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Um modelo de gestão da inovação em comunicação pública

No documento YouTube: a nova TV corporativa (páginas 136-141)

Ao adotar a produção e distribuição de vídeos institucionais como uma ferramenta de gestão do conhecimento, o Ministério Público de Santa Cata- rina encontrou uma solução que atende às suas necessidades específicas e que pode servir de modelo para outras organizações. No entanto, para estas, a mesma solução pode não ser a mais adequada. Em uma organização voltada para o atendimento ao público rural, por exemplo, com maior afinidade com o rádio e acesso restrito à internet, um canal de vídeos na web não é reco- mendado. A contribuição da experiência do MPSC está na aplicação de um modelo de gestão de inovação em comunicação institucional que pode ser re- produzido de acordo com as especificidades de cada organização. O experi- mento demonstrou que processos de inovação já reconhecidos e consolida- dos em empresas privadas podem ser introduzidos na administração pública.

Segundo o Temaguide (1999), existem três modelos de gestão da inova- ção e da tecnologia que podem ser seguidos em conjunto ou isoladamente. A experiência do MPSC encaixa-se perfeitamente no primeiro modelo, que mostra os elementos-chave de inovação. O modelo foi detectado em inova- ções implementadas com êxito por diversas empresas e compreende cinco ações básicas: vigiar, focalizar, capacitar, implementar e aprender. Esse mode- lo pode variar de acordo com a natureza, o tamanho, o ramo de atividades e os recursos da organização. No caso do MPSC, é possível detectar facilmente esses elementos nos quatro movimentos de implementação do projeto Ví-

deO Seu Direito já descritos.

No processo de vigiar, a organização explora e busca no ambiente externo os sinais de que uma inovação está por ocorrer ou se faz necessária para res- ponder a determinadas necessidades, novas ou antigas. A inovação pode dar-

se por necessidade ou por oportunidade. No primeiro caso, uma organização se vê obrigada a inovar simplesmente porque o ambiente concorrencial está evoluindo ou em processo de mudança radical e a empresa não tem outra al- ternativa a não ser acompanhar as inovações. No segundo caso, a mudança no ambiente concorrencial gera oportunidades para solucionar antigos pro- blemas como, por exemplo, uma mudança no marco regulatório de um ramo de atividade ou a invenção de um novo equipamento (Temaguide, 1999, p. 35-37). O Ministério Público de Santa Catarina é uma instituição pública que tem garantida a sua manutenção através de recursos públicos determinados por lei. Portanto, monitorar o ambiente externo não tem como objetivo ga- rantir a sua sobrevivência econômica, mas sim, ocupar espaços estratégicos para a sua atividade fim. Foi o que ocorreu no movimento de “percepção”, quando a administração constatou, através de pesquisas de opinião, do moni- toramento dos noticiários e do contato direto com o público, a necessidade de encontrar uma maneira mais simples e eficiente de se comunicar com a so- ciedade. Também foi nesse movimento que a administração do MPSC perce- beu as oportunidades trazidas pela evolução tecnológica para quem pretende utilizar o vídeo como um meio de comunicação: a redução de custos de equi- pamentos de gravação e edição, e o acesso a novos meios de distribuição.

O próximo processo-chave da inovação é o de “focalizar”, isto é, definir qual será a resposta estratégica da organização às ameaças que necessitam de uma iniciativa inovadora ou às oportunidades de inovação. É nessa etapa que a administração decide quais recursos deve destinar ao projeto, qual a direção que este deve seguir (Temaguide, 1999, p. 27). O processo de “focalizar” exi- ge um exercício estratégico que deve atender a três fatores decisivos para o sucesso do empreendimento:

1) Análise estratégica: o que podemos fazer e por quê? 2) Escolha estratégica: o que vamos fazer e por quê?

3) Planejamento estratégico: como vamos levar nossas escolhas à prá- tica com sucesso? (Temaguide, 1999, p. 42).

A resposta a essas questões determinará, sobretudo, se o empreendimen- to a ser implementado poderá ser mantido pela organização sem riscos de ser interrompido antes de apresentar os primeiros resultados positivos ou, em caso de insucesso, sem ameaçar a própria organização. É preciso que a inicia- tiva se encaixe à capacidade da organização de implementá-lo (Temaguide,

1999, p. 42).

O terceiro processo chave é a “capacitação” da organização para imple- mentar o empreendimento inovador. Isso pode ocorrer através de um pro- cesso de pesquisa e desenvolvimento interno ou através da importação de tecnologia e de contratação de recursos humanos (Temaguide, 1999, p. 47).

