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Caracterizada pela modernidade apregoada pelo então Presidente Fernando Collor de Melo, que apostava na reforma do Estado e do setor produtivo como mecanismos eficazes para a retomada do desenvolvimento do País, essa década é marcada por uma nova configuração no contexto político e da economia mundial e brasileira, que provocou mudanças na condução das políticas governamentais que proporcionou reflexos nas universidades até hoje não superados.

A modificação das regras para a estabilidade do servidor público e adoção do tempo mínimo para aposentadorias decorrente de tais mudanças acarretaram sérias dificuldades para as universidades federais brasileiras, merecendo destaque especial os atritos entre os reitores dessas universidades e o Ministro José Goldemberg que, influenciado por sua vivência na Universidade de São Paulo, defendia que as universidades federais tinham de batalhar por recursos próprios, melhorar a qualidade de seus recursos humanos, de aumentar a produtividade de suas atividades e adotar mais racionalidade administrativa no uso dos recursos financeiros, de modo que elas apresentassem projetos de qualidade capazes de competir com as universidades estaduais paulistas.

A estabilização da economia em termos de controle inflacionário; a privatização das empresas estatais; os programas de demissão voluntária e a aceleração das aposentadorias de funcionários públicos criaram situações financeiras difíceis no ambiente interno das universidades federais, que permanecem até hoje sem solução. Por exemplo, com as aposentadorias a composição dos orçamentos dessas instituições foi modificada, pois o conseqüente aumento da folha de pagamento com a conta dos pensionistas e aposentados levou à redução do montante de recursos para custeio e investimentos: na UFSC, no ano de 2000, do total de recursos orçamentários concedidos pela União, 92% foram para a folha de pagamento e, destes, 30% foram para os inativos e pensionistas17; na UFC, dos gastos com pessoal, no ano de 1999, foram consumidos cerca de 44% para inativos e pensionistas. (UFC, Relatório, 2000).

Com a persistência dos conflitos foram ampliadas, a partir de 1995, as inquietações no âmbito das universidades federais, principalmente em decorrência da proposta apresentada pelo Ministério da Administração e Reforma do Estado para transformar em Organizações Sociais18 as organizações públicas voltadas à prestação de serviços públicos em diversas áreas, particularmente as instituições nas áreas de educação, ciência e tecnologia. Essa polêmica proposta reativou as discussões sobre a autonomia das universidades federais garantida na Constituição de 1988, e ratificada pela LDB/96. Apesar de ter sido encaminhado ao Congresso Nacional um projeto de reforma constitucional que trata sobre a questão da

17 Informação fornecida pela Coordenadora de Planejamento da UFSC, Profª Elizabete Simão

Flausino, em entrevista realizada no dia 21.08.01.

autonomia das universidades federais, mas que até hoje não foi votado, pois para o Ministério da Educação somente com autonomia plena, trazida no bojo das Organizações Sociais, seria possível às universidades tornarem-se eficientes no uso dos recursos públicos e mais eficazes na gestão e na melhoria do seu desempenho (MEC, 2000).

Dessa forma, questões como autonomia e avaliação, ganharam espaços, tanto na comunidade universitária, quanto na esfera do governo federal. Os primeiros anos da década foram marcados por discussões em torno da necessidade de avaliação em função da suposta perda de qualidade. A Secretaria de Ensino Superior SESu/MEC, lança, em 1994, as diretrizes do Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras (PAIUB). (FREITAS e SILVEIRA, 1997). Em seguida, em 1996, foi instituído o Exame Nacional de Cursos (ENC) e, em 1997, a Avaliação das Condições de Oferta de Ensino. A LDB/96 ao propor que as universidades ofereçam maior flexibilidade na ofertas de vagas; que elas elaborem diretrizes curriculares em substituição aos currículos mínimos; que existam bases de pesquisa e programas de pós-graduação; instigou mudanças na estrutura acadêmica e de gestão das universidades. No entanto, as estruturas formais das universidades federais permanecem sem alterações relevantes desde a Reforma de 68, em que predomina a forma burocrática.

