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Individualização, despadronização e reversibilidade das trajetórias juvenis:

2. JUVENTUDE E TRABALHO: PROBLEMATIZANDO CONCEITOS E

2.3. Mutações sociais e condição juvenil

2.3.3 Individualização, despadronização e reversibilidade das trajetórias juvenis:

Por sua vez, os pesquisadores da rede EGRIS enfatizam em suas análises os processos de individualização, de despadronização e de reversibilidade das trajetórias juvenis e suas múltiplas transições, sincrônicas ou não, num contexto em que as transformações do mercado de trabalho (flexibilização e precarização) e nas estruturas familiares (diversificação das formas de organização familiar) enfraqueceram as referências culturais que orientavam a construção das trajetórias individuais, exigindo dos jovens o uso ativo de sua agência individual para inventar os novos caminhos, novas identidades, novas formas de trabalho, ou seja, a autorresponsabilização das suas próprias trajetórias, o que não anula as desigualdades sociais que experienciam e enfrentam no processo de transição à vida adulta.

Os trabalhos de Du-Bois-Reymund e outros (2002), Du-Bois-Reymund e Blasco (2004), e de Pais (2001) são representativos e sintetizam muito bem o tipo de problematização e de investigação empírica realizada pela rede de pesquisa EGRIS. Em linhas gerais alguns aspectos teórico-metodológicos chamam atenção nesses estudos: o conceito de “jovens adultos” enquanto categoria analítica das mudanças no modelo de transição; a noção de transição iô iô como metáfora teórica da não-linearidade da transição a vida adulta, e o uso da pesquisa comparada para compreender as especificidades das transformações sociais nos países europeus e suas implicações nos processos de transição26.

A hipótese central dessa perspectiva se assenta na premissa de que as transições dos jovens para a vida adulta ocorrem cada vez mais por processos despadronizados. No modelo de transição gestado na “era industrial”, a juventude era concebida como uma fase da vida, preparatória para a vida adulta, sendo que a transição entre a infância e a maturidade era considerada como um processo linear, gerador de uma biografia normalizada e diferenciada segundo o sexo, a classe, a posição ocupacional no mercado de trabalho. Entretanto, nos últimos anos, “se observa uma brusca ruptura desta linearidade das biografias que implicavam uma chegada 'natural' a vida adulta […], a qual já não se concebe co mo uma fase, mas como uma condição vital caracterizada por sua incerteza, vulnerabilidade e reversibilidade” (DU- BOIS-REYMUND; BLASCO, 2004, p. 12).

26Destacam-se entre trabalhos realizados pela EGRIS, os projetos de pesquisa sobre as trajetórias falidas e as

políticas de emprego para jovens europeus, juventude iôiô e o papel das famílias nas transições dos jovens europeus no contexto de crise do mundo trabalho e das formas de proteção social do Estado de Bem Estar, todos financiados pela União Europeia.

Os conceitos de individualização e despadronização dos modelos biográficos de Urick Beck (2010) são utilizados para explicar como as transições juvenis num contexto de enfraquecimento dos modelos coletivos de socialização se tornam mais incertos e imprevisíveis, não sendo possível estabelecer uma relação linear de causa-efeito entre o antes e o depois. Os jovens não estão simplesmente determinados pela sociedade, não são apenas meros objetos de socialização, mas são atores reais que administram ou pelos menos interferem nas condições de suas vidas, logo a juventude e a vida juvenil são metáforas representativas de uma realidade diversa, a qual se aplica outros critérios sociais (gênero, localização geográfica etc...).

A maneira como os jovens concebem a juventude e as condições pelas quais é produzida a transição à vida adulta tem uma importância crescente para a compreensão da condição juvenil e suas mutações, ou seja, o critério etário deixa de ser um parâmetro fundamental para distinguir a passagem de uma fase da vida à outra. Em parte, isso acontece porque os jovens, face às dificuldades de ascenderem ao mercado de trabalho após a conclusão dos estudos, encontram dificuldades de se reconhecerem como jovens ou adultos. Não é por acaso que em alguns países europeus tenha se estendido o conceito de jovens- adultos para 35 anos. Além disso, surgem situações intermediárias e reversíveis, mais ou menos transitórias em contraposição às dualidades jovem/velho; jovem/adulto, estudante/não estudante. Assim, o processo de transição não se restringe apenas ao aprendizado das regras da vida adulta, envolve formas complexas de transição e uma diversificação das rotas em direção à vida adulta, fortemente relacionadas com a individualização, que surge como consequência da extensão da educação obrigatória e pós-obrigatória, bem como da difusão e diversificação da cultura juvenil e do consumo.

