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A contribuição do elemento africano na formação do português brasileiro

CAPÍTULO 1: A LÍNGUA PORTUGUESA NO BRASIL

1.3 O CONTATO ENTRE LÍNGUAS NA FORMAÇÃO DO PORTUGUÊS POPULAR DO BRASIL: UMA ABORDAGEM DO CONTEXTO SOCIAL

1.3.2 A contribuição do elemento africano na formação do português brasileiro

13 Segunda Mussa (1991), no período de 1538 a 1600, o indígena representava cerca de 50% da população total do

Brasil, número que decaiu para 10% no período de 1601 a 1700, passando para 8% e 4%, respectivamente, nos períodos de 1701 a 1800 e 1801 a 1850. Na segunda metade do século XIX até a última década desse século, estima- se um total de 2% de população indígena do geral de habitantes no Brasil.

Acreditamos que os negros africanos e seus descendentes contribuíram, no período colonial, com a difusão do que conhecemos hoje como português popular brasileiro. Na verdade, o processo de transmissão lingüística irregular, desencadeado pelo contato, possibilitou a formação de variações na língua vinda de Portugal, tendo o negro como principal difusor dessa variedade. Sendo assim, estudar a origem e a quantidade de negros trazidos para o Brasil como escravos faz-se necessário na medida em que nos permite compreender melhor o papel dos africanos no decorrer da história sociolingüística de nosso país.

Com a inadaptação do índio ao trabalho agrícola e com a oposição da Igreja à escravidão indígena, os colonizadores europeus optaram pelo tráfico negreiro. De fato, o comércio de escravos já era uma prática comum em Portugal desde 1443. Dessa forma, a África perdeu, em virtude do tráfico, no período da colonização da América, um grande contingente populacional.

A ausência de dados oficiais acerca da origem e da quantidade de negros trazidos para o Brasil favorece o surgimento de opiniões divergentes entre os estudiosos a respeito dessa questão. Em relação à origem geográfica dos africanos aprisionados e trazidos para o Brasil, Cotrim (2001) afirma que pertenciam, principalmente, a dois grupos lingüísticos: Bantos e Sudaneses. Os Bantos vinham de tribos do sul da África, de forma geral de Angola e de Moçambique, e desembarcavam principalmente em Pernambuco e no Rio de Janeiro. Os Sudaneses, por sua vez, formavam tribos na Guiné, Nigéria e Daomé, sendo trazidos principalmente para a Bahia. No entanto, essa divisão de grupos africanos importados ao Brasil e relacionados com regiões brasileiras deve ser tomada apenas como uma predominância de determinado grupo sobre outro, ou seja, como uma tendência de importar africanos para cada região e não como exclusividade.

Mattoso (1990 [1979]) relaciona cada período com a predominância de africanos importados para determinadas regiões brasileiras; nesse sentido, define alguns locais de onde procederam os negros escravizados, como pode ser visualizado no seguinte quadro:

Século Ciclo Procedência Especificação

XVI (Segunda metade) Ciclo da Guiné África, ao norte do

Equador

Uolofs, mandingas, sonrais, mossis, haússas e peuls

XVII Ciclo do Congo e de

Angola

África equatorial e central

Minas, ardas, angoleses XVIII (três primeiros

quartos)

Ciclo da Mina e do Golfo de Benin e Costa da Mina

Benin Sudaneses (daomeano)

Fonte: MATTOSO, 1990 [1979], p. 22-23.

Não podemos tomar o quadro acima como categórico para explicar a origem dos africanos chegados ao Brasil, visto que ele apresenta apenas uma tendência majoritária, demonstrada através do ciclo do tráfico, em importar africanos de determinado local em um dado período. Desse modo, é possível que os africanos tenham sido trazidos para o Brasil de lugares diversos em um mesmo período e não apenas daqueles que estão registrados no Quadro 1.

