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CAPÍTULO III RE-CONTANDO A HISTÓRIA DA APEART

3.1 Primeiro Ato: A Gênese do Fenômeno e da Experiência de Educação (1988 –

3.1.10 A criação do Projeto Educação dos Posseiros do Paraná (PEPO) e a

DA APEART

O ano de 1996 marcou também o início do Projeto Educação dos Posseiros109 do Paraná (PEPO), sendo resultado da aproximação entre membros da

APEART, da Associação das Famílias dos Trabalhadores Rurais de Pinhão (AFATRUP) e do Movimento dos Posseiros da região de Pinhão, articulados pela CPT/PR após a realização da 9ª Romaria da Terra do Paraná, ocorrida no ano de 1994, no município de Pinhão/PR. Tendo como tema "Tomem posse da terra e habitem nela", evidenciando o movimento e a luta que os agricultores e suas famílias vinham desenvolvendo pela posse de suas terras, tomadas forçosamente pela indústria madeireira (principalmente as Indústrias de Madeiras Zattar) que havia se instalado na região, a Romaria serviu de aproximação entre os dirigentes destas organizações para refletir, elaborar e desenvolver alternativas e processos de educação dos jovens e adultos posseiros nas suas próprias comunidades. Outro elemento que contribuiu decisivamente na organização e configuração do PEPO foi a experiência piloto de alfabetização de jovens e adultos desenvolvida no ano de 1994, envolvendo 61 agricultores educandos nas comunidades de Faxinal dos Taquaras e Faxinal dos Silvérios, com duração de um ano, através da iniciativa da AFATRUP, contando com a assessoria pedagógica de docente e alunos da Universidade de Pelotas/RS, sendo promovidos cursos de formação de monitores durante os anos de 1994 e 1995. Ainda no ano de 1995, a APEART desenvolve uma oficina de planejamento na sede da AFATRUP, contando com a participação das lideranças do Movimento dos Posseiros com o intuito de já escrever coletivamente o projeto de educação definido por todos como PEPO. Nesta ocasião, segundo o projeto, ressalta-se pelos agricultores "a necessidade de documentação e de reafirmar sua identidade enquanto agricultor, posseiro e analfabeto, hoje à margem das conquistas sociais e em especial, a documentação da terra" (APEART, 1996). No ano de 1996, o PEPO inicia suas atividades através de 20 turmas de

109 Segundo descrição encontrada em publicação produzida pelos educadores do projeto, "posseiros são agricultores que cultivam pequenas parcelas de terra. Não possuem títulos de p ropriedade, dispondo apenas da posse da terra. Trabalham, geralmente em base familiar, ou, às vezes, coletiva com outras famílias de posseiros, produzindo gêneros alimentícios para o próprio consumo e para venda, que irá abastecer os centros urbanos". (APEART, 2002a, p.42)

alfabetização distribuídas em várias comunidades rurais do município, muitas delas caracterizadas ainda pelo sistema faxinal, caracterizado pelos tradicionais muxirões ou mutirões. Os educadores selecionados residiam nas comunidades, sendo em sua maioria, agentes e lideranças pastorais católicas, muitos deles não possuindo o primeiro grau completo e outros tampouco a quarta série finalizada, retornando também aos estudos junto com seus educandos.

Quando surgiu o PEPO eu participei da primeira reunião de formação com os educadores. Foi uma experiência também super interessante porque você vai pra uma região que tem outra realidade, outra forma de viver, você vai encontrar outro público e eu tive presente nesse dia, participando da oficina e como eu já era educadora eu fui dar uma experiência de oficina de trabalho, de alfabetização e isso também é um momento que a gente leva e eu acredito assim que enriquece muito. (D.F.P.110)

A diversidade de sujeitos que passa a constituir os espaços políticos e pedagógicos das salas de aulas nas comunidades em que a APEART atua, novamente se explicita revelando sua beleza no II Seminário de Educação Popular, realizado nos dias 19 e 29 de outubro de 1996, nas dependências da Universidade Estadual de Londrina, tendo como tema "Educação e Trabalho". O II Seminário contou com a presença de educadores, educandos e organizações sociais, sendo assessorado pelo professor Gaudêncio Frigotto, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e por Liana Borges, no período, coordenadora do Movimento de Alfabetização (MOVA) de Porto Alegre, que contribuíram demasiadamente com a troca de experiência e saberes em torno da educação popular e das relações essenciais entre educação e trabalho. As impressões deste evento podem ser percebidas nos registros documentais e relatos levantados.

A realização do II Seminário de Educação Popular, com a temática “Educação e Trabalho” foi mais um avanço no compromisso do PEART com a vida e a causa dos trabalhadores. Demonstrou, também, que é possível mudar a situação do analfabetismo a partir da realidade dos educandos. A participação dinâmica e criativa de educandos, monitores, grupos de base de alfabetização, supervisores, coordenadores e assessores foi mais uma prova da grandiosidade e valor do trabalho que a APEART vem desenvolvendo por meio de seus projetos e de seu potencial na

110 Dalva Fumagalli Paiva é supervisora pedagógica do PEART na região de Nova Esperança, iniciando suas atividades na APEART em 1993 como educadora popular. Nasceu na zona rural e lá atuou como catequista e coordenadora de grupo de jovens. Passando a residir na cidade, atuou na pastoral: de casais, catequese, juventude, dentre outras. Cursou o magistério e trabalhou como professora de 1ª a 4ª série em escola rural. Foi sindicalista, sendo demitida e perseguida politicamente no município em que atualmente reside. É monitora do Grupo de Formação Política Treze de Maio/São Paulo. Atualmente é aluna do curso de história no município de Paranavaí/UNESPAR. Entrevista realizada em 09/05/2002.

organização popular e articulação acadêmica e governamental. Um evento desse porte conquista ainda mais a credibilidade, a consideração, o respeito, a admiração e reconhecimento dos órgãos públicos e da sociedade em geral para com o PEART. Por outro lado, aumenta o compromisso e seriedade dos participantes do Projeto enquanto educadores de classes populares, no sentido de formar para o exercício da cidadania. O evento foi uma aula de cidadania, onde diminuíram as diferenças, todos sem distinção ocupando o mesmo espaço e falando a mesma linguagem. No aspecto pessoal, houve uma participação afetiva e efetiva, através da presença e manifestações culturais, o que fez com que os participantes se sentissem valorizados enquanto cidadãos. Os grupos de trabalho avançaram nas reflexões, nas discussões e nas propostas, mostrando na prática a profundidade e a responsabilidade do trabalho que o PEART vem realizando junto aos educandos e às comunidades. O espaço de integração cultural de negros, índios, posseiros e assalariados rurais temporários, durante II Seminário, foi uma mostra de que o conhecimento não é privilégio de poucos e, sim, que deve estar ao alcance de todos. E nós precisamos apenas criar espaços onde todos possam expressar seus conhecimentos, sua criatividade, sua cultura. (APEART, 1996)

outra questão importante que vinha por dentro, dando visibilidade ao trabalho eram os seminários estaduais de educação de jovens e adultos e 96 foi um ano riquíssimo pra isso e em 97 a gente ocupou essa presença nacional. (D.L.F.)

3.1.11 A INSERÇÃO DA APEART NO CENÁRIO POLÍTICO NACIONAL E