O conceito de individualização implica que é o/a jovem quem tem que construir sua própria biografia sem depender da estabilidade dos contextos ou das tradições entre as quais se move. Quando a transição para vida adulta varia da normalidade a incerteza, os jovens sofrem uma pressão cada vez mais. Se veem obrigados a tomar decisões individuais – em matérias relacionadas com a educação ou o emprego, como também com o ócio – que podem ser de grande influência para a sua vida futura, sem serem capazes de prever claramente todas as implicações de suas opções. Os jovens devem tomar as decisões corretas, e devido a amplitude do leque de opções presentes na sociedade, devem tomar tais decisões de formas racionalizada e justificada (BOIS-REYMUND, 1998). Tomar decisões implica o risco de equivocar- se e tornar-se socialmente excluído. (DU-BOIS-REYMUND; BLASCO, 2004, p. 14) (Tradução nossa).

Na visão dos referidos autores, a individualização não significa que a estruturação social perdeu sua importância no que tange à origem social e desigualdades de oportunidades,

pois as desigualdades sociais no acesso aos recursos e oportunidades acompanham as trajetórias. O que há de novo é que o indivíduo jovem se torna gestor de sua própria transição, contudo o desenvolvimento dessa capacidade depende do conhecimento cultural, do suporte da família e das oportunidades e restrições relacionadas à educação, gênero e origem social. Acrescenta-se, ainda, outra novidade, a gestão individualizada da transição é marcada pelo signo da incerteza, agravada ainda mais com o fenômeno do prolongamento juvenil, já que o futuro se converteu em uma grande incógnita para os jovens, os quais não sabem o que serão deles em termos de inserção no mundo trabalho, moradia, relações afetivas, autonomia familiar etc. Assim, o processo de individualização leva as múltiplas modalidades de transições iôiô, tipificadas da seguinte forma: 1) jovens adultos com recursos limitados que são obrigados a alternar emprego precário, desemprego e formação profissional de caráter compensatória; 2) jovens adultos que dispõem de recursos e têm liberdade para escolher suas opções de acordo com os interesses e preferências; 3) jovens adultos que desejam experimentar novas soluções combinando formação e trabalho, mas que são obrigados a submeter seus anseios formativos e profissionais às trajetórias profissionais padronizadas e limitadas; 4) jovens adultos que são forçados a viver uma prolongada dependência dos pais devido à insuficiência da proteção social no caso do desemprego (Idem).

Essa tipologia do processo de transição indica que os jovens estão imersos em situações sociais labirínticas, que resultam em um conjunto de situações, oportunidades, espaços e ambientes diferentes, que antes eram organizados em eventos sequenciais e na atualidade se apresentam sobrepostos, interdependentes, progressivos e regressivos ao mesmo tempo. As transições já não são lineares (educação → emprego→matrimônio→filhos) e nem sincrônicas (educação + emprego), e passam a ser reversíveis tais como o movimento de iô- iô27 (educação ↔ trabalho). De acordo com Pais (2001), a metáfora do iô-iô é bastante apropriada para se entender a condição juvenil na contemporaneidade, a qual é concebida nos seguintes termos:

Perante estruturas sociais cada vez mais fluidas e modeladas em função dos indivíduos e seus desejos, os jovens sentem a sua vida marcada por crescentes inconstâncias, flutuações, descontinuidades, reversibilidades, movimentos autênticos de vaivém: saem de casa dos pais, para um qualquer dia voltarem; abandonam os estudos, para os retomarem tempos passados; encontram um emprego, e em qualquer momento se veem sem ele; as suas paixões são como “voos de borboleta”, sem pouso certo; se casam, não é certo que sejam para toda a vida... São estes

27 “Nas origens, iô-iô designa uma coisa: um disco preso por um fio com o qual se pode fazer movimentos

oscilatórios. Como brinquedo que é, façamos um uso metafórico (lúdico) do yô-yô. Tomemos o nome da ‘coisa’ para designar outra. Como? Utilizamos a metáfora como uma lente interpretativa da actual condição juvenil e das ritualidades que a constituem” (PAIS, 2001, p. 70)

movimentos oscilatórios e reversíveis que o recurso à metáfora do yô-yô ajuda a expressar. (PAIS, 2001, p.69)

