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A Corrupção em Portugal

No documento Tese Armando Santos (páginas 63-77)

CAPÍTULO 4 – Medir a corrupção

4.3. A Corrupção em Portugal

enquanto Angola e Guiné-Bissau perderam 11 lugares, uma queda que se registou igualmente na pontuação dos dois países, que passou de 2,2 para 1,9 pontos.

Angola e Guiné-Bissau ocupam agora a posição 158 juntamente com Azerbaijão, Burundi, Gâmbia, Congo, Serra Leoa e Venezuela. Macau, Região Administrativa Especial da China, é citado pelo segundo ano consecutivo como tendo registado um «agravamento dos níveis percebidos de corrupção», tendo passado do 34.º para o 43.º lugar e de 5,7 para 5,4 pontos.

Analisando a totalidade dos 180 países, a Dinamarca, Nova Zelândia e Suécia dividem o primeiro lugar com uma pontuação de 9,3 pontos, seguidos de Singapura como 9,2 pontos.

Na ponta oposta da tabela, está a Somália com 1,0 pontos, precedida do Iraque e Myanmar com 1,3 pontos e do Haiti com 1,4 pontos.

Durante a apresentação do índice de 2008, em Berlim, Huguette Labelle, que preside à Transparency International, destacou os aumentos contínuos dos níveis de corrupção nos países pobres e os constantes escândalos corporativos nos países ricos.

4.3. A corrupção em Portugal

Há que ter a consciência que muitas vezes é a agenda política que alimenta a gestão dos escândalos políticos associados à corrupção nas democracias ocidentais na comunicação social. Actualmente, esta relação perversa entre escândalo e média é a maneira mais eficiente do Poder se ver livre dos seus adversários, pelo que acaba por reflectir mais a própria realidade da conflitualidade política que os níveis de corrupção e criminalidade da sociedade. Para estudar o tema em Portugal, deixamos por isso de lado as nossas próprias percepções e os trabalhos jornalísticos e fomos para o terreno fazer uma pesquisa de opinião.

Seguimos como metodologia um universo composto por indivíduos com 18 ou mais anos recenseados em Portugal e residentes em domicílios com telefone fixo. Os números de telefone foram seleccionados aleatoriamente das listas telefónicas do Continente e Regiões Autónomas. Os inquéritos foram recolhidos através de entrevista telefónica em sistema CATI

– Computer Assisted Telephone Interviewing, com validação automática e em sistema Auto Dial.

A Amostra recolhida foi de 418 indivíduos, sendo a margem de erro de 95,5% de confiança de +/- 4,89%. A execução do estudo decorreu entre os dias 22 e 28 de Julho de 2008, com o apoio técnico e logístico da empresa de estudos de mercado Pitagórica Lda. – com a coordenação do projecto a cargo de Alexandre Picoto, a direcção técnica de Rita Marques da Silva e com Ana Rita Luz como técnica principal e Inês Moita de Deus como técnica.

Deste trabalho resultou que a maioria dos inquiridos [68,4%] afirmou que, na sua opinião, corrupção era «ganhar dinheiro de forma ilegítima», enquanto apenas 14,1% considera ser “Prejudicar o Estado”. Para 79,7% dos inquiridos, a corrupção aumentou nos últimos dez anos em Portugal, sendo apenas 4,1% os inquiridos que referem que diminuiu.

A classe política é aquela que os inquiridos consideram ser mais corrupta [68,4%], encontrando-se em 2º lugar os Autarcas [29,4%]. Em último lugar encontra-se a classe médica, com apenas 3,3% das referências.

Dentro das várias organizações, são os dirigentes que são considerados pelos inquiridos como mais corruptos [68,9%], enquanto os funcionários são referidos por apenas 2,9% dos inquiridos.

Por outro lado, 32,5% dos inquiridos consideram que a corrupção existe, tantos nos países pobres como nos países ricos, sendo que 37,1% consideram que existe mais nos países pobres e 26,8% mais nos países ricos.

Quando questionados sobre se já alguma vez tinham corrompido alguém, apenas 4 inquiridos admitiram terem-no feito. Três destes inquiridos afirmaram ter corrompido funcionários do sector da Saúde, enquanto que um admitiu ter corrompido um funcionário das Finanças.

CORRUPÇÃO EM PORTUGAL

Sinteticamente e representando através de quadros, as conclusões da nossa sondagem são as seguintes:

A. As questões perguntadas foram as seguintes: 1. Para si, Corrupção é: (…)

2. Há mais Corrupção nos países pobres ou nos países ricos?

3. Comparando o Portugal de hoje com o Portugal de há 10 anos, a Corrupção…? 4. Das seguintes classes, em quais existe mais Corrupção?

5. Em sua opinião, nas várias organizações, quem são os mais corruptos?

6. Já alguma vez corrompeu alguém?

B. As respostas às perguntas foram as seguintes:

Quadro 1 – Para si, corrupção é:

CORRUPÇÃO EM PORTUGAL

Para 68,4% dos inquiridos, corrupção significa ganhar dinheiro de uma forma

ilegítima, enquanto para 14,8% dos inquiridos do sexo masculino significa prejudicar o Estado.

