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A convergência e a emergência de novos sistemas de comunicação

No documento YouTube: a nova TV corporativa (páginas 70-73)

A digitalização das tecnologias da informação e comunicação (TICs) levou a um ambiente de convergência tecnológica em que um único equi- pamento pode ser usado para receber, enviar e produzir conteúdos em di- ferentes mídias. Além disso, esse mesmo equipamento ainda pode ser uti- lizado para várias funções diferentes, de acordo com a conveniência do usuário. Um computador pode ser tanto um processador de texto básico como um complexo estúdio de som. Um telefone celular pode ser usado apenas como um telefone móvel, mas também serve como câmera de ví- deo e, no caso de um smartphone, de publicador. A convergência digital não se verifica apenas nos equipamentos de transmissão e recepção. Os canais de transmissão também são vias utilizadas para diversos fins e con- duzem tudo o que pode ser transformado em bits: dados, imagens, sons, textos.

Descrita assim, no que toca à comunicação social, a convergência digi- tal parece ser apenas um fenômeno tecnológico, uma ferramenta para a concentração de forças que antes exigiam esforços paralelos de manuten- ção por parte dos grupos proprietários de veículos de informação e entre- tenimento. Foi esse ponto de vista que motivou o movimento de fusões de conglomerados de mídia, estúdios e empresas de telecomunicações, nas décadas de 1980 e 1990 (Dizard, 2000, p. 34), e ainda parece ser pre- dominante na tomada de decisões do setor:

Telefone, computador, TV a cabo e empresas de mídia se unem em um esforço de vencer a corrida para inventar e controlar o futuro das comunicações. O fato de que formas de telecomunicação ante- riormente distintas, tais como o telefone e a TV a cabo, podem agora ser integradas em uma única rede digital significa que faz sen- tido forjar alianças através de barreiras industriais antigamente in- transponíveis. No meio tempo, grandes empresas e instituições pú- blicas estão se reorganizando para tomar vantagem de novas manei-

ras de fazer negócio, as quais tornaram-se possíveis graças à con- vergência das tecnologias (Straubhaar e Larose, 2004, p. 2).

A lógica do ambiente convergente, com as suas regras de sustentabili- dade econômica e de competição, ainda não é dominada pelos grupos que nasceram e se consolidaram através dos mecanismos de controle da pro- dução e distribuição, tão eficientes no ambiente analógico. Em contrapar- tida, o consumidor de conteúdos e equipamentos digitais encontrou, na convergência, um ambiente amigável e atraente, que o levou, de forma na- tural e espontânea, a assumir um papel ativo, apropriando-se das novas tecnologias.

As possibilidades oferecidas por um computador ou um celular conec- tado à internet foram ao encontro do anseio de um receptor que não se conformava mais com ideia de ser passivo. Com a infinidade de canais de informação e de pontos de conexão com outros indivíduos de mesmo in- teresse, não há razão para se contentar com o consumo de pacotes pron- tos. Se não há, neste mundo de opções, algo que realmente esteja dentro da expectativa desse receptor, ele pode produzir o que não encontra e passar a ser um emissor, um produtor. Então, segundo Wolton (2003, p. 85), de uma hora para a outra, a massificação da internet e dos dispositi- vos para acessá-la encontrou respaldo no profundo movimento de indivi- dualização da nossa sociedade:

Elas (as novas tecnologias) simbolizam a liberdade e a capacidade de dominar o tempo e o espaço, um pouco como os automóveis nos anos 30. Três palavras são essenciais para compreender o suces- so das novas tecnologias: autonomia, domínio e velocidade. Cada um pode agir, sem intermediário, quando bem quiser, sem filtro nem hierarquia e, ainda mais, em tempo real. Eu não espero, eu ajo, e o resultado é imediato. Isto gera um sentimento de liberdade ab- soluta, até mesmo de poder, de onde se justifica muito bem a ex- pressão 'surfar na internet'. Este tempo real, que perturba as escalas habituais do tempo e da comunicação, é provavelmente essencial como fator de sedução. A adversidade do tempo é vencida sem a dificuldade da presença do outro. E pode-se, assim, navegar ao infi- nito, com uma mobilidade extrema. Pela sua abundância, os siste- mas de informação relembram um pouco os hipermercados, é 'o

grande consumo' de informação e comunicação. A fartura está dis- ponível a todos, sem hierarquia, nem competência com a ideia que se trata de um espaço transparente (Wolton, 2003, p. 85).

A possibilidade de participação de infinitos atores está na origem de outra característica desse novo ambiente: a imprevisibilidade. As interfe- rências individuais, isoladas ou associadas espontaneamente em comuni- dades, alteram os usos e a configuração das redes convergentes. É uma ca- racterística genética, por assim dizer, das redes digitais. Primeiro o com- putador e, em seguida, a internet não conseguem se desvencilhar da he- rança que trazem de suas origens, segundo Lévy (1993, p. 101):

Grande número de inovações, importantes no domínio da informá- tica, provêm de outras técnicas: eletrônica, telecomunicações, la- ser... ou de outras ciências: matemática, lógica, psicologia cognitiva, neurobiologia. Cada casca sucessiva vem do exterior, é heterogênea em relação à rede de interfaces que recobre, mas acaba por tor- nar-se parte integrante da máquina.

Como tantas outras, a invenção do computador pessoal veio de fora: não apenas se fez independentemente dos grandes fabricantes da área, mas contra eles. Ora, foi esta inovação imprevisível que transformou a informática em um meio de massa para a criação, co- municação e simulação.

Por isso, ainda segundo o autor, é impossível estabelecer um padrão a ser seguido:

O aspecto da informática mais determinante para a evolução cultu- ral e as atividades cognitivas é sempre o mais recente, relaciona-se com o último envoltório técnico, a última conexão possível, a ca- mada de programa mais exterior (Lévy, 1993, p. 102).

E os meios de comunicação de massa sustentam-se através de padrões: padrão de qualidade e conteúdos padronizados, para atingir um público padrão. O ambiente da convergência digital é propício às manifestações da individualidade e resultado das conexões que partem do indivíduo. Não há como controlar essas conexões, em um ambiente marcado pela oferta quase infinita de opções. É um ambiente ideal para o surgimento de sistemas emergentes.

No documento YouTube: a nova TV corporativa (páginas 70-73)