Por essa ótica, o princípio de reversibilidade nos processos de transição para a vida adulta (profissional, educacional, familiar) é o que permite caracterizar as trajetórias juvenis dos anos 1990 como trajetórias tipo iô-iô. As tradicionais portas de entrada na vida adulta são reversíveis, fazendo emergir uma multiplicidade de estatutos intermediários, precários e transitórios, assim como, deixam de ser lineares e uniformes, uma vez que a saída da casa dos pais nem sempre coincide com o término dos estudos ou com o casamento, ou a co-habitação, o casamento pode vir antes da inserção num emprego estável. Sendo assim, os processos de transição seriam marcados por heterogeneidades, descontinuidades e rupturas. Os jovens desta geração estariam imersos num tempo do eterno retorno (cruzamento do tempo flecha x tempo cíclico), da mesma forma que deixam de ser jovens e se tornam adultos (abandonam os estudos + conseguem emprego + se casam), redescobrem com a juventude (a recorrência do desemprego, o retorno à condição de estudante, o divórcio, a volta da casa dos pais). “Em suma, a geração ‘yô-yô’ é uma geração dominada pelo aleatório e parece assentar numa ética

de experimentação que possibilita aos jovens que a integram uma deambulação pelos mais

variados estatutos profissionais, estudantis ou conjugais, tornando possível o movimento yô- yô” (PAIS, 2001, p.85, grifo do autor).

De acordo com Du-Bois-Reimund e Blasco (2004), os resultados das investigações desenvolvidas pela Rede EGRIS indicam que apesar da emergência de trajetórias de transição não-lineares (iô-iô), as políticas de transição ainda estariam pautadas numa perspectiva linear, que na prática significaria a ausência de políticas destinadas aos jovens adultos. Para dar conta das discrepâncias entre as trajetórias de tipo iô-iô, gestadas sob a égide da cultura da aleatoriedade, da experimentação; e a biografia padronizada, incutida nas lógicas de funcionamento das instituições que constituem o sistema de transição, os pesquisadores do EGRIS propõem o conceito de trajetórias falidas. Esse conceito remonta ao processo pelo qual a estrutura (política) objetiva integrar socialmente os jovens mediante a orientação, educação, formação profissional, políticas de bem-estar e emprego, mas que na prática reproduzem ou reforçam os riscos de exclusão social a que estão expostos os jovens. Mesmo num quadro de despadronização das trajetórias, é possível observar algumas tendências gerais de transições, ainda que haja diferenciações entre os países europeus. Para tanto, analisam comparativamente a situação dos jovens europeus a partir de quatro categorias abrangentes de transição de escola-trabalho, diferenciadas por estatutos, nível de escolaridade e grau de precariedade, concebidas da seguinte forma: a) trajetórias desqualificadas (entrada direta no

mercado de trabalho sem finalização da escolarização obrigatória e pós-obrigatória, com passagem nos programas compensatórios); b) trajetórias semiqualificadas (qualificação obtida através da formação escolar ou pós-escolar, porém sem valorização profissional em decorrência da falta de nexo entre demandas do mercado de trabalho e a baixa qualificação); c) trajetórias qualificadas (qualificação especializada obtida na educação pós-obrigatória ou formação profissional com integração em setores importantes do mercado de trabalho); e

trajetórias acadêmicas (obtenção de certificação no ensino superior e chances de ascender a

postos de trabalho qualificados).

