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CAPÍTULO III RE-CONTANDO A HISTÓRIA DA APEART

3.1 Primeiro Ato: A Gênese do Fenômeno e da Experiência de Educação (1988 –

3.1.11 A inserção da APEART no cenário político nacional e estadual

Além da ampliação de suas ações no estado do Paraná, no ano de 1996, a APEART insere-se no cenário nacional através da sua participação na Comissão Nacional de Educação de Jovens e Adultos (CNEJA), vinculada ao Ministério da Educação, representando o segmento das organizações da sociedade civil que atuam nesta área (DI PIERRO, 2000). A sua inserção ocorre através dos contatos mantidos com o deputado federal Nedson Micheletti (PT), que apresenta a experiência da APEART ao Ministério da Educação e à sua Coordenação Nacional de Educação de Jovens e Adultos/MEC, e aos membros da Câmara de Educação Básica da Câmara dos Deputados/Congresso Nacional, ampliando contatos e possibilitando o envio de projetos para captação de recursos. Nesta ocasião, a APEART é convidada por representantes do MEC para compor a Comissão Nacional de EJA, (ainda que os critérios de composição desta Comissão não fossem claros nem para os atuais membros tampouco para a Associação) considerando a relevância e o impacto de sua ação no estado do Paraná, possibilitando a contribuição nos debates em torno de temáticas, muitas delas conflituosas, voltadas

à política nacional de educação de jovens e adultos, principalmente no processo de preparação e proposição para a participação do Brasil na V Conferência Internacional de Educação de Adultos (CONFITEA)111

. Também neste contexto, a APEART tem seu registro como organização social atestado e reconhecido pelo Conselho Nacional de Assistência Social.

A partir de 95 e com a própria participação como eu já disse da direção da APEART nesse espaço do Conselho Nacional de Educação de Jovens e Adultos, eu acho que isso abre a visão de toda a APEART pro potencial e pra capacidade que ela tinha naquele momento e pra mim eu acho que foi isso que aconteceu. Esse é um momento muito significativo e histórico né, que eu acho que aí a APEART começa a ser de fato uma referência aí já consolidando o seu trabalho a nível de Paraná também, ela se fortalece, ela mostra o seu cacife diante do Governo do Estado, enquanto Secretaria mostrando que tinha uma contribuição, um trabalho reconhecido e isso então deixa a APEART forte diante da Secretaria pra futuros convênios e como também traz pra dentro da APEART a ousadia de novos convênios com prefeituras locais e até mesmo com outras entidades pra gente fortalecer o trabalho de educação de jovens e adultos. (I.C.D.112)

No contexto da sua inserção nos espaços nacionais e ampliação de suas ações nos espaços estaduais, neste período, a APEART negocia com o deputado Nedson (eleito no ano de 1994 contando com o apoio de dirigentes da APEART) a contratação de um de seus agentes como assessor remunerado em seu mandato para desenvolver um trabalho de organização política junto aos trabalhadores rurais temporários no estado do Paraná. Para esta função, foi indicada Isabel Cristina Diniz, componente até aquele período dos quadros do PEART e agente da CPT/PR. Com a intencional retomada do trabalho político junto aos bóias- frias, simultaneamente, a APEART inicia um processo de restabelecimento de sua relação com a CPT-PR através da indicação e da eleição de Isabel Cristina Diniz como coordenadora regional da CPT/Equipe Norte do Paraná (nos anos anteriores denominada equipe PAR).

111 A APEART, representada pelo seu presidente o Pe. Dirceu Luíz Fumagalli, participou das três únicas reuniões da Comissão Nacional de EJA que ocorreram neste ano, sendo as mesmas nos meses de março, abril e dezembro do ano de 1996, participando na seqüência, da Conferência Regional Preparatória à V CONFINTEA, realizada de 22 à 24 de janeiro do ano de 1997 (DI PIERRO, 2000).

112 Isabel Cristina Diniz foi educadora e supervisora pedagógica do PEART e membro da diretoria executiva no período de 1997 a 1999. É membro sócio-fundadora da APEART. Entrevista realizada em 18/07/2002.

Neste mesmo ano, identificamos o envolvimento da direção executiva e de demais educadores da APEART na candidatura do professor Durvalino Biliatto, então coordenador geral do PEART, para vereador no município de Londrina pelo Partido dos Trabalhadores. Além desta candidatura, observamos o lançamento de vários outros candidatos, em sua maioria filiados ao Partido dos Trabalhadores, sendo os mesmos educandos, monitores, supervisores pedagógicos, coordenadores regionais, assessores ou membros dos GBAs, sendo simpatizantes ou envolvidos no trabalho que a APEART vinha desenvolvendo através da educação popular. Dos registros coletados e analisados, identificamos um intenso debate em torno do processo eleitoral realizado em várias reuniões e assembléias da Associação, focando a importância de se indicar e eleger representantes inseridos e vinculados aos movimentos sociais nos municípios, portadores de princípios e propostas de educação popular, e comprometidos com a luta dos trabalhadores, contudo, observando os cuidados necessários para se evitar desgastes para a APEART, principalmente nos casos de não eleição113.

O ano de 1996 encerrou-se com a apresentação do Relatório da APEART, documento apresentado pela Associação para fins de prestação de contas à SEED/PR (desde o ano de 1994), constando sistematização das ações desenvolvidas no referido ano, contudo, com uma produção mais sintetizada e elaborada. Seu conteúdo apresentava dados estatísticos fundamentais sobre o perfil dos educandos - identificados através da ficha do educando aplicada diretamente pelos monitores durante o ano e sistematizada pelo então sociólogo e diretor da Associação Fernando Franzói da Silva, responsável também pela configuração geral do Relatório. Este documento já explicitava subcapítulos específicos referentes aos públicos diferenciados atendidos pela Associação tais como os posseiros e os indígenas, contudo, apresentados ainda imersos no universo do PEART, sem a devida percepção dos mesmos como projetos específicos vinculados à APEART. Observa-se então, o inicio de um processo de reconhecimento e desmembramento do PEART, provocando desta forma, um novo momento histórico para a APEART despertando assim, novos conflitos e consensos nos seus quadros, possibilitando o

113 Identificamos que as discussões oficiais em torno do processo eleitoral ocorreram principalmente nas reuniões e assembléias dos dias 15/05/1995, 21/07/1995, 15/09/1995, 24/11/1995 e 24/02/1996.

redimensionamento e a construção de seus princípios político-pedagógicos e a disseminação de seu trabalho à nível estadual e nacional.