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2 AS TECNOLOGIAS DIGITAIS E O PENSAMENTO

2.1 A CULTURA DIGITAL E A ESCOLA

A tecnologia está imersa no cotidiano das pessoas, propiciando diversos meios e possibilidades de conexões, principalmente pelas redes sem fio. As TDIC estão cada vez mais presentes na sociedade, transformando culturas e espaços, consequentemente intervindos na formação dos indivíduos. Conforme afirma Prensky (2001), o mundo é dividido pelos nativos e os imigrantes digitais. Os nativos já nasceram em um mundo submerso pelas TDIC e os imigrantes, são os indivíduos que nasceram em um período anterior ou até no início do surgimento das novas tecnologias, até 1980.

A transição dessa tecnologia fez com que os imigrantes digitais mudassem seu comportamento, aprendendo a utilizar as novas ferramentas tecnológicas. Tal inserção tecnológica ajudou na comunicação, favorecendo o compartilhamento de informações e a interação com outras pessoas. Do outro lado estão os nativos digitais, com capacidade de fazer várias atividades ao mesmo tempo, estando sempre no meio virtual.

Os Nativos Digitais estão acostumados a receber informações muito rapidamente. Eles gostam de processar mais de uma coisa por vez e realizar múltiplas tarefas. Eles preferem os seus gráficos antes do texto ao invés do oposto. Eles preferem acesso aleatório (como hipertexto). Eles trabalham melhor quando ligados a uma rede de contatos. (PRENSKY, 2001, p. 2).

Os imigrantes, digitais quando inseridos no contexto de aprendizado escolar, mostram-se muito diferentes dos nativos, como afirma Mattar:

Nossos alunos mudaram racialmente e são hoje falantes nativos da linguagem digital dos computadores, videogames e Internet; já os imigrantes digitais têm ‘sotaque’ quando usam essa linguagem (como, por exemplo, ao ler o manual de um game), o que estaria alimentando uma grande descontinuidade entre essas gerações. (MATTAR, 2010, p.10).

Os imigrantes estavam adaptados às metodologias tradicionais, em que o aprendizado era centrado no professor como detentor de todo o conhecimento, limitando o acesso às informações, diferente dos nativos digitais, que possuem fácil acesso, sendo autônomos e capazes de obter distintas informações, de analisá-las e discuti-las, para chegar ao aprendizado.

Alunos nativos digitais estão acostumados a receber informações mais rapidamente do que seus professores imigrantes digitais sabem transmitir. Imigrantes preferem as coisas em ordem, enquanto os nativos relacionam-se com a informação de maneira aleatória. (MATTAR, 2010, p.10).

As escolas não foram atingidas pela vinda das tecnologias digitais diretamente, diferente da vida das crianças, quando estão fora da escola. A infância contemporânea está inserida e até definida pela mídia moderna, por meio da televisão, vídeo, jogos de computadores, internet, smartphones e uma série de outros equipamentos tecnológicos, formando a cultura do consumo contemporâneo (BUCKINGHAM, 2000).

A tecnologia está presente na sociedade, transformando culturas e espaços, interferindo na formação dos indivíduos. Diferentes ferramentas tecnológicas começam a entrar nos espaços educacionais, trazidas pelos alunos ou pelo seu modo de pensar e agir próprio de um representante da geração digital.

As TDIC não estão mais confinadas a um espaço e tempo demarcado, passando a fazer parte da cultura, tomando lugar e forma nas práticas sociais, representando as relações educativas que nem sempre estão presentes fisicamente nas unidades escolares, principalmente as públicas. Dentre as ferramentas tecnológicas típicas da atual cultura digital, com as quais os alunos interagem mesmo fora dos espaços escolares estão os jogos eletrônicos e digitais, que instigam o mergulho digital numa estética visual da cultura, trazendo os smartphones, computadores, tablets e outros equipamentos acessíveis a esses jovens, permitindo seu acesso aos ambientes virtuais em distintos meios e tempo.

A inserção das tecnologias nos processos de ensino e aprendizagem para apoio às atividades ou até mesmo para a motivação dos alunos, aos poucos vem ganhando

espaço de integração ao currículo (SILVA, 2010). Nessa perspectiva, as TDIC e o currículo passam a se relacionar, de maneira que as intervenções geram nova significância ao currículo, aliadas ao uso das TDIC.

As tecnologias digitais, quando aplicadas à educação, contribuem para a mudança das práticas educativas, oportunizando a criação de novos ambientes na sala de aula e na escola. Tal dinâmica se reflete em todas as categorias e relações envolvidas nesse processo, dentre as quais se destacam as mudanças na gestão de tempos e espaços, nas relações entre ensino e aprendizagem, nos materiais de apoio pedagógico e na organização e representação das informações, por meio de múltiplas linguagens.

A propagação e o uso de tecnologias digitais, como os computadores e a internet, favoreceram o desenvolvimento da cultura de uso das mídias e uma consequente configuração social, regulada em um modelo digital de pensar, criar, produzir, comunicar, aprender e viver. As tecnologias móveis são responsáveis por essa nova configuração social do mundo, que se relaciona com o espaço digital. Começaram a aparecer na educação, a partir da disseminação dos smartphones e tablets, possibilitando a conexão contínua e sem fio, trazidas pelos próprios educandos.

O pensamento das novas gerações se desenvolve no centro de um sistema de coprodução midiatizado pelas TDIC, compondo uma ecologia cognitiva (LÉVY, 2014), na medida em que modifica as configurações das redes sociais ao envolver pessoas, objetos, valores, práticas e significados articulados em “uma rede na qual, neurônios, módulos cognitivos, humanos, instituições de ensino, línguas, sistemas de escrita, livros e computadores interconectam, transformam e traduzem as representações” (LÉVY, 2014, p.135).

No entanto, faz-se necessário promover a formação dos educadores, oferecendo condições de integrarem criticamente as TDIC às suas práticas pedagógicas. Porém, é preciso que o educador possa assumir-se como parte da cultura digital, compreendendo as potencialidades que as TDIC possibilitam ao aprendizado, “utilizá-las na própria aprendizagem e na prática pedagógica e refletir sobre por que usar a tecnologia, como se dá esse uso e que contribuições ela pode trazer à aprendizagem e ao desenvolvimento do currículo” (ALMEIDA, 2010, p. 68). É preciso que existam condições para que a escola, no geral, insira a cultura digital em seu cotidiano e se articule com a comunidade global, seja em estrutura ou outros componentes, por meio das TDIC e mídias digitais, assumindo uma posição crítica, questionadora e reflexiva, frente às tecnologias, pois:

[...] o exercício de pensar o tempo, de pensar a técnica, de pensar o conhecimento enquanto se conhece, de pensar o quê das coisas, o para quê, o como, o em favor de quê, de quem, o contra quê, o contra quem são exigências fundamentais de uma educação democrática à altura dos desafios do nosso tempo. (FREIRE, 2000, p. 102).

Para tanto, os processos formativos de professores precisam oportunizar momentos de reflexão e leitura crítica diante da integração das TDIC no contexto educacional. Isso pode ocorrer por meio de dinâmicas de inter-relação entre teoria e prática, constituindo a contextualização, que permite ao educador identificar a razão de ser da tecnologia e de seus usos nas práticas pedagógicas (FREIRE, 1984). Sob esse viés, retrata-se a seguir como as políticas públicas abordam as tecnologias digitais no contexto educacional.

2.2 AS POLÍTICAS PÚBLICAS E AS TECNOLOGIAS DIGITAIS NO ÂMBITO DA