Nina Rodrigues (2004 [1935]) demonstra que na Bahia parecia haver uma maioria de negros sudaneses e em Pernambuco e no Rio de Janeiro o predomínio era dos negros bantos. No entanto, deixa claro que estabelecer exclusivismo da origem de populações negras trazidas para o Brasil pode induzir a erro. Além disso, ao se referir aos estudos de Silvio Romero e de João Ribeiro destaca que:

Os estudos e observações de ambos particularmente se referem a Pernambuco e Rio de Janeiro e do que ali observaram foram provavelmente induzidos a generalizar, para todo o país, o predomínio da gente banto.

Tão errôneo, todavia, como supor que os negros bantos predominaram em todo o país, seria concluir-se do que aqui deixamos apurado, que só na Bahia tivessem tido ingresso os negros sudaneses (NINA RODRIGUES, 2004 [1935], p. 50).

Visconde de Porto Seguro citado por Nina Rodrigues (2004 [1935]) se refere também a um grande número de escravos, chegados ao Brasil, provindos de Guiné, Congo, Moçambique e da Costa da Mina, sendo que desta eram transportados africanos com certa exclusividade para a Bahia. Examinemos a transcrição abaixo:

Pode-se dizer que a importação dos colonos pretos para o Brasil, feita pelos traficantes, teve lugar de todas as nações, não só do litoral de África, que decorre desde o Cabo Verde para o sul e ainda do Cabo da Boa Esperança, nos territórios e costas de Moçambique, como também não menos de outras dos sertões, que com eles estavam em guerra, e às quais faziam muitos prisioneiros, sem os matarem. Os mais conhecidos no Brasil eram os provindos de Guiné (em cujo número o compreendiam berberes, jalofos, felupos, mandingas), do Congo, de Moçambique e da Costa da Mina, donde eram o maior número dos que entravam na Bahia, que ficava fronteira e com mui fácil

navegação, motivo por que nesta cidade tantos escravos aprendiam menos o português, entendendo-se uns com os outros em nagô (VISCONDE DE PORTO SEGURO [18-?] apud NINA RODRIGUES, 2004 [1935], p. 34-35).

Chegando ao Brasil, os negros eram vendidos nos mercados de escravos e, em pouco tempo, já estavam trabalhando nas propriedades de grandes senhores ou em outros setores da esfera social. Os escravos exerciam múltiplas atividades subalternas, que, por sua vez, eram extremamente necessárias à sociedade; 14 assim, os negros estavam sempre nas grandes frentes de exploração econômica do processo colonial. Nos séculos XVI e XVII, havia grande concentração de escravos nas lavouras canavieiras de Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro. No final do século XVII e no século XVIII, os negros e seus descendentes predominavam nas zonas de mineração de ouro e de diamantes em Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás. No século XIX, a mão-de-obra africana se concentrava na área cafeeira do Vale do Paraíba e em áreas do Rio de Janeiro e de Minas Gerais.15

Para Mattos e Silva (2001; 2004), as funções sociais desempenhadas pelos negros e a necessidade de mobilidade africana, em decorrência das atividades econômicas, são indícios que podem apontar:

(...) para a generalização da presença dos africanos e afro-descendentes por todo o Brasil colonial, com menos representatividade, é certo, no Brasil meridional, de forte presença indígena (...); e, evidentemente, o Brasil Amazônico, até hoje marcadamente indígena; mas também em ambas as áreas estavam presentes o escravo africano e seus descendentes (MATTOS E SILVA, 2004, p. 84).

Esta estudiosa atribui aos africanos o papel de difusores do português geral brasileiro, que provavelmente seria a língua de comunicação generalizada na integração desses elementos à sociedade colonial.

A Bahia pode ser considerada como um dos principais portos de desembarque de negros africanos. Segundo Calógeras (1967), estes foram trazidos para o Brasil através dos navios negreiros, cujo espaço era pouco, o ambiente, escuro e o calor, insuportável. Além disso, os

14 Os escravos dos núcleos urbanos desempenhavam também atividade considerada vil para os brancos, são eles

artesãos, marinheiros, pintores, carregadores, vendedores de doces e rendas, de forma a contribuir para o aumento da renda de seus senhores. É importante destacar que as relações estabelecidas entre os escravos africanos e seus senhores eram diversas: ‘‘(...) escravos dos campos, das minas, dos sertões terão destinos diversos e viverão de maneiras muito diferentes suas relações com a sociedade que os obriga ao trabalho’’ (MATTOSO, 1990 [1979], p. 109).

