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Com base nas análises do comportamento dos períodos estratégicos na UFSC foi possível observar a interação entre as duas principais concepções sobre adaptação estratégica – a abordagem voluntarista na perspectiva organização- ambiente, em que os atores escolheram as condições internas para realização das mudanças na organização; e a abordagem determinista na perspectiva ambiente- organização, isto é, a organização promoveu suas adaptações de acordo com as exigências do seu ambiente externo. A inter-relação desse comportamento de adaptação estratégica da UFSC está ilustrada a seguir.

Ilustração 11 - Voluntarismo e Determinismo na UFSC (1972-2000) Fonte: Fonte: adaptado de Hrebiniak e Joyce (1985) e Alves Filho (2000).

Observa-se no quadrante I caracterizado pelo alto voluntarismo e baixo determinismo ambiental que a coalizão dominante da gestão 1992-96 adotou a decisão estratégica de promover a Estatuinte com o propósito de efetuar mudanças na organização, e conforme a percepção dos entrevistados, se não mudou na sua estrutura formal, mudou significativamente o comportamento organizacional e a sua relação com a sociedade. Nessa gestão a UFSC determinou seu domínio ambiental a partir da decisão estratégica de consolidar sua vocação como uma universidade de pesquisa e pós-graduação, ratificando e redefinindo sua missão e concepção, caracterizando assim, o seu poder de influência sobre as outras organizações no seu ambiente organizacional.

Mesmo assumindo riscos, mas diante da potencialização de seus recursos humanos a sua coalizão apoiada na sua cultura organizacional de inovação foi audaciosa e interveio com o propósito de promover as mudanças comportamentais requeridas pelo seu contexto, destacando-se que o ambiente organizacional encontrava-se inserido numa crise financeira, mas que, segundo o entrevistado “A”, a universidade soube transformá-la em oportunidades para crescer e afirmar o seu papel perante a sociedade, contando, para isso, com o apoio de importantes

stakeholders externos. Voluntarismo Baixo Alto Baixo Alto ESCOLHA ESTRATÉGICA

I

(1992-1996) DIFERENCIAÇÃO

II

(1996-2000) ESCOLHA INDIFERENTE

III

(1980-84; 1984-88; 1988-92) SELEÇÃO NATURAL

IV

(1972-76; 1976-80) Determinismo

No quadrante II esteve inserido o período 1996-00 no qual tanto o voluntarismo, quanto o determinismo são altos, pois caracterizam um Contexto complexo e de muita turbulência para a adaptação da universidade. Nesse Contexto, fatores externos como as pressões governamentais sobre o os resultados institucionais tenderam a afetar as decisões estratégicas, no entanto, sua coalizão com o apoio das Fundações atuando como importante stakeholder, somada a capacidade interna gerada pela qualificação de seus profissionais, além de outra importante contribuição que é a manutenção da folha de pagamento pelo Governo conduziram a UFSC a se consolidar como uma universidade de pesquisa a exemplo da tendência das universidades federais brasileiras.

A escolha estratégica foi determinante para a mudança na estrutura formal da UFSC sem que, todavia, tenha alterado sua configuração estrutural de Burocracia profissional, haja vista sua cultura organizacional e seu modelo decisório que conduziram para uma dimensão descentralizada do poder já que neste tipo de organização as decisões são tomadas com base no julgamento profissional, assim, os professores exercem controle sobre suas atividades e o conjunto dessas, orientam as ações coletivas, que seguem uma hierarquia e um processo colegiado onde o poder é diluído e transformado em decisões consensuais configurando-se, ora no modelo colegiado, ora no modelo político.

No quadrante III se observa voluntarismo e determinismo baixos demonstrando a condição do período estratégico 1980-92 em que o ambiente era dinâmico, com mudanças imprevisíveis na economia, instabilidade governamental, inovações tecnológicas, mas que, no entanto, não exerceram pressões tão fortes a ponto de provocar mudanças radicais na universidade. Nesses casos as adaptações aconteceram por acaso ou em respostas incrementais às políticas, explícitas, ou não, da instituição. Nesses períodos as decisões estratégicas seguiram o padrão das decisões da universidade ao longo de seu processo de desenvolvimento institucional em que a configuração de poder se moveu entre uma arena política e meritrocrática, consequentemente o modelo decisório, também, alternou-se entre político e colegiado.

