam a partir dessa constatação, o fim da utopia de uma sociedade do trabalho em sentido amplo e genérico.

Entretanto, ainda que se possa constatar que as transformações históricas ocorridas ao longo do século XX no processo produtivo, nas relações e processos de trabalho, tiveram como consequência central o processo de heterogeneização, complexificação e fragmentação da classe-que-vive-do-trabalho, isso não significa a sua extinção ou um adeus ao trabalho. Mas pelo contrário, um novo desafio se impõe aos estudos sociológicos do trabalho: compreender a nova morfologia do trabalho, seu caráter multifacetado, polissêmico e polimorfo e suas múltiplas transversalidades (trabalho material e material, trabalho produtivo e improdutivo, nova divisão sexual do trabalho, novas gerações, crise ambiental etc.) após as diversas mutações existentes na divisão sócio-técnica do trabalho e na divisão internacional do trabalho no contexto de mundialização do capital (ANTUNES, 2009, 2005). A tese dos críticos do fim do trabalho, calcada empiricamente em uma visão eurocêntrica do trabalho, não se sustenta quando se constata que 2/3 dos homens e mulheres que vivem da venda da sua força de trabalho estão localizados no Terceiro Mundo, na Ásia, Oriente Médio, África e América Latina. Embora tenha sofrido transformações significativas, o trabalho não se tornou uma mera virtualidade e nem tampouco deixou de ser uma mercadoria especial e necessária para o capital, cuja lógica destrutiva, inerente ao sistema capitalista, se expressa de forma cabal na velocidade em que se transforma grande parte da força de trabalho mundial, em mercadoria descartável e supérflua, seja na condição de precarizados ou de desempregados. Sob a égide da mundialização do capital, um conjunto de palavras que condensam processos, relações e práticas sociais do trabalho passaram a compor o dicionário do mundo do trabalho, tais como flexibilização, empresa enxuta, reengenharia, reestruturação, desregulamentação, polivalência etc., que impuseram enormes consequências para a classe-que-vive-do-trabalho.

De acordo com Antunes (2005), as mesmas podem ser sintetizadas da seguinte forma: 1) Uma crescente redução do proletariado fabril estável, típico do período taylorista/fordista, em decorrência da reestruturação, flexibilização e desconcentração do espaço físico de produção, características típicas do toyotismo; 2) um enorme aumento do novo e precário proletariado, seja no trabalho fabril e no setor de serviços, composto por terceirizados,

subcontratos, part-time, que inicialmente eram ocupados por trabalhadores imigrantes e hoje atingem trabalhadores especializados e qualificados; 3) um aumento significativo dos assalariados médios e do setor de serviços; 4) há uma exclusão dos jovens e velhos no mercado de trabalho; 5) inclusão precoce e criminosa de crianças, principalmente em países em industrialização intermediária, como é o caso dos países asiáticos e latino-americanos; 6) uma feminização da força de trabalho em diversos países, cujas formas de integração no mercado de trabalho tem se dado, preferencialmente, no trabalho part-time, precarizado e desregulamentado, em situações e condições degradantes, além de uma enorme desigualdade social em relação aos homens, especialmente no que se refere à divisão sexual do trabalho, remuneração e dos direitos trabalhistas; 7) expansão do trabalho no chamado Terceiro Setor, em grande parte por causa da retração do trabalho industrial e no setor de serviços, que se apresenta como uma ocupação alternativa, capitaneada por empresas de perfil comunitário, cujas ações são classificadas como assistencialistas, sem fins lucrativos ou relativamente à margem do mercado. Cumprem um papel funcional na incorporação de parcela dos trabalhadores desempregados, que foram expulsos dos seus empregos; 8) adiciona-se a estas mudanças o crescimento do trabalho em domicílio em virtude da desconcentração do processo produtivo e expansão das pequenas unidades de produção; 9) e por fim, no contexto atual de transnacionalização do capitalismo e do seu sistema produtivo, as conexões e relações de interdependência local, regional, nacional e global se intensificam na cadeia produtiva, tornando-se cada vez internacionalizada, que por sua vez, impõe novos desafios para a organização política dos trabalhadores, pois se estabelece uma nova configuração do sistema global de produção, que opera no tempo e no espaço, num processo contínuo de mobilidade territorial do capital, fazendo emergir ou desaparecer novas regiões industriais.

Na perspectiva de Ricardo Antunes, a questão central do debate sobre a crise do trabalho é justamente compreender a nova morfologia do trabalho, que tem como característica visível a sua configuração multifacetada. Para além das velhas e novas clivagens existentes entre trabalhadores estáveis e precarizados, mulheres e homens, jovens e velhos, nacionais e imigrantes, brancos e negros, qualificados e desqualificados, rurais e urbanos e tantas outras existentes nas diversas geográficas (local, regional, nacional e internacional), também se agravam os processos estratificação, fragmentação do trabalho e desmonte dos direitos sociais do trabalho face às mutações em curso em decorrência da crescente internacionalização do capital.