Com base nas orientações da LDB, surgiram novas modalidades na oferta de cursos como os cursos seqüenciais, por exemplo. O crescimento de matrículas no ensino de graduação, nos últimos seis anos, só é compatível aos números registrados na década de 70, período em que as universidades privadas começaram a se expandir no Brasil. No entanto, a taxa de escolarização do ensino superior brasileiro, se comparada à de outros países, ainda é muito baixa. Em 1996, essa taxa era de 12,7% considerando a população de 20 a 24 anos (Schartzman e Barreto, 1999), atualmente é de 14%. Nos Estados Unidos essa taxa é de 81% (Bezerra, 2001). O Plano Nacional de Educação propõe aumentar a taxa de escolarização em nível superior para a faixa de 18-24 anos para 30% até 2011.

O aumento no número de ingressantes no ensino superior se deve, em parte, pelo crescimento do número de concluintes no ensino médio que cresceu 35,4% de 1996-1999,19. O número de ingressantes pelo vestibular cresceu 36% de 1988 para

1998. Em contrapartida, o número de inscritos no vestibular das universidades federais no mesmo período cresceu 80%. (MEC/INEP, 1999a).

Outras informações divulgadas pelo MEC/INEP (1999b) procuram salientar a melhoria no nível de qualidade do ensino de graduação, usando para isso, dados que apontam para a melhoria do perfil do corpo docente em relação à qualificação em nível de mestre e doutores. Esses dados caracterizam os esforços das instituições em melhorar o nível das atividades de ensino e de pesquisa. Nas instituições federais o número de titulados na pós-graduação no período de 1994- 2000 foi de 134% no nível de mestrado, e de 188% no nível de doutorado (SOUZA, 2001).

No que se refere ao orçamento executado pelas universidades federais, em 1995, os recursos foram da ordem de R$ 5,7 bilhões e em 2000 de R$ 7,4 bilhões. No entanto, o Deputado Jorge Bitar (PT-RJ) considera que, dado o crescimento do número de alunos na graduação e na pós-graduação, esses recursos deveriam ter sido na ordem de R$ 9,5 bilhões (COSTA e CAZARRÉ, 2001).

Em síntese, esses dados apontam evidências de melhoria do sistema federal de ensino superior, no entanto, ao mesmo tempo suscita controvérsias no interior das universidades públicas, federais especialmente, diante das políticas governamentais que engessam as ações estratégicas das universidades, conduzindo seus gestores a conviverem num eterno dilema: por um lado, dar respostas às atividades demandadas pela sociedade e, por outro lado, submeterem- se aos entraves de uma estrutura formal baseada no modelo burocrático.

7 AS CONFIGURAÇÕES ESTRATÉGICAS DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DE SANTA CATARINA

O objetivo deste capítulo é apresentar e analisar as configurações estratégicas da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, com base no modelo de análise proposto no capítulo três e na metodologia descrita no capítulo cinco.

Foram identificados três períodos estratégicos. O primeiro período (1972- 1980) foi composto por duas gestões: a primeira gestão (1972-76) conduzida pelo prof. Roberto Mündel de Lacerda; e a gestão (1976-80) em que foi Reitor o prof. Caspar Erich Stemmer. Esse período estratégico foi caracterizado pela Reforma Universitária e pela Consolidação do Campus Universitário.

O segundo período estratégico compreendeu três gestões: a gestão (1980- 84) na qual foi Reitor o prof. Ernani Bayer; a gestão (1984-88) conduzida pelo prof. Rodolfo Joaquim Pinto da Luz; e a gestão (1988-1992) conduzida pelo prof. Bruno Rodolfo Schlemper Júnior. Nesse período estratégico (1980-1992) as decisões estratégicas conduziram a Consolidação da UFSC como uma Universidade de Pós- Graduação e Pesquisa.

O Terceiro período estratégico (1992-2000) foi composto por duas gestões: a gestão (1992-96) para a qual foi nomeado o prof. Antonio Diomário de Queiroz; e para a gestão (1996-2000) o prof. Rodolfo Joaquim Pinto da Luz. Nesse período estratégico houve a Estatuinte e a Reforma Estrutural.

Este capítulo inicia-se com a apresentação da unidade de estudo; na seqüência são analisados os períodos estratégicos; as análises que definem suas configurações estratégicas. Por fim, ilustra-se e analisa-se o processo de adaptação estratégica ao longo das três décadas.