• Nenhum resultado encontrado

As falhas do Estado e a Economia Política

No documento Tese Armando Santos (páginas 146-149)

CAPÍTULO 8 – Economia Política da corrupção

8.7. As falhas do Estado e a Economia Política

A economia privada organiza-se dentro dos princípios do mercado, sendo os agentes económicos entidades que visam interesses particulares próprios tendo em atenção a satisfação dos seus interesses individuais.

Uma segunda forma de satisfação dos interesses de uma comunidade tem que ver com necessidades colectivas e constitui objecto da Economia Pública, estando orientada ao princípio do interesse colectivo.

Nesta segunda forma o interesse individual sacrifica-se diante do interesse colectivo tendo em atenção a satisfação das necessidades gerais, de modo a tornar possível a coexistência pacífica e o bem-estar da sociedade, em face da alternativa que resultaria da interacção individual no mercado.

A economia de mercado funciona com base na liberdade individual e autonomia do agente económico, enquanto na economia pública, as organizações de domínio público gozam de poder soberano que lhes garante a capacidade de imposição unilateral da sua vontade.

Ou seja, no mercado, os preços formam-se pela atracção do equilíbrio, enquanto na economia do sector público a formação do preço e da decisão atende ao interesse público ou geral.

167

Existe um tradoff entre os impostos recebidos e o pagamento de luvas, que se pode traduzir numa curva de

possibilidades para um dado nivel de servico público. Quando os impostos baixam os governos tendem a organizar monopólios públicos ou a conceder os serviços ao sector privado, exactamente sobre a forma de monopólio, o que naturalmente potência o aumento da corrupção.

Os diversos tipos de economia – à qual se poderia juntar a economia cooperativa e a nova economia das ONG – as «Organizações Não-Governamentais» articulam-se entre si, e habitualmente coexistem em sociedades mistas, politicamente mais ou menos impositivas. Mas em todo o mundo é reconhecida a propriedade privada – e os interesses pessoais – embora em alguns países ainda exista alguma deriva comunitária e mesmo socialista [em vias de extinção].

Mesmo nas economias mais liberais, as falhas de mercado são corrigidas com intervenção pública que actualmente pesa por exemplo na Europa, cerca de 50% da despesa total.

Na Economia Clássica – Adam Smith – a ideia central é que o mercado é, em dadas condições, a mais eficiente forma de utilização dos recursos escassos de uma economia. A especialização e a vantagem comparativa mostravam a potencialidades da eficiência dos mercados e eram explicados pelo preço e a tendência natural dos mercados para o equilíbrio.

É hoje universalmente aceite a relevância das falhas do mercado e mesmo que, em circunstâncias reais, o equilíbrio seja um mito, e a regra dominante da economia de mercado seja a indeterminação ou o imprevisível. [As crises sistémicas financeiras e económicas mostram exactamente isso mesmo]168.

Diante dessas falhas do mercado, a intervenção pública ganha novas justificações. Mas a maior dificuldade é mesmo assegurar que a intervenção pública se faça na prossecução do interesse geral e não da elite dominante, restringindo, portanto, os níveis de eficiência pretendidos com a mesma, sem chegar a ser equitativa169. Assim a definição do óptimo está presente na

168 (Taleb, 2001).

169 Uma das justificações para a intervenção do Estado são os fracassos de mercado, como o monopólio. A intervenção

do Estado no sentido de corrigir os fracassos de mercado e levar a economia para a concorrência perfeita designa-se política de second-best. Ao admitir-se as políticas de second best admite-se que existem políticas de first-best as quais correspondem a um equilíbrio estabelecido pelo mercado. A conclusão da teoria do second-best é a de que quando as condições de eficiência são violadas não é desejável prosseguir condições de eficiência noutros sectores. As condições em que é desejável prosseguir políticas óptimas são : (a) quando os bens ou sectores de actividade são separáveis : f(x,y) = f(x) + f(y); (b) actuar sobre o sistema de preços conduzindo-os para a concorrência perfeita. A situação é possível quando existir informação (ex: sendo x e y bens sucedâneos e sendo x produzido pelo monopólio natural e y por um concorrente. O Estado pode aumentar o preço de y acima do CmY na mesma proporção em que PX excede CmX); (c) na ausência de informação o Estado não saberá que alterações efectuar para conduzir a economia para a eficiência. Nesta situação é preferível deixar o mercado funcionar ( política de first-best). Concluindo, existe um mercado a que corresponde um equilíbrio entre a procura e a oferta, designado equilíbrio de first-best. Como existem falhanços de mercado, o first-best não é eficiente nem equitativo. O Estado intervém no sentido de reestabelecer a eficiência e a equidade, reenviando a economia para o equilíbrio eficiente e equitativo (second-best). Genericamente, o teorema do second-best diz que quando as condições de equidade são violadas num sector, não é possível reconduzir a economia para o equilíbrio first-best com políticas sectoriais, desde que subsistam distorções nos outros sectores. Assim, quando as condições de Pareto são violadas num sector, também são violadas nos restantes sectores. A adopção de políticas de second-best sectoriais (por exemplo segurança) é desejável quando: (1) Existe responsabilidade entre