Fazer tráfico de influências

Ganhar dinheiro de forma ilegítima Prejudicar o Estado

Amostra: 418 inquiridos Sexo Idade 14,1% 14,8% 13,5% 15,1% 17,1% 6,9% 4,8% 20,1% 17,5% 23,6% 11,6% 13,7% 21,1% 23,6% 25,4% 10,4% 68,4% 61,6% 74,9% 71,2% 61,8% 69,4% 69,8% 69,4%

14,1% 10,8% 18,6% 13,9% 12,9% 21,4% 20,0% 10,0% 17,5% 18,9% 20,6% 15,7% 12,9% 21,4% 10,0% 68,4% 70,3% 60,8% 70,4% 74,2% 57,1% 70,0% 90,0%

Global Norte Centro Lisboa Alentejo Algarve Açores Madeira

Quadro 1.1 – Para si, corrupção é:

CORRUPÇÃO EM PORTUGAL

Na Madeira, 90% dos inquiridos consideram que a corrupção é ganhar dinheiro de forma ilegítima. Apenas 10,0% dos inquiridos nos Açores diz que a corrupção é fazer tráfico de influências.

Fazer tráfico de influências

Ganhar dinheiro de forma ilegítima Prejudicar o Estado

Amostra: 418 inquiridos

Quadro 2 – Há mais corrupção nos países pobres ou nos países ricos? CORRUPÇÃO EM PORTUGAL

32,5% dos inquiridos considera que a corrupção existe tanto nos países pobres como nos países ricos, sendo os inquiridos entre os 25 e os 34 anos que mais o referem. São os homens que mais referem que a corrupção existe mais nos países pobres.

37,1%

26,8%

32,5%

3,6%

Países pobres Países Ricos Ambos Ns/Nr

Amostra: 418 inquiridos

Homens Mulheres 18-24 25-34 35-44 45-55 Mais de 55 Países pobres 40,9% 33,5% 30,1% 30,3% 40,3% 50,8% 36,6%

Países ricos 23,6% 29,8% 38,4% 25,0% 25,0% 17,5% 26,9% Ambos 31,5% 33,5% 31,5% 42,1% 33,3% 31,7% 27,6% Ns/Nr 3,9% 3,3% --- 2,6% 1,4% --- 9,0%

Quadro 2.1 – Há mais corrupção nos países pobres ou nos países ricos CORRUPÇÃO EM PORTUGAL

Apenas 26,8% dos inquiridos dizem que é nos países ricos que existe mais corrupção, sendo na Madeira que os inquiridos mais o referem.

Amostra: 418 inquiridos

Norte Centro Lisboa Alentejo Algarve Açores Madeira Países pobres 44,6% 32,0% 37,0% 19,4% 21,4% 70,0% 20,0% Países ricos 29,7% 34,0% 20,4% 12,9% 28,6% 10,0% 40,0% Ambos 23,0% 25,8% 40,7% 67,7% 42,9% 20,0% 40,0% Ns/Nr 2,7% 8,2% 1,9% --- 7,1% --- --- Região 37,1% 26,8% 32,5% 3,6%

4,1% 6,8% 5,2% 1,9% 15,5% 21,6% 12,0% 9,7% 14,3% 30,0% 30,0% 79,7% 77,7% 73,2% 86,1% 90,3% 85,7% 70,0% 70,0% 16,3%

Global Norte Centro Lisboa Alentejo Algarve Açores Madeira

Quadro 3 – Comparando o Portugal de hoje com o Portugal de há 10 anos, a corrupção:

CORRUPÇÃO EM PORTUGAL

É no Alentejo que a convicção de que a corrupção aumentou nos últimos anos é maior. No Alentejo, Algarve, Açores e Madeira, nenhum inquirido referiu que a corrupção diminuiu.

Amostra: 418 inquiridos

Diminuiu Manteve-se Aumentou

Região CORRUPÇÃO EM PORTUGAL

CORRUPÇÃO EM PORTUGAL

A grande maioria dos inquiridos acredita que é entre a classe política que existe mais corrupção, sendo a classe médica/farmacêutica a menos referida pelos inquiridos. São as mulheres que mais acreditam que existe mais corrupção na política.

Quadro 4 – Das seguintes classes em quais existe mais corrupção?

