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2 AS TECNOLOGIAS DIGITAIS E O PENSAMENTO

2.3 AS TECNOLOGIAS DIGITAIS E O DESENVOLVIMENTO DA LÓGICA

Com os avanços tecnológicos, impõe-se à Educação a necessidade de se conceber novas concepções de situações de aprendizagem que propiciem ao estudante novas dimensões de desenvolvimento e aprendizado mais inovadoras e coerentes com as demandas formativas atuais. O estudante passa a ter papel central em seu desenvolvimento cognitivo e em sua formação, em qualquer área do conhecimento. Assim, a inserção das tecnologias digitais nos ambientes educativos requer mudanças para que o conhecimento possa ser construído, a partir do uso adequado das TDIC nas práticas pedagógicas.

De acordo com Piaget (1978), a teoria do desenvolvimento lógico compõe-se de estágios e cada um representa transformações cognitivas que a criança vivencia. Eles ocorrem diante de algumas condições, como: 1- a continuidade de condutas é constante, independentemente das acelerações ou atrasos que possam alterar a idade cronológica da criança em função de suas próprias experiências e estimulação do meio; 2- cada estágio é estabelecido por uma ordenação de conjunto, que define as novas condutas próprias desta fase; 3- essas ordenações pressupõem grande integração, pois cada uma é preparada pela sua antecessora e incorporada a seguinte, ou seja, cada estágio prepara o próximo, não havendo saltos evolutivos (RAMOZZI-CHIAROTTINO, 2005).

O desenvolvimento mental exigirá organizações progressivas, com adaptações precisas à realidade, porque:

[...] o desenvolvimento orienta-se, essencialmente, para o equilíbrio [...] é, portanto, uma equilibração progressiva, uma passagem contínua de um estado de menor equilíbrio para um estado de equilíbrio superior.

[...] Toda ação – isto é, todo movimento, pensamento ou sentimento – corresponde a uma necessidade. A criança, como o adulto, só executa alguma ação exterior ou mesmo inteiramente interior quando impulsionado por um motivo e este se traduz sempre sob a forma de uma necessidade, que é sempre a manifestação de um desequilíbrio. (PIAGET, 1978, p. 11 - 14).

No modelo de Piaget (1978), o sistema cognitivo interage com o ambiente depreendendo dados, que após processamentos, assumem forma de informações. Por meio de sucessivas interações, passa por mudanças evolutivas, ampliando a capacidade de usar informações para a integração ao mundo. Os estágios de desenvolvimento cognitivo são: sensório-motor, pré-operatório, operatório-concreto e o operatório-formal (PIAGET, 1978).

Destaca-se, para o desenvolvimento da lógica e do pensamento, o desenvolvimento operatório concreto e formal. O período operatório-concreto, compreendendo a faixa etária de 7 a 12 anos aproximadamente, período em que o egocentrismo intelectual e social que caracteriza a fase anterior abre espaço à capacidade da criança de estabelecer relações e coordenar pontos de vista diferentes, sejam eles próprios ou não, e integrá-los de maneira lógica e coerente (RAPPAPORT, 1981). Outro aspecto importante nesse estágio é o aparecimento da capacidade da criança interiorizar ações, começando a realizar operações mentalmente e não mais somente por meio de ações físicas.

Já o período operatório formal, compreendido pela faixa etária dos 12 anos em diante, a criança amplia as capacidades conquistadas na fase anterior, conseguindo raciocinar sobre hipóteses na dimensão, em que é capaz de formar esquemas conceituais abstratos e por meio deles, executar operações mentais dentro de princípios da lógica formal. Com isso, de acordo com Rappaport (1981), a criança adquire capacidade de criticar os sistemas sociais e propor novos códigos de conduta, discutindo valores morais e construindo os seus, adquirindo assim autonomia. Nesse sentido, conforme a tese de Piaget, ao atingir essa fase, o indivíduo confere sua forma final de equilíbrio, ou seja, consegue alcançar o padrão intelectual, que prosseguirá durante a idade adulta. Com isso, ao ser apresentado um problema a um estudante, poderão ser categorizadas suas respostas com etapas que foram utilizadas, quando solicitada a resolução. Inicialmente, no momento em que uma situação é apresentada a ele, faz-se uma tomada

de decisão, ou seja, recorre-se a uma base de conhecimentos específicos, que poderão ser aplicados na resolução do problema.

A seguir, percorre um período de maturação, no qual a situação é amadurecida, associada, organizada e comparada a outras conhecidas, objetivando uma solução para o problema. Após encontrar a solução, busca-se uma prova, que é a solução aprofundada, elaborada e sistematizada, sem redundâncias. Essa solução permite partir-se para generalizações e elaborações de modelos teóricos, chamada de Sequência Fedathi (BORGES NETO, 2013), que é uma metodologia de pesquisa e ensino que se preocupa com o antes, o durante e o depois da aula de Matemática.

As ações didáticas dos professores iniciam antes do seu acesso à sala de aula, e são motivadas por uma reflexão – ação – reflexão (planejamento-prática-avaliação), pautadas por significados e preocupações diagnósticas, em que o processo de ensino atravessa o ato de motivar, mover e refletir sobre. Dessa maneira, busca –se minimizar os obstáculos epistemológicos e didáticos da ação docente.

No ensino tradicional, principalmente no ensino da Matemática, a maturação e solução são geralmente esquecidos ou pouco valorizados, o que gera problemas na aprendizagem e o ensino constitui-se como sendo apenas um passar de fórmulas, ensinadas por regras, repetições ou receitas prontas, em vez de se propiciar a compreensão e o significado que o estudante deve ter do que aprenderá, adquirindo autonomia para construir seu próprio conhecimento.

Serão nesses dois níveis intermediários do processo cognitivo de aprendizagem que se tem a possibilidade de realizar reflexões e entendimento dos erros, de se fazer e refazer um problema, de se pensar em simulações, de se elaborar e levantar hipóteses, oportunizando o desenvolvimento do pensamento e da lógica. Contudo, é preciso que professores explorem tais perspectivas, trabalhem de maneiras diferenciadas a maturação, a solução e a reflexão, para que o pensamento e o raciocínio lógico possam ser estimulados e desenvolvidos.

Nesse sentido, a utilização das tecnologias digitais abre novas e interessantes possibilidades de busca de novos conhecimentos, a partir de vivências com a programação de computadores, utilização de softwares, resolução de problemas, sistemas de enciclopédias online, uso e construção de games, entre outras possibilidades (BORGES NETO, 1999), que inclusive podem favorecer o desenvolvimento do pensamento computacional já na Educação Básica.