Se nas últimas décadas do século XX prevaleceu uma visão eurocêntrica do fim do trabalho, o trabalho renasce das cinzas e se transforma novamente em umas das questões

centrais na contemporaneidade, exigindo a compreensão da nova morfologia do trabalho” e das formas de resistências e ações coletivas da classe trabalhadora neste início do século XXI. Para tanto, a compreensão deste novo desenho do trabalho implica a construção de uma noção ampliada da classe-que-vive-do-trabalho, caracterizada por Antunes (2009) nos seguintes termos:

Essa nova morfologia compreende desde os operariados industrial e rural clássicos, em relativo processo de encolhimento (que é desigual quando se comparam os casos do Norte e do Sul), até os assalariados de serviços, os novos contingentes de homens e mulheres terceirizados, subcontratados, temporários em processo de ampliação. Já a nova morfologia pode presenciar, simultaneamente, a retração do operariado industrial de base tayloriano-fordista e a ampliação, segundo a lógica da flexibilidade toyotizada, das novas modalidades de trabalho, das quais são exemplos as trabalhadoras de telemarketing e call center, os motoboys que morrem nas ruas e avenidas, os digitadores que laboram (e se lesionam) nos bancos, os assalariados do fast-food, os trabalhadores jovens dos hipermercados etc. Esses contingentes são partes constitutivas daquelas forças sociais do trabalho que Ursula Huws (2003) sugestivamente denominou cibertariado: o novo proletariado da era da cibernética que vivencia um trabalho (quase) virtual num mundo (muito) real, para glosar o sugestivo título do livro em que ela discorre sobre as novas configurações do trabalho na era digital, informática e telemática, novos trabalhadores e trabalhadoras que oscilam entre a enorme heterogeneidade (de gênero, etnia, geração, espaço, nacionalidade, qualificação etc.) de sua forma de ser e a impulsão tendencial para uma forte homogeneização resultante da condição precarizada de seus distintos trabalho (ANTUNES, 2009, p. 257-258).

Este novo desenho configuracional da classe trabalhadora aponta que o debate e a problematização da crise do trabalho, argumento com o qual concordamos, devem ser repensados em outros termos pela sociologia do trabalho. A questão central é desvendar e entender a tessitura complexa do trabalho nos dias atuais, a partir da relação dialética entre heterogeneidade dos trabalhadores e a precarização como a homogeneização sui generis dos distintos trabalhos37. Uma compreensão sociológica das interconectividades e transversalidades que (re)coloca o trabalho como questão central da atualidade exige também do campo de investigação a problematização do debate sob prisma das novas gerações de trabalhadores, isto é, os jovens trabalhadores, que constituem uma fração importante da classe trabalhadora precarizada, cujas experiências concretas de trabalho são expressivas das mudanças em curso, bem como do duplo sentido da centralidade do trabalho na práxis humana.

37 A dissertação de mestrado de Barreto (2005) oferece elementos analíticos a partir da sua pesquisa empírica

com trabalhadores informais e desempregados na cidade de Salvador, que são ilustrativos do fenômeno da precarização como condição de homogeneização da heterogeneidade de experiências e situações de trabalhos realizadas por uma parcela da força de trabalho sem-emprego e proteção social, no sentido do emprego fordista.

Entendemos que as novas gerações de trabalhadores vivem de forma completamente diferenciada a degradação do trabalho num quadro de reestruturação intensiva da esfera produtiva, orquestrada pelos gestores orgânicos do capital flexível, que reforça o caráter estranhado e alienado do trabalho sob a égide do capital. Ao passo que também expressa as contradições das relações de classes, pois no conjunto das manifestações, revoltas e novas formas de resistências inventadas contra a progressiva degradação e deterioração do trabalho, dos direitos e das condições de vida de trabalhadores em diversos países do Norte e Sul, os jovens trabalhadores, desempregados ou em empregos precários, foram/são atores políticos importantes. De certo modo, isso aponta para o fato de que os jovens trabalhadores vivem no cotidiano a negação e afirmação do trabalho, a perenidade e superfluidade do trabalho, para utilizarmos a sugestiva formulação de Antunes (2009). Em tempos de intensa precarização estrutural, surgem ecos de rebeldia das novas e velhas gerações de trabalhadores nos diversos países, do chamado Primeiro Mundo como do Terceiro Mundo, contra a ofensiva do capital global, dos agentes do Estado e agências financeiras multilaterais (Banco Mundial, FMI e outros), que através das reformas e ajustes econômicos e fiscais buscam solucionar a crise financeira dos capitais em detrimento da redução e perda de direitos sociais do trabalho, historicamente conquistados pela classe trabalhadora, aumentando vertiginosamente as fileiras do exército de trabalhadores precarizados e desempregados sem perspectivas de futuro.

Longe de qualquer sentença declaratória do fim do trabalho, o que urge na pauta da reflexão sociológica e política é a compreensão das implicações das complexas e intensas transformações do mundo do trabalho para os trabalhadores e suas conexões com as dimensões que perpassam a vida dos sujeitos no e para além do trabalho. E nesse aspecto, os jovens têm muito a dizer sobre o novo e precário mundo do trabalho (ALVES, 2000), uma vez que se trata de uma nova geração de trabalhadores, que já se insere no mundo laboral totalmente marcado pelo signo da crise do trabalho assalariado, na sua forma histórica do emprego fordista, vigente durante o período dos Trinta Gloriosos. É no bojo da crise do emprego fordista que a inserção dos jovens, e consequentemente, a relação como trabalho, aparece como problema social, objeto de intervenção das políticas públicas e de investigação sociológica (ALVES, 2007).

Em síntese, o equívoco nodal do debate geral sobre a crise do trabalho, que também se expressa no debate sobre a relação dos jovens com o trabalho, diz respeito à confusão, teórica e empírica, entre trabalho, enquanto categoria antropológica central da estruturação da vida humana, e a sua forma histórica na sociedade moderna, o trabalho assalariado, fundamento estrutural da sociedade produtora de mercadorias, que se configurou hegemonicamente a

partir da regulação salarial do período fordista, como uma relação salarial social protegida que assegurava aos trabalhadores a construção de uma identidade social (ainda que estranhada!) e de reconhecimento, a partir da posição social ocupada na divisão social do trabalho.

3.2.2 Uma leitura contratualista: crise da sociedade salarial e a centralidade do