No esquadro desta tipologia, as trajetórias falidas se encontram com maior incidência entre as trajetórias de baixa qualificação e semiqualificada, sendo que as trajetórias acadêmicas teriam maiores probabilidades de obtenção de postos de trabalho mais estáveis, com melhores salários, ainda que não garanta o acesso permanente a uma posição segura e exitosa socialmente. Consideram-se falidas, as trajetórias e as políticas que:

 não levam em conta as perspectivas subjetivas dos jovens adultos, restringindo a integração social a integração no mercado de trabalho;

 funcionam como “contentores” cuja finalidade é retirar os jovens da rua e direcioná-los a planos de carreira em lugar de ajudá-los a construir seus próprios itinerários;

 mascaram o desajuste estrutural entre o sistema educativo e o mercado de trabalho, personalizando o problema do trabalho insuficiente e definindo coletivos problemático os quais podem se atribuem a culpa pelos déficit estruturais;

 desmotivam os jovens exigindo-lhes mais educação, sem ser capazes de proporcionar uma educação que vale a pena;

 regulam o acesso as ajudas através de critérios burocráticos tais como idade, tempo do desemprego, nacionalidade, sexo, ao invés de levar em conta as necessidades individuais. (DU-BOIS-REYMUND; BLASCO, 2004, p 18) (Tradução nossa).

Com base nessa tipologia, os autores argumentam que há processos de transição diferenciados em decorrência das especificidades estruturais no mercado de trabalho, no sistema educativo e de formação, de seguridade e proteção social dos países europeus, que implicam em trajetórias e políticas de transição diferenciadas, além de aspectos socioculturais específicos a cada país que interferem no processo de entrada na vida adulto. No âmbito dos estudos realizados pela rede EGRIS, constatou-se, a partir da uma análise comparativa entre três grupos de países, que as consequências das diferentes estruturas sobre as biografias dos jovens produzem trajetórias falidas numa escala que envolve um conjunto de fatores.

Em alguns países, as trajetórias falidas são decorrentes da alta flexibilidade do mercado de trabalho (elevada rotatividade combinada com individualização dos riscos) que

impossibilita a mobilidade social e igualdade de oportunidades entre jovens das classes trabalhadores, como é o caso da Inglaterra; da falta de seguridade social em decorrência do desajuste estrutural entre o sistema educacional e o mundo do trabalho, que obriga os jovens adultos a dependerem de suas famílias, a exemplo do acontece com os jovens italianos; ou ainda, da falta de oportunidades individuais para os jovens da Alemanha Ocidental que fracassam no sistema escolar altamente seletivo, que se veem obrigados a participar de programas de qualificação sem reconhecimento social, num modelo tradicionalmente caracterizado por forte propensão ao emprego qualificado, agora com significativo incremento de empregos semiqualificados ou sem qualificação (BRIGGART et al, 2002).

As trajetórias falidas também estão relacionadas à crise do sistema educativo em sociedades segmentadas, fortemente marcadas pela presença do sistema meritocrático, enquanto mecanismo de seleção e acesso ao mercado de trabalho, que tem redefinido profundamente a vida dos jovens e suas trajetórias. Num contexto de reestruturação de mercado de trabalho com elevadas taxas de desemprego e exigências de qualificação profissionais, os jovens se encontram sobrequalificados para os postos de trabalho que ocupam, a exemplo do que ocorre com os jovens espanhóis com alta qualificação acadêmica, porém só encontram empregos precários de baixa remuneração (também conhecido com o fenômeno dos mileuristas28). A escola e a família funcionam como salas de espera para os jovens que podem (ou não) ascender o mundo do trabalho (MORCH et al, 2002). Por fim, também se observa, principalmente na Irlanda, Países Baixos, Portugal e entre os jovens migrantes na Alemanha, que os desajustes entre o sistema educativo e o mundo do trabalho atingem incisivamente os jovens imigrantes ou pertencentes a minorias étnicas, os quais são considerados culpados pelos seus déficits estruturais, atribuindo-lhes a responsabilidade pela

