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Modelos de Decisão em Universidades

Dentre as especificidades das organizações universitárias autores como Baldridge (1983), se referiu às suas complexidades, apontando características que fazem a diferença entre estas e as organizações empresariais. Por exemplo, enquanto nas organizações universitárias os objetivos são ambíguos e difusos, nas organizações empresariais os objetivos servem de orientação básica para a definição da estrutura, forma de governo e de processo decisório. Nesse sentido, surge a necessidade de serem estabelecidas diferentes formas de governo e processo decisório na organização universitária considerando que essa multiplicidade de objetivos gera tensões e conflitos no interior dessas, atuando juntamente com fortes pressões políticas e ideológicas. Essas pressões surgem de relações como estas apontadas por Nunes (2002): educação e cidadania; formação

intelectual e qualificação profissional; necessidades sociais e demandas de mercado de trabalho; pesquisa científica e tecnologia, dentre outras.

Portanto, diante das conseqüências da ambigüidade dos objetivos organizacionais da universidade, da complexidade de sua estrutura de funcionamento que é permeada por uma estrutura informal, haja vista a profissionalização dos seus membros e a influência destes membros no processo decisório, quatro modelos foram tomados como referências para a análise.

Em primeiro lugar, apresenta-se o modelo burocrático weberiano, no qual o modo de organização considerado é tecnicamente superior a qualquer outro. Esse pressuposto exerceu forte influência na teoria organizacional constituindo-se ponto de partida para a maioria das teorias organizacionais. Para Steil (1996) e Delagnello (2000) a burocracia ainda permanece como modelo de dominação nas organizações. Portanto, as formas ‘pós-modernas’ de controle organizacional continuam tendo como base premissas burocráticas, constituindo-se, assim, estratégias sofisticadas com vistas a maior eficácia organizacional. Portanto, significa que mais do que romper com o modelo, é preciso entender as novas formas organizacionais e os contextos em que as organizações estão inseridas.

O tipo-ideal de organização burocrática, definido por Weber (1979), pressupõe dominação, com base na autoridade racional-legal e que se caracteriza por elementos: formalismo, impessoalidade e profissionalismo. Portanto, seu foco de análise é a estrutura e os processos racionais para o alcance dos objetivos organizacionais. Em um contexto de burocracia hierarquizada, esse modelo pressupõe existir interação entre seus membros em decorrência da legitimidade dessas relações. Nesse caso, o processo decisório baseia-se em padrões de interações estruturados. Assim, na estrutura hierárquica são definidos previamente, os procedimentos e normas a serem usados; e, a decisão é tomada em torno da maximização da eficiência. Baldridge (1971), alerta para o fato de existirem algumas características do modelo burocrático nas universidades, como: a coordenação feita através da divisão do trabalho; a padronização de atividades; a hierarquia administrativa; as regras e regulamentos formais. Todavia, Blau (1973), destaca as contradições entre a rigidez e a disciplina que são características do modelo burocrático e a flexibilidade e inovação indispensáveis na universidade; entre a autoridade baseada na posição e a autoridade baseada na especialidade e no conhecimento. Portanto, coexistem aspectos acadêmicos e administrativos que se

intercruzam. De um lado, está a profissionalização de seus membros que exige autonomia e liberdade acadêmica; por outro lado, está o aspecto administrativo que se estrutura nos moldes hierárquico do modelo burocrático. Em suma, esses aspectos conduzem para que na universidade possa coexistir uma forma descentralizada de burocracia, que vem a ser a configuração de burocracia profissional definida por Mintzberg (1979b).

O modelo colegiado é caracterizado pelo consenso, interação e descentralização pressupondo a existência de forte influência dos professores no processo decisório e, considerando, que cada unidade mantém certo grau de autonomia em relação à administração central. Para Millet apud (HARDY e FACHIN, 1996), a decisão é uma questão que envolve consenso. Assim, as decisões ocorrem como resultado de processos de construção de consensos, nos quais os participantes desejam contribuir com o tempo, os esforços e as informações necessárias. Nesse modelo, está implícito que a lealdade e o comprometimento dos membros da organização liga-os fortemente aos objetivos organizacionais, ou seja, presume existir um compartilhamento, tanto de responsabilidades com a organização, quanto com suas premissas sobre suas finalidades e propósitos organizacionais. O modelo colegiado induz haver descentralização do processo decisório com a participação de membros de sua comunidade universitária, portanto, garante um certo grau de autonomia em relação à cúpula estratégica. Todavia, esse modelo pode conduzir a outras formas de centralização dependendo das influências dos membros da organização que pode estar, tanto no topo, quanto na base da estrutura organizacional. No entanto, para Baldridg et. al. (1983), esse modelo se constitui mais em uma ideologia do que um modelo analítico, pois trata das questões de conflitos e das prolongadas batalhas que precedem o consenso, e, nesse sentido, não se constitui um modelo analítico para o processo de tomada de decisão. Portanto, esse modelo, mesmo que se constitua no modelo tradicional da universidade brasileira, especialmente após a Reforma de 68, tem merecido críticas em função do pouco que tem a dizer sobre o processo decisório ou sobre a centralização ou descentralização do poder na universidade.