15 Não podemos perder de vista que a concentração de escravos em determinadas regiões rurais, em específicas

épocas, não significa que o negro não tenha participado de outras atividades da esfera social, como nas regiões pastoris, do interior nordestino brasileiro, ou no cultivo de algodão, fumo e outros produtos no Maranhão etc.

escravos sofriam maus tratos, a água era suja e o alimento insuficiente para todos. Enfim, o transporte dos escravos saídos da África era subumano. Devido a isso, morriam na viagem cerca de 20 a 40% dos negros. Para Mussa (1991), o grande responsável pela elevação do contingente africano foi o imenso volume de importação de negros, pois a vida média do escravo no eito girava em torno de cinco anos, morrendo anualmente aproximadamente 20% de escravos, sem contar a mortalidade infantil que chegava a cerca de 60%.

De acordo com Simonsen (1967), diversos fatores como a má alimentação, o excesso de trabalho, as péssimas condições de higiene, os castigos, dentre outros, afetaram a saúde dos negros africanos, cuja estimativa de vida era de aproximadamente sete a doze anos de trabalho.

Os escravos, caso não obedecessem aos seus proprietários, eram brutalmente castigados. Diante disso, de várias maneiras os negros tentaram reagir contra a crueldade das penas que lhes eram impostas. Uma das formas de se evitar revoltas entre os escravos era o agrupamento nas senzalas de negros de diferentes tribos e, portanto, de distintas línguas, de forma que não era possível a comunicação entre eles. Apesar disso, muitos escravos fugiam em busca de liberdade e iam viver em quilombos, que se constituiu na face mais visível de resistência à escravidão. Na verdade, os quilombos eram formados por escravos fugidos que sobreviviam à margem da sociedade colonial.

Segundo Mussa (1991), as modificações ocorridas no quadro populacional demonstram imediatas implicações lingüísticas. Assim, um aumento do tráfico negreiro indica aumento nas proporções e no número de engenhos o que, por sua vez, demonstra a chegada de imigrantes portugueses às áreas onde se localizam esses engenhos. Desse modo, o ‘‘(...) século XVII, (...) já assiste ao predomínio gradual e à afirmação definitiva do português como língua da sociedade que se desenvolve no nordeste: a dos latifundiários rurais’’ (MUSSA, 1991, p. 155). Além disso, a descoberta de ouro e de diamantes, no século XVIII, em Minas Gerais, desencadeia a chegada de um grande número de imigrantes portugueses.

Há estimativas, segundo Klein (1987), de que, dos séculos XVI ao XIX, foram trazidos para a América, aproximadamente, vinte milhões de escravos. Para o Brasil, o total de escravos africanos desembarcados oscila entre 3,5 milhões e 4 milhões.

O censo extra-oficial de 1798 demonstra um aumento no número de mestiços, o que atesta a miscigenação entre os povos. Acrescentamos na Tabela 2 os percentuais relativos ao número de habitantes documentados no censo de 1798.

Tabela 2: População brasileira segundo o censo de 1798

GRUPO ÉTNICO NÚMERO DE HABITANTES PERCENTUAL

Brancos 1.010.000 31% Mestiços livres 406.000 12% Mestiços escravos 221.000 7% Negros escravos 1.361.000 42% Índios 250.000 8% Total 3.248.000 100% Fonte: CONRAD, 1978 [1927], p. 344.

A partir de dados de 1798, podemos registrar 42% de negros escravos, seguido de um total de 31% de população branca. Os mestiços (livres e escravos) são representados como terceiro grupo populacional, com um total de 19%.