28 Este termo tem sido utilizado para designar parcela significativa dos jovens espanhóis e europeus, geralmente

com elevado grau de escolaridade, inseridos em empregos precários, cuja remuneração não ultrapassa 1.000 euros. Acarta da jovem espanhola, Carolina Alguacil, publicada no Jornal El País, intitulada “Yo soy mileurista” sintetiza muito bem a expressão: “El mileurista es aquel joven, de 25 a 34 años, licenciado, bien preparado, que habla idiomas, tiene posgrados, másteres y cursillos. Normalmente iniciado en la hostelería, ha pasado grandes temporadas en trabajos no remunerados, llamados eufemísticamente becarios, prácticos (claro), trainings, etcétera. Ahora echa la vista atrás, y quiere sentirse satisfecho, porque al cabo de dos renovaciones de contrato, le han hecho fijo, en un trabajo que de alguna forma puede considerarse formal, ‘lo que yo buscaba’. Lleva entonces tres o cuatro años en el circuito laboral, con suerte la mitad cotizados. Y puede considerarse ya un especialista, un ejecutivo; lo malo es que no gana más de mil euros, sin pagas extras, y mejor no te quejes. El mileurista hace tiempo que decidió irse de casa, y gasta más de un tercio de su sueldo en alquiler, porque le gusta disfrutar de la gran ciudad. Comparte piso con más gente, a veces es divertido, pero ya cansa. ‘Yo en 30 metros me apañaría’. El mileurista no ahorra, no tiene casa, no tiene coche, no tiene hijos, vive al día. A veces es divertido, pero ya cansa. El mileurista ha ido a ‘Europa’ este verano, en uno de esos vuelos baratos donde te hablan de tú, y ha dormido en un hostal joven (qué divertido). El mileurista ha pagado lo mismo por un café, incluso menos por la comida, que en su ciudad. Pregunta, investiga y allí los alquileres son parecidos, y piensa que España está ya al nivel europeo. Pero lo malo es que se ríen cuando dice que gana ‘nine

precária posição social, geralmente entendida como um problema de assimilação cultural (DU-BOIS-REYMUND et al, 2002).

O modelo analítico em discussão compreende a condição juvenil a partir de uma perspectiva teórica que prioriza as estruturas de oportunidades e as ações eletivas dos jovens numa sociedade individualizada, dando ênfase à dimensão reflexiva nas estratégias individuais, pois os “jovens precisam avaliar constantemente o ajuste entre suas necessidades

e expectativas individuais e as exigências procedentes do exterior” (DU-BOIS-REYMUND;

BLASCO, 2004, p. 16). Se os jovens são os responsáveis por suas biografias, isto significa que as biografias são eletivas ou autoconfiguradas, ou seja, a transição para a vida adulta depende em grande medida da capacidade dos jovens de inventar e reinventar suas trajetórias e seus percursos sócio-profissionais, de fazerem bricolagens que deem sentidos as suas ações e expectativas de vida. Isso também implica uma gestão contínua e permanente das novas oportunidades e dos riscos, bem como, na construção dos sentidos que se atrelam a própria vida dos indivíduos jovens.

A condição juvenil é problematizada sob o prisma de uma perspectiva sociológica centrada nas interações dos indivíduos e os contextos da ação, de tal forma que a compreensão dos sentidos que os jovens atribuem aos processos e as transformações subjacentes à construção da condição juvenil se tornam imprescindíveis, uma vez que esses processos são cada vez mais diversificados, complexos e diferenciados. Por essa razão emergem diferentes reações e atitudes dos jovens frente às diversas dimensões que envolvem a transição, principalmente no que se refere à relação com o trabalho, emprego, desemprego e as mudanças em curso no mundo do trabalho. Por essa ótica, os aspectos comumente considerados como determinantes das mutações da condição juvenil passam a ser vistos como elementos estruturantes do campo de escolhas e dos projetos pessoais, familiares e/ou profissionais, de modo que as mutações do mundo do trabalho não resultariam, a priori, em obstáculos ou bloqueios ao desenvolvimento dos trajetos juvenis rumo à vida adulta. A instabilidade laboral e a precarização do emprego não assumiriam um único sentido nos itinerários biográficos juvenis, mesmo para segmentos juvenis que compartilhem entre si dos mesmos atributos ou estratos sociais (origem social, cor, escolaridade, gênero etc.). Inclusive, os pesquisadores do EGRIS destacam em suas análises a recorrência de jovens com baixa escolarização e qualificação que utilizam de sua criatividade para desenvolver carreiras profissionais exitosas (DU-BOIS-REYMUND; BLASCO, 2004; PAIS, 2001).

Esta perspectiva analítica tem sido bastante utilizada nos estudos contemporâneos sobre trajetórias e formas de inserção de jovens no mundo do trabalho em diversos países,

principalmente entre os pesquisadores preocupados com a diversidade juvenil, mesmo que não compartilhem ou não incorporem integralmente tal perspectiva às suas análises29.

É necessário questionar os limites teóricos e políticos e suas consequências para a investigação empírica, quando se atribui aos indivíduos e as suas possibilidades de escolhas, o lócus central de entendimento das mudanças em cursos nos processos de construção das