• Nenhum resultado encontrado

2.1.1.1.1.1 A oração independente na língua latina

CONTEXTOS PREVISTOS NA ORAÇÃO PRINCIPAL

2.4 O MODO SUBJUNTIVO NUMA PERSPECTIVA ESTRUTURALISTA

As noções gramaticais do verbo em português abrangem de um lado os morfemas flexionais de tempo e modo e, de outro, de pessoa e número, sendo que este último não é propriamente verbal, uma vez que faz referência ao nome (cf. Mattoso Câmara, 2002a [1970]).

Dentro do escopo desse estudo, interessa-nos o primeiro desses morfemas que acumula em si a noção de tempo e modo do verbo. Mattoso Câmara (2002a [1970]) afirma que é extremamente complexo o estudo semântico do verbo em português e “(...) talvez onde melhor se evidencia a incapacidade dos métodos da gramática tradicional para fazer justiça a uma interpretação adequada do sistema gramatical português” (MATTOSO CÂMARA, 2002a [1970], p. 97).

O morfema flexional no verbo acumula em si a indicação de tempo e modo. Dessa forma, não há como morfologicamente separar estas duas noções, pois são assinaladas pela mesma forma e, por isso, é comum, segundo Mattoso Câmara, em português e nas línguas em geral, um emprego modal dos tempos verbais, também chamado emprego metafórico,54 segundo o qual o tempo adquire um valor modal e vice-versa. Neste sentido, Jespersen (1929 apud MATTOSO CÂMARA, 2002a [1970]) afirma que o tempo passado marca modalmente a irrealidade e o futuro, sem implicação temporal, deve ser associado a um valor dubitativo. No entanto, para Mattoso Câmara, não é necessário tomarmos como base inicialmente esse emprego metafórico dos tempos para se fazer uma apreciação dos modos. Na verdade, devemos nos pautar apenas nas formas modais propriamente ditas.

No âmbito de seu estudo, Mattoso Câmara faz uma apreciação dos modos verbais em português, tendo como base o critério semântico de oposição e afirma que o subjuntivo, diferentemente do indicativo, “(...) assinala uma tomada de posição subjetiva do falante em

relação ao processo verbal comunicado” (MATTOSO CÂMARA, 2002a [1970], p. 99) e no indicativo não nos é possível observar essa marca. Além disso, sintaticamente, o subjuntivo depende de uma palavra, seja o advérbio talvez, seja um verbo da oração principal. Já o imperativo não apresenta necessariamente uma subordinação sintática. Em outras palavras, o subjuntivo e o imperativo são modos marcados pela subjetividade do falante frente à ação verbal, enquanto o indicativo é o modo não-marcado. Por outro lado, sintaticamente, o imperativo se caracteriza por ser o modo não-marcado, ao passo que o indicativo e o subjuntivo mantêm dependência sintática, ocorrendo em orações subordinadas.

No que se refere ao subjuntivo, a diferença sintática entre o latim e o português está no fato de, nesta língua, as formas subjuntivas ocorrerem quase categoricamente em orações subordinadas. Além disso, com relação ao advérbio talvez, a “(...) significação dubitativa da comunicação está fundamentalmente expressa no advérbio modal e não depende em essência da forma subjuntiva, tanto que ela é dispensada com a posposição de talvez” (MATTOSO CÂMARA, 1979, p. 133). Perini (2004), diante disso, assinala que advérbios como talvez regem o modo da oração a que pertencem, pois aceita o subjuntivo quando o verbo está à sua direita e, o indicativo, se o verbo estiver à sua esquerda, como podemos visualizar em:

Eu talvez o procure no escritório. Eu o procurarei no escritório, talvez. (PERINI, 2004, p. 175)

Ainda para Perini (2004) não é apenas o advérbio talvez que marca o caráter modal de dúvida e hipótese, assumindo o valor de subjuntivo, como também o emprego de certas preposições pode condicionar o uso desse modo verbal, ou seja, “uma oração subordinada à preposição para aparece no subjuntivo, mas não no indicativo” (PERINI, 2004, p. 175), o que não ocorre com a preposição até, que admite ambos os modos com apenas alguma diferença semântica. Observe os exemplos abaixo:

Trouxemos este frango para que você o mate. Fiquei escondido até que você chegou. Ficarei escondido até que você chegue. (PERINI, 2004, p. 176)

Segundo Perini (2004), alguns verbos da oração principal podem exigir um modo específico na subordinada (subjuntivo ou indicativo) ou permitir o uso de ambos os modos, sendo que neste último caso, o verbo da oração principal deve expressar atitudes diferentes do falante.