intervenção pública, e segundo Pareto, atinge-se quando já não é possível melhorar a situação de alguém sem piorar a situação de outros. A utilização de recursos na economia deve portanto ter por critério este óptimo de Pareto.

A análise de Pareto leva-nos para a discussão da questão da relação entre a necessidade de redistribuição e o princípio de eficiência de Pareto. Usando a fronteira de possibilidades da produção, só não haveria diminuição de bem-estar de alguém, se a redistribuição se fizesse com ganhos de produtividade, melhoria de recursos ou salto tecnológico, que criaria uma nova solução eficiente através da execução de uma nova política redistributiva - Critério de Hicks/Kaldor - em que o aumento da utilidade para um indivíduo compensa a perda para outro (Cruz, pp. 13-14) 170.

A Economia Política, nos fundamentos teóricos da intervenção pública, analisa duas questões decisivas: a eficiência e a equidade. «Quando se analisa a eficiência de uma política procura-se analisar se está a utilizar adequadamente os recursos que possui, isto é, se aos preços de mercado vigentes a combinação de recursos é a mais adequada para atingir os objectivos das políticas. Este conceito de eficiência corresponde à eficiência alocativa. Outro conceito de eficiência é a eficiência técnica que analisa a utilização de recursos para se atingir o máximo output disponível».

«A eficiência técnica distingue-se da eficiência alocativa por não ter em conta o preço dos inputs». Assim,

Eficiência técnica + eficiência alocativa = eficiência económica

Ligado ao conceito de eficiência está o conceito de eficácia. A eficácia é a realização dos objectivos propostos. A eficácia não considera o custo nem o benefício das políticas, nem mesmo os modos alternativos para alcançar o mesmo objectivo, nem sequer se o objectivo está definido de forma adequada ao custo [eficiência].

sectores de actividade; (2) A função de custos e a função de utilidade possuírem elasticidade constante. Conclui-se assim que na maior parte das situações a política pública não pretende atingir o óptimo de primeira ordem, mas apenas definir uma afectação de recursos com restrições de política económica independentes do mercado, designando-se este equilíbrio competitivo por equilíbrio de second-best. (Barros, B. (2008) Lições. Lisboa: ISEG consultado em 18 de Novembro de 2008 em http://pascal.iseg.utl.pt/~cbarros/files/Aula%203.pdf .

170

«Quando se analisa a equidade de uma política pública procura-se analisar se a distribuição do rendimento gerado pela política é equitativo. O objectivo da política distributiva é maximizar o bem-estar social. O Estado intervém na distribuição porque na ausência de intervenção pública a economia de mercado produziria uma quantidade sub-óptima do bem público»171.

Os fenómenos de afectação de recursos para a satisfação das necessidades públicas são, actualmente, objecto de varias ciências sociais e constituem matéria de Direito Financeiro ou Direito das Finanças Públicas quando submetidas ao leitura normativo, ou seja, quando a actuação dos agentes públicos é conformada pela lei e os seus princípios.

Porém, quando a abordagem se centra na acção desenvolvida pelo Estado tendo em vista a satisfação de necessidades colectivas [com ou sem expressão financeira] estamos no âmbito da Economia.

Finalmente, com o reconhecimento das regras de agregação das preferências individuais nessa intervenção, justificando aliás, a criação de normas para balizar actuações, a ciência política juntou-se à economia no estudo da escolha pública, sendo a partir desta constatacção que se recupera posteriormente o termo Economia Política.

É neste âmbito que deve ser colocado o problema da corrupção, como uma falha do Estado, no sentido de que intervêm na decisão pública afectando a eficácia da mesma ou a equidade pretendida.

No documento Tese Armando Santos (páginas 146-149)