O modelo político tem como princípio orientador a razão política. Destacam-se entre aqueles que enfocaram o poder e a política na universidade Baldridge (1971) que desenvolveu seu modelo no contexto da administração universitária com base em situações presenciadas em universidades americanas, como: as rebeliões

estudantis e as greves de professores. Ele percebeu que nesses eventos não havia a tranqüilidade na busca de consenso, característica do modelo colegial, nem tampouco, os aspectos rígidos da burocracia, portanto caracterizavam-se muito mais como processos políticos. Em resumo, nesse modelo, as decisões são tomadas por pequenos grupos; há pouco consenso quanto aos objetivos; há fluidez e temporalidade da participação dos membros no processo decisório; existe fragmentação entre os grupos de interesses; a administração de conflitos é uma situação normal; há negociações de decisões entre os grupos; e existem interesses de grupos externos, isto é, a tomada de decisão não sofre apenas a influência de grupos internos, mas também de grupos externos (MINTZBERG, 1983b).

Outros estudiosos observaram a relação de poder e o processo decisório. Estudo realizado com universidades americanas por Pfeffer e Salanick (apud RODRIGUES, 1984) concluíram, através de diferentes procedimentos, especialmente no que se refere à obtenção de recursos, que o poder dos departamentos acadêmicos influenciava diretamente a dotação orçamentária, e, nos casos em que havia consenso as decisões eram resolvidas via acordos políticos. Nesse caso, as decisões eram muito mais resultados de negociações e lutas internas entre interesses diversos do que uma ação racional. Para Hardy e Fachin (1996) esses estudos foram realizados adotando metodologias diferentes, portanto dizem pouco sobre o processo de influência do poder na tomada de decisões. Por um lado, os estudos focalizam a complexidade do processo, no entanto é difícil tirar conclusões sobre a influência política; por outro lado, os estudos não têm enfocado os antecedentes do poder e, dessa forma, é difícil entender o seu processo.

O modelo da anarquia organizada de Cohen; March; Olsen (1972), conhecido também, como modelo de ‘lata de lixo’ diferencia-se dos demais ao admitir que o comportamento administrativo baseado nas ambigüidades, nas preferências e na participação não influencia nas decisões pretendidas. Cada indivíduo na instituição é visto como um tomador de decisão, o que torna o processo decisório problemático, pois, nesse caso, as decisões não são intencionais. Em síntese, esse modelo parece se adequar quando o assunto é periférico e evolui para um outro modelo quando assunto é importante (HARDY e FACHIN, 1996). Assim, ele pode prevalecer no caso em que as estruturas funcionam com muitas e complexas comissões.

Esses modelos não são encontrados nas suas formas puras, Hardy e Fachin (1996), Alperstedt (2000) identificaram diferentes configurações.

5 METODOLOGIA DA PESQUISA

Esta pesquisa tem como pressuposto não existir um melhor ótimo, nem para a organização, nem para a formulação de suas estratégias, uma vez que, de acordo com Mintzberg e Quinn (2001), contextos diferentes exigem formas diferentes de formulação de estratégias. Nesse sentido, quanto maior a exploração, mais profunda e útil é a apreciação do processo de formulação de estratégia nessas instituições. Assim, o desafio da pesquisa foi verificar como as universidades federais são, e não como elas deveriam ser. Portanto, a pesquisa não teve a finalidade de identificar relações positivas entre variáveis, mas sim, de explicar o quê, o porquê e como as estratégias foram formuladas, uma vez que elas não seriam compreendidas apenas por meio de relações positivistas de causa e efeito, pois se entende, de acordo com Capra (1997) que os estudos de qualquer fenômeno no contexto da sociedade atual devam ser realizados com base em uma visão holística13 e sobre uma abordagem sistêmica que não admite a linearidade de causa-efeito adotada tradicionalmente pela concepção mecanicista.

Este capítulo descreve os procedimentos metodológicos utilizados na pesquisa: os métodos sugeridos por Mintzberg (1979a), Mintzberg e McHugh (1985) e Pettigrew (1987;1990) para estudos que tratam sobre estratégias e mudanças organizacionais, e os métodos tradicionais utilizados em pesquisas qualitativas, propostos por Patton (1986), Alves (1991) Miles e Huberman (1994) e Godoy (1995). A base teórica usada no capítulo dois para a análise dos dados, oferece os fundamentos sobre ambiente, estratégia, mudança e estrutura organizacionais, incluindo-se, outras dimensões como poder, cultura e modelo de decisão. As unidades de análise são as universidades federais brasileiras.

O resgate da história de uma organização correlacionando-a ao seu contexto (ambiente real e percebido) permitiu identificar decisões estratégicas com base nas quais foram consolidados os períodos estratégicos, as referidas estratégias e as mudanças ocorridas na organização, quando tais períodos são caracterizados, como proposto por Quinn (1992) na identificação das decisões estratégicas que determinaram a direção geral da organização, à luz das mudanças previsíveis e

13 O termo está sendo usado com o seu significado grego holos - totalidade, ou seja, a realidade deve

ser compreendida em função de totalidades integradas, cujas propriedades não podem ser reduzidas a unidades menores. (Capra, 1997)

imprevisíveis que podem ocorrer no seu ambiente.

A dinâmica da pesquisa empírica começou quando a análise dos documentos proporcionou evidências que, para cada gestão, configurava-se um tipo de comportamento que refletia a opção estratégica do reitor, a qual, dado o contexto, somente ganhava consistência quando analisada no sentido de ser uma adaptação da organização ao seu ambiente, caracterizando-a assim, como desconhecida à estratégia do período de gestão. Essas evidências foram ratificadas, por ocasião de realização das entrevistas com os membros das coalizões dominantes. A pesquisadora com o objetivo de identificar e considerar informações auxiliares, retornou aos documentos coletados, particularmente aos documentos oficiais das três universidades consideradas na pesquisa, tendo conduzido à confirmação dos períodos estratégicos, conforme a metodologia proposta por Mintzberg e McHugh (1985).