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Origem e Concepções de Universidade

O termo Universidade tem origem latina universitas e oferece a idéia de ambiente unus, voltado para uma pluralidade de objetivos (ALMEIDA, 1997). Herdeira de instituições filosóficas da Antigüidade greco-romana, a universidade se originou no contexto religioso do ocidente cristão e do oriente islâmico por volta do Século XI. Denominada de studium generale, na sua origem, era formada por uma comunidade de professores e estudantes que tinham como objetivo principal o cultivo do saber em detrimento da especialização e da prática.

Na Idade Média, a universidade tinha a idéia de uma comunidade de sábios e estudantes com o propósito de conservar e de transmitir o conhecimento. Nesse sentido tiveram, ainda, como missão, a divulgação do ensino religioso como uma forma de manter o poder da Igreja. No séc. XII, na França, começaram a surgir novas escolas não mais vinculadas ao Clero; e na Itália, a organização das escolas facilitou o enfraquecimento do Poder Imperial. No séc. XIII surgiram tradicionais universidades como: Bolonha; Paris; Oxford e Cambridge (CERQUEIRA, 1996; MORHY, 2001).

Em síntese, a história da Universidade a caracteriza como uma organização adaptável ao seu contexto e tempo. Trindade (1999) estabeleceu quatro períodos para caracterizar essa dimensão temporal. O primeiro, que vai do século XII até o Renascimento, foi considerado o período da invenção e o que teve a proteção da Igreja romana. O segundo período, que começou no século XV, recebeu o impacto das transformações comerciais do capitalismo e do humanismo literário e artístico; o terceiro período, iniciado no século XVII, foi marcado pelas descobertas científicas e pelo Iluminismo do século XVIII, quando a universidade começou a institucionalizar a ciência. O quarto período começou no século XIX e caracterizou a universidade moderna introduzindo uma nova relação desta com o Estado, conduzindo para o que se configura os padrões das universidades atuais.

Ao longo de sua história diferentes concepções modelaram esse tipo de organização, as principais são destacadas a seguir.

A universidade como ambiente de educação - também denominado de modelo inglês, foi idealizada pelo Cardeal Newman, e tinha como pressuposto o saber universal, cujo objetivo da universidade era difundir e estender esse saber de forma autônoma. Nessa concepção, a Universidade era um lugar de ensino, correspondendo ao contexto da época, na qual, a aspiração pelo saber era uma coisa natural ao homem, pois consistia no espírito filosófico de ver a verdade, as relações e os valores entre as ciências. Essa concepção considerava o ensino e a pesquisa como sendo funções distintas, pois, para Newman, descobrir e ensinar são dons distintos raramente encontrados em uma só pessoa (DRÈZE e DEBELLE, 1983).

A universidade como comunidade de pesquisadores - característica do modelo alemão, tinha, segundo a concepção de Karl Jaspers, a procura pela verdade através da pesquisa e de sua unidade com o ensino. Nesse sentido, acreditava na ciência como um conhecimento metódico e admitia que "a universidade não poderia prosseguir na descoberta da verdade sem reconhecer a pesquisa científica como tarefa primeira" (DRÈZE e DEBELLE, 1983, p. 49). No entanto, como a ciência tem seus limites e deve se situar no universo dos conhecimentos, a universidade devia articular a totalidade desses conhecimentos de maneira a integrar o pesquisador numa rede de relações que o aproxima da unidade e o confronta com a totalidade. Jaspers concebia o ensino universitário como uma iniciação à pesquisa em que, desenvolvendo as atividades ao lado do professor o

aluno descobria a atitude científica, e, dessa forma, a atividade intelectual seria válida, tanto para a vida científica, quanto para a vida profissional. Essa concepção de universidade tinha, ainda, como princípio ser reservada a uma elite, aristocracia intelectual, na expressão do autor, no sentido de que era uma minoria que buscava uma atividade intelectual desinteressada e não o êxito material. Naquele sentido então, o princípio da organização da universidade era o de liberdade acadêmica.

A universidade como um centro de progresso – se refere ao modelo norte- americano. Esse modelo apesar de ser influenciado pelo modelo inglês era mais autônomo e democrático (ALMEIDA, 1997). Portanto, a universidade devia ser independente do Estado e ter a função de reorientar o próprio Estado. Whitehead acreditava que as universidades seriam um dos principais agentes do progresso de uma nação. Por isso, deveria ser estimulada nos jovens a criatividade através da simbiose entre o ensino e a pesquisa, mesmo que essas atividades não esgotassem o papel que competia às universidades na construção do progresso de uma nação. Naquela época já era vista a preocupação de reunir um quadro de professores qualificados, uma organização administrativa eficaz e a utilização dos conhecimentos em práticas que visassem o tão propalado progresso.

O modelo napoleônico de universidade, contrário ao modelo americano, colocava a universidade a serviço do Estado, pois Napoleão era, antes de tudo, um homem de Estado. Portanto, a universidade francesa devia estar subjugada a cumprir tarefas de cunho ideológico e doutrinário, ou seja, o modelo universitário francês era voltado para a formação profissional em detrimento da pesquisa, dada a influência da Revolução Francesa (DRÈZE e DEBELLE, 1983; MORHY, 2001).

Com características distintas, o modelo de universidade funcional ou como fator de produção, também é subordinada ao Estado e as atividades de ensino e pesquisa organizadas sob rígida hierarquia, com ampla prestação de serviços. A universidade é gratuita e seu processo seletivo era baseado em numerus clausus. Esse modelo de universidade foi concebido por um Conselho de Ministros da ex- URSS (ALMEIDA, 1997).

No modelo da multidiversidade a universidade é funcional e está a serviço do desempenho dos serviços públicos, portanto, tem as atividades de ensino e extensão como prioritárias, sendo a pesquisa restrita àquela de aplicação imediata. Esse modelo surgiu em 1963, com a proposta de englobar além do ensino de graduação e pós-graduação, o ensino primário, secundário e profissionalizante,

institutos de pesquisa, hospitais, fazendas experimentais, laboratórios de pesquisa sendo que, tudo isso, podia estar localizado em várias cidades e estados (CLARK KERR, 1982; SANTOS, 1995; MORHY, 2001).

Esses modelos ou concepções de universidades e outros, não contemplados nesta síntese, orientaram as universidades modernas com predominância de um, ou outro em cada uma das instituições. A universidade brasileira, por exemplo, tem características dos modelos: alemão; americano e o da multidiversidade.

Conclui-se, que os modelos vão sendo remodelados porque as universidades são mutantes no curso da história, assim, elas se transformam porque assumem novas funções de acordo com o seu ambiente interno e externo e com o momento histórico, de maneira que a universidade atual se constitui uma organização não mais só com função formadora, mas produtora de conhecimento científico, tecnológico e cultural importante para o processo de inserção do País na era da modernidade e da sociedade do conhecimento (MADEIRA, 1995 ; ALMEIDA, 2000).

No entanto, diante dos novos desafios que se colocam para as universidades federais como: a expansão da oferta de vagas; a garantia de qualidade, pari passu a redução de recursos financeiros via fontes do Tesouro, alguns dirigentes apontam para a necessidade de um novo modelo de universidade pública que permita sua consolidação, expansão e flexibilidade, o que exige uma nova concepção de autonomia universitária (PINTO da LUZ, 2001; BEZERRA, 2001).

A configuração desses modelos, no entanto, passa a ser mais bem entendida quando se faz um exercício de revisão histórica, tema que está sintetizado a seguir.