No século XIX, por outro lado, pode ser documentado no censo extra-oficial de 1850 o predomínio dos mestiços, com 34%, o que demonstra um elevado grau de miscigenação. Observamos que o número de negros, nesse século, ainda é superior ao da população branca; além disso, percebemos que, se confrontados os dados do censo de 1798 (com 1.361.000 escravos) e o de 1850 (com 2.500.000 negros), houve um aumento em termos absolutos dessa população; no entanto, em termos relativos, houve uma regressão, pois, no censo de 1798, registrava-se um total de 42% de escravos e, no censo subseqüente, esse número decresce para 31%. Observe a Tabela 3:

Tabela 3: População brasileira segundo o censo de 1850

Brancos 2.482.000 30,96% Mestiços 2.732.000 34,08%

Negros 2.500.000 31,19%

Índios 302.000 3,77%

TOTAL 8.020.000 100%

Fonte: CHIAVENATTO, 1980, p. 237 apud LUCCHESI, 2000, p. 62.

Em 1890, o grupo populacional predominante é o de brancos, com cerca de 40%. Devemos salientar que é ‘‘nesse século que se inicia propriamente a imigração européia não portuguesa, cuja importação relativa também dependerá da região’’ (MUSSA, 1991, p. 161-162). No entanto, o crescimento da população branca não pode ser tributado apenas à imigração.

Além disso, de acordo com o censo de 1890, temos de levar em conta ainda o crescimento da população mestiça, que, no censo de 1798, representava 19% da população e, a partir dos dados do censo de 1890, é atestado 41,40%. Sendo assim, os mestiços constituem o segundo grupo populacional no final do século XIX, tendo um crescimento considerável em menos de cem anos.

Tabela 4: População brasileira segundo o censo de 1890

Etnia (dados de 1890) População Percentagem

Brancos 6.302.198 43,97%

Mestiços16 5.934.291 41,40%

Negros 2.097.426 14,63%

TOTAL 14.333.915 100%

Fonte: CHIAVENATTO, 1980, p. 237 apud LUCCHESI, 2000, p. 62.

Como podemos ver, os dados censitários de 1890 demonstram um total de 14,63% de população negra. Esses dados, se confrontados com os dos censos de 1798 e de 1850, apresentarão uma queda, pois enquanto em 1798 havia um total de 42% de negros escravos e, em 1850, 34%, no censo de 1890 é registrado aproximadamente 15% de negros. Observemos a tabela abaixo:

Tabela 5: População negra nos séculos XVIII e XIX

Período Percentagem de população negra

1798 42% 1850 31% 1890 15%

De acordo com Mussa (1991, p. 162):

O crescimento do contingente negro deve ser avaliado com mais cautela. Ao contrário do que sucedeu com os demais grupos étnicos, a curva demográfica não foi sempre ascendente; ela se apresenta ascendente até cerca de 1850, quando começa a cair. O fato está, evidentemente, ligado à extinção do tráfico negreiro. Esse tráfico tomou proporções assustadoras na primeira metade do século, apesar de proibido.

Mussa (1991) apresenta uma tentativa aproximada de reconstrução do quadro populacional dos quatro séculos de história do Brasil. Observe na tabela seguinte a estimativa da população do Brasil do século XVI ao XIX:

Tabela 6: Configuração populacional (1538-1890)

1538-1600 1601-1700 1701-1800 1801-1850 1851-1890 Africanos 20% 30% 20% 12% 2% Negros brasileiros ___17 20% 21% 19% 13% Mulatos ___ 10% 19% 34% 42% Brancos brasileiros ___ 5% 10% 17% 24% Europeus 30% 25% 22% 14% 17% Índios integrados 50% 10% 8% 4% 2% Fonte: MUSSA, 1991, p. 163.