Amostra: 418 inquiridos

68,4%

29,4% 28,9%

3,3% Políticos Autarcas Dirigentes

Desportivos

Médicos e Farmacêuticos

Homens Mulheres 18-24 25-34 35-44 45-55 Mais de 55

Políticos 66,0% 70,7% 65,8% 67,1% 73,6% 60,3% 71,6% Autarcas 34,5% 24,7% 34,2% 36,8% 19,4% 27,0% 29,1% Dirigentes Desportivos 30,5% 27,4% 19,2% 23,7% 34,7% 33,3% 32,1% Médicos e farmacêuticos 3,4% 3,3% 4,1% --- 6,9% 4,8% 2,2%

Quadro 4.1 – Das seguintes classes em quais existe mais corrupção:

CORRUPÇÃO EM PORTUGAL

Para 35,7% dos inquiridos da Região do Algarve, é entre os Dirigentes Desportivos que existe mais corrupção.

Amostra: 418 inquiridos

Norte Centro Lisboa Alentejo Algarve Açores Madeira

Políticos 63,5% 67,0% 71,3% 77,4% 71,4% 80,0% 80,0% Autarcas 24,3% 35,1% 29,6% 41,9% 28,6% 30,0% 10,0% Dirigentes Desportivos 34,5% 34,0% 21,3% 16,1% 35,7% 10,0% 30,0% Médicos e farmacêuticos 4,1% 2,1% 1,9% 12,9% --- --- --- Região 68,4% 29,4% 28,9% 3,3% Políticos Autarcas Dirigentes

Desportivos

Médicos e Farmacêuticos

28,1% 23,3% 25,0% 19,0% 38,1% 68,0% 75,3% 71,1% 68,1% 77,8% 60,4% 26,4% 28,4% 28,2% 69,8% 68,9% 2,9% 3,9% 1,9% 1,4% 3,9% 5,6% 3,2% 1,5%

Global Homens Mulheres 18-24 25-34 35-44 45-55 Mais de 55

Quadro 5 – Em sua opinião, nas várias organizações, quem são os maiores corruptos:

CORRUPÇÃO EM PORTUGAL

A grande maioria dos inquiridos refere que, dentro das organizações, são os dirigentes que são mais corruptos. Os funcionários são referidos como os mais corruptos por 5,6% dos inquiridos com idades compreendidas entre os 35 e os 44 anos.

Ambos

Funcionários Dirigentes

Amostra: 418 inquiridos

28,2% 23,0% 29,9% 35,2% 35,5% 14,3% 20,0% 20,0% 73,0% 67,0% 62,0% 64,5% 85,7% 80,0% 80,0% 68,9% 2,9% 4,1% 3,1% 2,8%

Global Norte Centro Lisboa Alentejo Algarve Açores Madeira

Quadro 5.1 – Em sua opinião, nas várias organizações, quem são os maiores corruptos:

CORRUPÇÃO EM PORTUGAL

Entre os inquiridos das regiões do Alentejo, Algarve, Açores e Madeira, nenhum referiu os funcionários das organizações como os mais corruptos.

Amostra: 418 inquiridos

Ambos

Funcionários Dirigentes

Quadro 6 – Já alguma vez corrompeu alguém?

CORRUPÇÃO EM PORTUGAL

Apenas 4 inquiridos admitem já ter corrompido alguém, três dos quais dizem ter corrompido funcionários ligados a Centros de Saúde ou Hospitais. Destes 4 inquiridos, apenas 1 era do sexo feminino, os 4 tem 45 ou mais anos, e 3 pertencem à classe média (C1+C2). Apenas uma pessoa admitiu ter corrompido um funcionário das Finanças.

99,0%

1,0%

Não Corrompeu

Corrompeu

2.7 E que classe profissional foi a que corrompeu?

25,0% 75,0% Funcionários das Finanças Funcionários Centro de Saúde/Hospitais Base:4 Amostra: 418 inquiridos

B. Finalmente a caracterização do universo observado:

A sondagem mostra, portanto, que a percepção dos inquiridos vai no sentido de o problema se estar a agravar em Portugal.

Como advertência importa referir a limitação da sondagem telefónica e o facto de numa matéria destas a percentagem de erro ser relevante, considerando o facto de haver resistências na resposta por parte das classes mais altas e esclarecidas.

CARACTERIZAÇÃO

Amostra: 418 inquiridos Quadro 7 – Caracterização sociodemográfica

Global Base:418 Feminino 51,4% Masculino 48,6% 18 - 24 anos 17,5% 25 - 34 anos 18,2% 35 - 44 anos 17,2% 45 - 54 anos 15,1% >55 anos 32,1% Classe A/B 16,6% Classe C1 25,5% Classe C2 42,7% Classe D 15,2% 1 pessoa 7,4% 2 pessoas 26,8% 3 pessoas 25,8% 4 pessoas 26,3% 5 ou + pessoas 13,6% Norte 35,4% Centro 23,2% Lisboa 25,8% Alentejo 7,4% Algarve 3,3% Açores 2,4% Madeira 2,4% Re gi ão Ag re g a d o Se xo Id a d e C. S o ci a l

A maioria dos inquiridos têm idades inferiores a 35 anos (35,7%) pertencem a agregados constituídos por 2/3 pessoas (52,6%) e à classe social C2 (42,7%)

No documento Tese Armando Santos (páginas 63-77)