No quadrante IV em que se situou o período estratégico 1972-80 a concepção voluntarista teve baixa influência em contraposição a concepção determinista. Nesses casos os fatores ambientais determinaram e selecionaram as condições de adaptação da organização. O ambiente era estável e o sistema político vigente

exercia uma forte influência externa determinando a centralização do poder e a configuração do modelo burocrático e mecanizado. As mudanças observadas nesses períodos foram classificadas como revolucionária e incremental. Destaca-se que, nesse período, a adaptação estratégica adotou a perspectiva institucional através do isomorfismo coercitivo em que as pressões exercidas sobre as universidades conduzem a um processo de homogeneização estratégica na busca de sua legitimidade institucional.

O conjunto de ações adotado pelo comportamento adaptativo da UFSC pode ser explicado, com base na tipologia de Miles e Snow (1978) em uma configuração que inclui características do tipo analítico - em que nas áreas estáveis ela operou através de estruturas e processos formais – os cursos tradicionais, por exemplo; e nas áreas turbulentas – os administradores observam as novas idéias de seus concorrentes e as adotaram, como a educação à distância, por exemplo. Por outro lado, a UFSC se enquadrou, também, no tipo reativo – no qual os administradores perceberam as mudanças nos seus ambientes organizacionais, no entanto, não foram capazes de respondê-las efetivamente.

As análises desses períodos estratégicos da UFSC confirmaram a inter- relação entre a estrutura, o contexto ambiental, o modelo decisório e a cultura organizacional. Essas variáveis determinaram a configuração estratégica de cada período em particular. Dessa forma, ratificam-se as conclusões de Hardy e Fachin (1996) de que, a gestão estratégica em universidades precisa refletir sobre um conjunto de dimensões organizacionais e descobrir o espaço a ocupar. E essa é uma das contribuições teórica-prática desta pesquisa.

8 AS CONFIGURAÇÕES ESTRATÉGICAS DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO CEARÁ

Neste capítulo é analisada a segunda das três universidades que compõem esta pesquisa. Foram identificados e caracterizados quatro períodos estratégicos na UFC. O padrão de comportamento das decisões estratégicas, com uma exceção, pode ser explicado pela continuidade dos mandatos dos reitores pelos seus vice- reitores ou por um pró-reitor, e dos mandatos consecutivos do reitor nas últimas duas gestões.

O primeiro período estratégico da UFC (1971-79) foi conduzido por dois Reitores. O prof. Walter de Moura Cantídio que a conduziu na gestão (1971-75); e pelo prof. Pedro Teixeira Barroso na gestão (1975-79). Nesse período, a exemplo das demais universidades, a UFC consolidou sua Reforma Universitária.

O segundo período (1979-1991) foi formado por três gestões: a gestão conduzida pelo prof. Paulo Elpídio de Menezes Neto (1979-83); para a gestão (1983- 87) foi nomeado o prof. José Anchieta Esmeraldo Barreto; e para a gestão (1987- 1991) o prof. Raimundo Hélio Leite. Esse período foi caracterizado pela Projeção e Modernização da Universidade.

O terceiro período estratégico (1991-95) coincide com a gestão do prof. Antonio de Albuquerque de Souza Filho, no qual houve a Informatização e a Recuperação Física da UFC.

O quarto período estratégico (1995-2000) foi conduzido pelo prof. Roberto Cláudio Frota Bezerra que definiu como estratégia o Avanço Quanti-qualitativo da UFC.

O roteiro deste capítulo tem a mesma ordem do capítulo sete, isto é: inicia-se pela unidade de estudo; em seguida descreve-se os períodos estratégicos; analisa- se suas configurações estratégicas; o seu processo de adaptação e, finalmente, apresenta-se uma síntese do capítulo.