No caso do MPSC, esses dois processos ocorreram durante o movimento de “reação”, quando foi elaborado o projeto VídeO Seu Direito. Durante a elaboração do projeto, as perguntas fundamentais foram respondidas: o MPSC deveria investir na produção de vídeos institucionais educativos, com recursos próprios e dentro dos limites da infraestrutura de equipamentos e de pessoal disponível, sem o aporte significativo de novos recursos antes dos primeiros resultados do empreendimento (MPSC, 2008a). Os vídeos deveri- am ser produzidos pela Coordenadoria de Comunicação Social (COMSO), com os equipamentos já disponíveis, e distribuídos em DVDs, cujo custo poderia ser arcado pela instituição mesmo se não houvesse a doação pela Re- ceita Federal, e através de um canal no YouTube, cuja utilização não exigiria investimento adicional algum. Para a elaboração do projeto, foi contratado um jornalista com experiência em televisão e em educação, para ocupar uma vaga que estava aberta na COMSO – portanto, sem a necessidade de novos investimentos em pessoal.

A “capacitação” da instituição para o empreendimento em inovação e o exercício estratégico, um processo da etapa “focalizar” (Temaguide, 1999) deram-se, portanto, no movimento de “reação”, quando o projeto VídeO

Seu Direito respondeu a cada uma das perguntas apresentadas anteriormente:

1) O que o MPSC pode fazer e por quê? Comunicar-se de maneira mais acessível com o cidadão através de vídeos educativos, pois a maioria da população não compreende a linguagem jurídica ou tem interesse ou afinidade com as mídias escritas.

2) O que o MPSC fará e por quê? Produzir vídeos institucionais e educativos que serão distribuídos aos promotores de justiça, às esco- las, TVs públicas e publicados em um canal próprio no YouTube. Desta forma, o MPSC cria um sistema independente de distribuição de seus vídeos, que certamente não encontrarão espaço na grade de programação das emissoras comerciais.

deos com os recursos já disponíveis, a custo mínimo, aproveitando inclusive doações da Receita Federal. Os maiores investimentos se- rão aplicados somente após a experiência comprovar a sua eficácia. A “implementação”, o quarto processo-chave da inovação, é a etapa mais crítica, pois é nesse momento que começam a surgir os imprevistos e as difi- culdades inerentes a qualquer execução de uma experiência nova para uma organização. Por mais planejada que seja essa ação, sua execução provoca o surgimento de necessidades e obstáculos não previstos, assim como resulta- dos que, embora calculados, podem apresentar-se de maneira imprevisível. A criatividade e o trabalho em rede são algumas ferramentas importantes nessa etapa (Temaguide, 1999, p. 49-53).

No MPSC, a “implementação” foi a “resposta institucional”: os vídeos institucionais e educativos, distribuídos em DVDs e pelo canal próprio no YouTube. Nessa etapa, começaram a surgir os imprevistos, que foram resol- vidos com criatividade e através de um trabalho em rede. Quando ficou claro que os equipamentos de gravação do MPSC não estavam em condições de operar fora da instituição, a solução foi encontrada com a ajuda da Coorde- nadoria de Tecnologia da Informação (COTEC), responsável pela operação da TV WEB do MPSC, que havia recebido um lote de apreensões da Receita Federal para analisar o que seria de interesse da instituição. Foi através da COTEC que a câmera utilizada para as gravações dos vídeos chegou até a COMSO. A COTEC também colaborou ativamente com o suporte aos equipamentos de edição da COMSO. Externamente, houve a colaboração da Assessoria de Comunicação Social do TRT da 12ª Região, em diversas situa- ções: como uma consultoria técnica informal e até mesmo cedendo o estúdio para a gravação de uma narração. Ainda hoje, os contatos entre a COMSO e a Assessoria de Comunicação do TRT são frequentes.

O quinto processo da inovação é a “aprendizagem”. A inovação está rela- cionada ao conhecimento, e aprender é um processo fundamental para a construção do conhecimento. A implementação de uma iniciativa ou de uma tecnologia inovadora não faz sentido se a organização que empreendeu a ini- ciativa não aprende com isso. A aprendizagem é um processo constante, que retroalimenta a inovação: a organização pode aprender a desenvolver ou do- minar uma nova tecnologia; ou pode aprender a gerenciar e a desenvolver um processo de inovação ou de mudança tecnológica (Temaguide, 1999, p. 57).

A “aprendizagem” não é um processo estanque, nem o ponto final de uma iniciativa inovadora. É um processo contínuo, que influencia o desen- volvimento e a evolução da inovação desenvolvida. No caso do MPSC, os “reflexos” da introdução do vídeo e do canal do YouTube como ferramentas de comunicação indicam que o processo de aprendizagem organizacional está em andamento. A instituição incorporou os vídeos e adotou o canal no YouTube como ferramentas legítimas para a comunicação interna e externa. A inovação revelou a necessidade de aproveitamento das oportunidades que a evolução das tecnologias de informação e comunicação oferecem para a cria- ção de canais independentes para a comunicação com o público, em comple- mento ao sistema de mídia comercial.

No documento YouTube: a nova TV corporativa (páginas 136-141)