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A televisão como um sistema aberto

No documento YouTube: a nova TV corporativa (páginas 40-43)

Para identificar os impactos do ambiente de convergência digital sobre a televisão e as oportunidades geradas para o ingresso de novos agentes, é preciso uma visão sistêmica que leve em consideração as estruturas e pro- cessos envolvidos. Neste livro, são utilizados os fundamentos da Teoria Geral dos Sistemas para desenhar o modelo que ainda é predominante e o modelo do sistema emergente da convergência digital.

Como já foi dito anteriormente, a televisão é um sistema aberto, devi- do à intensa e constante troca de informações e de energia com o ambien- te em que está inserido. O modelo de sistema aberto também se apresenta como o mais adequado para a solução de problemas “não físicos” e para compreender os sistemas que resultam de uma série de interações entre seus componentes (Bertalanffy, 2008, p. 67 e 194), como é o meio televi- são: interações entre os componentes dentro do núcleo do sistema; entre o núcleo do sistema e os componentes externos; e entre cada componen- te do núcleo, isoladamente, com o ambiente externo.

As interações entre os componentes são variáveis, mas, quando em es- tado estável, as alterações dessas relações não afetam o sistema como um todo, segundo Bertalanffy (2008, p. 186):

O sistema permanece constante em sua composição, a despeito de contínuos processos irreversíveis, importação e exportação, cons- trução e demolição, estarem em ação. O estado estável mostra ca- racterísticas regulatórias notáveis, que se tornam evidentes particu- larmente em sua equifinalidade. Se um estado estável for alcançado por um sistema aberto, é independente das condições iniciais e de- terminado somente pelos parâmetros do sistema, isto é, pelas velo- cidades de reação e transporte.

Em cada uma das fases de desenvolvimento da TV brasileira, segundo os estudos de Mattos, mencionados anteriormente, houve uma alteração das relações entre os componentes do sistema. Nas duas primeiras fases, mais especificamente na fase de implantação, no período considerado eli- tista, o sistema apresentou características mais próximas de um sistema fechado, já que a televisão foi implantada por iniciativa de um empresário com a motivação de expandir os seus negócios de comunicação. Pratica-

mente não houve interação entre os diversos integrantes do sistema, além das emissoras de TV e as agências de publicidade.

Impactos do ambiente sobre o sistema TV em cada fase de desenvolvimento

Fases Ambiente socioeconômico

Fatores de impacto Reflexos no sistema

Elitista Início da industriali- zação e da urbaniza- ção; dependência tec- nológica.

Alto custo dos apare- lhos de TV; audiência praticamente inexis- tente; desconheci- mento das técnicas e linguagem da TV.

Programação e pro- dução entregues a agências de publici- dade; programas de elevado nível cultu- ral; linguagem radio- fônica.

Populista Desenvolvimento in- dustrial; fim da liber- dade política; centra- lização do poder.

Incentivo ao consu- mo; implantação e fi- nanciamento, pelo Estado, de infraestru- tura de transmissão; censura e uso ideoló- gico dos meios de co- municação.

Ampliação da audi- ência; aumento da verba publicitária; implantação das re- des nacionais de TV com concentração da propriedade dos veí- culos; programação de baixo nível cultu- ral e jornalismo su- perficial. Desenvolvi- mento tecnológico Desenvolvimento tecnológico; lenta abertura política; pre- ocupação com alto índice de programas estrangeiros.

Crédito oficial para investimento em in- fraestrutura de pro- dução de conteúdo; aumento da partici- pação publicitária da TV; maior qualifica- ção técnica e domínio da linguagem de TV; TV em cores. Aumento da produ- ção de conteúdo próprio; aumento da qualidade da produ- ção; autossuficiência do sistema; novas fontes de renda.

Fases Ambiente

socioeconômico Fatores de impacto Reflexos no sistema Transição e

expansão internacional

Consolidação do mercado externo; li- berdade de expres- são; nova regulamen- tação para concessões e propriedade; au- mento no número de concessões. Maior concorrência interna no sistema; redemocratização. Aumenta a influên- cia sobre a opinião pública; expansão do mercado externo; maior número de emissoras e redes. Globalização e TV paga Ingresso de novas tecnologias; maior oferta de canais e programação; ingres- so de programação estrangeira. Segmentação do pú- blico consumidor; di- versidade na progra- mação. Perda de receita e de anunciantes; queda da qualidade de pro- gramação na TV aberta. Convergên- cia e qualida- de digital Convergência tecno- lógica; novas mídias.

Transição de paradig- ma tecnológico; con- corrência com outras mídias; horizontali- zação dos processos de produção de con- teúdo audiovisual. Incerteza; queda de audiência; ameaça ao modelo de negócio e ao sistema de manu- tenção econômica.

Fonte: Desenvolvido pelo autor a partir dos estudos de Mattos (2000)

Na segunda etapa, a fase populista, o governo federal interferiu direta- mente no sistema de televisão, por acreditar no seu potencial como for- mador de opinião pública. Assim, na primeira e na segunda fases de de- senvolvimento, o estado do sistema, naquele período, foi determinado pe- las condições iniciais, o que é uma característica de sistemas fechados (Bertalanffy, 2008, p. 65).

Já na terceira fase de desenvolvimento, o sistema tornou-se estável e conseguiu manter-se por seus próprios meios. Claro que isso ocorreu como consequência das iniciativas das duas fases iniciais, mas foi a partir dessa etapa que o sistema atingiu a estabilidade, mesmo com as alterações

de relações entre os diversos componentes. Nas fases seguintes, novos componentes começaram a entrar no sistema que, mesmo assim, manteve a sua estabilidade.

No documento YouTube: a nova TV corporativa (páginas 40-43)