Conforme Tabela 6, a maioria dos falantes no período inicial da colonização era de língua não-portuguesa: 70%. Além disso, vê-se o constante decréscimo da população de indígenas, de 50% para 2% ao longo do período colonial e imperial. Por outro lado, o percentual de massa

17 Mussa (1991) considerou desprezível, para o século XVI, a população branca, negra ou mestiça nascida no Brasil,

africana e de afro-descendentes é constantemente alto: 20% no século XVI, 60% nos séculos XVII e XVIII, na primeira metade do século XIX, temos um total de 65% e, na segunda metade desse século, perfazia um total de 57%. Desse modo, a constituição populacional do Brasil entre 1538 e 1890 foi extremamente variada. Quanto à população de brancos (europeus e brasileiros), foi documentado um crescimento maior apenas na segunda metade do século XIX, fato que pode estar ligado à chegada de imigrantes europeus e asiáticos em nosso país, bem como à proibição do tráfico negreiro. Além do mais, na primeira metade do século XIX, devemos salientar a grande leva de portugueses que desembarcou no Brasil a partir da vinda da família Real e da corte portuguesa.

Observamos que o número de população negra nunca foi tão inferior ao total de brancos; ao lado disso, o crescimento da população mestiça, no decorrer do período colonial e imperial, atesta a miscigenação racial. Esses fatores podem contribuir para explicar a não estabilização ou não ocorrência de um crioulo de base portuguesa no Brasil.

Tendo em vista a polarização da língua portuguesa no Brasil: de um lado, o português popular e de outro, o português culto, podemos afirmar que os dados relativos à nossa demografia histórica podem nos fornecer indícios dos possíveis papéis dos negros, brancos e índios na nossa constituição lingüística. Para Mattos e Silva (2000; 2004), são os africanos e os afro- descendentes, e não os indígenas autóctones, os difusores do que atualmente designamos de português popular brasileiro, ‘‘(...) já que o português brasileiro culto, próprio hoje, em geral, aos de escolarização mais alta, será o descendente do português europeu ou mais europeizado, das elites e dos segmentos mais altos da sociedade colonial’’ (MATTOS E SILVA, 2000, p. 20).

Cremos que o português culto e o português popular apresentam histórias distintas, uma vez que destacam elementos diferentes em sua constituição. Sendo assim, a história do PPB está ligada ao processo de transmissão lingüística irregular, desencadeado pelo contato, que, por sua vez, relaciona-se com o elemento africano e seus descendentes.

É interessante notar que a massa africana teve de aprender o português na oralidade, sem auxílio de normativização escolar,18 como afirma Mattoso (1990 [1979]). Dessa forma, teve um acesso precário à língua alvo. No entanto, apesar da precariedade dessa transmissão e da grande representatividade desse segmento étnico na nossa realidade sócio-histórica e lingüística, não se formou, no Brasil, uma língua crioula de base portuguesa. Houve apenas uma TLI do tipo menos

18 Segundo Mattoso (1990 [1979]), era proibido aos escravos, até mesmo aos forros, terem acesso a uma educação

intensa, ou seja, o acesso à língua alvo não foi tão precário a ponto de dar origem a um crioulo típico, resultando apenas numa variação dos elementos gramaticais no nosso vernáculo.

Cremos que os africanos e seus descendentes não se limitaram a contribuir apenas com o léxico da língua portuguesa no Brasil. Na verdade, o negro, bem como seus descendentes influenciaram na formação do vernáculo brasileiro, sendo um dos principais difusores, através da transmissão irregular, do nosso português popular. Daí a importância de se estudar o percentual de negros trazidos para o Brasil na época colonial, bem como suas atividades e seu envolvimento com a população brasileira e européia. Para Mattos e Silva (2000; 2004), será a voz do africano ‘‘(...) a marcar, reformatar, dar o tom à gramática do vernáculo brasileiro, vernáculo entendido como língua materna de falantes com história de vida familiar e pessoal, sem interferência da escolarização, ou, se quisermos, ao chamado português popular brasileiro’’ (MATTOS E SILVA, 2004, p. 92). Sendo assim, a compreensão da história sociolingüística do Brasil é, por excelência, essencial para o entendimento de nossa realidade lingüística plural e polarizada.