Há casos também em que é o tempo verbal da oração principal que condiciona a ocorrência do modo da subordinada e não o valor semântico expresso na oração principal, como em:

a) Ele pensou que estivesse/estava protegido b) Ele pensava que estivesse/estava protegido c) Ele pensa que *esteja/está protegido (PERINI, 2004, p. 176)

Em c) não é aceitável o uso, na subordinada, do verbo no subjuntivo, devido a presença do tempo presente. Assim, não há uma regra que condicione categoricamente o emprego desse modo nas orações, podendo este ser empregado tanto em orações subordinadas a verbos volitivos, quanto depois do advérbio talvez, que, por si só, abarca a modalidade irrealis; além disso, há valores atitudinais e certas preposições temporais que parecem contribuir para o emprego deste modo verbal. Na verdade, parece haver uma divergência entre os autores com relação ao emprego do subjuntivo, pois não se sabe o que deve prevalecer: o uso de preposições, a atitude do falante diante do fato que é enunciado, o critério semântico dos verbos da oração principal ou o valor temporal, como foi visualizado nos exemplos anteriores retirados de Perini (2004).

Diante disso, Mattoso Câmara (1979, p. 133) afirma que “(...) em português o uso das formas de subjuntivo vem a ser uma pura servidão gramatical, isto é, um padrão formal, apenas, e não a marcação de certos valores semânticos.” No entanto, não concordamos com essa postura por várias razões: (i) de fato são muitos os valores tradicionalmente associados ao subjuntivo, mas em todos os contextos categóricos de emprego das formas desse modo verbal, observamos que um dos traços semânticos inerentes ao subjuntivo está presente; (ii) por outro lado, temos de observar a questão do uso do subjuntivo nas situações de fala e quais valores são a ele associados pelos falantes, pois o uso do subjuntivo na realidade lingüística pressupõe que há uma relação entre os valores semânticos associados a esse modo verbal e suas tradicionais marcas formais. Assim, cremos que a partir de pesquisas em situações de fala poderemos chegar a ilações mais seguras a respeito do subjuntivo.

De acordo com esse lingüista, os três tempos do modo subjuntivo, presente, pretérito e futuro, opõem-se e correlacionam-se no seu emprego. No entanto, essa divisão tripartida, segundo ele, não corresponde à realidade lingüística. Na verdade, há dois sistemas dicotômicos do subjuntivo no plano temporal: O primeiro abarca a oposição pretérito/presente e o segundo, pretérito/futuro. No que se refere à 1a oposição, Mattoso Câmara afirma que o pretérito é a forma marcada e se opõe ao presente, que, por sua vez, abarca o futuro: “Talvez venha no próximo

mês” (MATTOSO CÂMARA, 1979, p. 135). Por outro lado, quanto à 2a oposição, o tempo futuro estabelece uma condição prévia do que se vai comunicar, como podemos observar em e):

d) Se fosse verdade, eu partiria (ou -partia) sem demora. e) Se for verdade, eu partirei (ou -parto) sem demora. (MATTOSO CÂMARA, 2002a [1970], p.101-102)

Enquanto em d), o pretérito sugere irregularidade, em e), a oração subordinada indica que pode ou não ser verdade. Dessa sorte, o quadro abaixo resumiria os tempos no modo subjuntivo: Quadro 3: Oposição entre os tempos do modo subjuntivo

Orações não-condicionais PRETÉRITO PRESENTE Orações condicionais PRETÉRITO FUTURO Fonte: MATTOSO CÂMARA, 2002a [1970], p.102.

Para Mattoso Câmara (2002a [1970]), a condição pode ser expressa não apenas pela partícula condicional se, como também pelas partículas quem, quando, assim, dentre outras, como em:

Assim que fizesse sol, eu sairia de casa. Quem quiser, poderá procurar-me.

(MATTOSO CÂMARA, 2002a [1970], p. 102)

Portanto, o emprego do subjuntivo é condicionado tanto por fatores formais (preposições, conjunções) quanto por valores atitudinais e semânticos correlacionados com o verbo da oração principal. Entretanto, de forma geral, o modo indicativo ficou de tal sorte predominante, segundo Mattoso Câmara (2002a [1970]), que termina interferindo na área do subjuntivo e do imperativo, cabendo aos advérbios e ao valor semântico de uma determinada construção frasal a expressão de dúvida e de vontade, visão esta que não compartilhamos, pois levando em conta a polarização que caracteriza a realidade lingüística brasileira, não cremos que seja tão simples definir e caracterizar o uso do subjuntivo no portugues do Brasil, afirmando que esse modo verbal vem cedendo lugar ao indicativo. Na verdade, no português urbano, acreditamos que esta situação lingüística pode até acontecer, mas não se assemelha à realidade do meio rural.

2.5 O SUBJUNTIVO NA VISÃO GERATIVISTA: UMA ABORDAGEM DO